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Árvores da Lua: onde foram plantadas as sementes enviadas ao espaço?

Por| Editado por Patricia Gnipper | 22 de Fevereiro de 2022 às 19h40

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WildMediaSK/Envato
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Você sabia que existem "árvores da Lua" na Terra? Há mais de 50 anos, Alan B. Shepard, Stuart A. Roosa e Edgar D. Mitchell, tripulantes da Apollo 14, retornaram à Terra após alguns dias de atividades em nosso satélite natural. O módulo de comando trouxe de volta não apenas os astronautas e amostras lunares que coletaram, como também cerca de 500 sementes que os acompanharam na viagem. Estas sementes foram plantadas e deram origem às tais “árvores da Lua”, plantadas em diferentes países — inclusive no Brasil.

Lançada no dia 31 de janeiro de 1971, a Apollo 14 foi a oitava missão tripulada do programa Apollo, sendo também a terceira a levar humanos à superfície lunar. Foi em 5 de fevereiro que os astronautas da missão pousaram a cerca de 50 km da cratera Fra Mauro, o local programado para o pouso da Apollo 13, que acabou não acontecendo. Durante a estadia por lá, o comandante Alan Shepard e Edgar Mitchell exploraram a região e coletaram cerca de 42 kg de amostras.

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Enquanto isso, Stuart A. Roosa, o piloto do módulo de comando, se manteve em órbita a bordo do módulo Kitty Hawk, e fez fotos em alta resolução da região lunar de Descartes. Mesmo sem descer à superfície lunar, havia algo mais em seu kit pessoal que o acompanhou na viagem: ele levou uma lata com cerca de 500 sementes de árvores variadas, como pinheiros, sequoias e outras. Após o retorno à Terra, as sementes foram plantadas e deram origem às chamadas “árvores da Lua”.

Da Apollo 14 às árvores da Lua

A ideia de levar sementes à Lua está relacionada ao início da carreira de Roosa. Na década de 1950, antes de se tornar piloto, trabalhou no Serviço Florestal dos Estados Unidos como saltador de fumaça. "Eles saltavam de paraquedas em um incêndio florestal, construíam uma trincheira e faziam o que podiam para mitigar o fogo antes de ir ao acampamento florestal mais próximo”, explicou Rosemary, filha do astronauta.

Roosa fez parte da classe de astronautas de 1966, e foi escolhido por Shepard para a Apollo 14. Quando iniciou seu treinamento, o Serviço Florestal entrou em contato com ele para perguntar se poderia levar algumas sementes à Lua em meio aos seus objetos. Ele concordou, e um geneticista da instituição selecionou cinco diferentes espécies para a viagem — e, apesar de o projeto poder ser entendido como uma peça publicitária, seu significado ia além.

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É que aquela foi a primeira vez que sementes seriam enviadas a um lugar além da atmosfera terrestre. Assim, por meio desta iniciativa, as sementes foram levadas durante a missão como um experimento, que poderia ajudar a determinar os efeitos do espaço profundo nelas e ajudaria na conscientização pública sobre a atuação do Serviço Florestal e do trabalho dos saltadores de fumaça.

Brian Odom, historiador da NASA, conta que a Apollo 14 foi a missão com a mais ampla variedade de experimentos científicos já conduzidos no programa até aquele momento. “Mas, no caso das ‘Árvores da Lua’ do Roosa, foi isso que os astronautas levaram consigo na jornada lunar que deixou uma marca indescritível na paisagem da Terra”, finalizou.

Onde as árvores da Lua estão na Terra?

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Após o retorno da Apollo 14, a lata com as sementes passou por alguns procedimentos. Durante a descontaminação, a estrutura dela acabou rompida e as sementes foram misturadas, comprometendo o ambiente do experimento. Houve preocupação sobre o estado delas e se ainda poderiam germinar, mas mesmo assim, foram enviadas ao Serviço Florestal do Mississipi e Califórnia, onde profissionais verificaram se ainda poderiam ser plantadas e, quem sabe, originar mudas.

Cerca de 450 mudas foram produzidas e distribuídas a escolas, universidades, parques e instituições governamentais dos Estados Unidos. As localizações delas foram escolhidas, em parte, para garantir condições climáticas ideais para cada espécie, e algumas ficaram próximas de suas “irmãs” nascidas na Terra. Passadas algumas décadas, não há diferenças perceptíveis entre as árvores que foram à Lua e aquelas que nunca saíram da Terra.

Já as árvores de segunda geração, nascidas das sementes das árvores da Lua, são conhecidas como “árvores meia-Lua”, e também seguem crescendo em diferentes partes do mundo. Contudo, apesar de o experimento ter caráter científico e ter sido conduzido por duas grandes organizações governamentais dos EUA, nenhuma das partes envolvidas manteve registros precisos sobre onde, exatamente, as sementes das árvores lunares foram parar e menos ainda de onde as árvores foram plantadas.

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Rosemary Roosa explica que o Serviço Florestal espalhou grande parte delas, principalmente, em 1976, e as distribuiu como presentes. “Quando vejo as Árvores da Lua originais, muitas delas estão plantadas em capitais, jardins botânicos e parques, mas até onde tenho ciência, não há documentação disso”, relatou. Segundo ela, a última árvore da Lua que conhece foi plantada por ela própria, junto de seu pai, em Austin, no Texas, em sua casa de infância.

Há árvores da Lua no Brasil?

Parte das sementes foi enviada para outros países, mas, novamente, não se sabe exatamente para onde. Steve Miller, vice-presidente da Sociedade Astronômica Internacional, acredita que algumas foram para o Reino Unido, mas sem informações exatas de onde.

Mesmo sem iniciativas sistemáticas para monitorá-las, a NASA conseguiu rastrear a localização de cerca de 60 delas: a maioria está nos Estados Unidos, mas há algumas no Japão, Suíça e até no Brasil — de acordo com registros da NASA, há três árvores lunares em nosso país.

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Uma delas, um liquidâmbar, foi plantada em Brasília em 14 de janeiro de 1980, em uma área que pertence ao atual Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).

O plantio da árvore transformou o Brasil no primeiro local da América Latina a ganhar um presente especial — ou, melhor dizendo, espacial. “Que esta árvore cresça, como as relações entre Brasil e Estados Unidos, principalmente no campo das pesquisas florestais”, disse Thomas Nelson, diretor do Serviço Florestal dos Estados Unidos, na ocasião.

As outras duas árvores estão no Rio Grande do Sul. Entre elas, está uma sequoia-costeira, que se encontra na Praça Central São José, localizada na cidade de Cambará do Sul (RS). Ela foi plantada ali no dia 26 de setembro de 1982, e a praça foi escolhida como o lar da árvore da Lua através de um sorteio realizado entre cidades da Serra Gaúcha. A árvore chegou a 30 m de altura, com diâmetro de 20 cm.

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Por fim, a última árvore da Lua plantada no Brasil é outra sequoia-costeira, que pode ser encontrada no Parque da Fenasoja, na cidade gaúcha de Santa Rosa. O plantio aconteceu em 18 de agosto de 1981, mas a vida da árvore não foi fácil: cimento colocado ao redor dela somado a inundações, iluminação noturna contínua e árvores mais altas bloqueando a luz solar quase a levaram à morte, em 2006. Felizmente, Vilso Cembranel, morador da cidade, conseguiu remover o cimento, o excesso de luzes e podou as outras árvores, salvando-a.

Fonte: CNN, BBC, NASA (1, 2, 3, 4), Royal Astronomical Society