Por que o PlayStation 5 Pro é tão caro?
Por Jones Oliveira | •
O PS5 Pro chamou muita atenção em seu anúncio, mas não necessariamente pelas especificações técnicas ou pelas novidades que oferece. Em vez disso, o novo console gerou uma avalanche de discussões e descontentamento pelo preço que vai custar: US$ 700 nos EUA e R$ 6.999 no Brasil.
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De fãs reclamando nas redes sociais a influenciadores afirmando que o valor é injustificável, a insatisfação é generalizada e ninguém consegue entender ou explicar por que o preço do PS5 Pro é tão alto.
A frustração só aumenta quando olhamos para o passado e constatamos que nem o PlayStation 3 custava tão caro quando foi lançado por US$ 600 e causou uma onda de protestos online em 2006. E de fato, o PlayStation 5 Pro só não é o videogame mais caro da história porque o Philips CD-i saiu em 1991 custando US$ 1.000.
Apesar da terrível sensação de que a Sony está tirando proveito da gente cobrando US$ 700 por um console que não tem nem leitor de discos, a verdade é que há vários motivos para o PS5 Pro ser tão caro.
De uma vez por todas, entenda por que o preço do PS5 Pro é tão alto.
Preço de SSDs e memórias em alta
Para explicar por que o PS5 Pro é tão caro, é preciso olhar com atenção para a indústria de hardware, sobretudo a de SSDs e memórias.
Desde 2023, fabricantes desses componentes têm tentado se recuperar dos prejuízos amargados durante a pandemia de covid-19. Para isso, empresas como Samsung, Western Digital e Kioxia elevam, trimestre após trimestre, os preços de dispositivos de armazenamento, sejam eles discos rígidos, SSDs ou memórias.
O problema é que esses ajustes sucessivos de preço coincidiram com o advento e popularização de soluções de inteligência artificial e dos chamados AI PCs. Essas tecnologias de IA criaram uma demanda sem precedentes por memórias RAM mais velozes e SSDs com maior capacidade, algo que as fabricantes não esperavam — ainda mais em um cenário de retomada.
Sem capacidade de atender à demanda altíssima, a "saída" foi cobrar ainda mais caro por essas peças. Para se ter ideia, somente em 2024 o acúmulo de altas já deixou SSDs e memórias entre 40% e 50% mais caros.
Esse cenário negativo já vinha sendo citado por analistas de mercado como um dos principais motivos para a Sony ter elevado o preço do PS5 em até 82,5% no Japão desde seu lançamento, não conseguir reduzir o preço do modelo em outros mercados e, principalmente, anunciar o PS5 Pro custando tão caro.
A situação fica mais grave quando lembramos que o PS5 Pro vem com melhorias tanto de memória quanto de armazenamento. O modelo base do PS5 já usava memórias GDDR6 de alta velocidade (14.000 MT/s) e um SSD PCIe 4.0 de 1 TB fabricado pela Samsung.
Na versão Pro, ele ganha memórias novas e mais rápidas (18.000 MT/s) e amplia o armazenamento para um SSD de 2 TB, fabricado justamente por uma das empresas que está liderando o movimento de alta dos preços desse componente. E é óbvio que isso custa mais caro, independentemente dos contratos assinados pela Sony com seus fornecedores e parceiros.
Para exemplificar como isso impacta o preço final do PS5 Pro, vamos falar especificamente sobre o upgrade do SSD. Um modelo semelhante de 1 TB usado no PS5 Slim hoje custa R$ 900; já um modelo de 2 TB custa R$ 1.500 — diferença de R$ 600 somente no armazenamento.
