Como as vacinas contra covid-19 mudaram o Brasil nos últimos 3 anos
Por Fidel Forato | Editado por Luciana Zaramela | 17 de Janeiro de 2024 às 12h06
![Dante Doria/ Pixabay](https://t.ctcdn.com.br/P53gtU5k5Ie_VpPYvfA8ulB2S2I=/640x360/smart/i417485.jpeg)
Há três anos, a vacina contra a covid-19 era aplicada, pela primeira vez, no Brasil. Daquele dia 17 de janeiro de 2021 para cá, muita coisa mudou em relação à saúde no país. As mortes em decorrência do coronavírus SARS-CoV-2 despencaram e, hoje, existem imunizantes disponíveis para todos, de forma gratuita.
- Tudo o que sabemos sobre a variante JN.1 da covid-19
- Por que as pessoas ainda têm complicações da covid-19?
Só que, no momento em que a enfermeira Mônica Calazans recebeu a primeira CoronaVac, vacina desenvolvida em parceria com o Instituto Butantan, as doses eram limitadas. Por isso, os imunizantes foram aplicados inicialmente apenas em idosos, imunossuprimidos, profissionais da saúde e outros grupos de risco.
Conforme novos lotes chegavam, o grupo de beneficiados se expandia até alcançar mais de 80% da população imunizada com pelo menos 2 doses. A vontade de tomar a vacina era tanta que o desembarque dos imunizantes, via aeroporto, era acompanhado, de perto, e virava até notícia. Nas redes sociais, viralizaram as hashtags #VacinasSalvamVidas e #VivaoSUS.
Vacinas contra covid-19 no Brasil
O uso das vacinas contra a covid-19 só foi possível após análises feitas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), observando o nível de eficácia e de segurança dos imunizantes.
Como as vacinas eram novas, foram desenvolvidas em tempo recorde — com apoio de muita tecnologia — e combatiam um agente infeccioso até então desconhecido pela humanidade, inicialmente, foram autorizadas apenas para os mais velhos. Hoje, já existem algumas fórmulas que podem ser aplicadas em crianças a partir dos 6 meses.
A seguir, confira a lista de todas as vacinas contra a covid-19 aprovadas pela Anvisa:
- CoronaVac (Sinovac/Butantan);
- Comirnaty (Pfizer/BioNTech);
- Comirnaty Bivalente (Pfizer/BioNTech);
- Covishield, também conhecida como a vacina de Oxford (Fiocruz e Astrazeneca);
- Vacina da Janssen (Johnson & Johnson);
- Spikevax bivalente (Moderna);
- Covovax (Instituto Serum/Zalika Farmacêutica).
Aqui, vale destacar que, no ano passado, a dupla Katalin Karikó e Drew Weissman recebeu o Prêmio Nobel em Fisiologia ou Medicina de 2023. Isso porque a pesquisa desses cientistas foi fundamental para o desenvolvimento das primeiras vacinas de mRNA (RNA mensageiro), usadas pela Pfizer e pela Moderna na pandemia.
83% da população vacinada
Após o primeiro ano de vacinação, em janeiro de 2022, 68% da população brasileira já tinha recebido o esquema primário, ou seja, as duas primeiras doses. No mundo, o Brasil era e ainda é um dos países com maior cobertura vacinal.
Segundo dados do Ministério da Saúde referentes a este mês de janeiro, as vacinas contra a covid-19 foram aplicadas em 83,86% da população brasileira. No total, são contabilizadas a aplicação de 518 milhões de doses no país, o que inclui o esquema primário e as doses de reforço.
Tudo isso foi possível, apesar da desinformação e de fake news disseminadas através das redes sociais. A situação chegou a ficar tão crítica que a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) precisou se posicionar e afirmou: "Fake news matam mais que vírus".
Vidas protegidas contra covid
Para entender o que mudou no Brasil nos últimos anos, basta recordar que a média móvel de mortes pela covid-19 nos primeiros dias do ano de 2021. Eram 900 novos óbitos diários, segundo os dados da Saúde, enquanto a variante Delta se proliferava.
