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Rivais querem aproveitar que a Huawei "sangra" contra os EUA para ganhar mercado

Por| 23 de Novembro de 2020 às 20h35

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Imagem: Camila Rinaldi/Canaltech
Imagem: Camila Rinaldi/Canaltech
Tudo sobre Huawei

Se a Huawei esperava algum tipo de solidariedade por parte de suas conterrâneas, é melhor esquecer. Suas maiores concorrentes no mercado de smartphones - China - Xiaomi, OPPO e Vivo - estão fazendo movimentos agressivos para conquistar participação no setor onde a própria Huawei é líder. Para isso, elas querem se aproveitar das sanções impostas à companhia pelos EUA e que vêm prejudicando fortemente suas cadeias de abastecimento.

Na semana passada, a Huawei vendeu a Honor, sua unidade de smartphones de baixo custo, em uma quantia não revelada. A ideia em repassar a marca é proteger a sua cadeia de suprimentos frente à última ação do governo de Donald Trump, que dificultou ainda mais a compra de componentes essenciais.

Contudo, com a venda Honor, os rivais chineses da Huawei "sentiram o cheiro de sangue na água", conforme afirmou uma matéria da agência de notícias Reuters. De olho nos problemas da rival, eles passaram a olhar o mercado de celulares intermediários e topo de linha com bastante atenção e se preparam para abocanhar uma fatia, a partir do lançamento de novos modelos nestas categorias. Em agosto último, um executivo da Huawei disse que a empresa não será capaz de produzir seus principais processadores, parte essencial de seus smartphones high end, como o P40, por exemplo.

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Vácuo no poder

“O que podemos ver agora, seja da Xiaomi, Oppo ou Vivo, é que eles estão aumentando suas previsões [de vendas] para o próximo ano”, disse a Reuters Derek Wang, executivo responsável pela produção da fabricante de celulares Realme e que compartilha uma cadeia de suprimentos com a Oppo. “Eles acreditam que as sanções contra a Huawei vão mais cedo ou mais tarde prejudicá-la no mercado internacional e podem querer tomar uma fatia do mercado da empresa.”


Fundada em 2018, a Realme está a caminho de dobrar suas remessas de smartphones para 50 milhões de unidades neste ano, disse Wang. Ela construiu uma base de usuários, oferecendo modelos a preços baixos no Sudeste Asiático e na Índia. Além disso, ela está procurando atingir a Europa, China e América Latina (incluindo o Brasil, cujas vendas começam em dezembro) no próximo ano com um impulso para o mercado de alta tecnologia, independentemente da situação da Huawei, disse Wang.

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Em agosto último, o Departamento de Comércio dos EUA bloqueou ainda mais o acesso da Huawei às tecnologias dos EUA que são essenciaos para seus negócios de celulares. O governo Donald Trump acusa a Huawei de representar uma ameaça à segurança nacional, por praticar espionagem a partir de suas redes de telecomunicações, principalmente a incipiente rede 5G, na qual a empresa é líder de mercado. No entanto, o mandatário norte-americano nunca apresentou uma prova consistente de que isso, de fato, ocorra. E a Huawei, claro, nega.

Crescimento interrompido

Por um breve período, a Huawei ultrapassou a Samsung como maior fabricante mundial de smartphones, mais precisamente no no primeiro semestre deste ano. No entanto, com o aumento das sanções dos EUA, as vendas da fabricante chinesa caíram 23% no terceiro trimestre de 2020, com 51,7 milhões de unidades comercializadas no período, de acordo com a Canalys, consultoria especializada em pesquisas de mercado.

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No entanto, a Huawei ainda comandava o mercado chinês com certa folga, com 41,2% de participação no terceiro trimestre, seguida pela Vivo com 18,4%, Oppo com 16,8% e Xiaomi com 12,6%, segundo a Canalys. A Apple tem uma participação menor na China, com 6,2%, mas está atraindo uma forte demanda por seu iPhone 12 5G, afirmou a consultoria.

Xiaomi está animada

Observadores da indústria confirmaram ainda um aumento nos pedidos de fornecedores. A Xiaomi tem sido a mais otimista, colocando pedidos de componentes suficientes para até 100 milhões de smartphones entre o quarto trimestre de 2020 e o primeiro trimestre de 2021. Isso significa um aumento de 50% nas projeções, antes das restrições de agosto a Huawei, diz a consultoria Isaiah Research.

Já as previsões de produção da Oppo e da Vivo também aumentaram cerca de 8% cada uma desde agosto, com pedidos de até 90 milhões e 70 milhões de aparelhos, respectivamente, mostraram os dados da Isaiah Research. Por outro lado, os pedidos da Huawei caíram 55%, para 42 milhões de aparelhos no período em questão.

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A Xiaomi também está tentando cortejar os distribuidores da Huawei no Sudeste Asiático e na Europa na esperança de obter acordos exclusivos. Além disso, a companhia quer aumentar a sua participação de mercado entre os celulares de ponta e, claro, o objetivo é abocanhar uma fatia do marketshare da Huawei na China, disse uma fonte da própria Xiaomi, familiarizada com o assunto.

Cinco fontes da indústria no lado da cadeia de suprimentos confirmaram que houve um aumento nos pedidos das três empresas.

A concorrência está animada demais?

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Alguns analistas acreditam que as empresas podem estar muito otimistas sobre suas metas. No entanto, Derek Wang, da Realme, disse a Reuters que ter um maior estoque de componentes também é uma precaução pela interrupção da produção, causada pelos bloqueios de COVID-19 no início do ano. E também porque a iniciativa da Huawei de aumentar seus estoques impactou o fornecimento dos rivais correntes.

