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Conheça o passado, o presente e o futuro do programa espacial chinês

Por| 21 de Fevereiro de 2021 às 18h00

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Os planos de exploração espacial da China não costumam ser tão divulgados quanto os da NASA, por exemplo, mas isso não significa que sejam modestos. Na verdade, a Administração Espacial Nacional da China (CNSA, da sigla em inglês) mostra que o país tem grandes ambições, tais como enviar seus astronautas à Lua e lançar uma nova estação espacial própria. A exploração lunar do país, conhecida pelo programa Chang'e, é um bom exemplo do sucesso da China no espaço.

Acreditando nas reservas lunares de metais como o ferro, e na presença do gás Hélio-3, muito raro na Terra, o país planejou um programa de longo prazo que começou com a primeira missão não tripulada, chamada Chang'e 1. Ela foi lançada em 2007 e foi muito bem-sucedida. Em seguida, da Chang'e 2 à Chang'e 5, a China foi aos poucos marcando sua presença permanente na Lua.

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No início do programa Chang'e, no final de 2007, a China planejava mapear a superfície lunar e explorar locais de pouso para futuras naves, e isso foi executado muito bem em apenas dois anos, com a sonda orbital Chang'e 1. Em 2010, a Change' 2, também orbital, foi lançada com objetivos similares. Foi só com a Chang'e 3 que o país começou a pousar em nosso satélite natural, tornando-se a terceira nação a fazer isso (depois da União Soviética e dos Estados Unidos).

Em seguida, a Chang’e 4 levou consigo um módulo estacionário e um rover chamado Yutu-2, em dezembro de 2018, e pousou com sucesso no lado afastado da Lua no comecinho de 2019. Foi então que começaram as investigações na cratera Von Kármán, que fica dentro de uma cratera de impacto ainda maior com o tamanho de 2.500 km, conhecida como bacia do Polo Sul-Aitken. Essa pesquisa continua até hoje, bem como os contínuos orçamentos de bilhões de dólares.

Mas a história começou lá atrás, nos tempos do líder revolucionário Mao Tsé-Tung. Vamos ver um pouco de como foi o início de tudo e quais são os planos dos chineses para o futuro, tudo dividido em cinco etapas.

A convocação de Mao e a conquista da Lua

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Em 1957, a União Soviética enviou o primeiro satélite feito pelo homem à órbita terrestre, o Sputnik, o que deu início à corrida espacial, famosa pela competição das duas grandes potências: os Estados Unidos e a União Soviética. Acontece que além destes, havia outro interessado na disputa. Mao Tsé-Tung, fundador da República Popular da China, convocou os cidadãos, e disse: nós também fabricaremos satélites! A China contou muito com a ajuda da URSS, que fornecia tecnologias, até que a parceria chegou ao fim com o rompimento de relações entre as duas nações em 1960.

A primeira etapa do plano se concretizou em 1970, com o primeiro satélite chinês, lançado pelo foguete Long March. Aliás, este nome remete ao Exército Vermelho que ajudou a estabelecer Mao como líder do Partido Comunista Chinês. O nome dos foguetes chineses ainda levam este mesmo nome. Entretanto, foi só em 2003 que o país conseguiu enviar o primeiro taikonauta (equivalente a astronauta em inglês, ou cosmonauta em russo) ao espaço. Yang Liwei, então, deu a volta ao redor do nosso planeta 14 vezes em 21 horas.

A partir daí, a China se estabeleceu como o terceiro país a enviar um ser humano ao espaço, por seus próprios meios, e buscou avançar em seu programa espacial, planejando missões tripuladas contínuas. A China lançou cinco missões tripuladas desde então, e iniciou seus planos de construir uma estação espacial orbital, ao redor do planeta. O programa progrediu, com a estação Tiangong-1 sendo lançado em setembro de 2011.

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Em 2013, a China lançou o primeiro Jade Rabbit, ou simplesmente Yutu, que pode ser traduzido como Coelho de Jade. O nome é inspirado em um folclore chinês e é usado até hoje para batizar os rovers que percorrem a superfície lunar. O primeiro Yutu fracassou após “adormecer” e parar de enviar sinais à Terra, mas em seguida se recuperou, e conseguiu estudar a superfície da Lua por 31 meses, indo muito além de sua expectativa de vida.

Com a Chang'e 4, a China teve que suprir uma nova necessidade, o que culminou em novas tecnologias. Eles tiveram que enviar satélites à órbita lunar porque a sonda e o rover da missão estavam do lado afastado da Lua (aquele que está sempre escondido de nós, na Terra), de modo que é impossível haver uma comunicação direta de lá para cá. Assim, o satélite de retransmissão Queqiao foi lançado para cobrir essa "lacuna".

A estação orbital da China

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A "família" de estações orbitais chinesas recebeu o nome “Tiangong”, que pode ser traduzido como Palácio Celestial. Em 2016, a China lançou seu segundo laboratório orbital, o Tiangong-2. Os taikonautas que visitaram o lugar realizaram algumas experiências, tais como cultivo de arroz e outras plantas em ambiente de microgravidade.

