AMD Ryzen 7000 quer popularizar DDR5 e AM4 deve coexistir com AM5
Por Renan da Silva Dores • Editado por Wallace Moté |
Na madrugada do último dia 22 de maio, a AMD realizou uma conferência durante a abertura da Computex 2022, aproveitando a oportunidade para anunciar boa parte das novidades que está preparando para os próximos meses. Nos cerca de 30 minutos de apresentação, a CEO da empresa, Dra. Lisa Su, revelou os planos ambiciosos da marca para desktops e notebooks, com destaque para os aguardados Ryzen 7000.
- Apacer anuncia 1º SSD PCIe 5.0 para consumidores com leitura de 13 GB/s
- Zotac VR GO 4.0 é PC gamer portátil para VR em forma de mochila
Para saber mais das inúmeras novidades em desenvolvimento, o Canaltech conversou com o Diretor Global de Marketing Técnico da AMD, Robert Hallock. Além das melhorias promissoras propostas pela nova geração de processadores da gigante, a entrevista abordou os desafios do suporte prolongado dado ao soquete AM4, os elevados clocks que as novas CPUs devem proporcionar de fábrica e o posicionamento dos inéditos Ryzen "Mendocino" no portfólio da companhia.
Os desafios do suporte prolongado do AM4
O soquete AM4 foi marcado por receber suporte oficial por mais de 5 anos — a plataforma nasceu antes mesmo da família Ryzen, em 2016, com os processadores da série A, de codinome Bristol Ridge. Ainda que não possibilite a instalação dos chips mais antigos em placas-mãe recentes, por limitações de BIOS, o AM4 possibilitou que um número maior de usuários pudesse fazer upgrades mais suavemente, sem precisar adquirir outra placa ou novas memórias.
O feito é louvável e impressiona quando consideramos que a Intel costuma atualizar seus soquetes a cada uma ou duas gerações, mas não foi exatamente fácil de ser realizado. Como explica Robert, além de ter sido originalmente desenvolvido com CPUs de 4 núcleos em mente, o que levou a limitações energéticas nos chips mais robustos como os de 16 núcleos, o aumento da BIOS a cada geração se provou um grande desafio.
Quando lançamos o soquete AM4 em 2016, a primeira CPU a ser compatível [com o AM4] era pré-Zen [atual arquitetura da AMD]. [...] Uma [dificuldade] que encontramos foi o crescimento do tamanho da BIOS durante o tempo de vida da plataforma, suportando mais e mais produtos, mais e mais recursos. — Robert Hallock, Diretor de Marketing Técnico da AMD
O executivo revela ainda que o time de engenheiros da AMD dedicou um bom tempo a reduzir os códigos mais recentes para manter a compatibilidade em novas placas, citando o exemplo dos modelos X370 (topo de linha) e B350 (intermediária), e por vezes a própria companhia duvidava que seria possível manter o suporte. Outro ponto interessante revelado por Hallock é que o limite de consumo do soquete AM4 gerou barreiras de desempenho para chips mais potentes.
Nós não fomos capazes de entregar o máximo de performance das nossas CPUs com maior contagem de núcleos em cenários multithread, porque o AM4 começou como um soquete para chips quad-core e eventualmente se tornou um soquete para chips de 16 núcleos. Havia uma quantidade relativamente modesta de energia disponível para cada um desses núcleos.— Robert Hallock, Diretor de Marketing Técnico da AMD
O Diretor de Marketing Técnico também confirmou que esses desafios, especialmente as limitações de consumo, foram levados em conta durante o desenvolvimento do novo soquete AM5, citando ainda como o TDP dos novos processadores deve operar entre os 170 W citados anteriormente e o máximo de 230 W, recém-confirmado como o limite da plataforma da próxima geração.
AM4 deve coexistir com novo soquete AM5
Além do novo soquete, a AMD reorganizou sua família de chipsets com o anúncio de um modelo para entusiastas e overclocking extremo, o X670 Extreme (ou X670E), um modelo topo de linha mais tradicional, o X670, e um modelo intermediário, o B650.
A diferença entre os três está essencialmente na configuração dos VRMs, que seriam mais robustos nas variantes mais avançadas para comportar melhor o overclocking, bem como a quantidade de pistas PCIe 5.0 obrigatoriamente disponíveis ao usuário — conectividade completa no X670E, um slot PCIe para placas de vídeo e ao menos um slot M.2 para armazenamento na X670, e apenas um slot M.2 na B650.
No entanto, uma ausência curiosa é a de um chipset de entrada que sucederia o A520. Ao que parece, a plataforma AM4 e os processadores compatíveis devem assumir esse posto de acessibilidade. Há múltiplos indícios para isso, começando com a visão da companhia de que o soquete da geração passada ainda será suportado por um bom tempo.
