Snapdragon 8 Gen 2 estreia com configuração inédita de CPU e Ray Tracing
Por Renan da Silva Dores • Editado por Wallace Moté |
Durante apresentação realizada no Snapdragon Summit nesta terça-feira (15), a Qualcomm revelou o Snapdragon 8 Gen 2, mais novo chipset premium da gigante que deve equipar os principais celulares top de linha de 2023. Depois de uma estreia conturbada do antecessor, resgatado por sua variante Plus poucos meses depois, a plataforma estreante promete agitar o mercado com diversas mudanças, incluindo uma configuração inédita de núcleos da CPU, e aceleração de hardware para Ray Tracing.
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O Snapdragon 8 Gen 2 segue a parceria de sucesso feita entre Qualcomm e TSMC e é fabricado no processo de 4 nm da gigante taiwanesa. Combinando otimizações com os novos núcleos da ARM, o chip promete eficiência energética até 40% maior com 35% melhor performance — números obtidos em uma comparação com o Snapdragon 8 Gen 1 padrão, chip produzido pela Samsung com muitos relatos de alto consumo e aquecimento excessivo.
A comparação com o Snapdragon 8 Plus Gen 1, também fabricado em 4 nm pela TSMC, não deve ser tão favorável, mas é preciso aguardar por testes aprofundados para sabermos a real diferença. Independente disso, o novo processador da Qualcomm se destaca por embarcar uma configuração inédita de CPU: em vez de apostar no já tradicional 1 + 3 + 4 núcleos, a companhia empregou uma CPU em 1 + 4 + 3, conforme apontavam os rumores.
A distribuição também chama atenção por combinar diferentes gerações de núcleos no conjunto de alto desempenho, e é feita da seguinte maneira: 1 Cortex-X3 de máxima performance rodando a até 3,2 GHz, 2 Cortex-A715 junto a 2 Cortex-A710, todos de alto desempenho, trabalhando a até 2,8 GHz, e 3 Cortex-A510 (em sua versão atualizada mais eficiente lançada neste ano) de alta eficiência operando a até 2,0 GHz.
Outra melhoria bem-vinda é o aumento da capacidade de cache L3, que passa de 6 MB para 8 MB, finalmente igualando o componente a outras plataformas do mercado. O maior benefício dessa mudança em específico está em um crescimento na quantidade de instruções armazenadas próximo aos núcleos, reduzindo a necessidade de acessar a memória RAM para coletar dados adicionais, consequentemente reduzindo o consumo e aumentando o desempenho.
Diferente do que aconteceu com o rival Dimensity 9200, o Snapdragon 8 Gen 2 não é exclusivamente 64-bit, sendo capaz de executar também apps e games com instruções 32-bit com ótima performance — segundo a Qualcomm, este seria o motivo para uso de dois grupos de núcleos distintos no cluster de alto desempenho, com o Cortex-A710 ficando responsável por otimizar a execução dos aplicativos 32-bit.
Ainda comparado ao concorrente da MediaTek, o lançamento da Qualcomm tem clocks mais altos em quase todos os grupos, que combinados à nova configuração de núcleos devem proporcionar uma vantagem significativa em tarefas que exijam mais da CPU. Mas, novamente, é preciso aguardar por testes aprofundados para termos certeza.
Nova GPU Adreno estreia Ray Tracing por hardware
Acompanha a CPU aprimorada a nova GPU Adreno — a Qualcomm deixou de nomear publicamente seus chips gráficos mas, segundo vazamentos, o componente deve se chamar Adreno 740. A solução promete desempenho 25% superior com consumo 45% menor em comparação à Adreno 730 do Snapdragon 8 Gen 1 padrão, números bastante respeitáveis a serem atingidos na passagem de uma geração para outra.
Ainda de acordo com a empresa, em aplicações e games que utilizam a mais recente API Vulkan 1.3, o salto é maior, chegando a até 30%. O melhor desempenho em software baseado em Vulkan é algo que já é visto pelo menos desde a geração passada: os ganhos apresentado pelo Snapdragon 8 Gen 1 com esses apps também apresentavam crescimento de 30%.
