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Diretor da Roscosmos abre o jogo sobre o futuro da exploração espacial russa

Por| 14 de Julho de 2020 às 15h09

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Roscosmos
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A NASA está voltando à Lua com o programa Artemis, que levará astronautas de novo à superfície lunar a partir de 2024 — desta vez, visando uma permanência constante e sustentável em nosso satélite natural, envolvendo até mesmo a criação de uma estação espacial na órbita lunar, chamada Gateway. Além disso, os EUA também estão de olho no primeiro pouso tripulado em Marte, o que deve acontecer na década de 2030, enquanto outras nações, como a China e os países que compõem a Agência Espacial Europeia, seguem firmes em planos similares de explorar o Sistema Solar com cada vez mais afinco. E a Rússia, como fica?

É exatamente sobre isso que falou Dmitry Rogozin, diretor da Roscosmos (a agência espacial do país), em conversa com o jornalista russo Alexander Milkus, usando como gancho o cinquentenário da criação da agência espacial em questão.

Lua: parceria com a China mais provável do que com os EUA

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Primeiro, vamos falar dos planos russos envolvendo a Lua. Recentemente, a NASA abriu o programa Artemis a outras nações, para que elas possam participar desse retorno triunfal à superfície lunar. A Rússia chegou a demonstrar interesse nessa união, mas, agora, parece que o jogo virou. "Para os Estados Unidos, esse é agora um projeto político", disse Rogozin, dizendo ainda que "sinceramente, não estamos interessados em participar do projeto", ainda que o país pretenda manter "as relações em um sentido global", com o espaço continuando a ser "uma importante ponte de interação". O diretor da Roscosmos disse, ainda, esperar "que essa cooperação continue e seja menos afetada pela má situação política que, infelizmente, vem de Washington hoje", dando aquela alfinetada nos antigos rivais de exploração espacial.

Rogozin reforçou que "a Lua é o objeto espacial mais próximo a ser explorado", e disse que existem "outros projetos nos quais estamos interessados em participar", dispensando o programa Artemis dos EUA. Ele conta ter conversado recentemente com Zhang Kejian, chefe da CNSA (a agência espacial da China), referindo-se a ele como "uma pessoa muito influente e meu bom amigo", justamente sobre seus planos lunares. "Concordamos em iniciar os primeiros passos [da parceria], definindo os contornos e o significado científico [da missão]. Não excluo a possibilidade de esse projeto estar aberto a todos os interessados, inclusive americanos, mas a iniciativa aqui pode ser apenas da Rússia com a China", disse.

O diretor da Roscosmos lembra que "os chineses cresceram tremendamente nos últimos anos", e chamou a China de "um parceiro digno" nesse sentido. "Voos para a Lua, Marte e além são caros. É importante que a humanidade possa implementar esses projetos juntos, compartilhando responsabilidades e financiamentos", declarou. Vale lembrar que, hoje, a China está explorando o lado afastado da Lua com a missão Chang'e 4, parte de uma trajetória de sucesso envolvendo outras missões Chang'e — que devem continuar acontecendo nos próximos anos.

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Mas, antes disso, a Rússia pretende enviar à Lua o que chamou de "batedores espaciais", que devem explorar o terreno da Lua em busca de um local ideal para a construção de uma base lunar. "Ela estará no polo sul da Lua", disse Rogozin, que garantiu que um primeiro lançamento com esse objetivo acontecerá já em 2021, com a missão Luna-25. Já mirando nos anos de 2027 e 2028, a ideia dos russos é já ter em mãos um sistema de transporte espacial capaz de levar uma nave tripulada com cosmonautas para lá. "Os primeiros passos na Lua na próxima década serão dados por todos os países líderes. Espero que a Rússia e a China mostrem seu valor", disse.

Marte: parceria com os europeus segue firme e forte

"Os europeus são nossos parceiros confiáveis", disse Dmitry Rogozin quando a pergunta foi a exploração de Marte. Os russos já têm parceria com a ESA na missão ExoMars, cujo próximo lançamento foi adiado recentemente para 2022 e cujo objetivo é buscar por sinais de vida antiga no Planeta Vermelho — mesma missão da Mars 2020, da NASA, que levará para lá o rover Perseverance no final de julho deste ano. A China também lançará uma missão a Marte neste mês, chamada Tianwen-1, tornando-se o terceiro país a pousar uma nave no Planeta Vermelho, enquanto os Emirados Árabes Unidos lançarão, neste mesmo mês, a missão Mars Hope para estudar a atmosfera e o clima marciano.

