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Como os nomes de estrelas são escolhidos?

Por| Editado por Patricia Gnipper | 04 de Fevereiro de 2022 às 15h00

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Quando uma pessoa quer encontrar alguma estrela no céu, seja com a ajuda de algum programa de computador, seja com um aplicativo de celular, é de grande ajuda ter um nome que permita identificá-la em meio às milhares que as cercam, certo? Mas, afinal, de onde vêm os nomes de estrelas e quem os decide?

Grande parte dos nomes das estrelas vem de expressões que descrevem a posição delas nas constelações em que estão — por outro lado, algumas delas podem receber nomes “sozinhas”, independentemente da constelação. A maioria das informações que temos sobre os nomes gregos dados às constelações vêm de Almagest, obra criada pelo matemático e astrônomo Ptolomeu.

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Teoricamente, qualquer pessoa pode dar um nome a uma estrela. Só que, para este nome ser usado por astrônomos profissionais, ele precisa da aprovação da União Astronômica Internacional (International Astronomical Union, ou IAU, na sigla em inglês), instituição formada por mais de 10 mil astrônomos de todo o mundo. E, às vezes, as nomenclaturas podem parecer confusas: enquanto há estrelas com nomes simples, como é o caso de Vega, existem também nomes complexos, como HD 172167, SAO 67174, ADS 11510 e assim por diante.

Os nomes de estrelas no passado

Nomes vindos do grego antigo, árabe e de outras tradições já apareceram em diferentes catálogos e livros, e desde tempos antigos, as estrelas recebem nomes próprios como “Vega” ou “Deneb”, por exemplo. Apesar de poéticos, eles causam confusão: enquanto a palavra “Deneb” indica, geralmente, a estrela mais brilhante da constelação Cygnus, este nome já foi usado para designar pelo menos cinco outras estrelas — além disso, esta palavra significa “cauda”, algo que várias constelações possuem.

Com o avanço da astronomia, ficou cada vez mais claro que era preciso um sistema de catalogação universal das estrelas. É neste contexto que surge o sistema de nomenclatura de Johann Bayer, astrônomo alemão, criado em 1603: no atlas “Uranometria”, ele identificou várias estrelas de diversas constelações usando letras minúsculas do alfabeto grego, conforme o brilho aparente delas. Assim, a estrela mais brilhante da constelação era geralmente chamada “Alpha”, a segunda recebia a letra “Beta” e assim por diante.

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Apesar de popular, este sistema tinha alguns problemas. Um deles eram as 24 letras do alfabeto grego, uma limitação que as tornava insuficientes para denominar grandes constelações. A solução para isso veio com o astrônomo John Flamsteed, que propôs numerar as estrelas de cada constelação, de oeste para leste, seguindo a ordem de ascensão reta delas. Neste sistema, a estrela 80 Virginis está a leste de 79 Virginis e a oeste de 81 Virginis, e as estrelas mais brilhantes recebiam números.

Como aconteceu com outros sistemas, este também tinha suas limitações. Então, em 1859, o astrônomo alemão F. W. A. Argelander criou o Bonner Durchmusterung (BD), uma grande lista com mais de 300 mil estrelas organizadas de acordo com divisões imaginárias no céu; cada estrela nestas divisórias era numerada na ordem de ascensão reta, e constelações não eram consideradas. Os quadros estelares detalhados e a lista de posições das estrelas funcionaram como ferramentas essenciais para os astrônomos por quase um século.

A próxima grande lista de nomes foi o catálogo de Henry Draper, voltado para o espectro estelar. O documento reuniu 225.300 estrelas, numeradas em ordem simples de ascensão reta e, depois, outras foram adicionadas à seção “Extensão Henry Draper”, com numerações. Assim, a designação “HD” ou “HDE” dada a elas indica que as medidas dos espectros destas estrelas foram coletadas. Entre outros catálogos de destaque, estão o Revised Harvard Photometry, publicado em 1908, e o Smithsonian Astrophysical Observatory Star Catalog, de 1966.

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A designação dos nomes de estrelas hoje

Como as estrelas descobertas hoje são, inevitavelmente, menos brilhantes que aquelas catalogadas no passado, os astrônomos trabalham com nomes alfanuméricos, uma designação que traz muito mais praticidade. Então, pensando nesta linha, o nome das estrelas pode variar de acordo com o catálogo utilizado: considere Betelgeuse, que também é conhecida como Alpha Orionis, HR 2061, BD +7 1055, HD 39801, SAO 113271 e PPM 149643.

No caso dos sistemas estelares binários ou múltiplos, a nomenclatura pode variar: se a estrela tiver um nome coloquial comum, ela receberá, então, letras maiúsculas do alfabeto latino — mas também pode ser designada conforme os sistemas de Flamsteed ou Bayer, ou de acordo com a numeração de algum catálogo. Por isso, a anã branca vizinha da estrela Sirius pode ser encontrada como Sirius B, Alpha Canis Majoris B e HD 48915 B.

Já a catalogação das estrelas variáveis mantêm um pouco da herança do sistema proposto por Friedrich Wilhelm Argelander, astrônomo alemão: a primeira estrela variável descoberta nas constelações recebe a letra R e o nome da constelação seguindo o genitivo do latim (como “R Andromedae”). Depois, a segunda estrela variável descoberta recebe a letra S e assim por diante, até chegar no Z; em seguida, duas letras começam a ser usadas; assim, surgem nomes como “RR Lyrae”. O sistema permite mais de 300 designações únicas para as estrelas variáveis.

