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O que mudou na exploração espacial nos últimos 10 anos?

Por| Editado por Rafael Rigues | 13 de Julho de 2022 às 12h30

den-belitsky/Envato
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Em 12 de abril de 1961, o cosmonauta Yuri Gagarin completou uma órbita ao redor da Terra a bordo da cápsula Vostok 1, tornando-se o primeiro humano a ir ao espaço. Daquela época para cá, levamos astronautas à Lua, lançamos estações espaciais capazes de comportar tripulações inteiras, enviamos robôs para nos ensinar mais sobre Marte e mais. Os avanços são vários, e ainda há muito por vir.

Como o Canaltech está comemorando 10 anos, paramos para pensar nas mudanças que aconteceram na exploração espacial na última década: já percebeu que, hoje, pessoas que não foram treinadas como astronautas podem embarcar em voos espaciais turísticos? E que não estamos mais tão distantes de levar novos astronautas para a Lua e, quem sabe, além?

Relembre com a gente o que aconteceu na indústria aeroespacial na última década e o que ainda está por vir:

Dos programas espaciais estatais aos voos turísticos

Em 28 de abril de 2001, o empresário norte-americano Dennis Tito viajou à Estação Espacial Internacional, se tornando o primeiro "cidadão comum" a fazer isto. Desde então, poucas pessoas repetiram o feito, mas isso começou a mudar no ano passado, quando algumas empresas realizaram seus primeiros voos espaciais turísticos.

Da esquerda para a direita, Dennis Tito, Talgat Musabayev e Yury Baturin (Imagem: Reprodução/NASA)
Da esquerda para a direita, Dennis Tito, Talgat Musabayev e Yury Baturin (Imagem: Reprodução/NASA)

A largada foi dada pela Virgin Galactic, empresa fundada por Richard Branson. No dia 11 de julho de 2021 ele viajou a cerca de 85 km de altitude junto de outros tripulantes, a bordo da nave VSS Unity. Nove dias depois, foi a vez de Jeff Bezos, fundador da Blue Origin, voar ao espaço suborbital junto de outros tripulantes com a cápsula e foguete New Shepard. Em ambos, os passageiros conseguiram experimentar a sensação de ausência de peso e observaram a curvatura da Terra em contraste com o espaço.

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Já em setembro, quatro tripulantes civis foram à órbita da Terra com a missão Inspiration4, a bordo de uma cápsula Crew Dragon, da SpaceX. E em abril deste ano a Axiom Space realizou a missão Ax-1, levando quatro tripulantes para uma estadia de mais de duas semanas na ISS na primeira missão do tipo totalmente realizada pela iniciativa privada.

A principal questão aqui é que estas missões marcaram uma transição importante nos voos espaciais tripulados: se antes eram restritos ao transporte de astronautas profissionais à Estação Espacial Internacional, agora o espaço torna-se um pouco mais acessível mesmo para quem não foi treinado como um — isso, claro, para quem puder arcar com o custo de centenas de milhares de dólares da viagem.

A vez das empresas comerciais

Relembrar os feitos da Corrida Espacial é lembrar também feitos grandiosos proporcionados por duas nações que dedicaram esforços máximos para fazer história no espaço. De certa forma, ainda podemos falar em uma corrida espacial hoje, com a diferença de que o jogo mudou, já que não há mais apenas nações poderosas lutando para mostrar superioridade em relação à outra além da atmosfera do nosso planeta.

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Cápsula Crew Dragon, da SpaceX (Imagem: Reprodução/SpaceX)
Cápsula Crew Dragon, da SpaceX (Imagem: Reprodução/SpaceX)

O palco deste novo cenário é ocupado por empresas privadas, chefiadas por alguns dos homens mais ricos do planeta. Se nomes como SpaceX, Blue Origin, Virgin Orbit, Rocket Lab e outras não são mais estranhos, é porque essas companhias vêm construindo e testando foguetes e cápsulas reutilizáveis próprias, conquistando em poucos anos objetivos que governos levaram décadas para atingir.

A atuação privada trouxe benefícios para a NASA, que pôde encerrar sua dependência dos veículos espaciais da Rússia para levar seus astronautas à Estação Espacial Internacional com o Commercial Crew Program. Por meio da iniciativa, a agência espacial fechou contratos com a SpaceX e Boeing para o desenvolvimento de cápsulas, usadas para lançamentos múltiplos de tripulações à estação.

