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Disputa entre Disney e Scarlett Johansson pode afetar o futuro da Marvel

Por| Editado por Jones Oliveira | 07 de Setembro de 2021 às 18h10

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Marvel Studios
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O processo de Scarlett Johansson contra a Disney por causa do lançamento simultâneo de Viúva Negra nos cinemas e no Disney+ vem causando impactos que vão além do simples desgaste das relações entre a atriz e o estúdio. Outros artistas e diretores também acompanham a disputa judicial de perto para saber o que vai sair dessa queda de braço e, principalmente, como isso vai mudar o cinema daqui em diante. É o caso dos Irmãos Russo, responsáveis por Vingadores: Guerra Infinita e Ultimato.

De acordo com reportagem do Wall Street Journal, a ação de Johansson fez com que Joe e Anthony Russo também chegassem a um impasse nas negociações com a Disney sobre a direção de seu próximo filme da Marvel. O ponto é que, como o processo em torno de Viúva Negra evidenciou, eles não sabem como esse longa ainda não-revelado será distribuído e, consequentemente, nem como serão pagos.

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Toda a questão dessa briga, como foi noticiado à época, gira em torno dos bônus pagos a alguns nomes do elenco e cineastas. Artistas como a própria Johansson e os irmãos Russo recebem, além do seu salário inicial, uma porcentagem da bilheteria dos filmes quando estes chegam aos cinemas. Isso faz com que os valores alcancem a casa das centenas de milhões de dólares, a depender do sucesso do longa. No caso da Marvel, isso já se tornou uma constante.

É por essa razão que há um temor em torno de uma eventual transição do modelo de distribuição, como aconteceu com os lançamentos híbridos do Premier Access. Por causa da pandemia da COVID-19, que forçou o fechamento de salas de cinemas no mundo todo, a Disney optou por colocar filmes como Mulan, Cruella e o próprio Viúva Negra no streaming no mesmo dia dos cinemas, mas sem deixar muito claro como e se haveria um pagamento de bônus nessa modalidade também.

Dessa forma, todos os cineastas passaram a ver essa mudança com desconfiança, o que culminou no processo de Scarlett Johansson no fim de julho e, como revelado agora, no impasse envolvendo os irmãos Russo. Isso porque, quanto mais pessoas assistem a essas produções no Disney+, menor seria a participação dessas partes na divisão dos lucros.

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No caso de Viúva Negra, os advogados da atriz estimam que ela teve prejuízos superiores a US$ 50 milhões — cerca de R$ 258 milhões na cotação atual. De acordo com o Wall Street Journal, o processo cita que a intérprete da espiã russa deveria receber um total de US$ 100 milhões, sendo US$ 80 milhões apenas do bônus.

A estimativa da atriz era que o filme arrecadasse algo próximo de US$ 1,2 bilhão em todo o mundo, com base no montante obtido por Pantera Negra e Capitã Marvel. Contudo, com Viúva Negra chegando tanto aos cinemas quanto ao Premier Access do Disney+, o longa acabou arrecadando somente US$ 371 milhões.

Só que a negociação com a Disney foi quase inexistente, alegam os advogados, o que não apenas resultou no avançar do processo e na declaração de guerra de Scarlett Johansson contra Mickey Mouse, mas também em todo o clima de incerteza que agora paira sobre Hollywood e o futuro do cinema.

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O ponto central

De acordo com a equipe legal de Scarlett Johansson e até mesmo executivos e acionistas da Disney ouvidos pelo WSJ, todo esse atrito envolvendo a empresa e artistas passa pelo novo CEO da companhia, Bob Chapek. Ele assumiu o cargo há pouco mais de um ano e meio, ocupando o posto deixado por Bob Iger, e a forma com que ele conduziu a crise teria sido uma das principais causas de todo esse mal-estar. No caso, a abordagem foi simplesmente ignorar os pedidos da atriz e de seus advogados.

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Como a reportagem aponta, Chapek tem um estilo diferente de seu antecessor na hora de lidar com questões assim, preferindo deixar que seus subordinados tratem desses assuntos — e o que eles fizeram foi ignorar e-mails e ligações que tentavam chegar a um acordo sobre a disputa. Os representantes da Viúva Negra descrevem que a estratégia adotada pela Disney nisso tudo tem sido de “ignorar e atacar”.

Quando o processo judicial se tornou público, a empresa emitiu uma nota questionando o posicionamento de Johansson, afirmando que a ação não tinha mérito, uma vez que a atriz já tinha recebido seu salário de US$ 20 milhões e o bônus potencial pelo fato de Viúva Negra ter sido lançado no Disney+. Contudo, a ação destaca que o valor recebido pela intérprete da heroína teria ficado abaixo do combinado em contrato e que seria por causa desses prejuízos que ela teria acionado a Justiça.

