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Crítica | WandaVision encanta e expande MCU, mas final deixa a desejar

Por| 08 de Março de 2021 às 10h30

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WandaVision, enfim, acabou, na última sexta-feira (5). A primeira série da Disney+ produzida pela Marvel Studios veio para conectar uma atração da TV diretamente aos eventos do Universo Compartilhado Marvel (MCU, na sigla em inglês), aproveitando o formato episódico para explorar com mais detalhes apresentados nas telonas. Neste caso, pudemos conhecer as origens de Wanda e sua transformação em Feiticeira Escarlate; e a trágica trajetória de Visão, que, antes disso, foi visto perecendo nas mãos de Thanos.

E qual é o balanço disso tudo? A série vale mesmo a pena? O que mudou no MCU? E por que tanta gente reclamou do final? Confira na crítica, mas fique avisado: abaixo estão muitos spoilers envolvendo todos os episódios de WandaVision, portanto, fique avisado desde já.

Além disso, recomendo a leitura de quatro matérias especiais que fiz sobre alguns elementos introduzidos em WandaVision. Os links estão ali acima e, com certeza, muitas questões apresentadas ao longo da trama já podiam ser respondidas nas próprias bases das páginas de quadrinhos. Vamos lá.

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Homenagens a sitcoms divertem e exibem talento dos atores

WandaVision tem grande parte de sua trama apresentada de uma forma divertida, nada convencional. O diretor Matt Shakman conseguiu amarrar vários aspectos da vida do novo casal do pedaço, Wanda e Visão, fazendo uma homenagem a vários sitcoms, dos anos 1950 aos dias atuais. É possível ver referências a I Love Lucy, The Dick Van Dyke Show, A Feiticeira, The Brady Bunch, Malcom in the Middle, The Office, Modern Family, entre outros.

E essa brincadeira, tão estranha quanto divertida, permitiu a Shakman mostrar como Wanda estava criando e manipulando, aparentemente sem saber, tudo ao seu redor. Desde sua visão de vida familiar perfeita em um subúrbio estadunidense, até o incomum nascimento de seus filhos e o crescimento de ambos. Esse “playground” também ofereceu ao cineasta e ao diretor criativo da Marvel, Kevin Feige, entupir as cenas de vários easter eggs dos quadrinhos: estão escondidos pelos cantos referências ao Ceifador, ao Nexus das Realidades, entre outros.

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E esse modelo narrativo ofereceu a chance de vermos Elizabeth Olsen e Paul Bettany brilharem. Olsen mostrou várias facetas ao longo dos episódios, de dona de casa dedicada a servir ao marido nos anos 1950, passando para a mãe de gêmeos em pleno crescimento em meados de 1980, até uma representação mais moderna da mulher dos anos 2000. É incrível ver como ela consegue realmente alterar o tom de sua interpretação, sempre deixando a assinatura original da personagem. E leve em consideração o fato de que estamos acompanhando a transformação de Wanda; então, ver essa amplitude de atuação é de tirar o chapéu.

O mesmo pode se dizer de Paul Bettany. Quem já o conhecia de seus primeiros trabalhos, a exemplo de Coração de Cavaleiro, sabe que ele trazia o clássico modelo dem palcos teatrais, e, inicialmente, era estranho vê-lo limitado apenas como a voz robótica da inteligência artificial de Tony Stark no MCU. Quando ele se tornou o Visão, pudemos acompanhar um pouco mais de seu talento, vendo uma criatura sintética se tornando aos poucos “mais humana”. E isso continua em WandaVision, que, assim como aconteceu com Olsen, pôde nos apresentar mais facetas de Bettany, incluindo seu lado mais cômico, que garante muitas risadas ao longo da série.

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Expansão do MCU com coadjuvantes de luxo

Embora ofereça uma imersão em “mini mundos” baseados em sitcoms, cada capítulo apresenta uma crescente participação do MCU na cronologia real dos eventos do universo compartilhado das telonas. WandaVision acontece após os eventos de Homem-Aranha: Longe de Casa, ou seja, depois que Thanos transformou metade da população do universo em cinzas com seu estalar de dedos; e após o sacrifício de Tony Stark e Viúva Negra, na vitória contra o Titã Louco que trouxe os mortos de volta à vida, cinco anos depois de seus desaparecimentos.

