Há 50 anos, a Apollo 11 era lançada para humanos pisarem pela 1ª vez na Lua
Por Patricia Gnipper | •
Neste 16 de julho de 2019, comemora-se os 50 anos do lançamento da icônica Apollo 11, missão da NASA que levou astronautas pela primeira vez na história à superfície da Lua, rendendo a declaração clássica "é um pequeno passo para o Homem, mas um grande passo para a humanidade" proferida por Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar no solo de nosso satélite natural.
Ainda que até hoje muitos duvidem que tudo aconteceu de verdade, com conspiracionistas sustentando a ideia de que tudo não passou de uma farsa muitíssimo bem elaborada pela agência espacial, é fato que o Homem pisou na Lua, sim, em 1969 — e há diversas provas de que a coisa aconteceu de verdade.
Além de Armstrong, que ficou mais famoso por ter sido a primeira pessoa a deixar pegadas no solo lunar, a Apollo 11 também contou com outros dois astronautas cujo trabalho impecável foi essencial para o sucesso da missão: Buzz Aldrin (o segundo a pisar na Lua e autor da primeira selfie tirada no espaço) e Michael Collins (este que não foi à superfície, permanecendo no módulo orbital durante o pouso dos demais).
Tudo foi transmitido pela TV dos Estados Unidos (e por emissoras do mundo todo, praticamente), e no país norte-americano mais de 600 milhões de pessoas assistiram ao momento histórico em que a dupla Armstrong e Aldrin deram os primeiros passos na superfície de um outro mundo além da Terra — o que aconteceu no dia 20 de julho daquele ano. Mas, apesar de os nomes dos astronautas serem os destaques deste feito histórico, mais de 400 mil pessoas trabalharam na missão com a NASA, que estava mais do que empenhada em fazer de seu país o primeiro a levar pessoas à Lua.
É que, na década de 1960, a Corrida Espacial com a União Soviética estava bastante acirrada — e os EUA estavam perdendo feio.
EUA x URSS pela conquista do espaço
"Nós escolhemos ir à Lua, não porque é fácil, mas porque é difícil". Foi mais ou menos assim que o então presidente John F. Kennedy declarou aos EUA e ao mundo, durante uma coletiva em 1962, que o país se aventuraria rumo ao satélite natural da Terra naquela década.
As motivações para essa empreitada audaciosa (e, convenhamos, com um toque de insanidade ao considerar as tecnologias da época), vão muito além da ânsia científica: questões políticas estavam envolvidas intimamente com o programa Apollo, numa época em que os EUA enfrentavam as consequências da Guerra do Vietnã (com o governo sendo duramente criticado por parte da população), e com os inimigos soviéticos saindo à frente em todos os outros recordes: eles enviaram o primeiro satélite à órbita da Terra, lançaram o primeiro animal em um foguete e conseguiram mandar a primeira pessoa ao espaço.
E depois de uma sequência de derrotas, os EUA decidiram que sairiam vitoriosos da Corrida Espacial de qualquer maneira, anunciando, então, seu programa lunar às pressas antes que os rivais abocanhassem mais essa conquista. Afinal, os soviéticos já estavam com suas missões Luna em andamento, enviando para a Lua a primeira sonda espacial a atingir a superfície — e o próximo passo seria, naturalmente, o envio de cosmonautas.
Então, o famoso discurso do eloquente e carismático Kennedy mexeu com o coração da nação, inspirando os americanos a apoiarem o programa Apollo, mesmo que isso significasse um investimento gigantesco por parte do governo em uma década sofrida por conta de uma longa guerra. O governo alocou US$ 25 bilhões naquela época para o programa da NASA, o que representava 2,5% do PIB (produto interno bruto) dos EUA.
Deu errado para depois dar certo
Apesar do sucesso do programa Apollo como um todo, em especial com o pouso lendário da agora cinquentenária Apollo 11, o projeto foi longo e começou dando muito errado. O programa aconteceu de 1961 a 1972, entre as Apollo 1 e 17.
A trágica Apollo 1 seria, na verdade, a primeira missão tripulada do programa, com o objetivo de orbitar a Terra com três astronautas a bordo e, assim, começar a testar as tecnologias que seriam usadas na jornada lunar. No entanto, em janeiro de 1967 um incêndio aconteceu no módulo de comando justamente enquanto a equipe de três astronautas estava dentro da nave realizando testes às vésperas do lançamento. Ed White, Roger B. Chaffee e Gus Grissom morreram, e o episódio poderia ter marcado o fim do programa que mal havia começado.
Mas as mortes acabaram forçando a NASA a melhorar, aprimorando os requisitos de segurança de todo o programa, sem desistir do objetivo final: levar o Homem à Lua. Para isso, a agência decidiu suspender todas as missões tripuladas até que houvesse a garantia técnica de que as naves e foguetes seriam verdadeiramente seguros para a tripulação, e por isso o envio de turmas de astronautas demorou alguns anos a mais para acontecer. E a estratégia deu certo: os astronautas da Apollo 1 foram os únicos que morreram em todo o programa.
Questões de segurança foram testadas e resolvidas das Apollo 4 a 6, com os primeiros voos tripulados acontecendo a partir da Apollo 7, lançada em outubro de 1968 e apenas orbitando a Terra por mais de uma semana. Então, chegou a vez da Apollo 8, com a primeira turma de astronautas a orbitar a Lua, o que aconteceu em dezembro de 1968. Foi nesta missão, por sinal, que o astronauta Bill Anders tirou a lendária foto Earthrise, mostrando a Terra "nascendo" sob o ponto de vista lunar.
