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Aluguéis de filmes batem recorde em meio à pandemia

Por| Editado por Jones Oliveira | 12 de Junho de 2021 às 15h00

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Reprodução/Envato
Reprodução/Envato

Em 2020, a pandemia da COVID-19 causou um efeito dominó sobre o setor de entretenimento: com as salas de cinema fechadas e sem uma previsão exata de reabertura, os estúdios e distribuidoras começaram a mexer nos calendários de estreias de diversos filmes, movimento que acabou afetando também a maior premiação da indústria cinematográfica: o Oscar.

Entrando para a história por ser a edição com mais filmes presentes no streaming, o Oscar 2021 fez com que os consumidores optassem por filmes em aluguel e compra no período da premiação, que aconteceu em 25 de abril. Mesmo em meio à pandemia, o público latino-americano fez com que as transações de plataformas de vídeo sob demanda batessem um recorde: de acordo com dados observados pela Sofa Digital, agregadora de dados e conteúdo para VOD (Video on Demand), quase 450 mil transações na América Latina foram realizadas nesses serviços, tanto em aluguel quanto em compra.

Deste número, três filmes presentes no Oscar foram responsáveis por 165 mil transações: os indicados a filme internacional Quo Vadis, Aida?, Druk: Mais uma Rodada e o indicado a seis categorias Meu Pai, estrelando Anthony Hopkins e Olivia Colman. Mesmo com a ocasião tendo a sua pior audiência da história — 9,85 milhões de espectadores nos Estados Unidos, o que representa uma queda de 58,3% em relação à cerimônia de 2020, segundo a Nielsen —, o público não deixou de se preparar em casa para acompanhar a entrega das estatuetas.

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Essa demanda alta representa um aumento de 24,3% em TVOD quando comparada ao mês que ocorreu o Oscar no ano passado, pouco antes do período de quarentena entrar em vigor ao redor do mundo: em fevereiro de 2020, a Sofa Digital observou um total de 296 mil transações de aluguel e compra na América Latina.

Sobre a alta na procura, o fundador e CEO da Sofa Digital, Fábio Lima, relata em entrevista exclusiva ao Canaltech que os estrangeiros Quo Vadis, Aida? e Druk: Mais uma Rodada "vêm de um histórico que a gente sabe que as pessoas estão interessadas em filmes de qualidade", comenta.

"Eles passaram por um filtro ao longo do ano do mercado mundial de estarem nos principais festivais de cinema, em Toronto ou Berlim; recebendo críticas internacionais e até chegar a uma indicação no Globo de Ouro ou no Oscar. Então eles acabam sendo bastante iluminados. A gente tem ali uma relação com esse consumidor muito clara em frente ao tamanho deste mercado e sabe comunicar isso".
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"Deu pra sentir que é mais do que a gente tem no dia-a-dia: que foi a combinação desse impulsionamento [do público], os cinemas fechados e o adiamento do Oscar", referiu-se o executivo sobre a alta procura pelos dois filmes estrangeiros, categoria que acaba sendo ofuscada pelo grande público na maioria das premiações. "A audiência é muito clara, então independentemente de onde ele consumiria esse conteúdo, o consumidor pagaria por isso".

O Oscar e a pirataria

De acordo com um levantamento da MUSO, empresa especializada em pesquisas relacionadas à pirataria, a alta disponibilidade de filmes indicados no âmbito digital na edição do Oscar deste ano levou a uma grande baixa no número de downloads na temporada de premiações 2021. O exemplo utilizado pela pesquisa é o vencedor Bela Vingança, que foi o filme mais baixado entre os indicados, com uma demanda de aproximadamente 1,3 milhão de downloads entre outubro de 2020 e fevereiro de 2021.

Além do filme de Emerald Fennell, Os 7 de Chicago vem logo em seguida, na segunda posição, e acumulou cerca de um milhão de downloads, enquanto Judas e o Messias Negro aparece com uma queda brusca, completando o pódio com 599 mil cópias baixadas ilegalmente.

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Sobre esse aumento de interesse por alternativas formais, seja com o streaming ou em plataformas TVOD, Fábio Lima opina que "disponibilizar os filmes é o melhor remédio contra a pirataria". "A demanda existe", comenta o executivo da Sofa Digital, "não que isso iniba totalmente a pirataria. Ela continua acontecendo, mas pelo menos para quem quer fazer a coisa legalmente e está disposto a pagar, você disponibiliza o conteúdo ou pelo menos nem estimula a pessoa a ir buscar uma alternativa pirata".

Nas plataformas VOD, os tickets iniciaram com o lançamento dos filmes a R$29,90 para compra e após 15 dias abre-se a janela de aluguel a R$18,90. "Isso tem valor", refere-se Fábio ao conforto de assistir a um filme quando e onde quiser, além de ter a possibilidade de pausar, avançar ou retroceder a mídia. "[Os filmes] precisam dessa dinâmica econômica e comercial. De fato ele é um conteúdo premium, assim como é no cinema, [um produto] segmentado. Ele continua seguindo essas janelas".

"Óbvio que não é todo filme que tem uma demanda gigantesca para esse mercado", observa o fundador da Sofa Digital, esclarecendo que, como parte da estratégia de estabelecer um relacionamento com o consumidor final e, por meio desse contato, conhecer os gostos e até onde o cliente está disposto a pagar por um título, existe o Filmelier. O portal gera listas de recomendação de uma forma que possam conversar com o público e gerar interesse para novos lançamentos, além de descobrir o que os consumidores estão buscando assistir.