Isso dá à Feige, a oportunidade e incluir personagens e linhas de narrativa que possam ser exploradas nos próximos filmes e séries. E alguns “coadjuvantes de luxo” ganham bastante visibilidade com isso, especialmente Monica Rambeau (Theyonah Parris), que já havia aparecido em Capitã Marvel. Aliás, a própria origem da heroína que ela deve interpretar, Fóton, é explicada nos eventos de WandaVision.

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Outros atores que também ganharam destaque nessa leva foi o Jimmy Woo de Randall Park, que já havia sido uma boa adição em Homem-Formiga e a Vespa; e o retorno da divertida Darcy Lewis (Kat Dennings), que tinha sumido da franquia Thor. Coloque nessa lista Tyler Hayward (Josh Stamberg), que fez bem o papel de burocrata/vilão; e, claro, Kathryn Han, inicialmente a “vizinha barulhenta”, e, posteriormente, a verdadeira antagonista da atração, no papel da bruxa Agatha Harkness, que aprendemos a amar e odiar.

Mas… outros coadjuvantes de luxo não foram assim tão bem aproveitados, especialmente Evan Peters.

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Expectativa vs Realidade

Às vésperas da exibição do último episódio de WandaVision, na semana passada, o diretor Shakman começou a dizer por aí que o final talvez não agradasse os fãs, por não cumprir com a expectativa que a própria audiência criou. Isso é verdade: o cineasta e o roteiro contaram uma história muito mais simples do que os espectadores vinham imaginando; e fizeram isso de forma redondinha.

Antes de falar sobre expectativa, a realidade é que WandaVision sempre foi mesmo sobre a trajetória desses dois personagens. Uma das funções da série foi explicar incongruências no próprio MCU, como a origem estranha de Wanda e Pietro, desassociadas às suas raízes mutantes nos quadrinhos; o aspecto emocional da heroína, após tantas tragédias em suas vida; sua transformação em Feiticeira Escarlate e a conexão com a Joia da Mente; e, claro, o destino do corpo de Visão, após os eventos de Vingadores: Guerra Infinita, e seu novo status quo como o “Visão Branco”.

Mas… é injusto Shakman e Feige jogarem a decepção da não concretização de algumas expectativas em cima somente dos espectadores — principalmente porque eles fizeram questão de alimentar muitas teorias ao longo de WandaVision. Encontrar referências de quadrinhos e de elementos que possam ser explorados futuramente são parte da diversão das atrações da Marvel Studios, contudo, não foi exatamente isso que vimos na série do Disney+.

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Feige e Shakman adotaram uma distribuição episódica semanal justamente para causar discussões sobre teorias entre os fãs, e acompanharem a efervescência da atração nas mentes dos espectadores. Mas, desta vez, eles fizeram isso distraindo o público com direcionamentos desnecessários — com certo desperdício, diga-se de passagem. E, no final, o “monstro” se tornou um pouco maior do que previam.

O maior exemplo disso é a participação de Evan Peters. Veja bem, ele aparece como Pietro e até mesmo usa uma fantasia que faz menção ao Mercúrio dos quadrinhos. Mas, em vez de realmente inventar algo que pudesse ao menos dar uma pista sobre conexão com diferentes realidades e os mutantes de X-Men, sua trama encerra como uma revelação bastante decepcionante — e sua despedida é até mais triste e esquecível que sua própria jornada.

O mesmo acontece com alguns personagens interessantes que apareceram por ali, a exemplo de Dottie (Emma Coalfield), que muitos chegavam associar à poderosa bruxa Cleo, conectada ao Doutor Estranho. A própria atriz confessou posteriormente, que ela servia apenas como “isca” para que os fãs “viajassem na maionese”.

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Então, o que Feige e Shakman aprenderam com esse “experimento” é que subestimar a audiência pode ser não ser uma boa, pois aqui não foram somente os fãs que ficaram com expectativas muito altas: os próprios produtores nutriram essas projeções de forma exacerbada e confusa; então, não dá para dizer que a decepção com a ausência das revelações aguardadas sejam apenas fruto da mente de quem está na frente das telinhas.

Conclusão anticlímax

Se você assistir a WandaVision apenas como a atração que ela prometeu ser desde o começo, explicando o retorno de Visão, a confusa realidade em que o casal está preso e a transformação de Wanda de “milagre” a uma poderosa bruxa no MCU, a série vai ser redondinha para você. A história é mesmo somente sobre isso — e não deixa de ser igualmente divertida.

