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COVID-19: as operadoras de telecomunicação no Brasil estão prontas?

Por| 20 de Março de 2020 às 13h00

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Com a declaração da pandemia da COVID-19 e a mobilização (ainda que lenta em alguns casos) dos governos para conter o avanço da doença, partes do Brasil já começam a seguir o exemplo de países na Ásia e Europa iniciando medidas de distanciamento social. Entre as consequências disso está a recomendação de evitar sair de casa e trabalhar remotamente. Porém, será que a infraestrutura de telecomunicações está pronta para dar conta dessa inédita demanda? O Canaltech foi atrás de operadoras, consultorias e especialistas em telecomunicações para trazer a resposta.

Ficar em casa pra quê?

O distanciamento social é ferramenta importante durante o momento da epidemia, não porque impede o avanço da doença, mas porque desacelera o crescimento do número de casos, o que, dependendo da velocidade com a qual a doença se espalha, pode sobrecarregar o sistema de saúde – seja público ou privado – local, diferença do que aconteceu, por exemplo, em Taiwan, onde a experiência com outras epidemias deixou algumas lições, e alguns países da Europa, onde medidas de isolamento foram tomadas quando a epidemia já tinha se instalado – e afetado regiões com grande concentração de idosos, especialmente impactados pela COVID-19.

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A recomendação de ficar em casa e evitar se expor ao vírus tem o potencial de aumentar o uso de aparelhos eletrônicos, tanto para lazer quanto para trabalho. Com potencial de demanda alto para os recursos que mais consomem dados, como transmissão de vídeos, teleconferências, transferências de arquivo e trabalho compartilhado. Dados de uma pesquisa da Statista de um ano atrás, por exemplo, apontam que o YouTube é responsável por mais de um terço do tráfego de internet móvel mundial.

Esta preocupação levou o comissário europeu de mercado interno, Thierry Breton, a solicitar que empresas como a Netflix e o Google, proprietário do YouTube, adotassem medidas para reduzir a carga de dados na infraestrutura europeia de telecomunicações, dizendo: “para garantir a todos o acesso à internet, vamos mudar para resolução normal quando não é necessário usar HD”:

Na manhã desta sexta-feira (20), o YouTube anunciou que irá reduzir a qualidade de transmissão dos vídeos na Europa para reduzir o uso de dados nas redes do continente, após conversas do comissário europeu com os CEOs da Alphabet, Sundar Pichai, e YouTube, Susan Wojcicki. “Estamos comprometidos em mudar temporariamente todo o tráfego na União Europeia por padrão para definição padrão [não HD]”. A medida segue uma iniciativa semelhante da Netflix, que anunciou que fará uma redução da qualidade de transmissão de vídeo por 30 dias: “Estimamos que isto reduzirá o tráfego da Netflix em redes europeias em cerca de 25%, garantindo uma boa qualidade de serviço aos nossos membros”, declarou um porta-voz da empresa na Europa. Algumas horas depois, a Amazon também anunciou que reduzirá a taxa de transmissão de seu serviço de streaming, o Prime Video, que detém cerca de 4% do consumo de dados na região.

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As medidas adotadas pelas empresas na Europa não se aplicam ao Brasil, pelo menos neste momento. Procurado pela reportagem, o Google no Brasil preferiu não se posicionar quanto à capacidade da infraestrutura brasileira lidar com esta situação, nem sobre eventuais pedidos para adotar uma medida semelhante no Brasil.

Vale lembrar que serviços como o YouTube e Netflix não relataram problemas em suas estruturas, que foram feitas para serem altamente escaláveis e conseguem distribuir a demanda entre vários servidores – a popular nuvem. A preocupação maior de autoridades como o comissário europeu está na sobrecarga das redes de telecomunicações, que encontram um padrão de uso inédito, e que poderia comprometer serviços essenciais neste momento crítico.

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Operadoras confiantes

Procuradas pela reportagem, as operadoras brasileiras se posicionaram em conjunto, por meio do SindiTelebrasil (Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal): “A capacidade das redes de telecomunicações não é infinita, mas as empresas estão envidando todos os esforços para manter a segurança, a estabilidade e o funcionamento das redes e, até o momento, não foram identificados registros de problemas.”

