MediaTek Dimensity 9300 estreia prometendo superar Snapdragon 8 Gen 3
Por Renan da Silva Dores • Editado por Wallace Moté |
Como havia confirmado em outubro, a MediaTek apresentou nesta segunda-feira (6) o Dimensity 9300, novo chipset da gigante destinado a smartphones Android premium. O componente chama atenção por ser o primeiro processador para celulares a apostar em uma CPU composta apenas de núcleos de alto desempenho em uma configuração bastante agressiva, que superaria o Snapdragon 8 Gen 3 e outros rivais ao oferecer até 40% mais performance em comparação à geração anterior.
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O maior destaque do lançamento da MediaTek é a CPU, que deixa de lado os núcleos de alta eficiência, mais econômicos, em favor de uma configuração agressiva composta apenas de núcleos de alto desempenho, chamada pela gigante de "All Big Core Design" (algo como "Design de Grandes Núcleos", em tradução livre). Ainda temos oito núcleos distribuídos em três grupos no formato 1 + 3 + 4, mas a disposição é o ponto de atenção aqui.
Temos um Cortex-X4 de máxima performance rodando a até 3,25 GHz, mais três Cortex-X4 trabalhando a 2,85 GHz, e quatro Cortex-A720 de alto desempenho operando a até 2,0 GHz — os econômicos Cortex-A520 foram deixados de fora da novidade. Essa é a primeira vez que essa combinação é vista em um smartphone, ainda que já tenha sido usada em notebooks pela Qualcomm com o Snapdragon 8cx Gen 3.
Quem costuma acompanhar o lançamento de novos núcleos projetados pela ARM deve saber que trazer vários Cortex-X aos smartphones é uma estratégia arriscada, não apenas em termos de consumo de energia, aspecto delicado em celulares, como também pelo aquecimento. Dito isso, a MediaTek curiosamente garante que o Dimensity 9300 acaba sendo mais eficiente que o Dimensity 9200, com consumo 33% menor.
A justificativa da marca é que o uso de mais núcleos poderosos leva à execução das tarefas mais rapidamente, o que em consequência gera um menor gasto de energia. É possível que a companhia tenha razão — quando anunciou os chips Tensor G1 e Tensor G2, que traziam dois núcleos Cortex-X cada, o Google deu uma explicação similar, ainda que a execução da gigante não tenha convencido. Mais do que isso, o novo Tensor G3 segue o padrão da concorrência ao apostar em apenas uma das soluções de máxima performance.
Há, porém, mais dois pontos a favor da MediaTek, começando pelo uso da litografia N4P de 4 nm da TSMC, em vez de algum dos processos da Samsung, como no caso da família Tensor. É comprovado que as tecnologias da fabricante taiwanesa são superiores aos da empresa sul-coreana, oferecendo mais velocidade e eficiência. Além disso, durante o anúncio dos Cortex-X4, A720 e A520, a própria ARM sugeriu que, ao trabalhar em um estado limitado de energia, o Cortex-A720 é equivalente ao Cortex-A520 em seu funcionamento máximo.
Vai ser preciso aguardar pelo lançamento dos primeiros smartphones equipados com o Dimensity 9300 para sabermos se a estratégia valerá a pena, e se de fato não teremos aquecimento excessivo, mas testes vazados já mostram que o pico de performance da novidade impressiona. Equipado em um celular da Vivo Mobile — supostamente o aguardado Vivo X100 —, a plataforma atingiu 2.270 pontos em single-core e 7.916 pontos em multi-core no Geekbench 6.
Em comparação, nos melhores resultados, o Snapdragon 8 Gen 3 promete atingir 2.295 pontos em single-core e 7.560 pontos em multi-core, o que faz o 9300 superar a proposta da Qualcomm em até 5%. Ambos são benchmarks selecionados, e é provável que o desempenho varie de acordo com cada modelo de celular, com os tipos de memória usados e da refrigeração adotada. Mesmo assim, um chip MediaTek superar o concorrente Snapdragon é um grande feito.
Há mais alguns aspectos interessantes em torno da CPU: o cache de sistema está 25% maior, chegando aos 10 MB (contra 6 MB do Snapdragon 8 Gen 3), e há suporte às mais velozes memórias RAM LPDDR5T, que prometem taxas de transferência 13% maiores que as mais comuns LPDDR5X. Fora isso, como era de se esperar, o armazenamento padrão é o veloz UFS 4.0, já visto no Dimensity 9200.