No período, um dos casos mais emblemáticos foi a tragédia enfrentada em Manaus. Sem vacinas e com uma quantidade limitada de leitos de UTI, os hospitais não conseguiram mais atender a demanda de pacientes da covid-19. Em paralelo, faltou oxigênio para os já internados, o que culminou em mais mortes.
No dia 23 de março daquele ano, quando as doses da vacina ainda eram limitadas, o país registrou, pela primeira vez, 3 mil mortes em consequência do coronavírus em 24 horas. No entanto, a situação só começou a mudar quando uma parcela significativa da população foi devidamente vacinada.
Inclusive, um número de mortes tão elevado nunca mais foi observado, nem com a disseminação da Ômicron, considerada a mais transmissível. "Com a Ômicron, a explosão do número de casos não foi acompanhada nem pelos casos de internação nem pela mortalidade”, lembra a então diretora da SBIm, Mônica Levi, para a Agência Brasil, em 2022.
Para a especialista, o porquê das mudanças estava na imunização. “As vacinas cumpriram o papel principal e mais importante: salvar vidas", destaca Levi, já reduzem o risco de casos graves da infecção.
Estudos sobre a importância das vacinas
A partir de dados dos primeiros sete meses de 2021, cientistas calcularam que as vacinas contra a covid-19 pouparam a vida de 54 mil a 63 mil pessoas com mais de 60 anos no Brasil. Em paralelo, os imunizantes evitaram 158 mil a 178 mil hospitalizações de idosos no mesmo período, segundo estudo publicado na revista The Lancet Regional Health Americas.
Em outro estudo publicado na revista The Lancet Infectious Diseases, foi possível estimar que, em consequência do primeiro ano de vacinação contra a covid-19 no mundo — de dezembro de 2020 a dezembro de 2021 —, 19,8 milhões de mortes foram evitadas.
Desafios atuais
A fase mais crítica da pandemia da covid-19 já passou, como apontou a Organização Mundial da Saúde (OMS), mas isso não significa que o vírus desapareceu magicamente.
Na verdade, o patógeno continua entre nós, as mortes ainda acontecem (em menor grau), há ocorrência de casos de covid longa, está em circulação a nova variante JN.1 e é preciso se proteger, o que pode ser feito através das doses de reforço e da vacinação infantil.
“O que a gente aprendeu com a covid-19 é que o vírus vai tendo pequenas mutações, ele vai mudando a sua genética, vai escapando da nossa imunidade. Isso é um processo contínuo”, explica a infectologista do Instituto Emílio Ribas, Rosana Richtmann.
“Então, muito mais importante do que você me contar quantas doses de vacina de covid-19 você tomou nesses últimos três anos, a minha pergunta seria quando foi a sua última dose e qual vacina você tomou. Se você tiver uma dose atualizada, é o suficiente”, orienta Richtmann.
Imunização das crianças e idosos
No entendimento dos especialistas, é preciso focar a atual campanha de vacinação nos indivíduos que correm maior risco em caso de infecção pela covid-19, como idosos, crianças pequenas, gestantes e pessoas com comorbidades.
“Esses grupos têm uma fragilidade do ponto de vista de enfrentar imunologicamente o invasor no corpo, por isso, eles se beneficiam da vacina da covid. Particularmente esses mais frágeis, ao terem a doença, tem uma maior possibilidade de hospitalização e de morte”, detalha o médico infectologista e ex-presidente da Anvisa, Gonzalo Vecina Neto.
Futuro da vacinação
Como ocorre com a vacina da gripe, a tendência deve ser de vacinações anuais contra a covid-19, o que também protege contra a covid longa. Só que, no futuro, as doses de reforço poderão ser feitas com vacinas 100% brasileiras, já que os estudos clínicos com imunizantes nacionais, como a SpinTec e a ButanVac, estão em andamento.
Fonte: Ministério da Saúde, Anvisa e Agência Brasil (1) e (2)