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"A gente tem uma forma de se comunicar cada vez que lança um filme desse que atende esse segmento que topa pagar por esse título", revela Fábio Lima. "Dessa maneira, a gente consegue transformar mesmo um filme menor e que passa desapercebido pela grande mídia, num lançamento rentável — adequado ao seu tamanho, mas que gere receita para os produtores e distribuidores".

Aluguel e compra de filmes: uma tendência?

Sobre isso, Fábio Lima não hesita: o consumo de filmes em plataformas de vídeo sob demanda e streaming veio para ficar. "Essa janela entre cinema e o transacional era relativamente grande antes da pandemia e todos os estúdios já anunciaram acordos com praticamente todos os exibidores dos Estados Unidos", adianta. "Esse encurtamento de janela entre o cinema e o transacional vai acontecer em todo lugar. Ele é benéfico para a indústria — ainda que possa parecer ruim para o cinema, ela é boa para o distribuidor e produtor porque [o consumidor] faz um investimento único".

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Seguindo o raciocínio, o encurtamento de janelas de exibição movimenta a economia da indústria cinematográfica, além de "estimular os distribuidores a continuarem apostado nessa combinação de cinema e TVOD ao invés de irem para o streaming", de acordo com Fábio Lima.

"[O streaming] sim, eventualmente seria uma ameaça. Se você enfraquece a possibilidade de receita dos filmes na combinação de cinema com o transacional eles ficam obrigados a irem direto para as plataformas de assinatura [...] a partir do momento que o distribuidor consegue gerar receita na combinação de cinema com transacional ele passa a valorizar mais essa janela."

Para driblar o prejuízo que os cinemas com as portas fechadas podem trazer, grandes corporações ao redor do mundo optaram por oferecer seu próprio sistema de compra e aluguel. É o caso do Premier Access, no Disney+, cujo primeiro título disponibilizado antecipadamente foi Mulan uma semana antes do período de quarentena entrar em vigor ao redor do mundo. De acordo com os dados analisados pela Sensor Tower, houve um aumento de 68% no número de instalações do app mobile em smartphones nos primeiros cinco dias da estreia. Os gastos dos consumidores dentro do aplicativo também aumentaram 193% no período.

No início deste ano, Raya e o Último Dragão foi a animação da Disney escolhida para ser disponibilizada no Premier Access antes de integrar definitivamente o catálogo do Disney+, mas, de acordo com o INSIDER, o filme teve uma demanda 20% mais baixa nas transações da primeira semana quando comparado a Mulan. No entanto, Raya optou por um formato híbrido de estreia, sendo exibido em cinemas selecionados dos Estados Unidos. O mesmo formato de lançamento aconteceu com Cruella e acontecerá com Viúva Negra e Jungle Cruise.

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O ano do streaming

Nem todas as empresas optaram por estabelecer seu próprio sistema de aluguel de filmes, mas, com os cinemas fechados, muitos títulos esperados tiveram que encontrar um novo lar. Foi o caso de Greyhound, pelo Apple TV+; Malcolm & Marie e Relatos do Mundo, pela Netflix; e Um Príncipe em Nova York 2 pelo Prime Video. As estreias exclusivas no streaming mesclados ao período de quarentena impulsionou a procura por entretenimento em casa, o que resultou numa alta na procura por serviços de assinatura.

Pela primeira vez durante a pandemia causada pelo novo coronavírus, as assinaturas de plataformas de streaming alcançaram mais de 1 bilhão de usuários em todo o mundo. A informação é da Motion Picture Association, dada em março deste ano, marcando um crescimento de 26% ano a ano. O mercado de entretenimento doméstico e móvel atingiu, globalmente, a marca de US$ 68,8 bilhões em receita, representando um aumento de 32% em relação a 2019.

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O futuro, no entanto, não aponta para um fim dos cinemas físicos: o verão está chegando na América do Norte; e nos Estados Unidos, especificamente, a campanha de vacinação segue forte o suficiente para os cinemas reabrirem e o público retornar às salas de exibição, permitindo com que os estúdios enfim liberem lançamentos altamente esperados para este ano.

O cenário é otimista, principalmente quando observada a demanda e audiência de Godzilla vs Kong, em março. O longa-metragem chegou a ultrapassar o lucro de Mulher-Maravilha 1984 em apenas cinco dias, o que fez, inclusive, a Warner Bros repensar o lançamento híbrido de Duna, novo filme de Denis Villeneuve. De acordo com o DEADLINE, Godzilla vs Kong bateu a previsão de arrecadação do estúdio de cinco dias em apenas três, faturando US$ 32,2 milhões e, após um sábado lucrativo de US$ 12,5 milhões, o longa chegou a US$ 48,5 milhões.

Em um evento na semana passada organizado pela rede AMC, nomes como J. J. Abrams e Arnold Schwarzenegger reuniram a imprensa para anunciar o retorno definitivo das exibidoras. "A Grande Tela Está de Volta", sinalizava uma mensagem no início da ocasião. "Quando eu olho para esta lista, vejo fortes candidatos, e é uma boa seleção para trazer os consumidores de volta, especialmente os cautelosos", declarou Jeff Bock, analista financeiro da Exhibitor Relations Co., na ocasião, referindo-se aos títulos esperados para o período, como Em Um Bairro de Nova York, de John M. Chu, previsto para 17 de junho e Free Guy: Assumindo o Controle, com Ryan Reynolds, para 13 de agosto.

Com informações: EW, Morning Star, The Hill, INSIDER