Tabagismo, poluição e doenças provocam queda da fertilidade masculina
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Em uma revisão bibliográfica de quase 30 mil estudos sobre a contagem de espermatozoides e a fertilidade masculina, cientistas conseguiram determinar alguns dos fatores que afetam a capacidade reprodutiva dos homens, elencando comportamentos de risco e eliminando alguns mitos acerca do assunto. Entre os perigos à saúde dos espermatozoides, estão o tabagismo, a poluição e a idade, bem como algumas doenças.
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A pesquisa vem na esteira da constatação de que a contagem de espermatozoides caiu pela metade nos últimos 50 anos, com o ritmo dessa queda mais do que duplicando desde o ano 2000. Organizada pela Universidade de Semmelweis, da Hungria, a compilação que buscou explicar essa deterioração juntou 3 bases de dados internacionais, com 26.901 artigos publicados entre 2003 e 2021. Eles vêm, em grande parte, da Europa, Ásia e Estados Unidos, com alguns ainda da África e Austrália.
Indicadores de qualidade e resultados
Um aspecto importante da análise envolveu a forma de determinar a funcionalidade dos espermatozoides: é a chamada análise da fragmentação de DNA, que apareceu em diretrizes internacionais de fertilidade ainda em 2021, e que investiga a proporção de material genético intacto ou fragmentado no esperma coletado. Quanto maior a fragmentação, pior é a capacidade de fertilização do espermatozoide, o que pode, entre outros problemas, aumentar o risco de um aborto espontâneo de gestação.
Embora tenha sido confirmado que a idade é um fator importante na deterioração dos espermatozoides, um fato surpreendeu os cientistas: esperava-se que isso acontecesse a partir dos 40 anos, mas a meta-análise revelou uma idade superior, a partir dos 50. Mesmo assim, recomenda-se não esperar tanto, já que outros aspectos importantes relacionados à fertilidade podem se deteriorar à medida que se envelhece.
O tabaco também foi identificado como um fator de fragmentação do DNA, aumentando as chances da ocorrência em 9,19% em relação aos não-tabagistas. Uso de álcool e peso corporal, no entanto, não foram identificados como causadores diretos de problemas de fertilidade.
Já a poluição apresentou forte influência, especialmente a partir de um estudo focado em uma região italiana com altos níveis de poluição ambiental. Junto à exposição a pesticidas e inseticidas, a taxa de fragmentação de DNA aumentou em uma média de 9,68% com a presença de poluição.
Doenças e conclusões
Além de tais fatores, algumas doenças também foram analisadas, revelando que a varicocele — dilatação dos vasos sanguíneos do canal espermático — aumenta a fragmentação de DNA em 13,62%, em média, número similar ao gerado pela tolerância reduzida à glicose. Já tumores, especialmente os testiculares, aumentam a fragmentação em 11,3%, enquanto infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) como clamídia e HPV parecem não ter efeito na fertilidade.
Isso não quer dizer que outras ISTs não causem efeitos, já que as infecções bacterianas, em especial, tiveram um efeito baixo na fragmentação dos espermatozoides, ficando entre 5% e 8%. Vale lembrar que uma fragmentação inferior a 25%, ao menos clinicamente, é considerada ótima. Acima desse valor, a probabilidade de concepção espontânea diminui, e, acima de 50%, até mesmo a taxa de sucesso nas fertilizações in vitro é afetada.
Alguns cientistas, inclusive participantes do estudo, apontam que a queda na fertilidade masculina é um fator preocupante, o prenúncio de potencial problema sério para a humanidade. Caso essa queda não seja mitigada, a sobrevivência do ser humano poderá se encontrar seriamente ameaçada.
Para os homens que desejam formar família e evitar a queda da fertilidade, convém evitar o tabagismo, fazer exercícios físicos com regularidade e ter uma alimentação saudável, algo apontado por especialistas em fertilidade como os responsáveis pelo estudo. Como sempre, em caso de dificuldades, convém buscar um médico de confiança.