O que realmente chama atenção na nova Adreno são os recursos implementados pela gigante, com destaque para a tecnologia de Ray Tracing acelerado por hardware. Com isso, as três principais plataformas premium do mundo Android (Snapdragon, Exynos e Dimensity) tornam-se compatíveis com a função que replica o comportamento realista da luz em apps e games.
A Qualcomm destaca que, com a novidade, smartphones munidos do chipset estreante poderão oferecer, em jogos otimizados, sombras mais realistas e suaves, reflexos que reproduzem com fidelidade a cena dos jogos e oclusão de ambiente (ambient occlusion) — as sombras de contato, geradas pela proximidade de dois ou mais objetos — precisa e realista.
Outro recurso de peso, ainda exclusivo do novo Snapdragon, é o suporte nativo aos Metahumans da Unreal Engine 5. Um dos principais destaques da 5ª geração do motor gráfico da Epic Games, os Metahumans são modelos avançados de personagens humanos que focam no realismo, e prometem facilitar a vida dos desenvolvedores ao gerar modelos 3D ricos em detalhes e prontos para animar. Na prática, isso pode significar que veremos jogos mais complexos chegando aos smartphones.
A GPU é responsável ainda pelo gerenciamento da tela dos celulares com o motor Adreno Display, agora munido de suporte ao HDR Vivid, um protocolo de HDR desenvolvido em grande parte pela Huawei e publicado pela China Ultra HD Video Alliance (CUVA), já integrado ao pacote de recursos de soluções de HDR como o renomado Dolby Vision. Fora isso, há ainda o OLED Aging Compensation, mecanismo que promete reduzir os riscos de burn-in em celulares com tela OLED.
IA turbinada com instruções INT4
Inteligência Artificial foi um dos pontos que mais destacados pela Qualcomm, que afirma que o Snapdragon 8 Gen 2 é uma "verdadeira maravilha da IA". As mudanças na chamada Qualcomm AI Engine (a combinação de CPU, GPU, coprocessador Hexagon de IA e o Sensing Hub, especializado em processar dados dos sensores) são de fato profundas, e começam com os inúmeros aprimoramentos feitos ao Hexagon.
O componente recebe um sistema de alimentação próprio, o que combinado a um salto de desempenho prometido de até 4,35 vezes frente ao antecessor, proporcionaria performance por Watt 60% maior. Outras duas melhorias importantes que garantem esses avanços são o salto de 2 vezes de performance na execução de modelos de IA que utilizem instruções no formato Tensor, e a estreia de instruções no formato INT4, inéditas em smartphones.
De maneira bastante resumida, instruções INT4 retornam números menos precisos em comparação ao formato FP32, mais comum, o que pode parecer negativo em um primeiro momento, mas na realidade é bastante benéfico para tarefas de IA. A menor precisão reduz a complexidade do que é processado e acaba acelerando os cálculos, apresentando resultados aprimorados no fim das contas. Um dos exemplos apontados pela Qualcomm em que as melhorias são visíveis é o pós-processamento de fotos.
Outro integrante do Qualcomm AI Engine, o Sensing Hub concentra o processamento dos sensores do celular para tarefas como reconhecimento de voz, recursos de IA para a câmera e biometria, e agora promete o dobro de desempenho, graças à adição de um segundo processador de IA e ao aumento de 50% na capacidade de memória dedicada.
Primeiro "ISP cognitivo" para câmeras
Smartphones modernos costumam utilizar IA para reconhecer cenas, como plantas, animais ou comida, e assim aplicar efeitos e pós-processamento específicos que entreguem fotos e vídeos melhores para cada cenário. O novo Spectra ISP (Processador de Sinal de Imagem) do Snapdragon 8 Gen 2 promete levar essa característica a um novo patamar, sendo o "primeiro ISP cognitivo do mundo".
Trabalhando em conjunto com o Hexagon em um processo identificado pela empresa como Segmentação Semântica, a novidade consegue reconhecer e separar em diferentes camadas cada tipo de cena (animais, comida, plantas, pessoas), aplicando algoritmos de pós-processamento para cada uma na mesma foto ou vídeo de maneira independente. Mais do que isso, os efeitos são implementados em tempo real e podem ser vistos diretamente do preview do celular.
