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Crítica | Mulher-Maravilha 1984 é bonito, mas se perde em roteiro frágil

Por| 12 de Janeiro de 2021 às 19h30

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O ano passado foi um dos mais carentes de adaptações de super-heróis nas telonas. Aliás, tivemos ausência de blockbusters em geral, devido à pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2); mas o que chama a atenção na seara dos superseres de colantes coloridos é o fato das produções agendadas para 2020 serem importantes para a continuidade do Universo Cinematográfico Marvel (MCU, na sigla em inglês) e do Universo Estendido DC (DCEU).

Entre os títulos estava Mulher-Maravilha 1984, que, ao lado de Viúva Negra e Os Eternos, abririam novas fases no DCEU e no MCU, respectivamente. Todos foram adiados várias vezes ao longo do ano, na expectativa de que os cinemas reabrissem, entretanto, somente o primeiro viu chegou ao público, ainda que tardiamente e em estreia híbrida no streaming HBO Max e em limitadas salas de exibição.

Mulher-Maravilha 1984 oferece um salto temporal, dos tempos modernos em Batman vs Superman: A Origem da Justiça e Liga da Justiça; à introdução da personagem em nossa sociedade, durante a Primeira Guerra Mundial, como vimos em Mulher-Maravilha. A história segue a partir de seu primeiro filme, já nos anos 1980, como o próprio título indica.

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Na trama, Diana Prince (Gal Gadot) se sente isolada do mundo e ainda não é publicamente conhecida como a Mulher-Maravilha. Ela trabalha discretamente como curadora de museu e é apresentada a uma nova colega de trabalho, Barbara Minerva (Kristen Wiig), ao analisar uma misteriosa rocha, que pode atender aos desejos de seus portadores. Esse artefato vira alvo do empresário inescrupuloso Maxwell Lord (Pedro Pascal), ainda mais quando ele descobre que pode manipulá-lo.

A partir daqui a crítica contém spoilers, portanto, siga por sua conta e risco!

Em seguida, vemos o retorno de Steve Trevor (Chris Pine), no corpo de outra pessoa, a partir do desejo de Prince, ao tocar a rocha. Barbara, que se sente ignorada pelo mundo e sofre com baixa autoestima, quer ser como sua colega de trabalho. E isso começa a se tornar realidade quando ela também usa o artefato. Para completar, Lord basicamente se torna um “avatar” do próprio objeto, absorvendo suas propriedades.

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Raízes fieis às amazonas dos quadrinhos?

O filme começa bem, mostrando um pouco mais sobre Themyscira. Vemos a pequena Diana Prince participando de jogos olímpicos, na melhor tradição greco-romana de suas principais histórias nos quadrinhos. Ali também vemos um pouco mais como funciona a sociedade das guerreiras amazonas e o lado da Diana lutadora e exploradora.

Mas, embora no final ainda tenhamos mais elementos que se conectem profundamente com as raízes da Mulher-Maravilha, o que vem em seguida parece ignorar regras básicas de verossimilhança e o próprio comportamento da heroína. Com todo seu background de guerreira e líder feminista “em um mundo dominado por homens”, sua postura parece ser um tanto quanto passiva com o que acontece ao seu redor.

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O máximo que vemos é ela evitando um assalto, que, pasmem, por uma “coincidência cósmica”, tem tudo a ver com a misteriosa rocha dos desejos. E a relação com seu amante é um tanto esquisita: o fato dela não se importar em se relacionar, inclusive sexualmente, com Trevor no corpo de outra pessoa, parece até moralmente questionável para uma personagem que representa tanto para o feminismo e para o combate à violação sexual.

Além disso, sua própria natureza selvagem, que não precisaria necessariamente se converter em banhos de sangue nas telonas, parece ter se esvaído facilmente, mesmo diante de um mundo com tantas guerras e injustiças — algo que Diana deveria ter presenciado bastante desde o final da Primeira Guerra Mundial.