Eu acredito que o que você verá conforme o soquete AM5 entrar no mercado é que [o soquete] AM4 irá coexistir junto a ele por alguns anos. Por quanto tempo eu não sei dizer. Estou apenas especulando. Mas o ponto é que, mesmo no início da vida do AM4, você viu o soquete AM3+ persistir também. E nós imaginamos que o AM4 vai atingir preços mais "mainstream" ou [atender a] contratos de fornecimento, mas certamente [o soquete AM4] não vai a lugar nenhum, porque [os núcleos] Zen 3 são muito performáticos e continuarão a ser mesmo no ano que vem ou em 2024 [...].— Robert Hallock, Diretor de Marketing Técnico da AMD
Questionado especificamente sobre a ausência de um sucessor para o A520, Robert revela não haver planos no momento para isso, destacando como a gigante acredita que a plataforma AM4 suprirá essa faixa de preço mais baixa.
Não sei se planejamos um substituto, digamos, como um A620 hipotético. O que vemos desse mercado [de entrada], desse espaço, é que os consumidores estão em um ciclo de upgrades muito, muito maior e pode não haver a necessidade de um substituto para o A520. Nós provavelmente reavaliaremos isso no próximo ano. Veremos como o mercado se comportará. Mas no momento, acreditamos que o [soquete] AM4 é perfeitamente capaz de atender a essa faixa de preço e desempenho.— Robert Hallock, Diretor de Marketing Técnico da AMD
Alta demanda por memórias DDR5 deve derrubar preços
Confirmando rumores preocupantes, a AMD anunciou que a família Ryzen 7000 não contará com suporte a memórias DDR4 — os processadores operarão apenas com DDR5. Apesar de fornecer ganhos de performance notáveis, as memórias RAM da quinta geração vêm apresentando preços bastante elevados, tanto pelas inovações que oferecem, quanto pela escassez dos semicondutores que ainda assombra a indústria.
Questionado sobre como essa decisão afetaria a acessibilidade e o custo-benefício pelo qual os chips Ryzen são conhecidos, o executivo explica que a companhia espera que o crescimento da demanda pelas novas memórias resultante desse suporte exclusivo leve à queda dos preços dos módulos DDR5.
Temos conversado com os fornecedores de memória sobre o DDR5, não apenas os fabricantes dos módulos, mas os fornecedores da DRAM e de outros componentes dos módulos, e a pergunta número um que temos para eles é 'seu estoque atende nossa previsão para o soquete AM5? Teremos memória suficiente no mercado?' e eles respondem que sim. E isso é importante, porque esperamos coletivamente que o soquete AM5 cause um aumento muito grande na demanda por [memórias] DDR5. O mercado de DDR5 está atualmente em uma posição estranha, porque todos os mercados de silício precisam de demanda e de economias de escala para reduzir os custos, mas a plataforma DDR5 disponível [os concorrentes Intel Alder Lake de 12ª geração] não requerem DDR5, os usuários podem utilizar DDR4, o que atrapalhou a demanda por esse tipo de memória. Nós acreditamos que ao levarmos os Ryzen a suportar exclusivamente DDR5, que esse crescimento na demanda ajudará a trazer os preços para um patamar mais próximo ao do DDR4. Isso ajudará a aumentar a disponibilidade, [reduzir] os custos e certamente [incrementar] a performance.— Robert Hallock, Diretor de Marketing Técnico da AMD
Instruções de IA para novas tendências
Entre as diversas novidades trazidas pelos núcleos Zen 4 está a adição de instruções dedicadas a processamento de Inteligência Artificial. A Intel foi a primeira a trazer esse tipo de aceleração para processadores dedicados ao mercado consumidor, com as instruções AVX-512, que turbinava tarefas pesadas como criptografia, treinamento de IA, processamento de áudio e vídeo, simulações científicas e compressão de dados.
A AMD segue agora o mesmo rumo, mas sem informar no momento quais instruções serão adicionadas — a empresa promete que mais detalhes serão divulgados conforme o lançamento da família Ryzen 7000 se aproxima. Dito isso, Robert Hallock explicou as razões pelas quais o time vermelho decidiu trazer a tecnologia às CPUs Ryzen agora.
