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MediaTek apostou na democratização do 5G e colhe os frutos da estratégia

Por| 01 de Novembro de 2020 às 17h00

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MediaTek apostou na democratização do 5G e colhe os frutos da estratégia
MediaTek apostou na democratização do 5G e colhe os frutos da estratégia
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O Canaltech conversou com Samir Vani, country manager da MediaTek para o Brasil, para entender a atual situação das fabricantes de processadores de celulares. O executivo explicou como a aposta na popularização do 5G ajudou a empresa na China e como os frutos da estratégia devem chegar a outros países, incluindo o Brasil.

2020 foi um ano de muitas reviravoltas para o setor, com queda nas vendas de celulares, a chegada do novo processo de 5 nm, sanções dos EUA contra a Huawei e, claro, a explosão do 5G na China. Nesse último ponto a fabricante taiwanesa vê os resultados de sua estratégia, que investiu no barateamento da nova tecnologia.

E claro que a MediaTek não é apenas uma fabricante chips 5G. Vani relembrou parte da história da empresa. Desde os primeiros processadores integrados para televisores até os dias de hoje, com sistemas de inteligência artificial, internet das coisas e até a moda recente dos celulares gamer que, segundo o executivo, veio para ficar.

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Flexibilidade

Fundada há mais de 20 anos em Taiwan, a MediaTek não nasceu como uma fabricante de processadores para dispositivos conectados. A partir de CPUs para aparelhos de TV e DVD, a empresa se expandiu para outros segmentos, adotando uma receita de boa relação entre recursos e preço.

Parte das parcerias firmadas nos primórdios da empresa rendem frutos até hoje, com fabricantes como Sony e LG utilizando os processadores taiwaneses em diversos celulares, por exemplo.

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Após investir no desenvolvimento de controladores de rede e modem, além das licenças para núcleos gráficos e de processamento da britânica ARM — recém-adquirida pela Nvidia —, a MediaTek oferece não apenas seus chips próprios, como também permite personalizar soluções para seus clientes. O desenvolvimento de processadores customizados, como os projetados pela AMD sob encomenda da Microsoft e Sony para seus consoles, é conhecido no setor como ASIC (circuitos integrados de uso específico, em tradução direta).

5G para todos (e no Brasil em 2021)

Vani explicou que a demora para encontrar os processadores 5G Dimensity fora da China — o que começou apenas recentemente, com alguns modelos chegando à Europa — se deu por uma mistura de fatores, incluindo decisões dos fabricantes. O executivo explicou que a MediaTek se focou inicialmente no país asiático, onde enxergou um forte potencial para a nova geração da telefonia, com a intenção de aplicar a experiência adquirida no país a outras regiões.

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"Vamos levar o aprendizado do 5G na China para outros mercados."

Ao que tudo indica, a estratégia se mostrou acertada, com regiões como a América Latina — onde a marca é forte desde antes dos smartphones — ainda se preparando para definir as regras e frequências do 5G.

O executivo destacou que o 4G deve continuar forte na região, mas estimou que os primeiros aparelhos com os chips 5G da MediaTek chegam ao Brasil no primeiro semestre de 2021. Apesar disso, as incertezas com as frequências adicionais da nova geração podem atrasar o lançamento dos modelos.

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Quando perguntado se acredita que teremos um smartphone 5G por menos de R$ 1.500 já no ano que vem, Vani respondeu não acreditar nisso em virtude da combinação de altos impostos e da variação do dólar no Brasil.

Na China, um smartphone equipado com o processador Dimensity 720 foi o primeiro a ser vendido por menos de 1.000 iuanes (cerca de R$ 840 ou US$ 150, em conversão direta). O lançamento do Realme Q2i foi destacado até mesmo pela rival Huawei, em um evento recente em que mencionou a queda de preços dos aparelhos 5G.

A estratégia da MediaTek no segmento foi notadamente diferente das principais rivais — Qualcomm, HiSilicon/Huawei e Samsung LSI — investindo na popularização do 5G. A aposta no segmento “super-mid“ (chamado também de “mid-high” ou “avançados mínimos”) não foi por acaso, segundo o executivo da marca, que tradicionalmente se concentrou no segmento que concilia bom preço com ótimas funcionalidades.

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Mais desafios em 2020

O ano abriu outras portas para a MediaTek. 2020 viu a Huawei tomar brevemente a liderança do mercado de celulares, em meio a uma série de restrições impostas pelos EUA. Apesar de também estar proibida de negociar com a fabricante chinesa, a MediaTek tem tudo para ganhar mais mercado na Ásia, junto com marcas como Xiaomi, OPPO, Vivo e Realme. Analistas preveem que a Huawei deve registrar uma queda vertiginosa em 2021, graças às dificuldades para obter componentes.

