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Stellantis abre as portas da fábrica e mostra segredos do sucesso; CT conferiu

Por| Editado por Jones Oliveira | 17 de Agosto de 2022 às 17h34

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Divulgação/Stellantis
Divulgação/Stellantis

A reportagem do Canaltech foi convidada pela Stellantis, montadora que tem sob seu guarda-chuva marcas como Fiat, Peugeot, Citroen e Jeep, para conhecer a planta de Betim, Minas Gerais, e ficar por dentro dos planos e novas tecnologias de uma das principais fabricantes de carros do mundo.

O tour foi batizado pela marca de Circuito Inovação Stellantis e abordou praticamente tudo, exceto produtos — ou seja, os carros em si. Tivemos a oportunidade de realizar um passeio a bordo de um “trenzinho” para conhecer a linha de montagem da fábrica alocada dentro das enormes instalações, que ocupam cerca de 200 quadras e, nessa parte da “cidade Stellantis”, pudemos observar carros como o Pulse Abarth e o recém-anunciado Fastback — por medidas de segurança, registros desse espaço em foto e vídeo estavam proibidos.

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As imagens desses carros, que em breve estarão nas ruas, ficaram gravadas apenas na memória de quem teve a chance de ver de perto o trabalho das quase 5 mil pessoas que dividem a área de 2,24 mil km² para produzir aproximadamente 377 mil veículos a cada ano. As demais informações, porém, foram compartilhadas por executivos das mais variadas áreas da empresa, desde Mobilidade e Transformação Digital até Design, Descarbonização e Engenharia de Produto. E agora o Canaltech vai levá-las até você.

Uma “startup veterana”

O conceito de startup é, literalmente, usado para empresas recém-criadas, com foco em inovação. A Stellantis encaixa-se nesse perfil, mas com um adendo. Como foi formada pela junção da FCA e da PSA, duas montadoras praticamente centenárias, ela, que nasceu em 2021, pode ser chamada de “startup veterana”.

O foco, porém, é totalmente dedicado à inovação. “O foco mudou porque o mundo e o consumidor estão mudando”, resumiu o Gerente de Inovação da Stellantis América do Sul Gustavo Delgado. Segundo o executivo, o melhor sistema de mobilidade é aquele que oferece mais opções, otimizando o uso da cidade com melhores soluções para viver e se mover pela cidade.

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“Por isso, trabalhamos pensando além do carro. O carro é uma plataforma móvel, como um smartphone, que pode receber e operar aplicativos, aproveitando tecnologias disponíveis para seu funcionamento, aplicadas a novas soluções para as pessoas e para as cidades”, explicou Delgado.

Delgado é um dos responsáveis pelo desenvolvimento do aplicativo Cart. Por meio dele, será possível pagar pedágios, estacionamentos, encontrar estações de recarga para carros elétricos e muito mais. E não apenas para carros produzidos pelas marcas sob a aba Stellantis. O único senão, segundo Delgado, é que carros de outras marcas não conseguirão reproduzir o conteúdo na central multimídia por meio do app.

Startup dentro da “startup”

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Ainda em relação ao assunto startup, Marina Lima, Gerente de Inovação Aberta Stellantis América do Sul, revelou que a Stellantis Startup Studio, área criada em janeiro de 2021 e que já tem 40 contratos assinados, criou, em março, o fundo de capital de risco Stellantis Ventures.

Marina explicou que o fundo tem a capacidade para investir 300 milhões de euros, e foco em apoiar empresas em início de atividade, ou já em fase avançada, que estejam desenvolvendo tecnologias de ponta que possam ser implementadas nos setores automotivo e da mobilidade. Os investimentos recentes incluem empresas como a Archer, uma das principais produtoras de aeronaves elétricas de decolagem e aterrissagem vertical.

Design Center: onde os sonhos ganham forma

Outro ponto interessante da visita do Canaltech às instalações da montadora em Betim foi o chamado Design Center, ou, em bom português, Centro de Design. É nesta área que os sonhos dos engenheiros e projetistas começam a ganhar forma. Literalmente. Paula Amarante, Gerente de Projetos para América do Sul, foi a responsável por apresentar o local aos visitantes.

