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Os 10 melhores filmes da década (do circuito mais comercial)

Por| 06 de Janeiro de 2020 às 15h00

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Netflix
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Teoricamente, as décadas começam no ano 1, ou seja: 2001 a 2010, 2011 a 2020... Isso porque no nosso calendário gregoriano não existe o ano 0. Assim, os anos que terminam com esse dígito são, na verdade, o décimo ano de uma década. 2020, por exemplo, ainda é da década iniciada em 2011.

De qualquer modo, uma década é um período que compreende 10 anos e, por isso, nenhuma lista está errada temporalmente. Podemos nos referir aos anos 2010 como o período que vai de 2010 a 2019 e, a partir de 2020, podemos considerar anos 2020 (até 2029). É uma discussão longa, mas que deve servir somente como discussão mesmo. Afinal, poderíamos listar os melhores filmes da década de 2006 a 2015. No final das contas, década, como dito, é um período de 10 anos e o resto é interpretação e colocação.

Outro ponto a ser levantado é a óbvia incapacidade de se assistir a todos os filmes lançados para fazer uma lista pessoalmente mais completa. E digo pessoalmente porque, querendo ou não, toda lista do tipo (sem exceção) é pessoal mesmo. Cinema é subjetivo. Taxar um filme de melhor que outro vai muito além de técnica e conhecimento: são questões pessoais que nos fazem construir alguma relação mais íntima com determinados filmes. E são justamente esses pontos que garantem as posições em uma lista. Acredito que, somente dessa forma – reconhecendo a impossibilidade objetiva –, uma lista pode ser sincera de fato.

Pensando nisso, procurei, ao menos, listar um filme lançado de forma mais abrangente e comercial, um que foi visto em um circuito mais reduzido e um brasileiro para cada ano (2010 a 2019). Outros tantos listei como menções honrosas, sabendo que poderiam estar na lista principal, nem estar por aqui... e ciente de que faltam outros tantos porque não assisti a todos os filmes do mundo e, claro, porque estou ciente de que a avaliação de uma arte estará sempre ligada à identificação, o que é particular e intransferível acima de tudo.

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Pois vamos à primeira dessas listas, a de melhores filmes lançados em circuito comercial abrangente da década passada (seja em muitas salas de cinema e na maioria das cidades brasileiras, seja produzidos por alguma grande e muito acessada plataforma de streaming):

10. A Rede Social (The Social Network), 2010

Dirigido por David Fincher, A Rede Social é, possivelmente, o filme mais envolvente de uma carreira construída por grandes filmes (como Seven: Os Sete Crimes Capitais e Zodíaco). De uma inteligência visual que coloca Fincher entre os diretores que melhor utilizam a computação gráfica aliada à trama e de um estilo nitidamente à favor do roteiro – que já é excelente por deixar toda a história de estratégia web e programação de computadores de fácil acesso ao público leigo –, o filme é um marco do início da década passada. Como os melhores filmes do diretor, ele não se limita a ilustrar o texto; ele arrasta o espectador para dentro e, aqui, de uma maneira rápida e imparável.

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9. A Pele que Habito (La piel que habito), 2011

Almodóvar, ao mesmo tempo em que é um diretor de uma autoralidade indiscutível, é um sujeito que consegue equilibrar tudo em direção ao funcionamento comercial dos seus filmes. E melhor: isso é muito natural. Não parece que ele força seu trabalho para esse resultado. Em A Pele que Habito, ele prova a sua genialidade com uma história que beira a fantasia sem tirar os pés da realidade. A mistura de força enquanto filme em si, relevância social e expressividade de sua carreira parece encontrar um ápice aqui. É um filme que, mesmo exalando charme e beleza, está sempre equilibrado em uma inquietude, em um perigo que quase salta aos olhos do público. Uma obra-prima.

8. A Hora Mais Escura (Zero Dark Thirty), 2012

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Kathryn Bigelow é uma diretora de intensidade única. Por mais que esteja guiando uma cena mais contemplativa – como várias das que Jessica Chastain protagoniza em A Hora Mais Escura –, há sempre uma sensação de urgência. Ao trazer a guerra para um âmbito mais íntimo, ela (Bigelow) acaba por transformar seu filme em um estudo de personagem que vai muito além da ação (que ela sempre dirige com uma competência absurda). Um filme a ser sempre lembrado.

7. Gravidade (Gravity), 2013

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Para muitos, um filme superestimado. Para mim, a verdade é que Gravidade é o filme do século XXI que melhor lida com a metáfora da questão da sobrevivência humana e a necessidade de renascimento. Cuarón trabalha seus conceitos com clareza – apesar de simbolicamente – e faz cada cena ser representativa. O final é dos mais bonitos do cinema contemporâneo, com a personagem de Sandra Bullock saindo da água e vindo à terra em um gestual que remete à evolução da vida.