Apesar das perspectivas otimistas, a volatilidade do mercado apresenta um desafio para a MediaTek, que utiliza os serviços terceirizados de empresas como a conterrânea TSMC para fabricar seus chips. As flutuações exigem um planejamento cuidadoso dos estoques, já que as encomendas de processadores junto às fabricantes (também conhecidas como foundries) precisam ser feitas com meses de antecedência.

"Estamos prontos para a adoção do processo de 5 nm."
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Para 2021, a chegada da litografia de 5 nm — já adotada pelos chips Apple A14 e HiSilicon Kirin 9000 — promete abrir ainda mais possibilidades para as fabricantes de processadores. O gerente da MediaTek afirmou que a empresa está preparando seus primeiros chips com a tecnologia, mas ainda não tem um componente ou data de lançamento previsto.

Gamer, mas sem exageros

Enquanto a fabricação em 5 nm não chega, as marcas de celulares e componentes se viram para balancear desempenho com consumo de energia e dissipação de calor. E isso é ainda mais importante no segmento de celulares para jogos, mercado que segundo Vani não é apenas uma moda passageira.

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A MediaTek lembrou da Pesquisa Game Brasil 2020 (PGB 2020), que identificou que 70% dos gamers brasileiros jogam em celulares. A tendência já tinha sido notada nas edições de 2019 e 2018 da pesquisa.

Samir Vani destacou que para a fabricante taiwanesa os celulares para jogos não são necessariamente os modelos cheios de firulas, com iluminação LED RGB e outras extravagâncias. O executivo afirmou que um aparelho gamer pode muito bem ser como o Redmi Note 9, da Xiaomi, que procura equilibrar desempenho com gerenciamento de energia e dissipação de calor, fatores que devem ganhar mais importância com a adoção do 5G e as exigências energéticas adicionais.

“Celulares para games não tiram jogadores dos consoles. Eles abrem portas para as outras plataformas.”

Além de priorizar os núcleos mais exigidos (CPU, GPU, rede) no momento certo, as tecnologias usadas pela MediaTek incluem suporte à seleção automática de rede que oferece a menor latência (tempo resposta) e também altas taxas de atualização de tela. Esta última tecnologia oferece um maior conforto visual no uso cotidiano e deve se popularizar com a nova geração de consoles, que permitem exibir até 120 quadros por segundo em jogos compatíveis.

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Internet das coisas e soluções personalizadas

O know-how e portfólio de tecnologias da empresa abriram possibilidades em segmentos muito além das CPUs e SoCs. Vani apontou o forte potencial da internet das coisas, não necessariamente no mercado doméstico. A conectividade deve ser destaque no segmento B2B — ecoando os usos apontados pela Huawei para o Canaltech na semana passada — com fábricas, frotas e outros usos empresariais puxando a demanda pela tecnologia.

O executivo ressaltou a parceria recente com a Intel para o uso dos modems da MediaTek em notebooks conectados — segmento abandonado pela gigante norte-americana na semana em que perdeu a cliente Apple para a Qualcomm. Apesar de não mencionado durante a entrevista, o acordo com a Intel chega em um momento propício, com a tendência crescente de trabalho remoto nas empresas.

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Outra parceria lembrada pela MediaTek foi a com a Amazon. Cliente antiga da taiwanesa nas linhas Fire Tablet e Fire TV, a empresa de e-commerce incluiu o processador AZ1 nos recentes aparelhos Echo (2020) e Echo Show 10. O chip também conhecido pelo código MT8512 inclui otimizações de algoritmos para trabalhar com os comandos de voz da assistente Alexa.

Batizado de “Neural Edge Processor”, o chip traz parte dos cálculos geralmente realizados nos servidores AWS para o dispositivo do usuário (o “edge” do nome, “ponta” em tradução direta). Além de aliviar os data-centers da Amazon, o sistema oferece respostas mais rápidas e diminui os requisitos de conectividade à internet. Curiosamente, a empresa norte-americana possui uma equipe própria de desenvolvimento de processadores, usados em dispositivos de rede, armazenamento e seus servidores cloud.

Vani destacou que a MediaTek oferece ainda mais possibilidades de personalização com suas soluções ASIC, que permitem criar soluções customizadas de acordo com a aplicação. Clientes podem fazer diferentes combinações de CPUs, GPUs, processadores de imagem (ISP), aceleração de inteligência artificial (NPU) e conectividade, não apenas com modems 4G/5G, como também com os diversos padrões Wi-Fi, incluindo a sexta geração da tecnologia de rede sem fio.

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Ao ser perguntado se podemos esperar a entrada de mais fabricantes brasileiros no mercado de celulares, o executivo não foi tão incisivo. O gerente da MediaTek afirmou que mantém contato com clientes em potencial, mas não tem nenhum anúncio neste momento. Mesmo assim, declarou que vê com bons olhos a entrada de novas empresas no setor, caso da TecToy, que anunciou recentemente o smartphone On, equipado com um processador da fabricante taiwanesa.