Elenco de primeira com arcos pouco desenvolvidos  

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Bom, não dá para reclamar da escalação dos atores, que fazem o que podem para tornar seus personagens mais tridimensionais. Gal Gadot, ainda que sofra com o roteiro, tem o visual e o carisma que nos fazem querer ver cada vez mais dela em ação. E sua parceria com Chris Pine oferece muita química, em um bem-vindo romance, que até oferece momentos de alívio cômico.

Pedro Pascal rouba o show como um charlatão, que, embora deixe alguns fãs furiosos por transformar o Maxwell Lord dos quadrinhos em um apresentador decadente/empresário/conquistador barato, seu comprometimento com o papel eleva o vilão a um divertido e perigoso oponente.

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Já Minerva, que é uma das antagonistas mais recorrentes e importantes em toda a mitologia da Mulher-Maravilha, simplesmente vai se tornando a Mulher-Leopardo sem muita explicação e, de longe, é a personagem mais mal desenvolvida em toda a trama. Ela só está lá para, claramente, oferecer uma ameaça mais “física” para Diana.

Sequências de ação mal resolvidas e roteiro cheio de clichês vazios

Em geral, o visual de Mulher-Maravilha 1984 é muito bonito, com um grande trabalho de fotografia e design, em uma viagem retrô para os anos 1980, com direito a figurinos e cenários bastante fieis à época. Os efeitos visuais, que normalmente são muito bem trabalhados na Warner, aqui parecem sofrer com a confusão de sua própria concepção.

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Em algumas cenas, a Mulher-Maravilha parece mesmo uma deusa na Terra; em outras, ela nem mesmo parece ser tão forte, já que um simples tanque de guerra, que poderia ser facilmente feito em pedaços nas histórias em quadrinhos, é capaz de exaurir suas forças em uma sequência que não faz muito sentido.

Aliás, a sua própria inclinação de usar seu laço e saltos, em vez de simplesmente voar, deixa dúvidas sobre seu inconsistente uso de habilidades — cadê aquela menina que já era superpoderosa desde pequena, vista no começo da história, e que aprendeu a ser ainda mais poderosa no primeiro filme? Essa confusão permeia, basicamente, todas as sequências de ação, o que até torna os efeitos especiais, em muitos momentos, mal resolvidos. E isso é imperdoável para um título que teve muitos meses para ser revisto antes do lançamento.

Para completar, a diretora Patty Jenkins parece não estar consumindo filmes da própria seara em que trabalha. Como vemos nas atrações da Marvel Studios, os projetos de super-heróis há muito deixaram para trás as fórmulas narrativas convencionais para adotar seus próprios meios de misturar ação com drama, ficção científica com suspense, fantasia com comédia, entre outros subgêneros que se mesclam para trazer frescor aos cinemas.

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Aqui, Jenkins se contenta a uma maneira previsível de contar histórias, cheio de clichês vazios. Veja bem, clichês não representam, necessariamente, uma história pobre; mas a preguiça de roteiro e os furos deixam tudo tão convencional que boa parte da diversão se perde nessa fragilidade.

Conclusão anticlímax

Para terminar, temos um final que serve como um anticlímax, embora eu defenda parte dessa conclusão. Aqui vemos, novamente, lampejos de grande fidelidade à personagem, já que a verdade representa para a Mulher-Maravilha o que a justiça e a esperança são para Batman e Superman, respectivamente.

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E a maneira que Diana vence Lord vem justamente de seu compromisso com a verdade, em um combate que deixa de ser físico para se tornar ético e mental. Isso até é interessante, mas da maneira que chegamos até ali, soa insatisfatório para quem esperou tanto tempo para ver esse filme. Para completar, os que esperavam ver um destino trágico para Lord, assim como nas revistas, veem ele se redimir e retornar para sua vidinha, sem o mínimo de consequência pelos atos terríveis que comete ao longo da projeção.

Mulher-Maravilha 1984 nos enche os olhos por trazer Gal Gadot novamente em um uniforme que lhe cai tão bem. Até vemos bons momentos de puro fan service, como a explicação para seu icônico jato invisível e o uso da armadura de O Reino do Amanhã, mas a personagem, e os fãs, mereciam algo melhor.