Os 11 eventos de maior impacto nos quadrinhos da Marvel Comics
Por Claudio Yuge |
Assim que os crossovers se popularizaram nos quadrinhos de super-heróis nos anos 1980, nada mais foi o mesmo nas editoras norte-americanas mais populares. As companhias notaram que os leitores adoram eventos que reúnem múltiplos grupos de personagens em tramas conectadas e, desde então, tanto a Marvel Comics quanto a DC Comics lançam pelo menos dois ou três por ano, com alguns que realmente mudam muitas coisas em suas cronologias.
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Com o tempo, esses eventos passaram a ser mais sofisticados, e deixaram de usar argumentos rasos apenas para reunir os personagens. É verdade que ainda hoje acontecem os famosos retcon (retroative continuity), ou seja, tramas que “destroem” todo o status quo vigente apenas para depois construir tudo de volta, sem mudar muita coisa.
Mas a ideia de usar esses eventos para reformular e atualizar as propriedades ganhou ainda mais força com o tempo, principalmente porque estamos falando de “novelas” com capítulos mensais que estão por aí há mais de 80 anos. Então, ultimamente, as editoras aproveitam esses crossovers para destacar ou mudar personagens que andam apagados ou revitalizar linhas ultrapassadas.
Já falamos sobre os crossovers que causaram mais impacto na DC Comics, e, hoje, é dia de elencarmos os 11 eventos de maior importância na continuidade da Marvel Comics, a partir da seleção feita pelo pessoal do Newsarama. Vale destacar que, embora os encontros de personagens de diferentes linhas tenham acontecido no passado, só ficaram realmente organizados e tratados como “blockbusters sazonais” a partir dos anos 1980.
11. Desafio Infinito (1991)
Embora a trama seja importante por ter lançado a jornada de Thanos em busca da Manopla do Infinito e as seis gemas de poder que a compõem, a saga pode ser citada como um clássico exemplo de retcon: a promessa era de mudança profunda na cronologia da Marvel Comics, mas, no final, tudo voltou ao status inicial.
Ainda assim, a história abriu caminho para várias outras tramas envolvendo a busca de Thanos, o que permitiu a Infinito ser uma “sucessora espiritual” muito melhor desenvolvida e com consequências mais interessantes para os quadrinhos e até para os filmes da Casa das Ideias.
10. A Essência do Medo (2011)
Os anos 2000 foram importantes para a Marvel destruir (ou desconstruir) os Vingadores e a “Santa Trindade” (Homem de Ferro, Capitão América e Thor) para tornar a equipe a franquia número um da editora, assim como reformular os principais heróis. E esta saga faz parte da retomada do Thor e do Capitão América.
O Sentinela da Liberdade nessa época era o Bucky, já que Rogers estava voltando de sua morte na Guerra Civil. Ainda assim, a história ajudou a remodelar os vilões e os coadjuvantes do cantinho do Capitão América, já que tudo começa com Pecado, filha do Caveira Vermelha, trazendo para a Terra um conflito ancestral entre deuses nórdicos.
Thor também estava voltando da morte, após o Ragnarok, e, após contrariar seu pai, o poderoso Odin, conseguiu ascender como líder na briga entre os deuses nórdicos. Na Terra, Bucky foi ferido mortalmente e Rogers retomou seu posto como Capitão América. Com muitos heróis abatidos, Rogers chamou a população para lutar contra as forças malignas e protagonizou um dos momentos mais marcantes de sua trajetória, levantando o martelo do Thor — cena que inspirou o filme Vingadores: Ultimato.
No final, tanto o Capitão América quanto o Thor retornaram com o status quo revitalizado, como parte da já citada reformulação dos personagens e dos próprios Vingadores.
9. Invasão Secreta (2008)
Como dito, a Marvel aprendeu a usar suas sagas para fazer “soft reboots”, aproveitando a própria dinâmica da trama para solucionar questões mal resolvidas e problemas cronológicos. Com a invasão dos alienígenas transmorfos na Terra, qualquer herói ou vilão poderia ser um deles infiltrado há anos por aqui.
Isso serviu como justificativa para revisar personagens que precisavam de um novo começo, como Elektra, já que os problemas de continuidade do passado podiam ser respondidos pelo fato de ela ter sido substituída por uma Skrull durante o período.
A história serviu também para colocar Tony Stark e os próprios Vingadores sob desconfiança da população, além de transformar Norman Osborn em um personagem mais parecido com Lex Luthor do que com a sua persona de Duende Verde. Foi aí que nasceram os Vingadores Sombrios, grupo formado por vilões se passando por heróis.
8. Guerras Secretas (1984)
Este pode ser considerado o primeiro grande evento com todos os personagens em uma editora de quadrinhos de super-heróis. A premissa é bem bobinha, trazendo um ser onipotente que só queria testar as forças de heróis e vilões em um mundo alienígena. Na verdade, o evento nasceu sob encomenda, com o objetivo de vender brinquedos.