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Confira o vídeo abaixo, que sinaliza algumas estrelas classificadas como RR Lyrae:

Embora as designações alfanuméricas sejam bastante úteis para os astrônomos identificarem oficialmente as estrelas que estudam, há estrelas de interesse não apenas astrofísico, mas também histórico e cultural, que podem ser designadas de outras formas. Foi neste contexto que a IAU formou o grupo Working Group on Star Names (WGSN), composto por astrônomos de todo o mundo, para resolver os problemas que surgiram ao longo dos séculos, conforme diferentes culturas deram nomes próprios às estrelas que viam no céu.

Para isso, o grupo focou em duas tarefas: decidir versões padronizadas de nomes de estrelas já em uso e, depois, desenvolver manuais para selecionar e definir novos nomes no momento atual da astronomia, em que a descoberta de exoplanetas ocorre com frequência. Um relatório produzido pelo grupo em 2018 descreve que “nomes que preservam a herança mundial (astronômica, cultural e natural) são fortemente encorajados, e nomes culturais e comuns para estrelas são preferidos a nomes novos”.

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A primeira lista de nomes de estrelas aprovadas foi anunciada em 2016, e reunia quase 230 estrelas — entre elas, estavam Proxima Centauri, Rigil Kentaurus (que, hoje, é conhecida como “Alpha Centauri”) e diversas outras. Os nomes escolhidos pelo grupo não substituem as designações alfanuméricas, mas permitem que as estrelas sejam mencionadas sem causar confusão.

Nomes de estrelas famosas

Conheça, abaixo, os nomes de algumas das estrelas mais populares, junto de curiosidades sobre elas:

Bellatrix

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Também conhecido como “Gamma Orionis” na nomenclatura de Bayer, Bellatrix é a terceira estrela mais brilhante da constelação de Órion, o Caçador — ela fica no “ombro” esquerdo da figura imaginária e, para encontrá-la, é só procurar a estrela de brilho azulado ou esbranquiçado. Aliás, se você tiver um par de binóculos ou um telescópio em mãos, pode até conseguir observar uma formação gasosa ao redor dela.

O nome desta estrela é bastante conhecido hoje na cultura pop graças a J.K. Rowling, autora da saga Harry Potter, que deu aos seus personagens vários nomes relacionados à astronomia. “Bellatrix” é um termo de origem latina, que significa “guerra feminina”; por isso, ela também é conhecida como “Estrela da Amazona”.

As estrelas de Alpha Centauri

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O sistema Alpha Centauri, formado por três estrelas, fica pertinho de nós — nele, estrela Proxima Centauri está a apenas 4,4 anos-luz do nosso Sistema Solar, o que a torna nossa vizinha mais próxima. Além de Alpha Centauri A (ou “Rigil Kentaurus”), o sistema conta também com Alpha Centauri B (ou “Toliman”), mais próximas uma da outra, e Proxima Centauri, um pouco mais afastada das duas.

Este sistema representou um papel importante para a mitologia de diferentes culturas no hemisfério sul. Por exemplo, os Ngarrindjeri, povo aborígene australiano, consideravam que as estrelas Alpha e Beta consideravam que as estrelas representavam dois tubarões, perseguindo uma arraia. Além disso, a dupla de estrelas também foi de grande utilidade para marinheiros, que as utilizavam para se orientar no oceano.

Mimosa

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O nome formal desta estrela é, na verdade, “Beta Crucis” e faz parte da constelação Cruzeiro do Sul, sendo a segunda mais brilhante dela. Só que a estrela também é conhecida pelo apelido “Mimosa” que, apesar de ter origem incerta, é relacionado aos astronômo alemão Johann Bayer. Não se sabe ao certo o porquê de ele ter escolhido este nome, mas alguns autores sugerem uma relação com a cor azulada da estrela ou com as flores das árvores Acácia-mimosa.

A estrela fica a aproximadamente 353 anos-luz de nós é é considerada uma estrela azul gigante, com temperatura de superfície próxima dos 27.000 ºC. Assim, por ser muito quente, grande parte da energia da estrela é emitida como luz ultravioleta e em outras frequências invisíveis a olho nu. Por isso, Mimosa é cerca de 34 mil vezes mais energética que nosso Sol.

Canopus

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A constelação de Carina abriga uma estrela bastante brilhante, mais facilmente observada no hemisfério sul. Trata-se da estrela Canopus, com nome que remete à cultura grega e foi observada pelos egípcios, mesopotâmios, navajos e povos de outras culturas. Porr ser pouco visível do hemisfério norte, foi somente com o início da era espacial que ela começou a ser objeto de mais estudos.

Ela é considerada uma estrela gigante de classe F em meio à sequência principal, tem massa parecida com a do Sol e é pelo menos 12 mil vezes mais brilhante que o nosso astro. A classe espectral desta estrela ainda não foi muito bem estudada, de modo que não sabemos ao certo a distância dela em relação a nós — medidas de paralaxe, obtidas pelo satélite Hipparcos, sugerem que ela parece estar a 313 anos-luz.

Fonte: Space.com (1, 2), Sky and Telescope, IAU, Sky at Night, EarthSky (1, 2, 3)