Embora os planos pareçam “andar a passos lentos”, a China está determinada a inaugurar a Tiangong-3, sua terceira estação espacial modular. De acordo com informações de Qu Yiguang, vice-chefe de projeto do foguete Long March 5, as atividades da Tiangong-3 deverão ser iniciadas pela China já neste ano. O foguete Long March, que já está em sua geração de número 5, deve ser utilizado na missão de lançar essa que será a maior construção do programa espacial chines. Os planos incluem começar a realizar lançamentos para a construção da estação espacial, o que pode somar um total de 12 missões até a conclusão em 2022.

Assim como acontece com a Estação Espacial Internacional, a Tiangong-3 deverá ser ocupada por pessoas por longos períodos, entre três a seis taikonautas por tripulação, sendo que a China já selecionou 18 astronautas para esse programa. A Tiangong-3 terá um módulo central, chamado Tianhe-1, e outros dois módulos para experimentos científicos de áreas como biologia e física.

Tianwen-1

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Com a Tianwen-1, a China deixou claro para o mundo que também é capaz de colocar naves na órbita de Marte. Agora, resta conseguir pousar o rover na superfície do Planeta vermelho, o que deve acontecer no mês de maio. Tianwen-1 significa algo como "busca pela verdade celestial", e o objetivo da missão é levar o módulo de aterrissagem, que por sua vez servirá de plataforma para que um rover desça até o solo.

Por enquanto a sonda orbital ficará estudando o planeta do alto, provavelmente até o final de abril, registrando imagens da superfície de Marte para estudar o melhor local de pouso. Bem, a superfície marciana já é amplamente mapeada por orbitadores de outras agências espaciais, e as imagens são acessíveis para quem desejar estudar, mas a China prefere ser independente em sua própria missão.

De acordo com informações de 2020, a China pretende pousar seu módulo e rover na região Utopia Planitia, ou ao menos essa era a candidata favorita a local de pouso. Trata-se da mesma região onde a NASA pousou a Viking 2 em 1976, por sinal. Se o pouso for bem-sucedido, o rover começará sua tarefa de estudar a geologia marciana, seus campos gravitacionais e investigar sua distribuição de água.

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O sucesso dessa missão será fundamental para que a China conquiste outros marcos na exploração de Marte, que é apenas um dos alvos do ambicioso programa espacial do país.

O futuro do "sonho espacial" da China

A China já anunciou alguns objetivos para o futuro daquilo que eles chamam de "sonho espacial", tais como a exploração dos dois polos lunares com missões tripuladas, ou seja, enviar taikonautas para a Lua, em meados de 2030. Esse será o marco que estabelecerá a presença definitiva da China na Lua, além de possibilitar uma estação científica de pesquisa por lá. Esses marcos visam não apenas alcançar as outras nações, como os EUA, mas também levar o país à capacidade de manter seu próprio programa espacial sem depender de outros países.

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Curiosamente, a intenção da China em ser independente no setor segue na contramão de quase todos os outros países envolvidos com a exploração espacial de modo cooperativo. Para atingir esse objetivo, os chineses há estão desenvolvendo um novo foguete que deve ter 87 metros de altura e 5 metros de diâmetro, ou seja, duas vezes mais alto do que o Long March 5. Este novo veículo terá um peso de decolagem de mais de 2 mil toneladas métricas, quase o triplo do Long March 5.

Esse novo veículo será usado para transportar pessoas e cargas úteis para uma órbita de transferência lunar, permitindo assim que uma cápsula de pouso leve tainokaitas para a superfície lunar. Além disso, o foguete contará com três núcleos, em um estilo que lembra o dos foguetes Delta IV Heavy, da United Launch Alliance, e Falcon Heavy, da SpaceX. Ele recebeu o apelido de “921 rocket”, em uma referência ao programa espacial tripulado do país iniciado em 21 de setembro de 1992.

Os planos não param por aí. A China também pretende construir uma estação de energia solar na órbita da Terra. Além disso, os chineses já planejaram a missão Chang'e 6 para coletar mais amostras de rocha e solo lunar, provavelmente entre 2023 e 2024, para trazê-las à Terra — dando continuidade ao sucesso da missão Chang'e 5, que trouxe amostras lunares à Terra no final do ano passado. A Chang'e 7 também já foi idealizada, e deverá mapear o polo sul da Lua, que deve ser um local interessante para uma eventual habitação humana por conter água congelada. Por fim, a Chang'e 8 testará tecnologias para viabilizar a construção da tão sonhada base permanente na Lua. Curiosamente, uma parceria com a Rússia deve voltar a acontecer nesse projeto.

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Faz parte desse grande projeto iniciativas para incentivar a formação de pequenas empresas privadas chinesas para desafiar as empresas privadas espaciais dos Estados Unidos. Embora a China não faça muito barulho a respeito de seus planos, eles estão muito bem definidos de modo que têm um objetivo nítido: rivalizar com os Estados Unidos no que diz respeito à exploração espacial tanto na Lua, quando em Marte e na órbita terrestre.

Claro que a China não se limita a "copiar" o que a NASA já faz. Os chineses já declararam intenções de enviar uma missão de coleta e retorno de amostras marcianas em 2028, o que deve concretizar as capacidades de explorar outros mundos além do sistema Terra-Lua. Provavelmente, em breve veremos planos de explorar outros planetas próximos — e, quem sabe, além.