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Derretimento das geleiras vai causar mais terremotos e erupções no futuro

Por| Editado por Luciana Zaramela | 06 de Setembro de 2023 às 13h35

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Unsplash/Tanya Grypachevskaya
Unsplash/Tanya Grypachevskaya

Nos últimos anos, temos visto inúmeros efeitos das mudanças climáticas no planeta Terra. Incêndios florestais e secas assolam os lugares onde há aumento de temperatura, enquanto enchentes e tempestades acometem locais mais temperados, e geleiras derretem em ritmos preocupantes aos cientistas nas regiões do Ártico e Antártida.

Investigações recentes mostram que esse tipo de mudança no clima aumenta a chance de terremotos e erupções acontecerem — e sua frequência deverá só aumentar. Em julho deste ano, eventos climáticos extremos foram especialmente frequentes, desde incêndios florestais enormes no Canadá e em diversos países europeus e a maior precipitação pluvial em Pequim nos últimos 140 anos.

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Nos pólos, as geleiras perderam 267 gigatoneladas de gelo entre 2000 e 2019, contribuindo para o aumento no nível do mar — que está subindo 3,3 mm por ano —, erosões e inundações nas costas de todo o globo. Isso só vem aumentar os perigos subterrâneos, ligados às movimentações da crosta e principalmente às chuvas e geleiras.

Isostasia, terremotos e chuvas

A geologia já conhece a relação entre chuvas e a formação de terremotos há algum tempo — nas montanhas do Himalaia, o ciclo anual das chuvas de monção dita a quantidade de tremores, com 48% deles ocorrendo em períodos mais secos pré-monção (entre março e maio). Só 16% dos terremotos da região ocorrem durante as monções.

Um relatório do Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC), em 2021, mostrou que o nível de chuvas aumentou em vários locais do mundo desde 1950, e a atmosfera mais quente, graças ao aquecimento global, retém mais vapor de água, aumentando os níveis pluviais.

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A temporada de monções do verão gera até 4 metros de chuva, cujo peso comprime a crosta terrestre horizontal e verticalmente. Isso cria uma espécie de estabilização, que, durante o inverno, evapora junto com a água, gerando um efeito rebote que acaba desestabilizando a crosta, aumentando a suscetibilidade de ocorrerem tremores.

Cientistas avaliam que intensidade das chuvas de monção na Ásia só tende a crescer com as mudanças climáticas, o que pode aumentar o efeito rebote no inverno e aumentar a frequência de terremotos.

Há, também, o que chamamos de isostasia, ou ajuste isostático, que ocorre por influência de cargas pesadas na superfície terrestre, especialmente a das geleiras. Quando esse peso desaparece, a camada mais fina do exterior da Terra — a litosfera — é levantada pela pressão da camada mais semi fluídica do interior — a astenosfera. Se novos glaciares surgem, o contrário ocorre, com a litosfera afundando para compensar o peso.

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A isostasia é essa constante busca por equilíbrio pelas camadas terrestres. Atualmente, o hemisfério norte ainda experimenta uma elevação da superfície graças ao degelo ocorrido há 20.000 anos, no final da última Era do Gelo. Na Escócia, a elevação das praias é uma mostra do ajuste isostático, com algumas chegando a 45 m acima do nível do mar.

Na Escandinávia, a elevação das praias se uniu à falta de equilíbrio tectônico para gerar vários terremotos entre 11.000 e 7.000 anos atrás, chegando a mais de 8 graus de magnitude na escala Richter. O derretimento atual e contínuo das geleiras atuais preocupa cientistas pelos efeitos que isso pode gerar com o fenômeno isostático.

Geleiras e vulcões

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Além de influenciar na questão sísmica, os glaciares também estão ligados aos vulcões. Entre 5.500 e 4.500 anos atrás, uma queda no clima da Terra expandiu as geleiras no território da atual Islândia, e análises das cinzas depositadas na Europa mostram que a atividade vulcânica na ilha foi consideravelmente menor nessa época. Quando o clima voltou a esquentar, os vulcões voltaram à atividade, mesmo que centenas de anos depois.

Uma das explicações é a compressão da crosta e manto terrestres sob o peso das geleiras, mantendo o material subterrâneo em um estado mais sólido, no qual não é possível formar magma, expelido em erupções. Com o degelo, peso e pressão menores fazem com que o manto entre em fusão descompressiva, basicamente derretendo e formando magma líquido — gerando atividade vulcânica como a da Islândia, por exemplo.

Atualmente, vulcões como Katla e Grímsvötn ficam em atividade por todo o verão no país, quando a camada de gelo de geleiras como a de Mýrdalsjökull derrete.

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Se o planeta seguir as tendências anteriores, veremos grandes terremotos e erupções vulcânicas se tornarem muito mais comuns e menos eventuais, mesmo que apenas daqui a centenas de anos — lembrando que a isostasia e a dinâmica do magma são efeitos mais indiretos e secundários das mudanças climáticas, que afetam o planeta mais diretamente e perceptivelmente com secas, enchentes e climas extremos.

Fonte: Relatórios Especiais do IPCC, News Scientist, Nature, Climatic Change via The Conversation Brasil