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Conheça o passado, o presente e o futuro do programa espacial russo

Por| Editado por Patricia Gnipper | 12 de Abril de 2021 às 13h40

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ESA/SpaceFacts.de
ESA/SpaceFacts.de

Nesta segunda-feira (12), completam-se 60 anos desde o primeiro voo de um ser humano no espaço, protagonizado pelo cosmonauta Yuri Gagarin. Ao retornar para a Terra, ele não somente se tornou uma celebridade pelo feito alcançado, mas também deu início à era dos voos espaciais tripulados. Depois de tantos anos, os humanos seguem realizando voos espaciais, tanto que não houve um só momento em que ficamos sem astronautas em órbita desde o ano 2000, com a inauguração da Estação Espacial Internacional.

Com as tensões geopolíticas da época entre Estados Unidos e União Soviética, o voo do cosmonauta foi uma enorme conquista do bloco, e rendeu diversas celebrações em todo o mundo — além de, claro, servir quase como um "empurrãozinho" para os Estados Unidos investirem na NASA para não serem mais superados pelos rivais soviéticos na Corrida Espacial.

Hoje, com um longo histórico de lançamentos, missões espaciais e grande expertise no que diz respeito ao espaço, a Rússia segue avançando cada vez mais em seus futuros projetos espaciais. Saiba mais sobre o programa espacial russo e como tudo começou!

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A exploração soviética na Corrida Espacial

Para entender a trajetória do programa espacial russo, precisamos voltar até o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Com o encerramento do conflito, iniciou-se uma disputa político-ideológica entre os Estados Unidos e a antiga União Soviética (URSS), as duas nações que lideravam os blocos econômicos da época. Neste cenário, ambas disputavam a hegemonia diplomática, econômica e militar.

É neste contexto que nasce a Corrida Espacial, ao fim da década de 1950, em que as duas nações passaram a desenvolver suas capacidades tecnológicas, até que os esforços foram direcionados para a exploração do espaço. Os soviéticos saíram na frente dos norte-americanos com o programa Sputnik, que lançou com sucesso o satélite Sputnik-1 em 4 de outubro de 1957, o primeiro objeto a entrar na órbita de um corpo celeste — no caso, a Terra.

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O satélite, que era uma esfera metálica de 58 cm de diâmetro, foi lançado para estudar as propriedades das camadas superiores da esfera terrestre. Ele tinha quatro antenas para a transmissão transmitir um “beep” em sinais de rádio, que podia ser identificado facilmente até mesmo por radioamadores. Os sinais foram emitidos por mais de 20 dias, até que a carga das baterias do transmissor chegou ao fim em 26 de outubro de 1957.

O lançamento do satélite representou uma grande vitória para o orgulho e propaganda soviéticos, além do destaque alcançado em relação aos esforços espaciais dos Estados Unidos. Então, o próximo passo foi o lançamento de uma nova espaçonave — mas não qualquer uma, e sim um "espetáculo espacial" que fosse capaz de repetir o triunfo do Sputnik-1 e impressionar o mundo com as capacidades soviéticas. Para isso, os engenheiros decidiram levar um animal para a órbita antes de arriscar voos espaciais com humanos.

A escolhida para este voo foi uma pequena cadela de rua, que recebeu o nome Laika. Como tinha porte adequado, era dócil e tinha pelo liso, capaz de segurar os sensores da missão, ela foi considerada a “tripulante canina” ideal para o voo. A cadelinha passou por um treinamento, até que foi lançada para o espaço em 3 de novembro de 1957 com a missão Sputnik-2. Os sons altos e a pressão do voo foram assustadores para ela: a taxa de batimentos cardíacos de Laika triplicou em relação aos valores normais, e a respiração dela ficou quatro vezes mais acelerada.

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Laika chegou viva à órbita e viajou em torno da Terra por mais de 100 minutos, mas a perda do escudo de calor da cápsula elevou a temperatura interna para acima de 90 ºC, de modo que ela acabou morrendo entre cinco e sete horas após o lançamento. Mesmo sem sua passageira viva, a Sputnik-2 seguiu cinco meses em órbita, até que se queimou durante a reentrada na atmosfera terrestre. Depois, com foguetes aprimorados, as outras missões foram feitas com objetivos cada vez mais ambiciosos — como foi o caso da Sputnik-5, que levou os cães Belka e Strelka para a órbita em 25 de março de 1961 e os trouxe de volta em segurança.

Com este sucesso, a URSS criou o programa Vostok, que abriu o caminho para levar o primeiro humano ao espaço: o cosmonauta Yuri Gagarin foi para a órbita em 12 de abril de 1961 com a nave Vostok-1, um veículo de 4,4 m de extensão composto por dois módulos. Um comportava equipamentos e o tanque de combustível, enquanto o outro era a cápsula tripulada por Gagarin. Durante o voo de 108 minutos, a 315 km de altitude, o cosmonauta conseguiu completar uma órbita em torno da Terra até reentrar na atmosfera, mantendo a consciência mesmo com uma força equivalente a oito vezes a da gravidade o puxando durante o retorno.