Ainda assim, o resultado foi divertido, principalmente porque os leitores puderam ver interações entre personagens que não costumavam se encontrar. E, no final, trouxe algumas consequências significativas, como o uniforme preto do Homem-Aranha, que mais tarde se transformou no Venom.
Depois de Guerras Secretas, as editoras passaram a investir em outros eventos do mesmo porte. E, com o tempo, aprenderam a desenvolver melhor suas sagas, construindo tramas mais complexas e de maior influência nas vidas dos principais personagens envolvidos.
7. O Cisma (2011)
Comentar sobre revisão de personagens, como estão notando, é algo muito recorrente nos eventos. E este aqui também serviu para isso, já que os X-Men, que capengaram muito depois do final dos anos 1990, precisavam de uma reformulação. E este evento serviu justamente para isso, já que o citado cisma, que envolveu uma briga feia entre Wolverine e Ciclope, dividiu a equipe em duas.
Logan seguiu os passos de Xavier, que tinha morrido nas mãos de Ciclope no evento Vingadores vs X-Men, tocando a escola para mutantes. Já Summers partiu para uma “terceira via”, pois o sonho de Xavier não tinha funcionado para ele, muito menos a visão mais agressiva de Magneto.
6. Vingadores vs. X-Men (2012)
A essa altura, outra coisa que você vai notar ser recorrente nesta lista da Marvel é o fato de os heróis da editora se enfrentarem muito mais entre si do que exatamente contra os vilões. Isso é até algo compreensível, afinal, já parou para pensar como em nosso mundo real os conflitos entre seres tão poderosos seriam intensos e constantes, independente de suas boas intenções?
Bem, aqui, a Força Fênix está mais uma vez mirando a Terra e, novamente, tem a raça mutante como hospedeira. Como isso não deu muito certo no passado, os Maiores Heróis da Terra entram na jogada, afinal, esse é um assunto de segurança mundial para o Capitão América e sua turma. O choque entre os grupos é inevitável, principalmente quando a Força Fênix se divide entre Ciclope, Emma Frost, Colossus, Magia e Namor — que se tornam os Cinco Fênix.
Depois do evento, os mutantes se distanciaram ainda mais do resto do mundo e dos outros grupos de heróis, ainda mais depois que Ciclope assassinou seu mentor, o Professor X — que, no final das contas, claro, retornou mais tarde. Embora tenha o “cheiro de retcon”, essa saga foi importante para manter o status de “odiados e temidos” aos X-Men, o que ajudou a construir o atual momento da equipe na fase de Jonathan Hickman.
Muitos acreditam que este será o “grande evento” nos próximos anos do Universo Cinematográfico Marvel (MCU, na sigla em inglês).
5. Dinastia M (2005)
No período que a Marvel estava reformulando os Vingadores em meados dos anos 2000, a ideia era que isso também ajudasse a levantar os X-Men, que estavam em decadência desde o final dos anos 1990. Esta trama reúne exatamente as duas equipes, com uma vingadora que também era considerada mutante: a Feiticeira Escarlate.
Quando os Vingadores descobrem que Wanda, destroçada psicologicamente após sofrer com a morte do Visão e com o adeus aos seus filhos, ela implode a sede dos Maiores Heróis da Terra, que, claro, vão atrás dela. Quando os X-Men vão ao seu encontro, para impedir que os Vingadores a julgassem, eis que a própria Feiticeira Escarlate reescreve a realidade, criando um mundo em que os mutantes estão no comando, sob a liderança de Magneto — que, acreditava-se na época, ser seu pai.
Quem viu Wandavision sabe que há semelhanças na trama; e isso ainda vai ter consequências em Doutor Estranho no Multiverso da Loucura. O maior impacto dessa saga foi o fato de a comunidade mutante no mundo ter reduzido drasticamente e, por muitos anos, nenhum homo superior nasceu na Terra.
Ah, claro, vale lembrar que, nessa época, havia uma diretriz imposta pelo então presidente da Marvel Entertainment, Ike Perlmutter, para barrar a criação de novas propriedades ligadas aos X-Men, já que seus direitos estavam ligados à Fox nos cinemas.
4. Massacre de Mutantes (1986)
Dá para dizer que este foi o segundo maior crossover da Marvel, que, na época, ainda estava testando o formato. Ele foi tão diferente dos modelos que conhecemos hoje, que talvez nunca fosse publicado da mesma forma nos dias atuais. Não havia uma minissérie principal cheia de títulos derivados; e você nem mesmo precisava seguir exatamente em uma determinada ordem — já até escrevi uma matéria especial só sobre isso.
Mesmo com esse estilo “diferentão”, Massacre de Mutantes ajudou a estabelecer algumas condições que se prolongaram por vários anos em personagens como Colossus, Tempestade, Anjo, Kitty Pride, Noturno, Thor e outros. E, depois disso, a Marvel compreendeu melhor como formatar seus eventos.
