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Como as mudanças climáticas aceleram a transmissão de doenças

Por| Editado por Luciana Zaramela | 14 de Dezembro de 2023 às 15h11

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byrdyak/Freepik
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Epidemiologistas alertam que as mudanças climáticas estão acelerando a disseminação de doenças e a transmissão de bactérias e vírus de plantas, animais e fungos para nós, humanos, por uma série de razões. De pressão evolutiva para suportar o calor até a liberação de patógenos congelados no permafrost das geleiras, o mais preocupante é a natureza desconhecida das ameaças infecciosas, já que é difícil saber quando certos microrganismos irão migrar de espécie e conseguir invadir nosso organismo.

E não é um simples alarmismo, já que esses efeitos estão sendo percebidos em cadeia. No estado americano do Alaska, por exemplo, a média de temperatura subiu 4 ºC nos últimos 60 anos, fazendo com que o gelo derreta antes do normal, o que muda a quantidade de fitoplâncton em suas águas, modificando todo o ecossistema. Peixes e aves são afetados, lagos mudam de tamanho, mamíferos são obrigados a buscar comida em outros lugares. Com eles, podem vir parasitas carregando doenças.

Zoonoses e o clima

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Cientistas têm mostrado, estatisticamente, que patógenos saltam com mais frequência de um hospedeiro para outro com o aquecimento global. A covid-19 e as várias influenzas, como a H1N1 e a H5N1, são alguns exemplos, pulando de suínos, aves e pangolins para seres humanos. Com cada vez mais humanos no planeta, confinados em cidades com alta densidade populacional e hiperconectados, o risco de novas doenças aumenta em conjunto.

Segundo pesquisadores, o planeta é uma “mina terrestre” de doenças esperando para se espalhar. O clima não gera as doenças, mas funciona como um multiplicador. Chuvas e secas forçam animais a migrar para conseguir sobreviver e se alimentar, trazendo consigo insetos, morcegos e carrapatos infectados, por exemplo.

Além disso, a ciência descobriu que vírus e bactérias, ao invés de ficarem apenas em um tipo de hospedeiro, preferem se movimentar com frequência, podendo chegar até nós pela primeira vez ou aumentar sua incidência mais facilmente com as mudanças climáticas. Um perigo apontado pelos especialistas, em especial, é o dos fungos.

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Em uma pesquisa da Universidade de Georgetown, estimou-se que 10.000 espécies de vírus têm a capacidade de infectar humanos, mas a esmagadora maioria circula silenciosamente em animais selvagens. Uma simulação mostrou que 3.139 espécies poderão, no futuro, compartilhar vírus e criar novos locais de possível zoonose, quando a infecção pula de um animal para outro ou para nós.

Com mudanças no clima, esses animais podem chegar a locais com maior biodiversidade e concentração humana, expondo nosso organismo — isso já pode, inclusive, estar acontecendo. Um exemplo bastante concreto é a Candida auris, um tipo de fungo que vivia em pântanos e não nos infectava. Cientistas calculam que o aquecimento do planeta fez o microorganismo sentir a pressão evolutiva, pulando para as aves para sobreviver — e, com essa capacidade, chegando até os humanos.

Em 2016, uma onda de calor de 30 ºC no norte da Rússia descongelou uma rena que havia morrido de uma infecção por antraz, levando a bactéria a matar um menino de 12 anos e infectar dezenas de pastores seminômades no país.

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De micróbios congelados a vírus dormentes em animais selvagens, o risco posto pelas mudanças climáticas é o de aceleração de pandemias e infecções novas, que provavelmente aconteceriam em condições bem diferentes se o planeta não estivesse esquentando. É mais um motivo para cuidarmos das emissões de gás carbônico e atividades que intensificam o aquecimento global, mas está longe de ser o único — embora seja, talvez, o mais perigoso.

Fonte: Nature, Yale Environment, Iranian Journal of Public Health, European Space Agency