Ao voltar para casa, Gagarin se tornou um herói internacional: ele foi recebido por milhares de pessoas na Praça Vermelha, uma praça pública em Moscou. Depois, ele viajou todo o mundo para celebrar e promover a grande conquista alcançada pelos soviéticos em meio à disputa com os Estados Unidos. A URSS avançou com o lançamento da cosmonauta Valentina Tereshkova com a missão Vostok-6, em 1963, na qual ela se tornou a primeira mulher a ir para o espaço. Depois, em 1965, Alexei Leonov realizou a primeira caminhada espacial.

O início de uma cooperação espacial

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Embora parecesse que tudo seguia para que os soviéticos tomassem a dianteira para levar humanos para a Lua, alguns incidentes levaram a um desfecho diferente: uma falha com os paraquedas da nave Soyuz-1, em 1967, resultou na morte do cosmonauta Vladimir Komarov. Depois, o foguete N1, que foi criado visando missões lunares, também apresentou problemas. No fim das contas, a missão Apollo 11, lançada em 16 de julho de 1969, marcou os Estados Unidos na história como o primeiro país a levar humanos para a superfície da Lua.

A tensão entre os dois países se estendeu por mais algum tempo, até que chegou ao fim com a missão conjunta Apollo-Soyuz — ou "Soyuz-Apollo", que é como os russos se referem, dando mais ênfase para o nome de seu programa espacial. Enquanto o lado soviético foi pioneiro nas jornadas ao espaço e tinha experiência na automação, os norte-americanos tinham pilotos talentosos e experientes, além de tecnologia para a comunicação à distância. Portanto, nada mais justo e proveitoso do que ambos trabalharem juntos depois de tanto tempo de rivalidade.

Ao longo das décadas de 1950 e 1960, as duas nações esboçaram aproximações com propostas de cooperação no espaço e compartilhamento de informações científicas — mas, no fim, as tentativas foram barradas pelas tensões da Guerra Fria. No início da década de 1970, os dois países deram início a um período de colaboração em solo. Contudo, para alguns políticos, o fim das tensões poderia ser representado pela acoplagem de uma cápsula soviética com uma norte-americana para um "aperto de mãos no espaço".

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Embora os cientistas e engenheiros considerassem que a missão conjunta seria benéfica, os dois lados ainda tinham suas ressalvas, já que temiam que o outro "roubasse" suas tecnologias. No fim das contas, a missão foi realizada, e ela aconteceu em 17 de julho de 1975. Naquele dia, uma cápsula Soyuz e uma Apollo, lançadas em lados opostos do planeta, se encontraram 220 km acima da superfície terrestre e se acoplaram: "a Soyuz e a Apollo estão apertando as mãos agora", disse Alexei Leonov, comandante da Soyuz.

Depois que as portas das duas naves abriram, os cosmonautas e os astronautas da NASA trocaram apertos de mãos e posaram para fotos. Eles passaram dois dias em órbita realizando experimentos científicos e demonstrações de tecnologia — e, embora houvesse dificuldades na comunicação devido às linguagens da tripulação, eles perceberam que poderiam entender melhor uns aos outros se tentassem falar o idioma do outro.

As espaçonaves se separaram depois de dois dias, e alguns historiadores consideram que a missão formalizou o fim da corrida espacial, dando o início a uma nova era de cooperação internacional no espaço. Hoje, esse voo é conhecido como aquele que ajudou também no desenvolvimento do programa conjunto Shuttle-Mir, que levou o cosmonauta Sergei Krikalev bordo de um ônibus espacial. A missão, realizada em 1994, foi a primeira cooperação realizada entre russos e norte-americanos desde a Apollo-Soyuz.

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O nascimento do programa espacial russo

A União Soviética foi passando por um processo de queda lenta, até que chegou ao fim em dezembro de 1991. Com a mudança política, o programa espacial soviético também foi encerrado, dando lugar à Roscosmos State Corporation for Space Activities — a agência espacial russa. Conhecida anteriormente como Russian Federal Space Agency, a nova corporação nasceu da união da antiga agência espacial com a United Rocket and Space Corporation, uma entidade criada para impulsionar o setor espacial.

Com o fim da URSS, os fundos destinados ao programa espacial russo ficaram escassos. Nisso, os Estados Unidos, preocupados com as consequências econômicas que a dissolução soviética poderia causar no ocidente, propôs voos pagos de seus astronautas para a estação Mir, a antecessora da ISS, com direito a treinamentos técnicos e aulas de russo antes do voo. Assim, o programa Shuttle-Mir seguiu levando astronautas para a estação até 1998 e, posteriormente, os oficiais russos decidiram focar os recursos na Estação Espacial Internacional (ISS), retirando a estação Mir de órbita.

