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Fairphone sugere que Qualcomm é principal barreira de updates do Android

Por  • Editado por Wallace Moté | 

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Fairphone
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Estabelecida em 2013 nos Países Baixos, a Fairphone é uma startup fabricante de smartphones cuja missão é projetar e produzir seus celulares com o mínimo de dano ambiental às pessoas e ao planeta. Os aparelhos da empresa são marcados pela modularidade, permitindo que os usuários realizem upgrades de hardware ao comprar câmeras, tela, bateria e outros componentes para o celular da marca que já possuem, além do amplo suporte de software, praticamente único no mercado Android.

Depois de um longo período beta iniciado no ano passado, a fabricante liberou nessa semana a atualização do Android 9 Pie para seu segundo lançamento, o Fairphone 2. O dispositivo foi lançado em 2015 com Android 5.1 Lollipop e, com o recente update, fecha seu ciclo prometido de cinco anos de suporte. Esse processo, no entanto, não foi nada fácil para a Fairphone, já que o Snapdragon 801 utilizado no celular não conta mais com suporte oficial da Qualcomm.

Para celebrar o update, a startup holandesa liberou um vídeo mostrando todas as etapas que uma fabricante enfrenta para poder atualizar seus telefones, detalhando as dificuldades que enfrentou para trazer o Android ao aparelho. Nesse processo, a Fairphone acabou sugerindo que a própria Qualcomm é uma das principais barreiras para que o Android receba suporte das empresas por mais tempo.

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Como é desenvolvida uma atualização do Android

O processo de atualização do Android consiste basicamente em quatro etapas, o que não significa se tratar de algo simples. Primeiro, a Google libera no Android Open Source Project (AOSP) a versão mais recente do sistema. Em seguida, fabricantes de chipsets, como Qualcomm e MediaTek, adicionam ao sistema drivers e outros elementos de software para seus componentes.

As chamadas OEMs (Original Equipments Manufacturers, ou Fabricantes Originais de Equipamentos), como Samsung, Motorola e a Fairphone, devem então adicionar suporte a componentes próprios de seus celulares, além de complementar o update com suas próprias customizações, sendo a One UI e a MIUI dois exemplos.

Para concluir o processo, o software customizado é então encaminhado de volta para a Google, que irá testar meticulosamente o update para conferir sua estabilidade e liberar ou não sua disponibilização aos usuários.

Considerando que o Snapdragon 801 não é mais suportado pela Qualcomm, a Fairphone se viu obrigada a recorrer a alternativas Open Source, como a Lineage, famosa pela LineageOS. Além das ROMs para telefones que já não são mais atualizados, a Lineage desenvolve drivers para componentes antigos. Ainda assim, a fabricante encarou mais um grande desafio: a própria Google.

Exigências da Google dificultam o processo

Por utilizar software oficial da Google, a Fairphone é obrigada a concluir a última etapa de testes da Google para liberar seu update. O software a ser liberado não pode ter grandes problemas de compatibilidade com apps e deve seguir todas as políticas obrigatórias da Google. Segundo a Fairphone, seu update para o Android 9 teve de passar por nada menos que 480.000 testes, o que a fez acreditar que não seria possível atualizar o telefone. Felizmente, a empresa conseguiu encontrar soluções para ser autorizada pela gigante das buscas.

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Project Treble e o Fairphone 3

A Fairphone revela ter planos de liberar a atualização do Android 11 para seus telefones mais recentes, o Fairphone 3 e 3+, na segunda metade de 2021. A empresa quer ainda disponibilizar ao menos mais uma grande versão do Android depois disso, mas isso significa ter de enfrentar novo processo de atualização sem suporte da Qualcomm, já que o Snapdragon 632 do Fairphone 3 sairá de linha em julho deste ano.

A esperança está no Project Treble da Google, que rearquitetou o Android separando o sistema do robozinho do suporte de hardware. O projeto foi estabelecido justamente para facilitar a vida das companhias que podem agora atualizar seus smartphones sem precisar do aval das fabricantes de chipsets, ao menos na teoria. A novidade deve aliviar o trabalho que será empregado no Fairphone 3.

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A Qualcomm promete atualmente três anos de suporte a seus processadores, um avanço dos dois anos estabelecidos antigamente. A empresa, no entanto, ainda está longe dos cinco anos oferecidos pela Apple. Ao Ars Technica, a fabricante da linha Snapdragon havia afirmado que "o tempo de suporte de um chipset é determinado em colaboração com seus consumidores", as OEMs, no caso. O portal aponta, no entanto, que apesar dos esforços da Fairphone, a situação permanece a mesma.

Ainda assim, a Fairphone está orgulhosa de seu update e afirma querer ser um exemplo para a indústria como um todo. "Estamos orgulhosos de mostrar à indústria que, mesmo como nosso pequeno time, é possível dar suporte aos celulares por mais tempo", conclui o engenheiro de software da companhia, Karsten Tausche.

Fonte: Ars Technica