"A corrida para garantir suprimentos repercutiu em toda a cadeia de eletrônicos", disse Paul Weedman, gerente de projetos da cadeia de suprimentos da consultoria WWMG. “Os preços dispararam recentemente e se tornou muito mais difícil para as produtoras fornecerem telas LCD, até mesmo para tablets".

Analistas disseram ainda que a venda de Honor pela Huawei pode, em parte, evitar o avanço dos concorrentes no segmento de smartphones de baixo custo, onde ela é uma das líderes. Mas isso aconteceria desde que Honor seja capaz de retomar o fornecimento de tecnologia nos Estados Unidos.

“Ainda esperamos um claro crescimento ano a ano dos rivais de smartphones da Huawei e Honor em 2021", disse Flora Tang, analista da empresa de pesquisas Counterpoint. Mas, provavelmente, será em uma proporção menor do que a expectativa inicial”.

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Todas as quatro empresas se recusaram a comentar os números.

Huawei tenta driblar as sanções

Para tentar driblar as sanções dos EUA - que ainda não se sabe se serão afrouxadas com o Joe Biden assumindo a presidência - a Huawei vem buscando outras alternativas para garantir o fornecimento de componentes e tecnologias para seus aparelhos. Uma delas é abrir, em Xangai, uma nova fábrica de chipsets dedicada a seus negócios de telecomunicações.

As fontes envolvidas no tema apontam que o local seria administrado por um parceiro, a Shanghai IC R&D Center, empresa de pesquisa de chips apoiada pelo governo municipal, e também não empregaria nenhuma tecnologia de origem norte-americana. A estratégia permitirá à empresa garantir o suprimento para seus principais negócios de infraestrutura de telecomunicações. Na nova fábrica, a Huawei desenvolveria chips de 28 nanômetros (nm) até o final do próximo ano, de maneira a impulsionar os negócios de smart TVs e outros dispositivos IoT.

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Outra ideia seria produzir, até o final de 2022, chips de 20nm, que poderiam ser usados para equipar boa parte de seus equipamentos de telecomunicações 5G. A princípio, a companhia testará a produção de chips de 45 nm de baixo custo.

Já para seus smartphones, uma das saídas seria usar chips de fabricantes que não sejam, claro, dos EUA, ou usem tecnologias desenvolvidas naquele país. E a MediaTek pode ser a escolhida para essa missão. Uma reportagem do site IT Home afirma que a companhia chinesa passará a a utilizar os chipsets da linha Dimensity 5G em seus próximos smartphones intermediários e premium. Para isso, ela teria conseguido fechar um grande acordo para a compra de chips antes do dia 15 de setembro, prazo que fora estipulado por Trump para que as fabricantes interrompessem o fornecimento de peças e tecnologias de origem norte-americana à companhia chinesa.

Por outro lado, temos o 5G...

Se a Huawei vem buscando meios de manter relevante a sua participação no mercado de smartphones, no 5G a briga se mostra mais inglória. Depois de pressionar diversos países - inclusive o Brasil - para não usarem equipamentos da marca chinesa em suas infraestruturas de redes 5G, o governo Trump tenta mais uma cartada para tirar a companhia do jogo. E ela atende pelo nome de Rede Limpa.

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De forma resumida, trata-se de uma iniciativa global mais organizada dos EUA para banir a tecnologia chinesa das redes de telecomunicações, principalmente a 5G. A ação já teria atraído países como Reino Unido, República Tcheca, Polônia, Suécia, Estônia, Romênia, Dinamarca, Grécia e Letônia. Segundo um documento da ação, "muitos países estão optando por permitir apenas fornecedores confiáveis ​​em suas redes 5G".

Esse mesmo documento indica ainda que diversas operadoras globais que também estão se tornando "Telecos Limpas". Entre elas, são citadas a Orange na França, Jio na Índia, Telstra na Austrália, SK e KT na Coréia do Sul, NTT no Japão e O2 no Reino Unido. Todas estariam rejeitando fazer negócios com "ferramentas do Estado de vigilância do Partido Comunista Chinês, como a Huawei". Por fim, as três grandes empresas de telecomunicações do Canadá teriam decidido fazer parcerias com a Ericsson, Nokia e Samsung, "porque a opinião pública foi totalmente contra permitir que a Huawei construísse as redes 5G do Canadá".

Ainda que o Brasil não tenha decidido se liberará a Huawei para participar, o presidente Jair Bolsonaro teria aderido ao memorando da Rede Limpa, que seria assinado em "um futuro próximo", segundo o subsecretário de crescimento econômico, energia e meio ambiente do Departamento de Estado dos EUA, Keith Krach, quando visitou o país no começo de novembro.

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No entanto, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou no último dia 10 de novembro que a decisão de proibir a participação da Huawei no 5G ainda não foi tomada e que outros membros do governo diretamente envolvidos na implementação da rede seriam consultados. No entanto, Guedes declarou que também vem escutando os alertas emitidos por EUA e Reino Unido sobre supostos riscos à segurança nacional.

Além disso, esse movimento também não seduziu as teles brasileiras. Com ampla participação dos equipamentos da Huawei em suas redes - cerca de 40% de sua infraestrutura - as operadoras nacionais, como Vivo, Claro, TIM e Oi não se mostram interessadas em banir a fabricante chinesa. Primeiro, porque seria necessário realizar investimentos gigantescos na substituição de equipamentos e softwares das redes, o que seria inviável para elas.

Outro motivo é que a Huawei oferece linhas de financiamento generosas e de longo prazo para a compra de seus equipamentos por parte das operadoras. Isso poque há taxas subsidiadas pelo Banco de Desenvolvimento da China (CDB), que oferece linhas de crédito muito mais baratas. Algo que outras competidoras europeias, como Nokia e Ericsson, não conseguem competir.







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Fonte: Reuters