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Naquele espaço foram concebidos o Fiat Uno (hoje fora de linha) em 2010, o Argo, o Cronos, e um dos cases de maior sucesso, a Fiat Toro, que tornou a área referência global e, de quebra, levou para casa os prêmios IF e Red Dot Awards. Nós conhecemos o modelo “cru”, literalmente, ou melhor, a versão da consagrada picape feita em argila especial.

“São realizados e aprimorados os esboços do design interno e externo dos modelos e acontecem diversas reuniões com os times de engenharia e factibilidade até que ocorra a aprovação final da proposta. Em seguida, são finalizadas a matematização e renders 3D do produto, para que sejam criados os protótipos em escala 1:1. Os protótipos em tamanho real ajudam a visualizar o produto de diversos ângulos e permitem validar o conceito com o público-alvo”, explicou Paula.

Virtual Center: o metaverso próprio da Stellantis

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O metaverso está na moda, e a Stellantis, de um jeito bem particular, construiu, em sua planta de Betim, uma espécie de metaverso próprio, chamado de Virtual Center South America. É lá que são feitas as primeiras etapas de desenvolvimento de um carro que
existe apenas como conceito e desenho.

Nesta sala, elas não são mais feitas em ferro e aço, mas ganham forma e vida no mundo virtual. Segundo a Stellantis, isto é possível devido aos sistemas de alta tecnologia de Realidade Virtual (VA) e Realidade Aumentada (AR), que otimizam o desenvolvimento dos novos produtos, tornando os processos cada vez mais precisos e eficientes.

A área recebeu investimentos de R$ 4,1 milhões, integrando o que há de mais avançado do mundo digital à Engenharia Automotiva. O Virtual Center ocupa uma área de 800 metros quadrados no complexo, e é formado por três ambientes distintos, todos altamente tecnológicos.

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  • Sala de Realidade Virtual: Nela, um software de última geração entra em ação para criar modelos digitais imersivos em 3D. Na power wall, com tela de 150 polegadas e tecnologia 3D ativa, é possível visualizar com o máximo de detalhes a carroceria e todos os componentes do carro. Por meio de joysticks, o profissional pode realizar interações, como a retirada da bomba de combustível, simulando uma troca na concessionária. No ambiente virtual, é possível, por exemplo, identificar se há dificuldade na substituição deste componente pela equipe da assistência técnica, de modo a ser possível realizar os ajustes técnicos ainda na fase virtual.
  • Sala Integrada: As interações são feitas em um cockpit adaptável, com as medidas “reais” do veículo a ser analisado, composto por chassi, bancos dianteiro e traseiro, painel, console e volante. Nesse ambiente, a realidade virtual é em 4D. Com o uso de óculos de realidade virtual imersivo, integrado ao sistema wireless, a sensação é de estar dentro de um carro, e há até mesmo a possibilidade de observar detalhes do lado externo do ambiente, como uma mãe com um bebê no carrinho atravessando a rua.
  • Oficina: Após a validação digital, tem início a construção de modelos físicos dos componentes internos e externos do novo veículo, como faróis, lanterna, console, painel de instrumentos, e muito mais.

Os materiais utilizados na construção desses protótipos são resina, fibra de carbono, fibra de vidro e impressão 3D. Na oficina, os cálculos validados e certificados na Sala de Realidade Virtual e na Sala Integrada começam a ganhar vida, em um ambiente controlado, para nova sequência de avaliações.

Descarbonização: etanol x eletrificados

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Um outro ponto da visita contou com a expertise de um dos principais executivos da Stellantis, e certamente abordou o ponto que mais está em alta hoje em dia quando o assunto é carro: a descarbonização e a adoção de carros elétricos. E a marca, assim como fez a Volkswagen em um passado recente, também defendeu o etanol como meio de transformação da frota em carros não-poluentes.