Eu não posso entrar em muitos detalhes sobre o que são essas instruções, faremos isso durante o verão [norte-americano, inverno brasileiro], mas eu posso falar um pouco sobre o porquê [de estarmos adicionando as instruções] agora. Enxergamos que cargas de trabalho aceleradas por IA estão se tornando mais comuns. Você pode ver coisas como o Topaz AI para upscaling de vídeos ou mesmo alguns dos algoritmos da web que rodam em navegadores. [...] Vemos que os usuários estão contando cada vez mais com [CPUs] Ryzen não apenas para jogar, mas também para usos comerciais, científicos ou empresariais, onde Machine Learning e redes neurais são mais comuns. Então chegamos em um ponto em que talvez estejamos desenvolvendo Ryzen para fazer mais do que jogar [...]. Também queremos atender cargas de trabalho científicas porque nos ajudará a atingir usuários de alta performance.— Robert Hallock, Diretor de Marketing Técnico da AMD
A menção a cargas de trabalho mais intensas pode sugerir que a gigante planeja reposicionar os modelos mais potentes da linha Ryzen 7000 para o segmento de Desktops High-End, ou HEDT. Esse setor do mercado, onde estão as workstations para profissionais, costumava ser atendido pelos processadores Ryzen Threadripper, cuja última atualização disponível para o público aconteceu com os Threadripper 3000, baseados em núcleos Zen 2, em 2020.
Rumores já apontavam para a possibilidade de vermos o fim dos Threadripper para entusiastas, dando lugar para chips mais potentes de futuras gerações Ryzen. É importante destacar que tivemos a estreia recente dos Threadripper PRO 5000 WX, baseados na microarquitetura Zen 3, que devem continuar recebendo novas gerações, mas esses chips são exclusividade de workstations pré-montadas, vendidas diretamente para empresas.
Gráficos integrados RDNA 2 e permanência das APUs
Outro rumor confirmado pela apresentação é a da presença de gráficos integrados baseados na microarquitetura RDNA 2, mesma utilizada no PS5, Xbox Series X|S e placas de vídeo Radeon RX 6000, em toda a família Ryzen 7000. Isso não significa, no entanto, que as APUs mais poderosas, como as vistas nas famílias Ryzen G, foram abandonadas.
Hallock fez questão de destacar que esse tipo de processador, que emprega iGPUs de maior calibre, seguirá existindo no formato em que é conhecido atualmente. O executivo esclarece ainda que a fabricante não enxerga a linha Ryzen 7000 como APUs, mas sim como CPUs que ocasionalmente contam com gráficos integrados, dedicados a atender o mercado empresarial e usuários que precisem de uma GPU para solucionar problemas.
[...] eu quero deixar bem claro que a AMD ainda oferecerá APUs como as conhecemos hoje — um processador com grande processamento gráfico capaz de rodar jogos. Na realidade, nem mesmo enxergamos a série [Ryzen] 7000 como APUs, mas sim como processadores que ocasionalmente possuem gráficos [integrados]. [...] No geral, nosso objetivo é tornar a vida de entusiastas mais conveniente e fazer os chips Ryzen serem mais atraentes de um ponto de vista de negócios para os consumidores comerciais.— Robert Hallock, Diretor de Marketing Técnico da AMD
Conforme anunciado na Computex, os gráficos integrados estarão presentes no I/O die, o chiplet dedicado a conectividade dos processadores, que incluirá a vasta suíte de otimizações de consumo de energia implementadas pela companhia na família Ryzen 6000 para notebooks.
Testes promissores com 5,5 GHz em múltiplos núcleos
Um dos pontos altos da apresentação foram as demonstrações de um modelo não informado de testes da família Ryzen 7000 em duas situações: em gameplay no jogo Ghostwire: Tokyo, e em um comparativo com o Intel Core i9 12900K em renderizações no Blender. Enquanto no primeiro caso o chip apresentou clocks elevados, acima dos 5,0 GHz, no segundo caso a solução abriu uma vantagem impressionante de 46% sobre o concorrente direto da Intel.
Perguntado sobre detalhes que poderia compartilhar a respeito desses testes, Robert começou confirmando algumas das especificações da build utilizada, listadas a seguir:
- CPU Ryzen 7000 de 16 núcleos em fase de testes (possível Ryzen 9 7950X)
- Water cooler Asetek de 280 mm (2x ventoinhas de 140 mm)
- RAM DDR5 G.Skill a 6.000 MT/s
- Placa de vídeo AMD Radeon RX 6950 XT
- Placa-mãe AM5 de referência
O Diretor de Marketing Técnico também fez questão de ressaltar que, apesar de ainda haver otimizações a serem feitas, a experiência demonstrada é próxima à que os usuários terão quando comprarem um Ryzen 7000. Overclocking não foi aplicado, e as peças escolhidas para montar a máquina são essencialmente as mesmas que estarão disponíveis para os consumidores, como o cooler, que utiliza tecnologia similar à de modelos da NZXT e Corsair.
Outro ponto interessante é a faixa de consumo da CPU, que estaria operando entre o antigo TDP de 105 W e o novo de 170 W — vale lembrar que o soquete pode entregar até 230 W, o que pode indicar que há potencial para ainda mais performance com as devidas otimizações e eventual overclocking.
Robert Hallock também garantiu que o novo chip será seguramente 30% mais potente que a família Alder Lake em tarefas multi-core, confirmou que o clock de 5,5 GHz compreendia uma mescla de todos os núcleos, não apenas um, e reforçou o compromisso da AMD em exibir dados que retratem aquilo que os usuários realmente receberão ao adquirir um chip Ryzen.
