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Por que faz sentido a Microsoft querer comprar o TikTok

Por| 03 de Agosto de 2020 às 20h00

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Solen Feyissa/Pixabay
Solen Feyissa/Pixabay
Tudo sobre TikTok

De repente, o TikTok se viu em um turbilhão do qual pode sair tendo outro dono — ao menos no que tange as suas operações nos Estados Unidos e em alguns outros países. Isso porque o governo do país norte-americano fechou o cerco em torno da rede social de vídeos e a saída para evitar um bloqueio na terra do Tio Sam parece ser mesmo a venda da filial de lá para uma empresa de lá.

Para além das acusações (até agora sem provas) de que a ByteDance, startup mais valiosa do mundo e dona do TikTok, repassa dados de usuários dos EUA para o Partido Comunista Chinês, vale debater as razões pelas quais a Microsoft estaria interessada em adquirir o aplicativo. Olhando para alguns números e também para o cenário das redes sociais na última década e meia, esse movimento faz todo sentido.

Furando a bolha do Facebook

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Se você é um pouco mais ligado em internet e redes sociais, já deve ter lido pela web nomes como Friendster, Meerkat, Fotolog, So.cl, Orkut, Google Plus e MySpace. Apesar de algumas dessas iniciativas terem feito um certo barulho ou sido bancadas por gigantes como Google e Microsoft, nenhuma sequer arranhou o sucesso estrondoso do Facebook.

Tudo bem que marcas como Twitter e Snapchat ainda resistem bravamente e até com certa eficácia, mas a rede social de Mark Zuckerberg nunca encontrou um adversário a altura — e, quando encontrou, abriu o bolso para trazê-los para baixo do seu guarda-chuva ou simplesmente copiou o rival sem nenhum pudor.

Eis que chega o TikTok. Lançado em 2016, o app, que na China se chama Douyin, comprou a rival Musical.ly em 2017 e desde então reina praticamente solitário nesse mercado de vídeos curtos com dublagens, montagens e efeitos. Outros surgiram nesse meio tempo, mas não conseguiram o mesmo sucesso do TikTok, que parece ter furado a bolha das pessoas mais conectadas e vem se tornando cada vez mais familiar para diferentes públicos.

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O serviço da ByteDance se sobressaiu e, mesmo com apenas quatro anos de idade, tornou-se um dos apps mais baixados de toda a década de 2010: foram mais de 1,5 bilhão de downloads, atrás apenas de Facebook e WhatsApp. Quase metade desse montante (738 milhões) apenas em 2019, segundo a consultoria especializada AppAnnie.

As estimavas recentes apontam para cerca de 800 milhões de usuários ativos todos os meses no TikTok ao redor do mundo, o que coloca a ByteDance como a quarta maior do planeta em redes sociais. Hoje, ela está atrás apenas de Facebook (Facebook, Instagram e WhatsApp), Google (YouTube) e Tencent (WeChat e QQ).

Claro que, ao adquirir a operação do TikTok nos EUA — onde a rede tem um número que varia entre 65 milhões e 80 milhões de usuários —, a Microsoft abocanharia apenas uma parte desse bolo, mas há potencial para expansão. Ainda não se sabe quais seriam os termos do possível negócio, é claro, mas provavelmente ele serviria de base para que a MS expanda a iniciativa em torno da rede para outras localidades daqui a alguns anos, por exemplo, acirrando a disputa com Facebook e com a própria ByteDance.

O assunto é financeiro

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Se a questão levada para a parte simbólica de ter uma marca e uma rede social forte não é argumento suficiente, encaminhar a prosa para o lado das cifras talvez torne tudo ainda mais plausível. A ByteDance vale hoje mais de US$ 100 bilhões, sendo classificada como “a startup mais valiosa do planeta”.

Fundada em 2012 por Zhang Yiming, a empresa teve uma ascensão meteórica muito graças ao TikTok e terminou 2019 com uma receita de US$ 17 bilhões, mais que o dobro dos US$ 7,4 bilhões feitos em 2018. Descontado tudo o que se tem para descontar, o lucro anual da companhia foi de US$ 3 bilhões — para se ter uma ideia, o Uber fechou 2019 com perdas na casa de US$ 8,5 bilhões.

Outra comparação, talvez até mais válida do que a do Uber, é com o LinkedIn. Adquirida pela Microsoft em 2016 por US$ 26,2 bilhões, a rede social corporativa fechou 2019 com uma receita global de US$ 6,8 bilhões, menos da metade do valor arrecadado pela potencial nova aquisição da MS.

Atualmente, estima-se que o LinkedIn tenha 165 milhões de usuários nos Estados Unidos, número consideravelmente superior ao do TikTok, mas as possibilidades de monetização da rede de vídeos parecem muito mais eficientes do que as assinaturas premium e soluções de recrutamento e marketing oferecidas pelo LinkedIn.

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A única no páreo

Outro ponto importantíssimo a ser levado em conta é que a Microsoft está praticamente sozinha no páreo por essa “galinha dos ovos de ouro” que é o TikTok. Como as suas principais rivais (Google, Apple, Facebook e Amazon) precisam se explicar na Justiça dos EUA sobre possíveis práticas anticompetitivas, não há outro grande nome da tecnologia no páreo para essa disputa.

Agora, a empresa está na fase de análise, confirmou que se interessa mesmo pelo TikTok e deve apresentar algo mais concreto quanto a isso nas próximas semanas, lembrando que Trump deu 45 dias para que a aquisição seja completada. Caso contrário, o destino do TikTok deve ser mesmo o bloqueio nos EUA, como aconteceu na Índia e pode acontecer ainda no Japão.

Assim, independentemente de estarem erradas ou não as acusações feitas pela administração de Donald Trump de que o TikTok espiona cidadãos dos EUA e repassa tudo para Pequim, a Microsoft parece ter nas mãos a chance de adquirir o ingresso dourado para o restrito clube das redes sociais muito bem-sucedidas do planeta.

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Será que nas mãos da dona do Windows o negócio continuará com potencial de crescer mais e mais? É difícil apostar no contrário.

Fonte: Investopedia, Statista, Business of Apps (1, 2)