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Rogozin lembra que a missão ExoMars "foi originalmente planejada com os americanos, mas quando eles saíram, a Rússia decidiu participar" com os europeus. O primeiro lançamento da missão aconteceu com sucesso em 2016, levando um módulo de pouso europeu (que acabou se chocando com a superfície) e um orbitador com instrumentos russos (este que segue em funcionamento).

E sobre a Estação Espacial Internacional?

O assunto ISS obviamente não poderia ficar de fora. Afinal, a estação orbital é administrada por diferentes países, e a Rússia faz parte da iniciativa com seu módulo habitável próprio, onde ficam as turmas periódicas de cosmonautas que são enviados para lá. Desde 2011, os russos também transportavam astronautas da NASA à ISS, dado o fim do programa dos ônibus espaciais. Só que, em maio deste ano, a SpaceX enfim conseguiu fazer com que sua nave Crew Dragon levasse os primeiros astronautas norte-americanos à ISS, marcando o fim da parceria dos EUA com a Rússia nesse transporte — sendo que a Boeing em breve também fará o mesmo, com um voo tripulado em caráter de testes acontecendo no ano que vem.

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Mas, independentemente de transportar ou não astronautas dos EUA para a ISS, o módulo russo permanece com cosmonautas a bordo — e a Rússia vem desenvolvendo um módulo atualizado para que seus tripulantes fiquem mais confortáveis por lá. Esse novo módulo se chama Science e "está pronto para ser enviado", de acordo com Rogozin. Ele lembra que o módulo que atualmente é utilizado por lá ainda é o mesmo enviado há 20 anos, quando a ISS recebeu suas primeiras turmas de astronautas, então está mais do que na hora de fazer um upgrade.

O módulo Science "é mais moderno e extremamente necessário para a tripulação expandir seu local de trabalho em órbita" e, além disso, "abre caminho para outras estruturas que devem ser enviadas à ISS". Aqui, Rogozin se refere a um acoplador europeu chamado Era, que já estaria pronto para ser lançado assim que o módulo Science estiver devidamente montado na estação orbital.

Mas e o tempo de vida útil da ISS? A estação, nos moldes como está, tem uma vida útil estimada para até o ano de 2024, ou 2028, no máximo. Vale a pena a Rússia investir tantos recursos e esforços em atualizar seu módulo habitável nesse contexto? O diretor da Roscosmos responde que "não sabemos como a ISS se desenvolverá" a partir disso, mas que "é provável que esse 'Lego' seja novamente desmontado em partes", com as estruturas que ainda tiverem utilidade permanecendo. Ou seja: ele considera um futuro em que a ISS possa ser desmembrada, deixando de funcionar como uma estrutura unificada e gerenciada por vários países, restando apenas módulos separados gerenciados por cada nação responsável. "Vemos que os recursos da estação são bastante adequados até 2030, ou seja, temos 10 anos de trabalho normal pela frente", disse Rogozin.

Quanto aos planos de levar turistas à ISS, a Rússia já declarou que começará a fazer viagens turísticas à ISS a partir do ano que vem, sendo que, em uma viagem agendada para 2023, um dos turistas poderá até mesmo fazer uma caminhada espacial do lado de fora da estação. Rogozin confirma tais planos, garantindo que "todas as medidas de segurança necessárias serão tomadas".

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Foguetes reutilizáveis russos?

Também vimos recentemente que a Rússia estaria desenvolvendo seus próprios foguetes reutilizáveis, nos moldes dos bem sucedidos foguetes Falcon 9, da SpaceX, e que os lançamentos russos poderiam ficar até 30% mais baratos para concorrer com a empresa privada norte-americana. Rogozin confirma tais planos, revelando que o país está trabalhando no desenvolvimento de um motor impulsionado por metano — e que "o metano nos permitirá reutilizar o foguete".

Alfinetando a capacidade de reutilização dos foguetes de Elon Musk, Rogozin diz que uma reutilização verdadeira "não é de dez lançamentos; reutilização é uma centena de lançamentos". E ele garante que a Rússia terá essa capacidade. "Estou absolutamente certo de que nossos especialistas lidarão com essa tarefa", encerra.

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Fonte: kp.ru