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Por que os filmes de terror ficam de fora do Oscar?

Por| Editado por Durval Ramos | 08 de Março de 2024 às 14h05

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Não há uma regra que impeça filmes de terror — ou de qualquer gênero, na realidade — de concorrerem ao Oscar. Entretanto, o gênero, assim como alguns outros que são recorrentes no cinema, costuma ser menosprezado pela Academia, com pouquíssimas indicações e aclamação pública que, normalmente, não é refletida nas indicações para o careca dourado.

O Silêncio dos Inocentes normalmente é citado como argumento contrário e, ao mesmo tempo, uma confirmação disso. O filme de 1991, com Jodie Foster (Nyad) e Anthony Hopkins (Meu Pai) saiu da cerimônia do Oscar de 1992 com cinco prêmios, incluindo as categorias principais de Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Atriz, Roteiro Adaptado e diretor para Jonathan Demme (Sob o Domínio do Mal).

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Enquanto o impacto cultural de Hannibal Lecter foi gigante, a ponto de o apresentador daquele ano, Billy Crystal, ter aparecido vestido como o personagem, também foi a única vez em que os filmes de terror chegaram a um posto tão alto. Outros nomes como O Exorcista, Corra! e O Sexto Sentido também foram indicados a Melhor Filme, mas essa é, basicamente, a lista completa de concorrentes ao longo de 96 edições da principal premiação do cinema muncial — ela ganha mais duas adições se você considerar, também, Tubarão e Cisne Negro.

“Imposto do horror”

Enquanto a indicação de Corra! a Melhor Filme em 2018 foi comemorada pelos fãs do estilo, ela também serviu como um triste lembrete do tempo que havia se passado desde a última menção desse tipo. Enquanto isso, a banca julgadora do Oscar foi duramente criticada por deixar passar indicações a Toni Colette, Lupita Nyong’o, Mia Goth e Florence Pugh pelos incríveis trabalhos em, respectivamente, Hereditário, Nós, Pearl e Midsommar: O Mal Não Espera a Noite.

Tais longas, normalmente citados como representantes de uma nova safra de filmes de terror “elevados”, também demonstram o principal motivo pelo qual os longas de horror não concorrem ao Oscar. A ideia é que, justamente, para serem considerados como dignos de uma indicação, eles precisam ser mais do que apenas representantes do gênero.

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É o que aponta o professor Adam Lowenstein, da Univerdade de Pittsburgh, nos EUA. Falando à NPR, o especialista em cinema e estudos de mídia aponta que o gênero sempre foi visto como um elemento de segunda classe, com sustos e violência gratuita, enquanto um elitismo dos membros da Academia faria com que eles nem mesmo fossem considerados.

Isso também explica, por exemplo, a chuva de vitórias de O Silêncio dos Inocentes e a indicação de Cisne Negro, por exemplo, longas que se encaixam muito bem na categoria de “suspense” e, assim, passariam longe do estigma. É um padrão histórico marcado desde os primórdios, com O Que Terá Acontecido a Baby Jane?, de 1962, sendo considerado o primeiro longa de horror a concorrer ao Oscar — oficialmente, porém, ele é citado como um thriller psicológico sobre uma atriz mirim que fica à mercê da própria irmã.

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É o que Lowenstein chama de “imposto do horror”, com esse caráter especial sendo como uma taxa que precisa ser “paga” para que os longas sejam considerados. O próprio Silêncio dos Inocentes, por exemplo, foi amplamente divulgado como um thriller psicológico, justamente, para tentar atingir essa “elevação” (antes mesmo do conceito existir, diga-se de passagem) e garantir as estatuetas.

Desafios e mudanças no gênero

Para tornar esse aspecto ainda mais estranho, Lowenstein ressalta que não existe esse tipo de visão entre os atores, que consideram os trabalhos em filmes de terror como um desafio à parte. Foi assim que Colette e Nyong’o, por exemplo, falaram de suas atuações em Hereditário e Nós, com o terror também representando partes essenciais do currículo de muitos intérpretes de renome.

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Enquanto a resistência do Oscar em apreciar filmes de terror ainda existe, as críticas e a ideia de que os longas do gênero vêm ganhando qualidade também servem como sinais de mudança. Enquanto isso, outras premiações como o Saturn Award ganham destaque, com prêmios direcionados à indústria de longas de horror, fantasia e ficção científica, também vistos como historicamente deixados de lado.

Essa união dos “esnobados” também vem mostrando seus frutos em outras premiações de renome como o Critics Choice Awards, da Associação dos Críticos de Cinema, e o Globo de Ouro, reconhecendo títulos como The Last of Us, Yellowjackets e o próprio Hereditário, entre outros. Falta o Oscar; pode demorar, mas há um otimismo de que a virada de chave está chegando.

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* Com informações da NPR.