Comparativo: PlayStation 5 Pro x PlayStation 5 x Xbox Series X | |||
PS5 Pro | PS5 | Xbox Series X | |
CPU | Viola | Obreon | Scarlett |
Arquitetura | AMD Zen2 de 8 núcleos | AMD Zen2 de 8 núcleos | AMD Zen2 de 8 núcleos |
Litografia | 4nm da TSMC | 7nm da TSMC | 7nm da TSMC |
Tamanho do die | N/D | 308mm² | 360,5mm² |
Clock da CPU | Até 3,85 GHz | Até 3,55 GHz | Até 3,8 GHz |
NPU | XDNA 2 | Não | Não |
GPU | RDNA 3 e RDNA 4 | RDNA 2 | RDNA 2 |
Unidades computacionais | 60 | 36 | 52 |
Clock da GPU | N/D | Até 2,23 GHz | Até 1,82 GHz |
Performance GPU | N/D | Até 10,3 TFLOPs | Até 12,1 TFLOPs |
Memória RAM | 16 GB GDDR6 | 16 GB GDDR6 | 16 GB GDDR6 |
Barramento de memória | 256-bit | 256-bit | 320-bit |
Largura de banda | 576 GB/s | 448 GB/s | 560 GB/s |
Velocidade da memória | 18.000 MT/s | 14.000 MT/s | 14.000 MT/s |
Armazenamento | 2 TB NVMe | 825 GB NVMe | 1 TB NVMe |
Expansão armazenamento | NVMe SSD | NVMe SSD | Até 1 TB com cartão proprietário |
Preço de lançamento | US$ 700 | US$ 399 (Slim) a US$ 499 (Fat) | US$ 499 |
Lançamento | 7 de novembro de 2024 | 12 de novembro de 2020 | 10 de novembro de 2020 |
SoC atualizado e GPU inédita
A Sony foi bastante enfática sobre quanto o PS5 Pro será mais poderoso que o modelo original e afirmou diversas vezes que ele vai entregar uma experiência de gameplay fluida com 60 FPS e imagem 4K.
O problema é que a companhia falhou em comunicar qual é o real valor dessa evolução em termos técnicos e financeiros, deixando a sensação de que o PS5 Pro entrega muito pouco pelo tanto que custa, que o preço é injustificável.
Porém, um olhar mais atento para as especificações técnicas do PS5 Pro revela que o desempenho 45% superior em relação ao modelo base veio às custas de um SoC novo e uma GPU muito mais moderna.
Até agora, o PlayStation 5 utilizava o SoC Oberon de 6nm feito em parceria com a AMD e fabricado pela TSMC. No PS5 Pro, esse chip passou por uma revisão para ser mais eficiente e poderoso, com clocks maiores. Por isso, ele agora é chamado de Viola e é fabricado em litografia aprimorada de 4nm.
Embora esse processo de fabricação seja o mais popular da TSMC, estamos falando de um chip semipersonalizado, com particularidades que exigem atenção especial. E é claro que isso custa mais, principalmente quando a fabricante de semicondutores está enfrentando forte demanda e levantando capital para investir em uma nova arquitetura e reduzir sua litografia para 2nm.
Uma das particularidades mais importantes desse novo SoC do PS5 Pro é a GPU, totalmente reformulada. O modelo Slim utilizava uma placa gráfica baseada em arquitetura RDNA2, hoje já vista como defasada em eficiência energética e ausência de recursos de IA.
Na nova versão do console, a placa de vídeo foi totalmente revista e refeita. Agora, ela é baseada na atual arquitetura RDNA3 e, de acordo com o arquiteto líder do PlayStation, Mark Cerny, traz "recursos de ray tracing avançados criados pela AMD e que ainda não são vistos em nenhuma GPU da marca". Essa declaração é bastante curiosa e indica que o PS5 Pro contém aceleradores de ray tracing baseados na arquitetura RDNA4, ainda inédita nas placas gráficas da companhia.
Em outras palavras, as fábricas da TSMC estão trabalhando em um SoC novo, feito sob medida para um produto muito particular e que emprega tecnologia ainda inédita. E é claro que isso custa mais caro.
Para não cometer o mesmo erro da Sony, vou dar uma noção de valor do que essas mudanças significam. Trazendo para o mundo do hardware, é como se o PlayStation 5 Slim viesse equipado com uma placa de vídeo como a Radeon RX 5700 XT, lançada em 2019, e o PS5 Pro viesse com uma Radeon RX 7700 XT, lançada no segundo semestre de 2023.
Atualmente, uma Radeon RX 5700 XT só é encontrada seminova a um preço médio de R$ 1.600. Já a Radeon RX 7700 XT é uma das principais placas de vídeo da AMD no varejo, saindo por a partir de R$ 3.300 — R$ 1.700 de diferença.
