Documentos internos da NASA revelam atrasos inevitáveis no Programa Artemis
Por Wyllian Torres • Editado por Rafael Rigues |
Documentos de planejamento interno da NASA sobre o Programa Artemis, acessados pelo site Ars Technica, revelam que a agência espacial tem trabalhado em outros dois cronogramas para seu programa de exploração lunar tripulada, indicando atrasos inevitáveis.
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As primeiras missões do Programa Artemis devem ser realizadas nos próximos cinco anos. A primeira, a Artemis I, está prevista para decolar ainda este ano. O foguete Space Launch System (SLS) lançará a nave Orion para uma viagem sem tripulação ao redor da Lua.
Depois, a Artemis II realizará o mesmo caminho da missão anterior, mas desta vez com quatro astronautas a bordo da Orion. Será apenas na Artemis III que dois humanos pisarão novamente na superfície lunar e retornarão à Terra. No entanto, a NASA não tem fornecido detalhes sobre as missões seguintes do programa.
Os documentos internos revelam que, além do cronograma "base", a NASA desenvolveu outras duas opções, indicando que os planejadores da agência não acreditam que o plano básico será executado no atual prazo ou orçamento.
Cronogramas reservas
O segundo cronograma, chamado “cadence” (cadência), prioriza lançamentos regulares do programa lunar. O terceiro, nomeado “content” (conteúdo), prevê o lançamento apenas quando as cargas mais significativas estiverem prontas.
Quando questionada sobre os documentos internos, a porta-voz da NASA, Kathryn Hambleton, disse que a agência tem avançado com seus planos básicos para as missões além da Artemis III e avalia rotineiramente “arquiteturas alternativas” para um planejamento prudente.
Entre os futuros planos, a NASA considera a adição de uma missão “Artemis III.5” para acontecer até 2027 e evitar uma lacuna de três anos nos lançamentos do programa. A missão exigiria um quarto lançamento com o SLS e poderia custar cerca de US$ 5 bilhões.
A Artemis III.5 enviaria quatro astronautas para a estação espacial lunar Gateway, com dois deles descendo à Lua. Para isto, a NASA precisaria atrasar vários projetos do programa, como o desenvolvimento da própria estação, rovers lunares, um habitat de superfície e atualização dos propulsores laterais do foguete SLS.
Além do orçamento apertado para tantos projetos, a NASA parece estar preocupada de que, após os lançamentos dos elementos principais da estação espacial lunar, os módulos adicionais não estejam prontos para serem lançados até o fim deste década. A versão atualizada do SLS serviria para lançar estes módulos juntos a nave Orion.
Base lunar e estação Gateway
A formulação do Programa Artemis, feita em 2020, incluiu a extensão da atividade econômica humana no espaço ao estabelecer a presença humana permanente na Lua em cooperação com empresas privadas e outras agências espaciais. Em teoria, tudo isto apoiará a ciência e tecnologia para destinos mais distantes, como Marte.
A NASA deixou clara sua intenção de estabelecer a presença humana na superfície e na órbita da Lua, mas dependeria do desenvolvimento de tecnologias-chave, como uma plataforma de mobilidade habitável que permitiria viagens de 45 dias pela superfície lunar e um habitat para até quatro astronautas.
O problema é que os cronogramas internos da agência adiaram qualquer criação de uma base lunar ainda na década de 2030. Por outro lado, os documentos indicam que a NASA passará a próxima década ou até mais dedicada a construção da Gateway.
Os principais elementos da estação incluem seus sistemas de energia e propulsão e um pequeno módulo de habitat, que devem ser lançados por um Falcon Heavy, da SpaceX, no final de 2024 — segundo a NASA, estes componentes terão uma vida útil de 15 anos.
Depois, serão enviados o módulo de habitação I-HAB e os módulos do Sistema Europeu de Reabastecimento, Infraestrutura e Telecomunicações (ESPRIT), ambos fornecidos pela Agência Espacial Europeia (ESA), além de uma câmara de ar, que chegariam ao portal no final da década de 2020 ou início de 2030.
A NASA pretende tornar a Gateway um ponto de apoio para as missões Artemis, uma vez que a nave Orion, por exemplo, não tem capacidade de propulsão para voar até a órbita baixa da Lua e depois retornar à Terra. No entanto, esta solução seria viável com a nave Starship, da SpaceX.
Em abril de 2021, a NASA escolheu a nave Starship para levar astronautas à Lua como um módulo de pouso. Além de ser maior que a Gateway a nave desempenha muitas de suas capacidades de potência e propulsão. Então não faria muito sentido investir mais tempo e dinheiro com a estação.
Uma coisa é certa: os documentos indicam atrasos inevitáveis no Programa Artemis. Assim, o programa estaria a pelos menos 15 anos de desenvolver uma base semipermanente na Lua e a exploração de Marte só aconteceria lá pelas décadas de 2040 ou 2050.
Fonte: Ars Technica