Posição geográfica de Porto Alegre piora enchentes no Sul
Por Nathan Vieira • Editado por Luciana Zaramela |
As chuvas no RS representam uma das maiores tragédias climáticas no estado nos últimos tempos, com direito a danos irreparáveis. Alguns fatores agravam ainda mais a situação das enchentes no Sul, como o relevo de Porto Alegre e a hidrografia da área.
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Conforme vemos em um relatório publicado pela própria prefeitura de Porto Alegre, a posição geográfica da capital é uma aliada às enchentes e alagamentos. A cidade é formada por morros e áreas planas e baixas, com 27 arroios e seus braços, cercada pelo Rio Gravataí, Lago Guaíba e, ao sul, pela Lagoa dos Patos.
As regiões baixas possuem aproximadamente 35% da área urbanizada três metros acima do nível do mar, praticamente no mesmo nível médio das águas dos rios. Boa parte destas áreas estão na Zona Norte da cidade.
A topografia das áreas ao redor da região metropolitana de Porto Alegre é caracterizada por uma mistura de planícies, planaltos e áreas montanhosas.
Planícies
As planícies tendem a acumular água mais facilmente, especialmente em períodos de chuva intensa, devido à sua natureza plana e à presença de rios e córregos que podem transbordar.
"Essas planícies tendem, pelo fato de não terem uma significativa inclinação natural, acumular água, principalmente, água que vem das áreas montanhosas e planaltos", explica Renata Franco, especialista da área ambiental e regulatória.
"Assim, geograficamente, temos uma combinação de locais em que haverá o encaminhamento dessas águas (das áreas montanhosas e planaltos) para a planície, que vai 'represar' pela falta de escoamento natural do terreno", completa.
Ou seja: áreas mais baixas podem se tornar propensas a alagamentos, pois a água tende a se acumular em terrenos mais planos.
Bacia hidrográfica
A bacia hidrográfica do Guaíba é o escoadouro das águas de uma região que abrange 30% de toda área geográfica do Estado. Em um estreito de apenas 900 metros, entre a Usina do Gasômetro e a Ilha da Pintada, ficam os rios Jacuí, Gravataí, Sinos e Caí.
"Por coincidência, o ponto de maior represamento das águas coincide com a maior densificação urbana, o próprio centro da capital. O conjunto destes fatores ajuda a explicar as grandes enchentes que fazem parte da história do Lago Guaíba e de Porto Alegre", diz a Prefeitura, no relatório.
Então a confluência desses rios tem implicações importantes para o escoamento da água na região, especialmente durante períodos de chuvas intensas.
Quando há uma grande quantidade de precipitação, os rios que deságuam no Lago Guaíba podem transportar volumes elevados de água, o que sobrecarrega o sistema de drenagem natural e as estruturas de controle de enchentes.
Enquanto isso, o relevo de Porto Alegre é relativamente plano, com algumas áreas mais elevadas e outras mais baixas.
Topografia
Essa topografia suave também pode resultar em problemas de drenagem durante períodos de chuva intensa, como tem acontecido nos últimos dias.
"Certamente, a questão geográfica e topográfica influenciam e, algumas vezes, são determinantes para o escoamento das águas. No caso específico de Porto Alegre, a ausência de uma significativa inclinação do relevo, dificulta o escoamento de água em uma região em que se tem, também, uma convergência natural das águas", acrescenta a especialista.
"Além disso, de um lado tem a Cordilheira dos Andes e do outro o Oceano Atlântico. Assim, os ventos que cruzam o continente de oeste a leste, por cima dos Andes, ganham velocidade na bacia do Rio da Prata. E essa intensa circulação atmosférica acaba por impulsionar tempestades severas", completa.
Ou seja: a falta de inclinação significativa em grande parte da área urbana pode resultar em problemas de escoamento da água, especialmente em áreas mais baixas. Por isso as enchentes no Sul são tão históricas. Mas para a especialista, "mais do que discutir os eventos extremos, temos que repensar a vulnerabilidade de nossas cidades e trabalhar para que sejam mais resilientes".
Fonte: Mapa topográfico Porto Alegre, Prefeitura de Porto Alegre