A ISS, um projeto nascido do acordo firmado entre a Roscosmos, NASA, Agência Espacial Europeia, JAXA (a agência espacial japonesa) e a Agência Espacial Canadense, tem forte participação russa desde sua concepção: em 1998 foi lançado o módulo de controle Zarya, o primeiro elemento da estação. Além disso, a Roscosmos também forneceu o módulo de serviços Zvezda, uma escotilha de acoplagem, o módulo de pesquisas Rassvet e voos cargueiros de abastecimento feitos com as naves Progress.

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Juntos, os módulos Zarya, Zvezda, Pirs, Rassvet e Poisk formam o Segmento Orbital Russo (ROS) da ISS, que é operado pela Roscosmos. Depois de 2005, uma melhora na situação econômica levou a um impulso nos fundos e renovação do interesse nos voos robóticos e tripulados, de modo que a Roscosmos pôde trabalhar no foguete Angara, um veículo criado para substituir os fogeutes veteranos da família Soyuz.

Em 2002, o foguete russo Proton, o maior veículo de lançamentos em operação que a Rússia possui, foi usado para lançar a missão europeia Integral, um satélite que investiga a formação de elementos, buracos negros e outros objetos exóticos. Foi preciso usar um veículo poderoso assim para posicionar a espaçonave na órbita baixa estacionária, algo essencial para o sucesso científico da missão. Depois, no ano seguinte, a missão Mars Express foi lançada pelo veículo Soyuz/Fregat; cinco dos instrumentos da missão são descendentes daqueles que foram criados originalmente para a missão russa Mars 96.

Com o fim do programa dos ônibus espaciais em 2011, a Roscosmos com suas naves Soyuz se tornou a única forma pela qual a NASA poderia levar seus astronautas para a ISS — o que está mudando com o Commercial Crew Program, iniciado em 2011. Trata-se de uma iniciativa na qual a NASA fecha parcerias com empresas privadas para levar seus astronautas à ISS, e a próxima missão do programa será a Crew-2, com lançamento estimado para o final de abril. A Boeing também faz parte do programa, com sua nave Starliner ainda em fase de testes não tripulados.

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O que esperar do futuro?

Hoje, 60 anos depois do voo icônico de Gagarin, o programa espacial russo segue em uma direção em que as tecnologias são voltadas principalmente para fins militares — até porque grande parte da tecnologia desenvolvida pelo país foi criada para este propósito. Por exemplo, a família de foguetes R-7, que foi usado no lançamento da Sputnik-1, vem de um míssil ICBM modificado, que foi construído para o programa nuclear soviético.

Contudo, isso não significa que não há planos do país para dar segmento à exploração espacial. Em 1959, a URSS lançou a missão Luna 3, que produziu a primeira imagem do lado afastado do nosso satélite natural. Agora, enquanto a NASA tem planos para levar seus astronautas outra vez para a superfície lunar com o programa Artemis, a Rússia não demonstrou interesse em trabalhar com os norte-americanos para projetos lunares, mas sim com a China. Recentemente, ambas assinaram um Memorando de Entendimento para a construção da International Scientific Lunar Station (ILRS), uma estação de pesquisa na órbita lunar.

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Além disso, o país planeja levar cosmonautas para a Lua até 2030, o que irá exigir o desenvolvimento de um foguete bastante pesado. Anteriormente, a China e a Rússia trabalharam juntas em uma missão com destino a Marte, que foi lançada em 2011 e não conseguiu sair da órbita da Terra. Desta vez, a Rússia trabalha em uma nova empreitada com a Agência Espacial Europeia, que é a missão ExoMars. O próximo lançamento da missão deveria ter ocorrido no ano passado; contudo, com os impactos da pandemia de COVID-19, a missão acabou adiada para a próxima janela de lançamento, que será iniciada em 2022.

Finalmente, a Roscosmos tem planos para desenvolver uma versão mais moderna da cápsula Soyuz, que segue transportando astronautas desde a década de 1960. O problema é que esse projeto foi anunciado em 2009 e, desde então, já foi adiado várias vezes — tanto que até o nome proposto passou por algumas mudanças. Inicialmente, era "Oryol" (que significa "águia", em russo), mas agora é "Orlyonok" (“pequena águia”). A RKK Energia, a empresa responsável pela Soyuz, fechou um contrato para o desenvolvimento do projeto, que deverá resultar em uma cápsula maior, mais poderosa e mais confortável. Entretanto, ainda há um longo caminho pela frente até a próxima versão nascer.

Fonte: Thought.co, Space.com (1, 2), NASA, Smithsonian Mag, AstronomySpacenews, Phys.org