Dimensity 9300 é 1º com nova GPU Immortalis-G720
Apesar de não chamar tanta atenção quanto a CPU, a GPU Immortalis-G720 na versão de 12 núcleos, outra solução desenvolvida pela ARM, traz melhorias de peso. Junto a uma performance 23% melhor que a da Immortalis-G715 de 11 núcleos empregada no Dimensity 9200, a MediaTek promete 46% mais performance em Ray Tracing, a técnica avançada que simula o comportamento da luz em tempo real.
Sem números concretos, é difícil dizer como os ganhos se comparam à Adreno 750 do Snapdragon 8 Gen 3, mas é possível estimar que a Qualcomm ainda tenha vantagem nesse departamento, mesmo que por uma margem pequena. O mais interessante é que os avanços seriam obtidos com um grande salto em eficiência energética — a GPU estreante consumiria 40% menos energia que a antecessora, o que se traduz em mais tempo de uso em games e tarefas pesadas.
Ainda em relação a imagens, o Dimensity 9300 embarca os novos Imagiq 990, processador de sinal de imagem (ISP) para as câmeras, e MiraVision 990, dedicado ao gerenciamento da tela do celular. O Imagiq 990 chega trabalhando de forma mais integrada à APU 790 (o acelerador de IA da MediaTek) para turbinar a qualidade das fotos e vídeos, trazendo como novidades a segmentação da imagem nas gravações, capturas com HDR sempre ativo e truques como o "zoom sem perdas" e processamento dedicado de estabilização óptica (OIS).
Por sua vez, o MiraVision 990 é agora compatível com telas de resolução até WQHD com taxa de atualização de 180 Hz, ou 4K com taxa de 120 Hz, e recebeu suporte ao formato de imagem Ultra HDR do Google, que possui dados adicionais em um arquivo JPEG para possibilitar que o display dos smartphones aplique HDR na hora de exibir fotos, entregando brilho e contraste mais intensos.
Mais do que isso, a solução recebeu recursos vindos direto dos chipsets da MediaTek para TVs, incluindo mapas de profundidade gerados em tempo real com IA, e HDR que se adapta às condições de iluminação do ambiente, também se apoiando em Inteligência Artificial.
Chip está preparado para IA Generativa
Seguindo a moda do momento, a APU 790 do Dimensity 9300 estreia prometendo estar preparada para IA Generativa, suportando a reprodução de Grandes Modelos de Linguagem (LLMs) localmente, sem ser preciso trabalhar em conjunto com servidores. Recebendo suporte a dados no formato INT4, que são menos precisos, mas permitem a execução de cálculos de forma mais rápida, o acelerador seria oito vezes mais veloz que a geração passada, ou duas vezes melhor usando dados float de alta precisão, enquanto consumiria 45% menos energia.
O que impressiona por aqui é o suporte a LLMs de até 30 bilhões de parâmetros, com velocidades de 20 tokens por segundo (o número de palavras ou termos gerados por segundo) no caso de LLMs com até sete bilhões de parâmetros. Novamente, é difícil comparar essas capacidades com as do Snapdragon 8 Gen 3, pela ausência de informações mais detalhadas, mas tudo indica que ambas as plataformas são equivalentes nesse quesito.
Conectividade avançada com Wi-Fi 7
Fecha o pacote o kit de conectividade, que também se iguala aos concorrentes ao oferecer 5G aprimorado por IA, que aumentaria a eficiência energética em 10%, junto ao suporte aos novos Wi-Fi 7 e Bluetooth 5.4, e a recursos de segurança proporcionados pela versão atualizada da arquitetura ARM e pelo acelerador dedicado para proteção durante a inicialização dos smartphones.
O MediaTek Dimensity 9300 chega a aparelhos que serão revelados ainda em 2023, mas datas precisas e marcas parceiras não chegaram a ser anunciadas. Entre os rumores, espera-se que ao menos um modelo das linhas OPPO Find X7 e Vivo X100 sejam equipados com o componente. A má notícia é que, caso a disponibilidade seja similar à de gerações anteriores, não devemos ver telefones munidos do chip chegarem ao Brasil de forma oficial.
Fonte: via Android Authority