Aí chegou a hora de lançar a Apollo 9, em março de 1969, também orbital, que serviu para testar mais aspectos da nave e demonstrar que ela seria capaz de funcionar de forma independente no espaço. Com a Apollo 10, a dupla Charlie Brown (apelido do módulo de comando) e Snoopy (apelido do módulo lunar) enfim foi aos ares em maio do mesmo ano, apenas dois meses antes da Apollo 11, para provar que tanto a tripulação quanto os veículos estariam preparados para o pouso lunar. Os astronautas da Apollo 10 executaram todas as operações programadas para a Apollo 11, exceto a parte do pouso na superfície.
O lançamento mais importante da história
A Apollo 11 partiu a bordo do foguete Saturn V na manhã do dia 16 de julho de 1969 a partir do Centro Espacial Kennedy, na Flórida. O foguete lançou o módulo de comando para transportar o trio de e para a Lua e o módulo lunar para que Aldrin e Armstrong pousassem na superfície, com Collins permanecendo no módulo de comando orbital enquanto os colegas se aventuravam no solo lunar.
O enorme foguete era extremamente poderoso, sendo o mais poderoso já lançado até a atualidade. É isso mesmo: em cinquenta anos, ainda não lançamos nenhum foguete mais poderoso do que o que levou a Apollo 11 à Lua. O Falcon Heavy, da SpaceX, lançado pela primeira vez em 2018, é menor e menos capaz do que o Saturn V dos anos 1960, ainda que este da empresa de Elon Musk seja reutilizável e marque uma nova era na indústria espacial.
No topo do foguete estava, então, o módulo de comando da Apollo 11, abrigando ali também o módulo lunar, além da tripulação. O módulo de comando tinha 10 metros de altura e 3,9 metros de largura, sendo bastante apertado para três astronautas — o espaço útil para eles poderia ser comparado ao interior de um carro comum. Já o módulo lunar da Apollo 11, apelidado de Eagle, tinha 7 metros de altura e 4 metros de largura.
Collins foi o responsável por inspecionar o módulo lunar, com Aldrin e Armstrong então deixando o módulo de comando e se posicionando no módulo Eagle rumo à superfície, enquanto Collins permanecia na órbita monitorando tudo o que acontecia. Apesar de não ter entrado para a história por ter pisado na Lua em 1969, Collins desempenhou papel fundamental na missão, sendo um dos responsáveis pelo sucesso de seu país na ambiciosa missão de pousar na Lua pela primeira vez — e ainda por cima ganhando dos soviéticos.
Influência para além da ciência
O desembarque de pessoas na Lua não somente foi um marco histórico na ciência e na sociedade como um todo, como também marcou o fim da Corrida Espacial na Guerra Fria, com novas missões Apollo acontecendo até 1972, quando o programa foi encerrado. Àquela época, pousar na Lua já não era mais uma novidade tão interessante aos olhos do público geral, e o país decidiu realocar seus investimentos para outros programas espaciais da NASA, iniciando, então, a exploração de outras partes do Sistema Solar.
O feito histórico também ativou uma "febre" generalizada pelo espaço, com astronautas sendo idolatrados como celebridades e a astronomia se tornando "cool" aos olhos de pessoas em todo o mundo que, antes do sucesso da Apollo 11, não davam lá muita bola para esse tipo de coisa. Ainda, o pouso do Homem na Lua também marcou a cultura mundial, sendo até hoje inspiração em setores como a música, o cinema e até mesmo moda e decoração.
Os astronautas das Apollo se tornaram heróis mundiais, servindo como símbolos de inspiração em uma época marcada por guerras, conflitos políticos, mortes de personas importantes e protestos por direitos civis. Para além do marco histórico de levarmos pessoas a outro mundo além da Terra, o programa Apollo (em especial a Apollo 11, claro) foi um respiro de satisfação e otimismo em um contexto difícil repleto de sentimentos negativos como falta de esperança e descontentamento geral.
Cinquenta anos depois, voltaremos
E a romantização do programa da NASA permeia a exploração espacial até os dias de hoje: a Lua voltou a ser objeto de interesse décadas depois, com até mesmo empresas privadas entrando na jogada. Já quanto à NASA, a agência espacial tinha planos de retornar presencialmente ao nosso satélite natural em 2028, mas, sob pressão do governo Trump, esse novo pouso histórico foi antecipado para 2024 — é o novo programa Artemis, que, desta vez, levará a primeira mulher à superfície lunar.
Humanos não pisam na Lua desde 1972, com a Apollo 17. O programa Artemis deverá fazer seu primeiro voo em 2022, apenas orbital, repetindo a estratégia de sucesso adotada na década de 1960: primeiro, testar o funcionamento das naves no espaço, simulando tudo o que aconteceria num pouso de verdade, para somente depois levar astronautas à superfície.
No entanto, "desta vez, vamos para ficar". É isso mesmo: o retorno da humanidade à Lua neste século XXI não se dará apenas com mais umas andanças deixando pegadas no solo da Lua; a ideia agora é estabelecer uma presença constante em nosso satélite natural, e para isso será construída a estação lunar Gateway, que ficará na órbita da Lua e será uma plataforma usada por astronautas como pit stop entre a Terra e a Lua, bem como para jornadas ainda mais distantes, como a futura viagem a Marte (que deverá acontecer no final da década de 2030).
Vale lembrar que países da Europa, além de Índia, China e a própria Rússia (além de empresas privadas, como a SpaceX) também estão trabalhando em missões lunares no momento, e por isso mesmo os EUA estão se apressando para chegar lá primeiro, mais uma vez. Sendo assim, há uma nova Corrida Espacial em andamento, só que desta vez com mais "players", envolvendo agências espaciais estatais e empresas privadas que chegaram para levar a exploração espacial a um patamar ainda mais elevado — com uma concorrência ainda mais acirrada.