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Por que o RS está alagado? Entenda a causa das inundações

Por| Editado por Luciana Zaramela | 07 de Maio de 2024 às 15h00

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Chris Gallagher
Chris Gallagher

O Rio Grande do Sul enfrenta uma das piores tragédias ambientais de sua história, após chuvas torrenciais e uma série de inundações e alagamentos. Não existe uma causa única para a situação enfrentada no Sul do Brasil, mas alguns fatores precisam ser considerados, incluindo as mudanças climáticas e a frequência, cada vez maior, de eventos extremos.

Para dimensionar a tragédia, 78% das 497 cidades gaúchas foram afetadas pelas chuvas e enchentes. Imagens de satélite impressionantes mostram o avanço das águas na região metropolitana de Porto Alegre. Além do centro, as áreas rurais foram igualmente (ou mais) afetadas, com registros de enxurradas, deslizamentos de terra e soterramentos de casas.

No momento, 90 mortes foram confirmadas pelas autoridades locais. Outras 132 pessoas estão desaparecidas, e estes números ainda estão aumentando, já que a situação está longe do controle. A água das inundações ainda demora para escoar, o que compromete o resgate e o início do processo de reconstrução.

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Enchentes, inundações e alagamentos

Antes de seguir para os desafios enfrentados na região gaúcha, vale entender as diferenças entre enchentes, inundações e alagamentos, como o Canaltech já compartilhou. De forma simplificada, uma enchente ocorre quando o rio atinge a sua alta máxima, conhecida como leito maior, sem necessariamente que ocorra o transbordamento. O problema é que em regiões densamente urbanizadas, sem mata ciliar, as águas podem invadir construções muito próximas, erguidas na área do leito.

Agora, a inundação ocorre quando a água de um rio transborda para a área conhecida como várzea (planície de inundação) — a inundação pode ser incrivelmente extensa em áreas planas, como é o caso de Porto Alegre. 

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De forma diferente, os alagamentos são um problema momentâneo causado pela incapacidade de uma região em drenar a água, o que ocorre após fortes chuvas e tempestades. No entanto, não é obrigatória a relação com as águas de um rio que transbordou. Em menor ou maior grau, os três fenômenos foram (e ainda são) registrados no Rio Grande do Sul.  

Por que choveu tanto no RS?

As fortes chuvas registradas, nos últimos dias, no Rio Grande do Sul, foram provocadas por uma conjunção de diferentes fatores, segundo Marcelo Seluchi, meteorologista e coordenador-geral de Operação e Modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).

Em primeiro lugar, é preciso considerar a onda de calor que atinge a região central do Brasil. Isso porque o ar seco e quente impede a passagem das frentes frias do Sul para o Norte. Sem conseguir avançar, “temos uma sucessão de frentes [frias] que se tornaram estacionárias e estão mantendo as chuvas durante vários dias", detalha Seluchi para a Agência Brasil.

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Ainda há o impacto da última fase do El Niño, que aquece a água dos oceanos, e o efeito das mudanças climáticas, que intensificam os eventos climáticos extremos. 

Evento extremo e mudanças climáticas

A intensidade bastante anormal das inundações está diretamente conectada com as mudanças climáticas, como explica Paulo Artaxo, físico e professor da Universidade de São Paulo (USP). 

“Não há dúvida que esse aumento de enchentes, essas chuvas muito torrenciais, são definitivamente associadas com as mudanças climáticas e a aceleração dessas mudanças no nosso planeta inteiro”, afirma Artaxo, em comunicado do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

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Para o especialista, o que ocorre no Rio Grande do Sul não deve ser visto como algo isolado, mas, sim, como uma tendência. Fora do país, Dubai (Emirados Árabes Unidos) e China também enfrentaram problemas praticamente inéditos por causa das chuvas nos últimos meses. No extremo oposto, secas históricas estão se tornando mais comuns, como a que afetou a Amazônia, no final do ano passado.

A regra é simples: conforme as alterações do clima, provocadas pela ação humana e pela liberação de gases do efeito estufa (GEE), se intensificam, mais comuns se tornam os eventos climáticos extremos. Inclusive, esta é uma das conclusões do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), documento desenvolvido para guiar os formuladores de políticas públicas no Brasil.

Maior incidência de eventos climáticos extremos

"As evidências das mudanças observadas em eventos extremos como ondas de calor, precipitação intensa, secas, e ciclones tropicais, e, principalmente, sua atribuição à influência humana, ficaram mais fortes", afirma o IPCC. Basicamente, o aumento da temperatura média implica em mais desastres e tragédias ambientais.

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"Cada 0,5 °C adicional de aquecimento global causa aumentos claramente perceptíveis na intensidade e frequência de extremos de calor, incluindo ondas de calor (muito provável) e precipitação intensa (confiança alta), bem como secas agrícola e ecológica em algumas regiões (confiança alta)", afirma o documento.

Se o nível de aquecimento atingir 1,5 °C, ultrapassando as metas do Acordo de Paris, a previsão é que as chuvas intensas, que provocam enchentes e inundações, vão ocorrer 1,5 vezes mais, com uma intensidade 10,5% maior. Então, a situação atípica do Rio Grande do Sul pode se tornar mais recorrente em outras partes do país — definitivamente, o problema não irá afetar apenas o Sul do Brasil.

Inundações além do Rio Grande do Sul

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“As mudanças climáticas estão na nossa frente, no nosso dia a dia. Isso já é realidade”, alerta Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima (OC), para a Rádio França Internacional (RFI).

“A gente precisa urgentemente ter um plano nacional de adaptação, com recursos em caixa, e que olhe principalmente para as populações mais pobres. A hora de agir é agora, acabando com o desmatamento, diminuindo a emissão de poluentes”, acrescenta Astrini sobre as medidas que podem mitigar os danos dos eventos climáticos extremos.

Após socorrer as vítimas, não é possível pensar em futuro para o Sul de para o Brasil, sem a adoção de medidas que promovam a adaptação e a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. Entre as inúmeras medidas possíveis, será preciso planejar sistemas eficientes de alertas e a remoção preventiva de pessoas que moram em áreas de risco, além da recuperação das matas ciliares e áreas de preservação ambiental.

Fonte: MCTIAgência Brasil, IPCC e RFI