6. Boyhood: Da Infância à Juventude (Boyhood), 2014

Alguns filmes criam laços com o público (ou parte deste) que vão muito além de algumas horas. Geralmente, os filmes de Linklater são assim. Não importa se são sobre crianças e um professor de música amalucado (Escola do Rock) ou uma trilogia das mais românticas, intimistas e reais (Antes do Amanhecer, Antes do Pôr do Sol e Antes da Meia-Noite). Linklater sabe lidar como poucos com a relação entre cinema e realidade e o efeito de um no outro. Com Boyhood: Da Infância à Juventude, ele, a partir de uma viagem cronológica – e não geográfica – traça um road movie temporal. No final, o sentimento pode ser de uma satisfação enorme, de conhecer uma família como raríssimos filmes permitem. Além disso, o esforço envolvido em um filme como esse é tão grande que, dificilmente, algo parecido será visto em breve. Ganha o cinema, o público e, sobretudo, a história (que, aliás, é regida pelo tempo).

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5. Mad Max: Estrada da Fúria (Mad Max: Fury Road), 2015

Uma cena de ação praticamente ininterrupta de duas horas que ainda consegue contar uma história, contextualizar um personagem icônico criado na década de 1980 interpretado por outro ator, apresentar personagens inesquecíveis e discutir questões sociais. Mad Max: Estrada da Fúria é uma revolução para o cinema de ação. Miller, que dirigiu a trilogia inicial, redefine aqui a sua visão de futuro. Ele imagina com muita vibração um mundo distópico, mas passível de combate, onde os homens são transformados em peões de líderes insanos e as mulheres acabam por se agarrar à esperança de dias melhores. Se, para tais dias, for necessária a força, o sexo antes visto como frágil pode ser revelado como o que de mais potente existe. Um filmaço.

4. A Chegada (Arrival), 2016

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A Chegada é um poema (tanto visual quanto em seu contexto geral) tão poderoso quanto necessário. Sem ceder martelos para que possamos bater em pregos soltos, o filme abre cirurgicamente um peito e, antes de fechá-lo com uma costura que dificilmente deixará cicatrizes, faz com que nos sintamos aquele corpo. Ficamos abertos, imóveis, conscientes (mas nem tanto), sem qualquer dor traumatizante, mas com a certeza de que somos frágeis, imperfeitos e sem a menor ideia do que somos capazes de fazer com aquilo que nos é mais precioso enquanto seres sociais: a comunicação.

3. Corra! (Get out), 2017

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O mais inegável de Corra! é que Jordan Peele sabe manter o seu conceito do início ao fim. Apesar de ser um comediante nato, o roteirista e diretor não utiliza, aqui, a comédia para desviar a atenção do público. Ela (a comédia) faz parte de um contexto tão crítico como o terror do filme. O alívio cômico na personagem de Lil Rel Howery faz parte, justamente, de sua crença traumática (a de Rod) de que os homens brancos querem escravas sexuais negras. É um trauma de uma época colonizadora, dolorida, tratada com uma inteligência irônica por Peele. O terror, por sua vez, está tão ligado às ações e ao contexto que Corra! pode dar muito mais medo a quem se identificar com Chris (Daniel Kaluuya)... e isso, por si só, já é um atestado de como a nossa sociedade ainda é racista e, historicamente, assustadora.

2. Roma, 2018

“Olha só: Gostei de estar morta.”, diz Cleo. A personagem é humana e divindade; é vida e morte; é o equilíbrio entre mundos tão distantes e tão próximos que passa a ser de uma crueldade sem tamanho a existência dessa divisão. Aos olhos de Cuarón (segundo filme dele na lista), parte do mundo, recheada por muitos que conseguem voar, é de abutres. Ou, em uma visão mais ampla, cada um tem um “quê” de abutre dentro de si e só resta a escolha entre viver por carcaças (do sofrimento e da morte de outros) ou lutar para que todos possam voar (mesmo que carregados, abraçados). Claro que uma escolha só é possível quando existe a chance de escolher. E isso não poderia estar mais claro em Roma.

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1. O Irlandês (The Irishman), 2019

A visão de Scorsese faz de O Irlandês um contraponto com O Poderoso Chefão (com a música de Robbie Robertson – de Jimmy Hollywood – evocando a de Nino Rota de vez em quando). Em oposição ao filme de Coppola, o que se vê aqui não é a máfia como algo a ser temido-porém-respeitado, a prosperidade da família (Vito – De Niro no segundo filme) e a decadência da moral (Michael – Al Pacino) exercidas por homens; o que se apresenta é a máfia pela máfia aos olhos do público. No final das contas, Scorsese tem controle total do seu trabalho a ponto de se permitir deixá-lo inteiramente para as interpretações e para o ajuizamento de cada espectador.