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Mas se você levar em consideração que a Marvel costuma conectar tudo que mostra em seus filmes, a ausência de respostas que os fãs criaram ao longo de sete semanas pode ser um pouco frustrante em uma conclusão anticlímax — mas isso não significa que foi exatamente ruim. O Visão encerra o combate com sua contraparte branca de uma forma sensacional, explorando sua própria maior fraqueza, a lógica, ao desafiar a máquina com o paradoxo do Navio de Teseu.

A transformação de Wanda também é algo muito legal de acompanhar, já que vemos mais de sua origem e compreendemos sua conexão com a Joia da Mente. E, além de tudo, temos a explicação da razão de ela ser chamada de Feiticeira Escarlate — lembre que até mesmo nos quadrinhos os autores precisaram mudar elementos de seu passado, afinal, seus poderes mutantes nada tinham a ver com bruxaria e com o nome que ele tem.

Além disso, temos o trágico desfecho de uma heroína, com a difícil decisão que ela tem nas mãos: continuar mantendo uma realidade com o Visão que ela conhecia e seus novos filhos ou sacrificá-los em prol de um bem maior, a manutenção do universo como ele tem que ser? É claro que ela opta pelo segundo, e isso é emocionante de ver.

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Feiticeira Escarlate no futuro do MCU

Quem já acompanha Feige há algum tempo nota com mais transparência sua participação ao longo da série. Todas as vezes que a história deixa de ser sobre Wanda, Visão e seus filhos, temos um dedinho do chefão escolhendo o que podemos ver sobre o futuro do MCU. Aliás, essa mudança de narrativa, que foi gradual ao longo de toda a série, tornou-se muito brusca no episódio nove — é uma alteração tão repentina que pode causar ainda mais estranhamento sobre a conclusão, já que isso beira o inconsistente nos capítulos finais do título do Disney+.

Além disso, dá para notar aqui que Feige foi cauteloso com algo que era recorrente nos filmes de heróis no passado. Elementos difíceis de serem explicados fora dos quadrinhos e vilões precisam ser construídos com calma — e não podem também serem descartados rapidamente, especialmente quando estamos falando de um universo compartilhado em construção. Então, ao invés de revelar de cara o diabão Mefisto ou explicar o Multiverso, WandaVision se conteve e apenas explorou alguns elementos relacionados a isso, já que o vilão e esse tema devem ser amplamente revisitados posteriormente. Ou seja, ele não “gastou munição” à toa, o que poderia até ofuscar a própria história de Wanda, Visão e dos gêmeos.

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No balanço final, ficamos com boas projeções para o MCU, que agora tem seu “cantinho mágico” ampliado. O próprio Mago Supremo é mencionado no combate entre Harkness e Wanda, já que, claro, a Feiticeira Escarlate é muito poderosa e definitivamente entrará no escopo do Doutor Estranho. Isso já sabíamos, com sua escalação confirmada para Doutor Estranho no Multiverso da Loucura; mas agora sabemos exatamente como a personagem se encaixa nesse setor místico.

Vimos a confirmação do ao poderoso livro proibido Darkhold, que desde já conecta Wanda à entidade do caso Chthon; e ao Nexus das Realidades, que pode estar representado pelo “Hex” deixado pela Feiticeira Escarlate para “aprisionar” Harkness. Também fomos apresentados a Billy e Tommy, que certamente deverão voltar como os heróis Wiccano e Célere na futura adaptação dos Jovens Vingadores.

Também fomos apresentados a mais uma Skrull e a Monica Rambeu partindo para uma missão que pode ter tudo a ver com a trama de Capitã Marvel 2 e com a série Invasão Secreta. E, para completar, temos um novo Visão, que ainda deve aprender a ser mais “humano” novamente; e a Feiticeira Escarlate se tornando uma bruxa extremamente poderosa — capaz até mesmo de se corromper para ter seus filhos de volta.

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Então, WandaVision termina assim, com um balanço bastante positivo. A primeira série da Marvel Studios no Disney+ não entregou as reviravoltas que prometeu, mas cumpriu com o roteiro que delineou desde o começo — e abriu um universo de possibilidades para o MCU. Muito recomendado para quem é fã de fantasia e cultura pop; imperdível para os fãs da Casa das Ideias.