Publicidade
Economize: canal oficial do CT Ofertas no WhatsApp Entrar

Moto G por R$ 1.499? Não, não é culpa somente da Lenovo. É de tudo (Parte 3)

Por| 25 de Maio de 2016 às 23h04

Link copiado!

Moto G por R$ 1.499? Não, não é culpa somente da Lenovo. É de tudo (Parte 3)
Moto G por R$ 1.499? Não, não é culpa somente da Lenovo. É de tudo (Parte 3)

Na primeira parte deste artigo, explicamos que o Moto G de quarta geração chegar ao Brasil com um preço inicial de R$ 1.299 não é culpa da Lenovo, que atualmente controle a Motorola. Quem diz que a Lenovo "perdeu a mão" ignora que o cenário econômico do Brasil atual é um pesadelo para empresas. Aliás, poucas vezes contamos com uma estabilidade política e econômica por aqui, algo que as constantes mudanças na política, altos impostos e burocracia engessante certamente não colaboram.

Já na segunda parte deixamos claro que os produtos serem caros no Brasil é muita vezes culpa do próprio consumidor, que automaticamente atribui qualidade a um produto com um preço maior, estando disposto a pagar altíssimo por algo por ser caro ("se é caro, é bom"). Entra a sensação de exclusividade também, uma espécie de violação da Lei de oferta e demanda, artificialmente gerando escassez de algo com um preço mais alto do que deveria que, por sua vez, aumenta a demanda. Esse é o motivo de muitos estarem dispostos a fazer um financiamento leonino de um iPhone.

Agora, nessa terceira parte, vamos compreender um fator muitas vezes esquecido pela maioria das pessoas e, em seguida, entender por que isso não melhorará nos próximos anos.

Poucos concorrentes

Continua após a publicidade

O Brasil é um país fechado para o mundo. Isso é um fato. Em setembro de 2015, nosso país caiu 12 posições no ranking de liberdade econômica mundial, figurando a nada nobre 118ª colocação, e atualmente estamos na 122ª posição em um ranking de 178 países*. É mais fácil fazer negócios no Congo, Butão ou Camboja do que aqui. Em uma escala que vai de 0 a 100, o Brasil tem uma "nota" de 56,5, o que em outras palavras quer dizer "pouca liberdade para fazer negócios", uma nota que não fica muito longe da de países considerados "repressores" aos negócios, sendo que Venezuela, Cuba e Coreia do Norte são os grandes destaques.

"Pouca liberdade" é uma definição ruim, mas "Repressor", que não estamos longe, é ainda pior.

O resultado prático disso é a forma como fazemos negócios por aqui – bastante hostil para o empresário –, o que impacta diretamente no preço final dos produtos. Além dos altos impostos, claro. Mais do que isso, desestimula outras empresas a iniciarem operações por aqui, o que limita a concorrência e permite que os poucos fabricantes que temos possam trabalhar com uma margem de lucro maior. Pode parecer estranho dizer que temos poucas empresas de smartphones, não? Afinal, temos Samsung, Sony, LG, ASUS, Lenovo/Motorola e mais algumas outras com menos representações, como ZTE, Quantum/Positivo, Multilaser e Alcatel.

Continua após a publicidade

Porém, não temos Sharp, NEC, OnePlus, Kyocera, Sanyo, Pantech ou Aquaris. Isso somente para mencionar algumas que trabalham com modelos nos Estados Unidos, já que a lista seria realmente maior se considerássemos as fabricantes chinesas que têm chamado bastante atenção, como LeEco, UMi, Ulefone, Elephone, Meizu, Huawei e Xiaomi. Sim, há alguns modelos das marcas que mencionamos no Brasil, mas longe de oferecer o enorme portfólio de produtos disponível em outros lugares do mundo.

Enquanto algumas empresas trazem somente uma fração de seu portfólio, geralmente os modelos mais baratos, outras, como a HTC, simplesmente desistem.

Alguns fabricantes trazem somente alguns modelos em diferentes segmentos para "testar" a receptividade por aqui. Nosso mercado é tão caótico que poucas empresas continuam a atualizar as suas linhas por aqui depois de um experimento inicial. Esse é o caso, por exemplo, da Xiaomi, que introduziu o Redmi 2 de uma forma bem discreta, seguido do Redmi 2 Pro, que é basicamente o mesmo aparelho. Enquanto isso, nada de Redmi 3, Mi 5 ou Note. Outras, como a HTC, simplesmente desistem. Um cenário curioso, já que o nosso mercado consumidor de mais de 200 milhões de habitantes não é algo geralmente despercebido pelas empresas.