Aquele modelo [exibido na Computex] era absolutamente capaz de rodar a 5,5 GHz em todos os núcleos e threads que o game [Ghostwire: Tokyo] estava utilizando. Ele é mais do que capaz de entregar mais de 30% mais performance em cenários multithread tanto comparado ao nosso concorrente [o Core i9 12900K] quanto frente ao chip de 16 núcleos da geração passada [o Ryzen 9 5950X]. [...] Queremos que as pessoas recebam aquilo que prometemos e queremos atender às suas expectativas, então tentamos nosso melhor para fazer demonstrações de tecnologia e de performance que estão alinhadas com o que as pessoas receberão e que devem ser fáceis de se reproduzir.— Robert Hallock, Diretor de Marketing Técnico da AMD
Ryzen "Mendocino" quer a coroa do mercado de entrada
Ainda que já estivesse circulando entre os rumores, uma surpresa da conferência foi a revelação dos processadores Ryzen "Mendocino". Dedicados ao mercado de entrada, esses chips combinam núcleos Zen 2, os mesmos da família Ryzen 3000, com gráficos integrados RDNA 2 — nesse primeiro momento, os chips parecem ser muito similares ao utilizado pela Valve no Steam Deck.
Como explica Robert, os novos Ryzen Mendocino são parte de uma grande estratégia de três partes para os notebooks, que incluem ainda os Ryzen "Phoenix" para notebooks gamer e os Ryzen "Dragon Range" para laptops entusiastas. As três, que utilizam dies completamente novos, se complementam para fortalecer a presença da AMD no segmento mobile.
A família estreante substituirá os Ryzen "Dali", baseados nos antigos núcleos Zen+ e presentes em notebooks Windows básicos e Chromebooks, fornecendo a esse público um salto significativo de desempenho e os recursos mais recentes por preços mais baixos, na faixa dos US$ 500 (~R$ 2.400). O executivo destaca ainda como parte dos recursos da linha Ryzen 6000 estará presente nos Ryzen Mendocino.
[...] no mercado de entrada, esperamos liderar em desempenho e autonomia de bateria nessa faixa de preço no final do ano [2022]. E porque eles [os Ryzen Mendocino] essencialmente reutilizam partes dos Ryzen 6000, com exceção da CPU, consumidores desse segmento também terão acesso a um conjunto de recursos de conectividade muito modernos na plataforma. Então é como o melhor de dois mundos. Sim, você está adquirindo um laptop barato de US$ 500, mas ele tem quase os mesmos recursos dos notebooks topo de linha [com Ryzen 6000] do começo do ano, e nós acreditamos que essa será uma combinação poderosa que vai se mostrar muito popular entre os usuários.— Robert Hallock, Diretor de Marketing Técnico da AMD
Quanto ao uso de núcleos Zen 2 em vez dos mais modernos e potentes Zen 3, e especialmente sobre como a linha Mendocino se posicionará frente aos notebooks com Ryzen 5000 mais baratos, Hallock explica haver uma razão técnica e uma razão econômica que envolvem o fato de que a arquitetura Zen 2 foi a última a trazer um complexo de núcleos (CCX) de 4 núcleos, o que a tornou ideal para reduzir custos sem afetar drasticamente o desempenho.
Zen 2 foi a última arquitetura feita pela AMD a contar com CCXs de 4 núcleos. E então se estamos otimizando o design do die para uma área e custo reduzidos, o complexo Zen 2 de 4 núcleos fez mais sentido. Então essas são as razões técnicas e econômicas. Quanto à performance, acreditamos que a atual linha Ryzen 5000 estará sim acima [da família] Mendocino, mas também por um preço mais alto. Mendocino estará em notebooks ainda mais acessíveis, talvez tão baratos quanto US$ 300 [~R$ 1.420]. Então temos que pensar na tecnologia que mais faz sentido e em como ela se encaixa na faixa de performance que oferecemos, e [os núcleos] Zen 2 são a escolha ideal. Quero destacar ainda que quando Mendocino chegar ao mercado, ele será a CPU mais rápida para essa classe de laptops, e oferecerá a maior autonomia de bateria do segmento.— Robert Hallock, Diretor de Marketing Técnico da AMD
Questionado se poderíamos eventualmente ver PCs portáteis como o Steam Deck ou o AYANEO 2 equipados com os Ryzen Mendocino, o Diretor explica não saber os planos das parceiras da AMD, considerando que esta não é sua área de especialidade, mas diz acreditar que esse formato ainda precisa provar sua popularidade. Dito isso, Robert reforça que não há impedimentos para que isso aconteça, indicando que a família Ryzen é capaz de atender a esse segmento.