A Boeing ainda precisa realizar um teste de voo tripulado com sua cápsula Starliner, enquanto a SpaceX já leva astronautas à estação regularmente com as cápsulas da família Dragon; ainda, a empresa de Musk é a grande aposta da NASA para desenvolver o primeiro módulo de pouso comercial tripulado para o programa Artemis. Estes e outros feitos mostram que o setor privado e estatal podem ser de grande ajuda um para o outro.

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A China entra na corrida

A China deu os primeiros passos em seu programa espacial no início da década de 1960, mas foi somente em 1970 que o país lançou seu primeiro satélite. Já em 2003, Yang Liwei se tornou o primeiro taikonauta (o nome dado aos astronautas chineses) a ir ao espaço — um feito e tanto, afinal, a nação se tornou ali a terceira levar um humano ao espaço por meios próprios!

O taikonauta Yang Liwei (Imagem: Reprodução/Xinhua)
O taikonauta Yang Liwei (Imagem: Reprodução/Xinhua)

Desde então, a China se consolidou em seu programa espacial, dedicando-se a missões robóticas a diferentes destinos como a Lua e, mais recentemente, Marte: a Tianwen-1, a primeira missão independente lançada pelo país rumo ao Planeta Vermelho, levou um rover e um orbitador ao nosso vizinho com enorme sucesso.

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No momento, a nação está trabalhando na Tiangong, sua terceira estação espacial na órbita da Terra. O complexo ainda está em construção, mas já recebeu diferentes tripulações de taikonautas e deverá ser concluído até o fim deste ano, servindo como uma plataforma de experimentos científicos, missões comerciais e até parcerias com cientistas e instituições de outros países.

Caso ainda restem dúvidas do quanto a China progrediu na exploração espacial, é só lembrar que o país lançou mais de 200 foguetes nos últimos 10 anos e já levou mais de 12 de seus astronautas ao espaço. Nos próximos anos, a nação planeja coletar amostras de um asteroide e um cometa; há planos também para coletar e trazer amostras de Marte e até enviar uma sonda para explorar Júpiter.

O que aprendemos sobre Marte

O início da década de 2010 foi marcado por uma série de missões robóticas enviadas a Marte, com o objetivo de nos ensinarem mais sobre nosso vizinho — entre elas, está o querido rover Curiosity, da NASA. Ele pousou na cratera Gale, no Planeta Vermelho, em 2012, e mostrou aos cientistas que Marte já teve as condições químicas adequadas para a existência de microrganismos.

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O rover Curiosity, enviado a Marte em busca de evidências de condições para a vida no planeta (Imagem: Reprodução/NASA/JPL-Caltech/MSSS)
O rover Curiosity, enviado a Marte em busca de evidências de condições para a vida no planeta (Imagem: Reprodução/NASA/JPL-Caltech/MSSS)

Já em 2014, a missão Mars Atmosphere and Volatile EvolutioN (MAVEN), também da agência espacial norte-americana, chegou a Marte para estudar sua atmosfera. Dois anos depois, foi a vez de a Agência Espacial Europeia e a Rússia lançarem o programa ExoMars, que levou o orbitador Trace Gas Orbiter (TGO) e o lander Schiaparelli ao planeta, em 2016. O lander acabou colidindo com a superfície marciana, mas felizmente o TGO segue funcionando e revelando mais sobre Marte, como os processos de perda de água na atmosfera do planeta.

O interior marciano foi examinado pela sonda InSight, que pousou em Marte em 2018, acompanhou os abalos sísmicos no interior do planeta e desvendeu informações sobre seu núcleo; hoje, o lander está com tanta poeira acumulada em seus painéis solares que deverá encerrar sua missão no fim de 2022. Juntas, estas missões mostraram que nosso vizinho é um planeta ativo, que já foi rico em água e outros ingredientes necessários para a vida como conhecemos.

Claro que, mesmo assim, ainda há várias perguntas sobre nosso vizinho; por exemplo, ainda não sabemos ao certo se houve ou há vida por lá. Assim, em 2020, os Estados Unidos, Emirados Árabes e China aproveitaram o momento de maior proximidade entre Marte e a Terra e enviaram missões para lá em busca destas respostas; juntas, elas vão coletar dados essenciais para o envio de missões tripuladas a Marte — o que talvez aconteça já na próxima década.

