Manaus e todo o Amazonas sofrem com pior seca do Rio Negro da história
Por Lillian Sibila Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
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A seca no Amazonas levou quase todas as suas cidades ao estado de emergência, exceto apenas duas — com mais de 600 mil pessoas afetadas, a catástrofe climática é resultado de um El Niño mais severo em 2023, que piorou bastante a estação seca na região. Na capital, Manaus, o Rio Negro chegou ao menor nível desde que se iniciou sua medição, há 121 anos, com 13,59 metros registrados neste mês de outubro.
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Uma das consequências da seca são os incêndios florestais, que têm piorado a qualidade do ar das cidades — em Manaus, foram registrados 387 microgramas de poluição por metro cúbico, contra 122 em São Paulo. Isso colocou a capital como tendo a segunda pior qualidade do ar do mundo, perdendo apenas para um centro industrial na Tailândia. No estado, já foram vistos mais de 2.770 incêndios nessa estação seca, recorde para a região amazônica.
Fechamento de portos e escolas
A severidade da estiagem isolou comunidades e impediu a navegação, principal meio de transporte de algumas populações e de bens de consumo. Isso também impacta no escoamento da produção pelo Polo Industrial da capital, afetando economicamente a região. Em Manaus, a Praia da Ponta Negra, principal balneário da cidade, teve de ser fechada, com a instalação de uma cerca para impedir o acesso de banhistas.
A capital do estado decretou situação de emergência ainda no final de setembro, valendo por 90 dias, e desde então busca aliviar a situação nas zonas rural e ribeirinha da cidade. Entre as medidas, estão a abertura de 30 poços artesianos e distribuição de cestas básicas. Alguns lobistas industriais pedem por uma nova rodovia na região, a BR 319, que ligaria Manaus a Porto Velho, mas ambientalistas apontam que isso derrubaria ainda mais seções da floresta amazônica e pioraria a condição climática da região.
O ano letivo das escolas municipais na região ribeirinha também foi encerrado mais cedo, em 4 de outubro ao invés do dia 17, como ocorre normalmente. Uma das cidades afetadas, São Gabriel da Cachoeira, a 850 km de Manaus, entrou em racionamento de energia por conta da seca. No sítio arqueológico de Lajes, na margem do Rio Negro, a seca revelou entalhes rupestres de 2.000 anos atrás, descobertos na última grande estiagem, em 2010.
Apesar da severidade já impactante, o Serviço Geológico do Brasil emitiu, ainda em setembro, um relatório afirmando que o ápice da seca só chegaria na segunda quinzena de outubro, com o cenário normalizando apenas em novembro ou mesmo dezembro. Apesar da seca no Rio Negro, o Rio Solimões (nome dado ao trecho superior do Rio Amazonas) está em repiquete, fenômeno onde a água sobe e desce no mesmo período.
No dia 9 de outubro, por exemplo, o Solimões estava a -71 cm, mas, no dia 11, chegou a -61 cm (ou seja, subindo 10 cm), voltando a baixar para -67 cm no dia 13. A situação também ocorre em outros países — em Iquitos, no Peru, o Rio Amazonas media 76,58 m no último dia 5 de outubro, subindo para 76,84 m no dia 8 e descendo para 76,61 m no dia 13.
Causas da seca
Além do El Niño, a distribuição de calor do oceano Atlântico Norte também está influenciando a seca amazônica. Em secas anteriores de 2009 e 2010, as mais severas antes da atual, a mesma soma de eventos ocorreu. O El Niño aumenta a temperatura das águas do Pacífico Equatorial, mudando padrões dos ventos, temperatura, umidade e chuvas, diminuindo as precipitações e trazendo calor ao Norte e Nordeste do Brasil.
Já no oceano Atlântico, sua parte norte, acima da linha do Equador, o aquecimento impede a formação de nuvens, o que diminui as chuvas amazônicas por si só. Com ambos os oceanos aquecidos, correntes ascendentes levam o ar quente à atmosfera, sendo levado, em seguida, para a Amazônia através de correntes descendentes, onde diminui a quantidade de chuvas. Enquanto o Atlântico Norte faz esse processo de norte para sul, o El Niño afeta a região de leste para oeste.
Fonte: BNC Amazonas, Rede Amazônica via G1 1, 2, Agência Brasil, The Guardian