Conforme os advogados explicam, a questão sobre os pagamentos a Scarlett Johansson mesmo com Viúva Negra chegando ao Disney+ era algo que já havia sido acordado com a Marvel e a Disney em março de 2019, quando o ex-CEO Bob Iger falou que os filmes de heróis chegaram imediatamente ao streaming. Na época, isso preocupou a equipe legal da atriz, que foi garantir que o lançamento seria exclusivo nos cinemas.

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E isso foi conseguido, segundo eles, pelo próprio chefe do conselho da Marvel, Dave Galluzi, que teria destacado que o filme seria exclusivo das telonas e que, caso isso mudasse, teria que ser discutido um novo contrato, entendendo que o acordo era feito com base em uma série de bônus muito gordos sobre bilheterias.

Só que isso tudo foi discutido muito antes da pandemia e da chegada de Chapek à direção da Disney. E a combinação dessas duas mudanças impactou tudo, já que o novo executivo chegou ao comando emq um período em que os cinemas começaram a fechar e até mesmo os parques ficaram impossibilitados de funcionar. Assim, o Disney+ se tornou a única divisão realmente rentável da companhia.

Nesse período, fontes informaram ao WSJ, Chapek passou a focar mais em inovação sob a ideia de que a Disney precisa ser uma empresa de mídia de vanguarda, ou seja, se adaptando e se antevendo aos novos tempos. Assim, passou a investir milhões para impulsionar o streaming para atrair novos assinantes. E os resultados apareceram, com a plataforma somando mais de 116 milhões de assinantes em apenas dois anos.

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E foi nesse contexto que a discussão sobre os lançamentos via streaming começou a surgir, principalmente após os bons resultados em assinantes obtidos com a chegada de Soul e Hamiltonao serviço. Isso deu força à estratégia proposta pelo CEO e resultou na chegada de Mulan e Viúva Negra ao Premier Access pouco tempo depois.

A preocupação do executivo era que esses filmes já tinham sido muito adiados. Eles estavam programados para estrear nos cinemas no início de 2020, ainda no início da pandemia, e as constantes mudanças de datas estavam começando a afetar o restante do ecossistema Disney, como os produtos licenciados, os parques e até mesmo séries e demais filmes. Assim, mantê-los em espera se tornou insustentável. O problema, contudo, foi o modo como isso tudo foi gerenciado.

Um problema de recursos humanos

A grande crítica feita por fontes ouvidas pelo WSJ é que Bob Chapek não tem experiência para lidar com pessoas, ainda mais com os grandes artistas que estampam os posters dos filmes e, em certa medida, ajudam a carregar o sucesso dessas produções. Ele tem o perfil do executivo tradicional, mais interessado em questões de finanças e de estratégia de negócio do que com essa parte de recursos humanos.

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Tanto que a sua carreira foi construída em divisões mais básicas dentro da Disney, como os parques e o setor de home video, em que ele não precisava tratar com estrelas de Hollywood ou coisa que o valha. O seu sucesso sempre foi baseado em um controle rígido de resultados financeiros, o que ajudou a Disney a ganhar muito dinheiro e o colocou em boa conta sob os olhos de acionistas.

E é a partir dessa mentalidade que ele adota essa postura de deixar determinados assuntos sob responsabilidade de seus encarregados. De acordo com o WSJ, Chapek teria feito uma reorganização na companhia que deu mais poder a executivos responsáveis pelas finanças do que para os chefes de criação, o que diz muito sobre o seu modo de observar e entender o negócio como um todo.

No caso, a disputa com Johansson ficou a cargo de seus subordinados, só que ninguém deu uma resposta sequer sobre o assunto aos advogados da atriz, ignorando e-mails e ligações. Segundo eles, os principais nomes procurados para negociar a questão foram Alan Bergman e Kareem Daniel, chefes do Disney Studios Content e Media and Entertainment, respectivamente.

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É nesse contexto que surge a briga com Johansson e as incertezas sobre o futuro do cinema — e dos pagamentos de bônus, principalmente —, já que a pandemia segue preocupando a retomada dos cinemas e artistas e cineastas não sabem mais como vão ficar seus ganhos caso esse modelo de negócio continue.

O caso da atriz evidenciou o problema e o impasse envolvendo os Irmãos Russo já mostra como a situação está longe de ser pacificada e, pior, que afeta o futuro da empresa. Como dito, o próximo projeto dos diretores está empacado nessa incógnita sobre como será o pagamento pelo serviço e não é de se estranhar se mais casos assim comecem a surgir em Hollywood.

A gente até chegou a ver um aceno nessa direção com a atriz Emma Stone também cogitando entrar na Justiça por causa do lançamento de Cruella no Premier Access, mas ela teria desistido da briga. Outros nomes, principalmente ligados à Marvel, seguem em silêncio sobre toda a treta.

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Fonte: WSJ