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Sondas que estudam a Lua

Em 1959 nosso satélite natural recebeu a visita da Luna 2, uma missão soviética que se chocou contra um ponto próximo da cratera Autolycus. Já em 1976, a missão soviética Luna 24 coletou amostras lunares que, por muito tempo, sustentaram o título de últimas obtidas. Isso mudou em 2020, ano em que a China lançou a missão Chang’e 5 rumo ao nosso satélite natural com o objetivo de coletar amostras e trazê-las para cá.

Cápsula com amostras coletadas pela missão Chang'e 5 (Imagem: Reprodução/Our Space/ Wang Jiangbo)
Cápsula com amostras coletadas pela missão Chang'e 5 (Imagem: Reprodução/Our Space/ Wang Jiangbo)

A tarefa foi cumprida com grande sucesso, e vem rendendo estudos publicados em diversas revistas científicas. Esta missão foi reflexo dos esforços que a China já vinha empregando há anos para explorar a Lua: em 2001, por exemplo, o país lançou o satélite Chang’e 1 à órbita lunar; já em 2010, lançou a Chang’e 2, um orbitador que tirou fotos da superfície da Lua em preparação para pousos futuros. Eles vieram com a missão Chang’e 3, que pousou o rover Yutu em Mare Imbrium em 2013.

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Já em 2019, a China levou o módulo estacionário Chang’e 4 ao lado afastado da Lua, acompanhado pelo rover Yutu-2. Foi também naquele ano que Israel lançou a missão Beresheet rumo ao nosso satélite natural, que acabou colidindo com a superfície em vez de pousar. Ainda em 2019, a Índia lançou a missão lunar Chandrayaan-2, que levou um rover, lander e um orbitador à Lua para estudar a água por lá; o lander acabou destruído no pouso, mas o orbitador segue funcionando.

Enquanto isso, as missões robóticas da NASA seguem estudando nosso satélite natural. Uma delas é a Lunar Reconnaissance Orbiter, que opera desde 2009 e já capturou uma série de imagens da superfície lunar. Mais recentemente, a agência espacial lançou a missão CAPSTONE, um pequeno satélite que irá ajudar os cientistas a entender melhor uma nova órbita chamada órbita de halo quase retilínea, uma trajetória altamente elíptica ao redor da Lua que poderá ser usada futuramente pela estação espacial Lunar Gateway.

O tão aguardado retorno à Lua

Entre 1969 e 1972, o programa Apollo levou 12 homens à Lua. Ao longo de diferentes missões, eles coletaram rochas, tiraram fotos, conduziram experimentos, hastearam bandeiras e mais. Mas desde então, nenhum humano colocou os pés em solo lunar.

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Buzz Aldrin na Lua, durante a missão Apollo 11 (Imagem: Reprodução/NASA)
Buzz Aldrin na Lua, durante a missão Apollo 11 (Imagem: Reprodução/NASA)

Passados 50 anos após os tripulantes da Apollo 17 deixarem as últimas pegadas humanas na Lua, a NASA vem trabalhando para levar novos astronautas ao nosso satélite natural. Desta vez, o programa será chamado “Artemis” (o nome da irmã gêmea do deus Apolo, na mitologia grega), e promete levar a primeira mulher e a primeira pessoa negra à superfície da Lua.

A primeira missão do programa será a Artemis I, uma espécie de “teste” do poderoso foguete Space Launch System, que ainda neste ano lançará a cápsula Orion rumo à Lua, sem tripulação, para uma jornada de cerca de quatro semanas. Se tudo correr bem, em 2023 será o momento da missão Artemis II, que levará astronautas para a órbita lunar e os trará de volta. O tão aguardado pouso no solo da Lua deve acontecer na missão seguinte, a Artemis III.

Representação do foguete Space Launch System, o "coração" do programa Artemis (Imagem: Reprodução/NASA)
Representação do foguete Space Launch System, o "coração" do programa Artemis (Imagem: Reprodução/NASA)
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Agora, o que falta é descobrir quando essa missão acontecerá: em função de uma série de mudanças no cronograma do programa Artemis, o primeiro pouso na Lua não deverá acontecer antes de 2026.