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Crítica Viúva Negra | O início da Fase 4 da Marvel é uma tragédia

Por| Editado por Jones Oliveira | 12 de Julho de 2021 às 13h30

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Existem duas maneiras de assistir a um filme da Marvel. A primeira é pela produção cinematográfica em si, seu roteiro, direção e atuações — pelo seu valor enquanto filme mesmo. A outra é acompanhar como um novo capítulo desse universo, em que cada história acrescente algo novo àquela série. E, no caso da Viúva Negra, ele não cumpre nenhum desses papéis.

A nova produção do Marvel Studios parecia estar encantada. Além de todo o atraso no lançamento causado pela pandemia da COVID-19, ela também se arrastou por anos até que saísse do papel. A personagem foi apresentada no Universo Cinematográfico da Marvel (MCU, na sigla em inglês) há mais de dez anos e, desde então, os fãs pedem por uma aventura que contasse suas origens. E foi somente após a sua morte em Vingadores: Ultimato que Natasha Romanoff conseguiu seu papel de protagonista. Mas a que preço?

Cuidado! Este texto pode conter spoilers sobre o filme.

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A grande impressão que fica ao longo das duas horas de filme é que se trata de uma história completamente deslocada no tempo. E não é porque ela está fora da ordem cronológica, se passando entre os eventos de Capitão América: Guerra Civile Vingadores: Guerra Infinita. Isso não é um problema, mas um sintoma. Viúva Negra deveria ter sido lançado muito tempo antes e trazê-lo só agora apenas evidencia como a Marvel perdeu o timing para contar a origem da heroína e não sabe mais o que fazer com ela. E aí resta a dúvida: por que esse filme existe? O que diabos ele quer contar e trazer de novo?

Os leitores de quadrinhos já estão acostumados com a ideia do tie-in. São revistas lançadas pelas editoras junto com grandes sagas com a promessa de contar histórias paralelas que se amarram à trama principal — mas que, na prática, nunca trazem nada realmente relevante e que existem apenas para lucrar alguns trocados a mais com o medo do leitor de perder algum pedaço importante da trama. E Viúva Negra nada mais é do que a Marvel trazendo a mesma lógica ao MCU. Não se trata de mostrar a origem da personagem, aprofundar sua personalidade ou mesmo fazer jus a um dos membros originais dos Vingadores. O filme existe apenas para cumprir tabela e responder perguntas que ninguém — absolutamente ninguém — fez.

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Até mesmo outros filmes mais fracos do estúdio, como Homem-Formiga e Capitã Marvel, cumprem o propósito de apresentar um novo herói ou de desenvolver um conceito que vai ser útil para a história geral que está sendo contada. Aqui, o fato de a gente saber o futuro da protagonista limita o impacto de qualquer revelação que poderia ser feita e a conexão encontrada foi justificar por que Natasha apareceu loira e de colete em Vingadores: Guerra Infinita ou mostrar que ela teve um funeral após seu sacrifício em Ultimato.

Assim, por ser um filme completamente sem propósito, parece que toda a produção não está interessada em dar uma conclusão digna à personagem de Scarlett Johansson. O resultado é um roteiro preguiçoso e raso e atuações bastante medianas em um dos piores filmes de todo o MCU.

Do nada a lugar nenhum

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A grande questão de Viúva Negra é que ele é um filme que vai do nada a lugar nenhum. E não é que ele não sabe contar a sua história — ele sequer tem uma. Não se deixe enganar pelo marketing do filme de que essa é uma história de origem, já que não vemos nada sobre o treinamento de Natasha na Sala Vermelha, seu passado ou mesmo como tudo isso volta para assombrá-la. Nada disso está lá.

Na verdade, o fiapo de roteiro apresentado parece ser a sequência de um filme que nunca existiu — e, esse, sim, parecia ser interessante. A todo o instante, Viúva Negra se remete a eventos anteriores que nunca foram mostrados e que têm grandes consequências aqui, como a tentativa de assassinato ao líder russo que comandava a Sala Vermelha. Para isso, o filme se baseia inteiramente em uma única linha de diálogo do primeiro Vingadores e parte como se aquela missão de Natasha e o Gavião Arqueiro fosse de conhecimento geral.

Essa premissa até poderia funcionar caso fosse melhor construída aqui, mas não é o que acontece. E se o filme não explora o passado da personagem e tampouco mostra como as coisas chegaram ao ponto em que as coisas estão, a história começa literalmente do nada — e, a partir disso, segue sem rumo sem saber direito o que quer contar.

