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Futuro elétrico: o que vai acontecer com os carros a combustão?

Por  • Editado por Jones Oliveira | 

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Daniele Buzo/Unsplash
Daniele Buzo/Unsplash

A invasão dos carros elétricos nos mercados de países que ainda não estão tão preparados para receber a tecnologia de forma maciça, como o Brasil, será gradual. Isso se dará, principalmente, pelo fato de não contarem com a infraestrutura necessária para suprir a demanda. De qualquer forma, ela acontecerá, e não terá mais volta.

Diante de um cenário que cedo ou tarde chegará, surge uma dúvida bastante pertinente: afinal, o que acontecerá com os carros a combustão quando veículos movidos a gasolina não forem mais produzidos? É verdade que eles não poderão mais sair nas ruas?

Infelizmente, ainda não há uma resposta definitiva para quem está aflito com essa questão. No entanto, o panorama que vem se desenhando não parece ser muito animador para quem hoje olha para o mercado de carros elétricos e torce o nariz, tanto pelas questões que já foram amplamente abordadas (altos preços, falta de infraestrutura, etc…) quanto por, simplesmente, preferir o ronco dos potentes motores a combustão.

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Data da “morte”

As montadoras já estão se programando para eletrificar 100% da frota até meados da próxima década, e vários países, principalmente na Europa, já decretaram o fim dos carros a combustão dentro de prazos que variam entre 15 e 20 anos. E como o Brasil está tratando a questão?

No nosso país, um projeto de lei de autoria do ex-senador Ciro Nogueira, hoje ministro da Casa Civil, tem o assunto como tema central. O texto foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado em fevereiro de 2020 e agora está nas mãos da Comissão de Meio Ambiente (CMA). Ele quer proibir a venda de veículos movidos a gasolina e diesel no Brasil a partir de 1º de janeiro de 2030. A matéria determina ainda a proibição da circulação de veículos movidos a combustão a partir de 2040.

As exceções, e aí entra a boa notícia para os colecionadores, é que os carros a combustão que se enquadrarem nesse quesito poderão continuar circulando por aí. Vale lembrar que, para ser considerado um carro de colecionador, não basta ser antigo. Há muitas exigências que precisam ser cumpridas para que ele obtenha tal denominação. Elas podem ser consultadas na Federação Brasileira de Veículos Antigos (FBVA).

E os carros comuns?

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Os donos de carros a combustão “comuns”, ou seja, os que não atendem às especificações para serem considerados de coleção, devem mesmo começar a se preocupar com o futuro. Só que, no que depender de órgãos como a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), o plugue não será tirado da tomada (ou ligado, no caso dos elétricos) tão cedo assim.

Segundo o órgão, há ciência da necessidade de modernizar o setor em termos de eficiência energética, mas o prazo estipulado para o fim dos carros a combustão no Brasil é curto e, portanto, inviável. Em comunicado enviado ao Canaltech, a Anfavea lembrou que, em setembro de 2021, promoveu um seminário abordando justamente esse tema.

Chamado de Caminho da Descarbonização do Setor Automotivo, o seminário apresentou três cenários para o futuro da motorização veicular, considerando a realidade brasileira e incluindo os resultados de um estudo inédito feito pelo Boston Consulting Group (BCG). A exibição foi feita de forma unificada para representantes do poder público, empresas e associações ligadas aos setores automotivo, energético e de transportes.

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“A Anfavea lidera esse debate fundamental e inadiável, pois a indústria automotiva precisa saber como direcionar seus investimentos para as próximas gerações de veículos e para inserir o Brasil nas estratégias globais de motorização com foco total na descarbonização”, comentou Luiz Carlos Moraes, presidente da entidade.

Segundo a Anfavea, no entanto, antes de decretar o fim definitivo da fabricação e, principalmente, da circulação de veículos a combustão no Brasil, há muitos outros pontos a serem discutidos. Entre eles, destaque para qual matriz energética será adotada e qual a capacidade total dela.

“Quais rotas tecnológicas e energéticas deverão ser seguidas? Eletrificação da frota em que grau? Qual o papel dos biocombustíveis na estratégia de descarbonização? Como os setores público e privado precisam agir hoje para garantir a inserção do Brasil no tabuleiro do setor automotivo global, tendo em vista os debates e os reflexos da COP-26 que será realizada em novembro em Glasgow, na Escócia? Essas perguntas ainda dependem de uma política de Estado no Brasil, enquanto vários países já têm metas de descarbonização bem definidas a serem atingidas até meados da próxima década”, pontuou.
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Em entrevista ao site Auto Papo, Marcus Vinicius Aguiar, vice-presidente da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), concordou com o posicionamento da Anfavea e também levantou alguns pontos que terão peso na hora de esticar o prazo para colocar um ponto final nos carros a combustão.

Segundo ele, apesar de alguns centros já contarem com redes de postos de recarga, o Brasil é um país com dimensões continentais e isso precisa ser levado em conta: “Não haverá, a curto prazo, uma estrutura para atravessar o país com um carro elétrico. Não vamos virar essa chave para os elétricos de uma hora para a outra”.

Aguiar também pontuou que a estrutura atual não se tornará obsoleta enquanto os preços dos carros elétricos e a rede de recarga das baterias não forem mais acessíveis. Vale lembrar que, no Brasil, o carro elétrico mais barato à venda no mercado na atualidade em dia é o JAC E-JS1, que sai das lojas por aproximadamente R$ 150 mil.

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Calendário da eletrificação

Mesmo não sendo de uma hora para outra, a eletrificação total das linhas das grandes montadoras já tem um calendário definido. Ford (2026), Fiat (2030) e Volkswagen (2035) já anunciaram seus planos, assim como algumas marcas consideradas de luxo, como a Jaguar (2025), a Bentley (2026) e a Mercedes Benz (2039).

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Marcas japonesas que têm boa aceitação no Brasil, como Nissan e Honda, também entraram na onda. A primeira quer versões elétricas para todos os lançamentos até 2030 e focará exclusivamente em modelos sem motores a combustão na Europa, Ásia e Estados Unidos a partir de 2031. A Honda, por sua vez, planeja ter 2/3 dos veículos híbridos ou elétricos até 2030, com 100% dos carros sem motor a combustão até 2040.

Etanol e biocombustíveis

Uma solução paliativa para quem não deseja mesmo entrar no mundo dos carros elétricos e quer seguir apostando na tradicional combustão pode estar no etanol. Como o CEO da Volkswagen para a América Latina, Pablo Di Si, pontuou recentemente em entrevista recente ao Canaltech, "a eletrificação passa pelo etanol": “Para a América Latina, se faz necessário o desenvolvimento de soluções tecnológicas a partir dos biocombustíveis, como o etanol, que sirvam de ponte até a implementação total da eletrificação na região. Tecnologia essa com potencial para ser exportada para outros países”.

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E essa ideia da Volkswagen é reforçada pelos números. Segundo levantamento do próprio CTC (Centro de Tecnologia Canavieira) e da UNICA (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), o ciclo de vida de carros que têm mais participação do etanol são menos poluentes — incluindo os elétricos.

Marcos Vinícius Aguiar, da AEA, concordou: “A Europa não tem uma matriz energética. E nós temos o etanol, os biocombustíveis e o pré-sal”. Será que essa é a solução para a sobrevida dos carros a combustão? É esperar para ver.

Com informações: Quatro Rodas, Auto Papo, Insta Carro