“O etanol é uma vantagem estratégica do Brasil para uma propulsão mais limpa. Quando considerado o conceito well-to-wheel (do poço, ou do campo, à roda), o etanol é altamente eficiente quanto às emissões, porque a cana de açúcar, em seu ciclo de desenvolvimento vegetal, absorve de 70% a 80% do CO2 liberado na produção e queima do etanol combustível”, explicou João Irineu, Diretor de Compliance de Produto e Regulamentação .

“A Stellantis trabalha com o conceito de múltipla matriz energética, aproveitando as vantagens competitivas regionais para tornar a propulsão mais limpa e eficiente. No Brasil há um forte aliado na redução das emissões de CO2, que é o etanol. Sua combinação com a eletrificação pode ser uma alternativa competitiva de transição para a difusão da eletrificação a preços acessíveis, além da capacidade de a empresa atingir as metas de emissões”, completou.

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De acordo com Irineu, uma enorme confusão é feita quando há a comparação entre carros a etanol e elétricos. Segundo o executivo da Stellantis, a diferença entre eles no que se refere à emissão de gases na atmosfera, quando é levado em conta todo o processo, é praticamente inexistente, com vantagem de aproximadamente 4 pontos para os propulsores elétricos.

“É importante observar que o projeto de carbono zero não inclui apenas os veículos, mas toda a cadeia de valor envolvida no ciclo de produção. Começa no desenvolvimento de produtos mais eficientes em termos de CO2 e na cadeia de fornecedores, passa pela manufatura mais eficiente, pelo produto, pela rede de concessionários e pelo usuário. Ao fim do ciclo do produto, outro ciclo se abre, com a remanufatura, reuso e reciclagem. É a economia circular que torna o ciclo virtuoso”, esclareceu.

Segurança, manufatura e muito mais

O longo e proveitoso dia dentro das instalações da Stellantis, em Betim, também teve como paradas obrigatórias o Safety Center South America, que fica sob a responsabilidade da coordenadora Thais Cristina, o setor de manufatura e os de funilaria e montagem, nos quais tudo o que foi testado, virtual e fisicamente, finalmente se juntam nos modelos de carros que a montadora disponibiliza para o consumidor brasileiro.

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Todas as áreas trabalham de forma interligada e utilizando técnicas da chamada indústria 4.0, aliando tecnologia de ponta com profissionais cada vez mais capacitados. O Safety Center, por exemplo, é considerado o mais moderno da América Latina e recebeu investimentos da ordem de R$ 40 milhões.

O local conta com uma área de 7.600 metros quadrados, equipado com pista de 130 metros de extensão. Realiza todas as provas de padrão internacional, abrangendo todas as homologações mundiais, tais como:

  • Impacto frontal contra barreira rígida (inclinada e zero grau), deformável, poste;
  • Impacto posterior contra barreira rígida (inclinada e zero grau);
  • Impacto lateral contra barreira rígida e poste.
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As áreas de manufatura, funilaria e montagem também são consideradas referências do setor, pois usam soluções das mais avançadas, como o eMille e o Digital Twin, para otimizar o tempo, reduzir os custos e minimizar os erros em todos os processos na busca por soluções rápidas que permitam à fábrica trabalhar de forma praticamente ininterrupta.

O resultado de tudo isso que a reportagem do Canaltech viu durante a visita? Fernanda Bandeira, gerente de Transformação Digital, e Gustavo Delgado, gerente de Inovação, resumiram em poucas palavras: a Stellantis quer ser reconhecida como uma Tec Car Company.

“Vamos muito além da parte física do carro”, resumiu Gustavo. “A única constante é a mudança, e as mudanças estão acontecendo constantemente”, emendou Fernanda.

A visita às instalações de Betim foi finalizada com um rápido test-drive em três modelos eletrificados da linha da Stellantis: o 500e e o Peugeot e-208 GT, ambos já avaliados por aqui, além do Jeep Compass 4xe, versão híbrida do SUV que esgotou o estoque de dois meses em apenas 5 horas de pré-venda. Chave de ouro para um dia agitado e informativo.

*A reportagem do Canaltech viajou para Betim a convite da Stellantis.