Continua após a publicidade

E sabe qual é a pior constatação desse cenário? É que nada indica que vai melhorar nos próximos anos.

Por que não?

Novamente, independentemente de posição política, ideologia ou preferência de partido, mesmo que tudo dê certo nos próximos anos, vai demorar para que os preços abaixem por aqui. Ou que outros fabricantes se arrisquem em iniciar operações por aqui. O dólar oscilou menos este ano do que no ano passado, mas ainda está longe de mostrar sinais de uma estabilização que permita o planejamento em longo prazo.

O mesmo vale para qualquer característica que possa encorajar novos concorrentes por aqui, já que mesmo que a nossa estrutura econômica não sofra alterações bruscas nos próximos anos, iniciar operações por aqui já é complexo por si só. Um bom exemplo são os impostos. O problema é que eles não são somente altos, mas complexos – um dos principais exemplos de uma burocracia excessiva característica de nosso país.

Continua após a publicidade

Olhando os próximos anos, não há grandes expectativas que as coisas melhorem.

No momento em que essa matéria está em produção, ainda não é certo se a CPMF irá voltar ou não. Não se sabe se o ICMS irá sofrer alterações. Ou mesmo se a Lei do Bem será oficial até o final do ano, ou se será novamente revogada em 2017. Todas essa instabilidade, que não mostra sinais de uma possível simplificação, desencoraja novos players por aqui. Menos empresas significa menos concorrência, com empresas de telecomunicações sendo um excelente exemplo.

Novamente, o maior problema não é nem os impostos serem altos demais, mas mudarem a todo momento e já serem complexos por si só. Alguns preveem o dólar a R$ 3,25 no final deste ano. Outros, a R$ 4,50. Seria mais interessante que o dólar se estabilizasse a R$ 4 durante vários anos do que variar entre R$ 3,25 e R$ 4,50 com uma frequência errática... Isso para mencionar somente dois exemplos. Ou seja, quem espera alguma melhora no curto prazo ficará, infelizmente, bastante frustrado.

Continua após a publicidade

Conclusão

A ideia original para escrever esse artigo foi começar a explicar como o Moto G dobrou de preço em apenas 3 gerações no Brasil, já que no restante do mundo ele manteve o seu preço relativamente constante. Alguns sites atribuem esse fato predominantemente a um erro da Lenovo, com uma pequena menção ao dólar e à recessão que estamos passando, esquecendo o fato de que o problema é muito maior e complexo do que parece, com origens bem mais antigas do que aparentemente são.

Por que a crítica foi mais grave no caso do Moto G? Por que muitos ignoram que é algo generalizado entre todos os smartphones de todas as empresas? Pois ele é um dos modelos mais famosos do Brasil, um modelo que bagunçou o mercado quando introduzido em 2013, mais um exemplo de que nosso mercado é tão estagnado que um modelo, sozinho, consegue desafiar o modus operandi de diversos fabricantes.

A Lenovo quer cobrar o maior valor possível pelo Moto G? Mas é claro que sim. Só que o seu preço final também é muito influenciado por péssimas situações econômicas, políticas que mudam todos os dias, impostos altos, complexos e asfixiantes, cotação inconstante do dólar, custo Brasil... tudo isso causado por uma infraestrutura deficiente e até pelos preços sempre em alta de energia elétrica e gasolina. Fatores correlacionados e codependentes.

Continua após a publicidade

E, claro, os preços em geral também são resultado da nossa ideia de que algo muito caro oferece uma sensação de superioridade, ainda que pouco tenha a ver com as características do produto em si. Esse culto ao preço alto em 24 vezes que tira o estímulo dos fabricantes em serem mais competitivos. Os preços estão sim altos, não somente no caso do Moto G, não somente para os smartphones, e os motivos para isso são muitos – infelizmente teremos que lidar com eles por um bom tempo, já que não é algo que mostra sinais de mudança.

*Heritage 2016 INDEX of Economic Freedom - Brasil - acessado em 24/05/2016