Os Centros de Gerência de Rede das empresas estão permanentemente monitorando o uso das redes de acesso e transporte para garantir a conectividade e acesso a serviços digitais. Esse monitoramento permite, se necessário, implementar rotinas de contingenciamento e redirecionamento de tráfego para mitigar eventuais situações de congestionamento. ... A ampliação da velocidade será disponibilizada gradativamente e eventualmente onde for preciso, dentro das normas de segurança de operação das redes de cada operadora.

Já a Anatel emitiu comunicado informando que orientou as associações de empresas de telecomunicações brasileiras no último domingo (15) a adotarem uma série de medidas para beneficiar a população no uso de serviços de “comunicação, entretenimento, trabalho remoto, bem como serviços de saúde e educação e preservação dos fluxos de trabalho e negócios”. Entre as orientações da agência estão:

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Aumento de capacidade aos consumidores; abertura e ampliação de pontos wifi públicos; gestão da continuidade e qualidade dos serviços; prioridade de atendimento para serviços de utilidade pública, como hospitais; apoio à comunicação do ministério da saúde pelos meios disponíveis; acesso ao aplicativo “Coronavirus – SUS” do Ministério da Saúde, sem desconto de franquia, dentre outras ainda em discussão.

Durante esta semana, as principais operadoras anunciaram a implementação das medidas propostas pela agência. Além disso, o SindiTelebrasil e as operadoras “se colocaram à disposição do Governo Federal e da Anatel para detalhar e discutir novas medidas complementares que se fizerem necessárias e para colaborar com o Executivo Federal ou com eventuais Comitês e Grupos de Crise que porventura venham ser criados”.

Ian Fogg, VP Analysis da consultoria de telecomunicações Opensignal, destacou que as medidas adotadas pelas operadoras em aumentar a franquia de dados dos clientes móveis – que aconteceu também entre as grandes no Brasil – mostra uma confiança das empresas em sua infraestrutura.

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Apesar do cenário incerto impossibilitar previsões, o especialista destacou que as redes das empresas são bem resilientes e que possuem medidas para monitoramento e redirecionamento de tráfego em situações de emergência, em acordo com a declaração do SindiTelebrasil. Além disso, Fogg citou opções como a adotada nos Estados Unidos, onde as operadoras móveis receberam autorização para ativar faixas de espectro adicionais para atender a demanda.

Do outro lado do Atlântico

Na Itália, país europeu mais afetado pela COVID-19, a Opensignal já tinha detectado uma mudança no padrão de uso antes mesmo da decretação do estado de isolamento no último dia 9. Segundo a consultoria, antes mesmo das restrições, os italianos, especialmente nas regiões ao norte do país (onde o surto começou), já estavam passando mais tempo em casa – medido pelo aumento nas conexões dos celulares em redes Wi-Fi, o que geralmente acontece em finais de semanas e feriados, quando as pessoas estão em suas casas:

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Nos dias que se seguiram às restrições no país europeu, a consultoria identificou uma queda na velocidade de download no 4G das operadoras italianas a partir da semana do dia 9 de março, quando passou a valer a medida no país, o que poderia indicar um congestionamento nas redes. A queda de velocidade foi notada entre as 10:00 e meia-noite. As duas mudanças observadas indicam que tanto as redes fixas quanto as móveis estão passando por um aumento de uso na Itália (o Wi-Fi geralmente está conectado à conexão de banda larga). Nenhum dos dois estudos citou indisponibilidade de serviço

Riscos?

As constantes mudanças e a incerteza de um cenário sem precedentes dificultam fazer previsões específicas, disse Ian Fogg, mas um ponto que pode se tornar vulnerável, ainda que com chances remotas, é a possibilidade da doença afetar as equipes responsáveis por manter a operação das redes de telecomunicação, caso dos engenheiros e técnicos que trabalham na manutenção da infraestrutura das operadoras.