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Por isso, chega a ser um exagero dizer que Viúva Negra tem um roteiro. Na verdade, ele possui um argumento — “uma missão não finalizada de Natasha traz de volta fantasmas do passado” — e as cenas de ação se desenrolam para esticar o filme. Isso é tão verdade que a primeira hora é inteiramente composta de tiro, explosão e perseguição sem qualquer contextualização ou desenvolvimento. É somente na segunda metade que há um mínimo respiro para justificar o que está acontecendo. Sabe aquela cena do reencontro da família que foi tão repetida nos trailers? Pois é a única interação daquele grupo em todo o longa.

A coisa toda é tão mal amarrada que nem se deram ao trabalho de adaptar o período histórico. Ao mostrar a infância de Natasha com sua família falsa de espiões comunistas, o filme situa a cena em 1995 — quando a União Soviética já nem existia mais.

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E, mais uma vez, isso é sintomático, pois mostra o quão preguiçosa e caricata é toda a ambientação e caracterização do núcleo russo do MCU. Todos os personagens parecem ter sido retirados de filmes do Sylvester Stallone dos anos 1980, quando os soviéticos eram retratados como vilões que mais pareciam máquinas de matar do que pessoas. Há um diálogo do Guardião Vermelho em que ele comemora como Natasha e Yelena se tornaram grandes assassinas que chega a ser vergonhoso de tão exagerada que é.

Aliás, o personagem de David Harbour é uma das grandes decepções do filme. Prometido como um grande alívio cômico, ele se resume a um apanhado de piadas sobre comunismo — com direito a “Karl Marx” tatuado nos dedos — e como ele quer rivalizar com o Capitão América. Faltou apenas dizer que come criancinha. De novo, é algo que soa totalmente deslocado do tempo e que parece ter sido feito em um filme feito há 40 anos.

Rachel Weisz não fica muito atrás. A atriz que já ganhou um Oscar traz aqui uma atuação tão preguiçosa que faz com que a sua personagem, Melina Vostokoff, seja algo completamente esquecível. É até difícil falar algo sobre ela, pois sua participação beira à irrelevância, uma vez que é nítida a má vontade dela no filme.

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O único destaque positivo fica para a Yelena Belova de Florence Pugh, que é realmente a melhor coisa do longa — e muito mais por uma falta de opção do que realmente por ser algo memorável. Ela incorpora bem o humor ácido que é tão comum nos filmes da Marvel e que, em Viúva Negra, está ali justamente para comentar como tudo aquilo é ridículo. As piadas sobre as poses heróicas, sobre os absurdos da história e até sobre as reviravoltas só são engraçadas porque ela parece ser a única a ver como nada daquilo faz sentido.

Contra o que estou lutando?

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O MCU tem um péssimo histórico de vilões em aventuras solo. Com algumas raras exceções, como Killmonger em Pantera Negra, a grande maioria das ameaças apresentadas nesses filmes é descartável e bastante esquecível. Você lembra a motivação da vilã de Homem-Formiga e a Vespa?

E mesmo a gente não esperando nada do vilão Treinador, Viúva Negra consegue decepcionar. Os trailers já mostravam que o personagem não ia ter muito desenvolvimento, mas o que é apresentado na tela beira o ridículo. Ele é literalmente um boneco que está ali só pra render cena de ação, já que nem diálogo ele tem. É como se tivesse colocado um Comandos em Ação ali no meio para que Natasha tivesse com quem lutar, o que faz com que todos os embates sejam extremamente vazios e sem sentido. Isso tudo em um filme em que há um exército de Viúvas Negras que seriam ameaças muito mais significativas e que acrescentariam uma camada a mais ao roteiro.

No fim, a impressão que fica é a mesma de quando a gente, quando criança, colocava os bonecos para brigar em uma aventura qualquer que justificasse os socos, tiros e explosões. E, da mesma forma, Viúva Negra pega os brinquedos do MCU e os coloca em situações que não fazem muito sentido e se esquece de que essa história precisa ir para algum lugar. A diferença é que brincar pelo menos é divertido, coisa que o longa não chega nem perto de ser.

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Estamos falando do início da Fase 4 nos cinemas, mas o filme se preocupa apenas em trazer respostas para pontos que são irrelevantes e não acrescenta nada a esse universo. É um filme fraquíssimo e um capítulo vazio para o MCU. Da mesma forma que um tie-in ruim dos quadrinhos, a gente se pergunta por que essa história existe. Se essa foi a forma de homenagear uma das personagens mais icônicas dos Vingadores, era melhor tê-la deixado esquecida em Vormir.