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Menções honrosas:

As menções honrosas seguem os anos e, dentro deles, estão em ordem alfabética. Como a lista principal, não está em nenhuma ordem de preferência. Lá vão:

2010:

  • Cisne Negro: Um dos momentos mais intensos das carreiras de Darren Aronosfky e Natalie Portman.
  • A Origem: Para mim, o ápice da grandiosidade de Christopher Nolan (ou quando Nolan ainda era ovacionado pela maioria).
  • Toy Story 3: Porque foi o filme que mais me fez chorar em 2010.
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2011:

  • Missão: Impossível, Protocolo Fantasma: Um dos filmes mais bem resolvidos da franquia e, junto ao Efeito Fallout, aquele com a direção mais bem estruturada.

2012:

  • 007 – Operação Skyfall: porque Sam Mendes sabe o que fazer com a estética dos seus filmes como poucos.
  • The Avengers: Os Vingadores: uniu os heróis didaticamente e, apesar de não se arriscar, foi muito eficiente em sua proposta.
  • As Aventuras de Pi: um dos filmes mais bonitos so século XXI, especialmente para os mais sensíveis às questões de crenças e às discussões sobre verdades paralelas.

2013:

  • O Lobo de Wall Street: Scorsese debochando e ironizando a vida de um sujeito mais do que contraditório.
  • Rush: No Limite da Emoção: Nenhum filme recente traduziu com uma unidade tão coerente a relação do homem com o automobilismo.

2014:

  • Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância): Para muitos, de uma arrogância enorme. Eu tento ver com bons olhos... e vejo uma obra tecnicamente irrepreensível e de muita coragem temática. Tanto que sua condução de falso plano-sequência é completamente ligada à arte do teatro (sua peça-chave).
  • Capitão América 2: O Soldado Invernal: O filme que conseguiu, sem forçar, lançar elementos sérios ao UCM.
  • Garota Exemplar: Por motivos de Fincher.
  • Guardiões da Galáxia: Talvez, até o seu lançamento, o filme mais espirituoso da Marvel.

2015:

  • Divertida Mente: Como Toy Story 3 em 2010, o filme que mais me fez chorar em seu ano.
  • A Grande Aposta: Rápido, instigante e complexo (apesar de simples).

2016:

  • La La Land: Cantando Estações: Para os românticos amantes de musicais, é o melhor dos últimos anos.
  • Deadpool: Ame-o ou deixe-o. O filme que mais me divertiu em seu ano e que fez eu me sentir em uma sala de cinema como a de Cinema Paradiso, com gritaria, pipocas voando, gargalhadas loucas... Um experiência para eu não me esquecer.

2017:

  • Blade Runner 2049: Villeneuve em uma pegada esteticamente destruidora (no melhore sentido) e com um ar contemplativo sincero.
  • Em Ritmo de Fuga: Música e cinema; ritmo e montagem. O que há de mais identificável para mim está nesse filme.
  • Logan: Eu diria que me fez chorar como Toy Story 3 e Divertida Mente, mas não foi somente... Ele deu um ponto final ao meu mutante favorito de uma maneira muito digna.
  • Planeta dos Macacos: A Guerra: A glória de uma trilogia. O melhor filme já feito após a criação de Pierre Boulle.
  • Thor: Ragnarok: Para a maioria, um dos piores do UCM. Para mim, Taika Waititi brinca com sua visão autoral e faz do filme o mais diferente e inincaixável no universo dos heróis. A ousadia é fascinante.
  • Viva: A Vida é uma Festa: Esse sim. Posso dizer que foi o que mais me fez chorar em 2017. Por coincidência (ou não), é mais uma animação.

2018:

2019:

  • Ad Astra: Rumo às Estrelas: Um filme que ensina a encarar o futuro por meio de símbolos, metáforas e sensibilidade.
  • Bacurau: Porque a história cobra.
  • Coringa: O triunfo das minorias em luta.
  • Era uma Vez em... Hollywood: Tarantino se reinventando... que se reinvente sempre mais.
  • História de um Casamento: Não é animação, mas me fez chorar como poucos da década. Eu, que assisti a O Irlandês em uma sentada, precisei repartir esse em cinco episódios. Dor, dor e dor, mas com um carinho que só Noah Baumbach tem.
  • Toy Story 4: Preciso dizer que me fez chorar? De todo modo é o filme mais adulto da quadrilogia, que traz aspectos mais sombrios da nossa mente.
  • Vidro: Odiado e amado... tenho muitos motivos pra colocá-lo aqui.
  • Vingadores: Ultimato: O melhor da equipe de heróis é o fim de um ciclo. Dos melhores filmes do ano.


Agora, ficam aí os comentários. Foi difícil fazer uma lista tão subjetiva, mas tenho certeza que vocês podem complementar e enriquecer tudo. Ficaram muitos filmes de fora, então vamos conversando, debatendo... de repente, aumentando a lista.

E, em breve, sairá a lista dos 10 melhores filmes da década lançados em circuito reduzido (poucas cidades brasileiras, somente em festivais...), além de outra que reunirá os 10 melhores nacionais de 2010 a 2019.

Bons e ruins filmes para nós!