Upscaling de imagem por IA
A inteligência artificial é uma das responsáveis pela alta dos preços de SSDs e memórias e também um dos principais motivos para a Sony ter lançado essa atualização de meio de geração do PlayStation 5.
Prova disso é que uma das novidades do PS5 Pro mais alardeadas é o PlayStation Spectral Super Resolution (PSSR), a tecnologia de upscaling de imagem da Sony feito por machine learning e IA. É esse recurso que permitirá que o console consiga rodar jogos a 60 FPS com imagem em 4K, livrando o jogador de ter de escolher entre os modos performance e fidelidade.
Como estamos falando de um recurso de inteligência artificial que será utilizado praticamente a todo tempo, é imprescindível que o PS5 Pro tenha memórias mais rápidas, disponha de mais armazenamento interno e venha equipado com uma GPU mais poderosa e compatível com estruturas específicas e novas tecnologias voltadas para IA, que custam alto e encarecem o projeto — como é o caso da NPU XDNA 2 com desempenho de 50 TOPS que vem no SoC.
Assim, de certa forma, o PSSR é o "culpado" pelo PS5 Pro vir com componentes atualizados, mais modernos e inéditos, que são mais caros simplesmente por serem novos. E é inevitável: isso sempre é repassado para o consumidor.
Falta concorrência
À frente da Microsoft na corrida de consoles de alto desempenho, a Sony parece já não ver mais na rival uma concorrente. A essa altura da 9a geração de videogames, a companhia do Xbox já adotou um discurso derrotista e cada vez mais dá sinais de que sua estratégia agora está focada exclusivamente em serviços, não mais em consoles.
Assim, são baixas as expectativas de que o PlayStation 5 Pro terá um concorrente à altura, uma vez que o Xbox está muito mais preocupado em se fazer presente em TVs, celulares e outros dispositivos através do Game Pass e do Cloud Gaming.
Isso coloca a Sony numa posição muito confortável para praticar o preço que bem entender para o PS5 Pro. Tanto é que analistas de mercado como Serkan Toto, da Kantan Games, apontavam que o console seria anunciado por US$ 600 ou US$ 650, valores que já garantiriam uma boa margem de lucro para a companhia. Então por que US$ 700?
Fora todas as questões de mercado, há questões econômicas e culturais que certamente influenciaram a decisão de cobrar tão caro pelo PS5 Pro. Com a inflação assolando algumas das principais economias mundiais e moedas importantes sofrendo desvalorizações contundentes, países que antes eram símbolo de estabilidade econômica hoje sofrem com os efeitos desses fenômenos.
O reflexo disso é as sucessivas ondas de demissões que já afetaram (e estão afetando) Riot Games, Unity, Activision-Blizzard, Microsoft e até mesmo Sony — todas empresas referência na indústria de games. Associe a isso ciclos de desenvolvimento cada vez mais longos e pessoas que cada vez mais jogam títulos de serviço, que não incentivam o upgrade para uma nova geração de consoles, e você percebe que essas empresas têm de reduzir custos e ser extremamente assertivas naquilo que fazem para se manterem lucrativas.
Um ótimo exemplo disso tudo é Concord, hero shooter do PlayStation Studios que levou cerca de 8 anos para ser desenvolvido e teve sua existência varrida apenas duas semanas depois de seu lançamento. O motivo: a Sony simplesmente não pode se dar ao luxo de gastar dinheiro para manter ativo um jogo que não tem jogadores e nasceu flopado.
Raciocínio semelhante pode ser aplicado ao PS5 Pro. Cobrando US$ 700 pelo console, a Sony sinaliza que não quer perder dinheiro como já fez com outros consoles e precisa de uma margem de lucro maior e mais segura nesse cenário econômico pouco favorável e mais desafiador.
Vimos que há motivos para isso, mas é inegável que, até o momento, o PS5 Pro não justifica sua existência. Apesar dos ótimos avanços e melhorias de tecnologia, o console não apresentou jogos que vão explorar todo o seu potencial e só conseguiu despertar a frustração nos fãs de PlayStation.
O PlayStation 5 Pro será lançado no dia 7 de novembro em versão única, com um controle DualSense e uma cópia de Astro’s Playroom pré-instalada, mas sem leitor de discos. No Brasil, o preço do PS5 Pro é de R$ 6.999,00.