3. Massacre (1996)
Em meados dos anos 1990, os Vingadores e o Quarteto Fantástico andavam em baixa, e os únicos títulos da Marvel que mais vendiam nas bancas eram os que tinham um “X” na capa — o desenho de sucesso dos mutantes na TV também ajudavam a popularizar os Filhos do Átomo.
Assim, a Marvel aproveitou o sucesso dos X-Men para tentar um “soft reboot” com as outras duas propriedades de peso, a partir de uma ameaça na forma de uma criatura que era uma mistura do Professor X com Magneto. Massacre queria destruir tudo, e o custo da vitória dos heróis foi boa parte deles serem transportados para uma realidade alternativa, em que todos eram diferentes.
Adivinha quem foram os transportados? Pois é, embora essa experiência não tenha dado certo, serviu para que a Marvel aprendesse como fazer corretamente alguns anos depois. Já falei sobre Massacre por aqui no Canaltech também.
2. Guerra Civil (2006)
Já percebeu que na Marvel tudo é “guerra” e “secreto”, enquanto na DC o lance é “crise” e “renascimento”? Bem, curiosidades à parte, a Marvel sempre gostou de estar mais próxima aos eventos históricos da humanidade, justamente para promover mais identificação entre seus personagens e o público.
Aqui, a “Guerra da Secessão com super-heróis” acontece quando a comunidade fica dividida entre o comando do Homem de Ferro, que decide atuar ao lado do governo para monitorar a atividade dos superseres mascarados, promovendo uma lei para registrar todos; e o Capitão América, que vai contra essa ideia.
Vale destacar que a trama original coloca o Homem de Ferro em um evidente status de antagonista e quase vilão, bem diferente do que foi visto nos cinemas — o que é compreensível, já que Robert Downey Jr. tornou o personagem muito mais popular do que na época em que a HQ foi publicada.
Nas HQs, essa trama teve um impacto muito grande no que diz respeito às motivações e ideologias dos heróis, que foram atualizadas aos tempos modernos. Além disso, foi a cereja do bolo para tirar o “ranço patriótico” que o Capitão América ainda carregava: veja bem, desde o começo dos anos 1990, a Marvel passou a mostrar que Steve Rogers luta pela liberdade, e não exatamente pelos Estados Unidos; aliás, desde então, vemos o herói questionar justamente atitudes autoritárias de governos, especialmente de seu país, o que também acontece no MCU.
1. Guerras Secretas (2015)
Daria para colocar fácil Infinito como a melhor saga dos últimos anos da Marvel aqui nessa lista, mas o que estamos falando aqui é diferente. Infinito pode ser considerado um caminho para estas segundas Guerras Secretas, que causaram um impacto imenso na Casa das Ideias.
Este foi o ponto de virada da Marvel do passado para o novo século, pois tudo que não estava mais funcionando e o que deu certo antes deste evento acontecer foi mesclado em um novo Multiverso. A Terra-1610, que se chamava Ultimate, vinha servindo de laboratório para novos leitores, apresentando versões repaginadas desde o início dos anos 2000 e, com o sucesso de adaptações para o MCU baseadas nesses conceitos, a Casa das Ideias criou uma história que pudesse servir como um reboot.
Os detalhes já falei nesta matéria, e não tem como não citar o que acontecia nos bastidores: antes de a Fox ser comprada pela Disney, e de Kevin Feige vencer a disputa com Ike Perlmutter, a Marvel Comics foi obrigada a deixar os mutantes em segundo plano e aposentar temporariamente o Quarteto Fantástico.
No final destas Guerras Secretas, o legado da Marvel cresceu, promovendo diversidade com mais autores de gêneros e etnias diferentes, o que resultou em versões mais conectadas ao mundo atual — as personagens femininas ganharam mais força, assim como os heróis de outros países, que passaram a ser escritos por quem tem o lugar de fala adequado.
Por exemplo, a Marvel passou a ter a Capitã Marvel sendo escrita por uma mulher, assim como Ms. Marvel por uma muçulmana; Miles Morales ganhou destaque, bem como o Pantera Negra de Ta-Nehisi Coates; Shang-Chi deixou para trás estereótipos do passado, e por aí vai. E tudo passou a se retroalimentar com o que os produtores passaram a fazer no MCU.
Além disso, após a Disney comprar a Fox, Feige assumiu a Marvel Entertainment e os X-Men voltaram a ter um lugar de destaque — eles vinham sendo “substituídos” pelos Inumanos. E o Quarteto Fantástico voltou, com a “desculpa” de terem ficado ausentes recriando os mundos do Multiverso, como consequência direta do final destas Guerras Secretas.
Portanto, não tem como deixar de dar o pódio a Jonathan Hickman e às Guerras Secretas de 2015.