A Qualcomm trabalhou ainda com Sony e Samsung para otimizar sensores de câmera de ambas para o novo chipset. No caso da gigante japonesa, a plataforma irá estrear o suporte a sensores com tecnologia de quad digital overlap HDR, que basicamente consegue processar HDR com streams de quatro imagens diferentes, obtendo resultados superiores na hora de combiná-las para gerar a foto final.
Já a sul-coreana implementou otimizações específicas para o Snapdragon 8 Gen 2 no ISOCELL HP3, mais recente sensor de 200 MP da marca, que possivelmente pode estar presente no Samsung Galaxy S23 Ultra, segundo rumores.
Fecha o pacote de novidades o suporte ao codec AV1, que na plataforma será capaz de reproduzir vídeos em 8K HDR a 60 FPS. Não está claro, no entanto, se também haverá suporte a gravações com AV1.
5G Dual SIM simultâneo e Wi-Fi 7
O Snapdragon 8 Gen 2 conta ainda com aprimoramentos importantes no departamento de conectividade, com a chegada do modem 5G Snapdragon X70 e do processador de redes sem fio FastConnect 7800. Com o X70, o lançamento traz três principais novidades: um processador dedicado de IA, o "primeiro do mundo em um modem 5G"; o uso de quatro links de rede para acelerar os downloads de redes móveis; e o recurso de 5G Dual SIM Dual Active (DSDA).
A tecnologia DSDA é inédita na família Snapdragon e sua ausência era uma crítica recorrente, especialmente na linha premium. Essencialmente, a função permite que os dois chips SIM (eSIM ou físico) tenham acesso simultâneo a redes 5G, mantendo comunicação de alta velocidade mesmo que apenas uma das linhas esteja sendo usada no momento. Em comparação, no passado, caso o 5G estivesse ativado no SIM 1, o SIM 2 teria acesso apenas a redes 4G ou mais lentas.
Já o FastConnect 7800, que engloba Wi-Fi e Bluetooth, estreia na linha o suporte a redes Wi-Fi 7 — o protocolo de 7ª geração promete velocidades até 5 vezes maiores que o Wi-Fi 6, e 2,5 vezes maiores que o Wi-Fi 6E, principalmente em virtude do uso de canais mais largos de transmissão de dados. Segundo a Qualcomm, o Snapdragon 8 Gen 2 seria capaz de atingir taxas de transferência de impressionantes 5,8 Gbps (contra 3,6 Gbps do Snapdragon 8 Plus Gen 1).
Outros destaques incluem a latência "mais baixa em um chip para smartphone", de 2 ms mesmo em uso prolongado, a tecnologia High Band Simultaneous (HBS), que estabelece múltiplas conexões de Wi-Fi para turbinar a velocidade, e funcionalidade Dual Bluetooth.
Som melhorado com áudio espacial dinâmico
Nos últimos anos, a Qualcomm tem dado atenção especial para áudio, desenvolvendo soluções como a plataforma Snapdragon Sound, que atende não apenas o próprio processador da companhia, como também a empresas de dispositivo de som que buscam implementar recursos avançados com menos tempo de desenvolvimento. Essa plataforma chega ao Snapdragon 8 Gen 2 com um aprimoramento interessante: a estreia do áudio espacial dinâmico.
Conforme explica a empresa, quando um smartphone equipado com o novo chipset começa a reproduzir mídia otimizada para áudio espacial, o processador integrado do fone começa a coletar e enviar ao celular dados de movimentação da cabeça do usuário. Com as informações, o conjunto calcula então a posição do telefone em relação aos fones e ajusta dinamicamente o posicionamento do som para buscar oferecer uma experiência mais imersiva.
Snapdragon 8 Gen 2 chega ainda em 2022
Na apresentação, a Qualcomm garantiu que o Snapdragon 8 Gen 2 chegará ao mercado ainda em 2022, atendendo a todo o mercado global, como de costume. Nessa estreia, serão lançados smartphones de marcas como ASUS Republic of Gamers (ROG), Honor, iQOO, Motorola, Nubia, OnePlus, OPPO, Redmagic, Redmi, Sharp, Sony, Vivo Mobile, Xiaomi, MEIZU e ZTE, o que sugere que esses dispositivos devem ser disponibilizados primeiro na China, seguido então do restante do mundo nos próximos meses.