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O que acontece se TikTok for banido dos EUA?

Por| Editado por Douglas Ciriaco | 01 de Abril de 2023 às 13h00

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Alveni Lisboa/Canaltech
Alveni Lisboa/Canaltech
Tudo sobre TikTok

O quão prejudicial poderia ser um possível banimento do TikTok nos Estados Unidos? A rede social está sob o real risco de ser banida do mercado dos EUA, sob a acusação de vazamento de informações para o governo da China, e isso levanta algumas questões.

A confusão começou durante a administração do ex-presidente Donald Trump, mas ganhou fôlego nos últimos meses. Funcionários da ByteDance, controladora chinesa do TikTok, teriam acessado indevidamente dados de jornalistas e autoridades, o que agravou ainda mais as suspeitas.

Mas será que o futuro da rede estaria ameaçado com um eventual banimento em solo estadunidense? Como isso impactaria o restante do mundo que ainda usará o TikTok?

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O que pode acontecer com o TikTok?

Nenhuma plataforma tecnológica com pretensões globais pode se dar ao luxo de perder a imensa base de usuários dos EUA — país com 90% dos seus 331 milhões de habitantes conectados à internet, segundo o Banco Mundial. Os números do mercado de lá impressionam não somente pelo tamanho, mas também pelo volume de negócios.

Com o TikTok, isso não é diferente. A rede social celebrou recentemente 150 milhões de usuários cadastrados na Terra do Tio Sam. Isso representa quase metade da população local, um número que mostra o poder de crescimento dos vídeos curtos por lá.

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Para se ter uma ideia melhor: o TikTok tem 1,051 bilhão de usuários diários no planeta, segundo dados da Statista. O mercado dos EUA corresponde a mais de 10% do total de pessoas que acessam o serviço ao menos uma vez por dia.

Um eventual banimento faria a rede cair para menos de bilhão de usuários por dia, deixando-a atrás de Facebook Messenger, WeChat, Instagram, WhatsApp, YouTube e Facebook. Seria um baita baque em termos de alcance populacional.

Especialistas acreditam no banimento

Para o advogado Jonas Sales, especialista em Direito do Consumidor, existe uma chance verdadeira de a rede social ser banida dos EUA, apesar dos argumentos apresentados pelo CEO do TikTok. "A questão tem importantes aspectos jurídicos, mas não deixa de ser permeada igualmente por contornos políticos, especialmente internacionais", explica.

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A medida poderia ser uma forma de retaliação às restrições adotadas por Pequim nos últimos anos. "A China faz o mesmo por meio do Golden Shield Project, comumente chamado de 'Great Firewall of China', ao banir aplicativos dos EUA, como Facebook, Instagram e WhatsApp, sob a argumentação de que não se alinham aos preceitos do País. Não há reciprocidade há muito entre China e EUA quando o assunto é redes sociais", analisa Sales.

O especialista em mídias sociais Estêvão Soares também segue na mesma linha e acredita haver uma "possibilidade real" de o banimento ocorrer. Segundo o profissional, há dois fatos que impactam na percepção: o projeto de lei 686, conhecido como "Lei do TikTok", e o movimento bipartidário do Congresso.

"Este projeto tem ganhado muito destaque e existe uma chance real de ele ser aprovado. É bem possível que, se isso acontecer, o Tiktok seja banido logo na sequência", explica Soares. "Tanto democratas como republicanos têm interesse e isso cada vez mais tem se tornado um ponto de junção dos dois partidos — inclusive o projeto de lei é bipartidário. Quando você vê democratas e republicanos concordando com algo, definitivamente vale prestar atenção", completa.

Prejuízo financeiro milionário

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Pior do que a redução na quantidade de usuários seria o impacto nas contas mensais do TikTok. Embora o investimento em publicidade nos vídeos curtos esteja atrás de outros serviços, como Instagram e Facebook, o fato é que o dinheiro gerado pelos EUA é fundamental.

O TikTok não revela quais os seus principais anunciantes, mas não seria surpresa se empresas do país norte-americano estivessem no top 5. Dados de 2022 da Statista revelam que a Amazon investiu cerca de US$ 22,5 milhões em apenas quatro meses. A HBO é a segunda colocada com US$ 19 milhões e a Cerebral fecha a terceira posição com US$ 13,3 milhõe.

A maioria das empresas do levantamento da Statista são dos Estados Unidos. Gigantes como Samsung, McDonalds, Pepsi estão entre as maiores anunciantes dos vídeos curtos.

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Como essas gigantes pagam em dólar, uma das moedas mais sólidas do mundo, um possível banimento significaria secar a relevante fonte de dinheiro. É um golpe duríssimo que poderia ultrapassar facilmente a casa dos bilhões de reais por trimestre.

Com menos dinheiro e sem um mercado local, os escritórios de representação do TikTok no país seriam fechados. O resultado disso seria a dispensa dos funcionários e mais uma indesejada leva de demissões no setor tecnológico. Mas isso não significaria necessariamente o fim da rede social de vídeos curtos.

"Definitivamente [o banimento] geraria um impacto negativo, mas não o suficiente para matar a plataforma. O Tiktok já foi banido na Índia, que era um mercado maior que os EUA. Hoje, os EUA têm aproximadamente 150 milhões de usuários, quando o Tiktok foi banido na Índia, eles tinham 200 milhões de usuários no país na época e tiveram uma perda estimada em US$ 6 bilhões", aposta Estevão.

Impacto no mundo

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Com menos anunciantes, poderia haver uma fuga de dólares no orçamento do TikTok, então isso poderia impactar também a operação global. Mercados mais emergentes como a América do Sul e o sudoeste asiático poderiam ser prejudicados.

Existe, ainda, o temor de banimento também na Europa, onde autoridades do Comitê Europeu solicitam uma série de ajustes no aplicativo para adequá-lo ao Digital Services Act (DSA) e Digital Markets Act (DMA). Os normativos estabeleceram um conjunto de regras impactantes nas atividades das Big Techs no continente.

Os europeus endureceram as regras de privacidade para proteger dados dos cidadãos locais. Com eventual restrição do TikTok do outro lado do Atlântico, poderia ser uma questão de tempo para o Velho Continente seguir o caminho.

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Um possível banimento nos EUA certamente poderia desencadear movimento similar no Reino Unido e na Nova Zelândia, por exemplo. Nesses locais, a rede social já foi proibida de ser instalada em celulares usados por autoridades e funcionários públicos.

"Ao Brasil se aplica exatamente a mesma lógica: caso haja o entendimento de que há violação à proteção de dados dos usuários, o caminho certamente será o do banimento", ressalta Jonas Sales.

Já para Estevão Soares, a chance de isso ocorrer por aqui é baixa, dado o bom relacionamento do país com a China. "Fazendo uma especulação sobre o futuro, em um cenário onde o grupo BRICS se fortalece, se os EUA tivessem uma postura mais rigorosa, isso pode impactar inclusive outros produtos, como os da Meta. Mas é uma especulação e não vejo isso acontecendo a curto prazo", ressaltou o especialista em mídias sociais.

Qual o futuro do TikTok?

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As próximas semanas devem ser decisivas para o futuro do TikTok. O Congresso dos EUA deve analisar o depoimento do CEO da plataforma, Shou Zi Chew, para dizer quais passos serão adotados.

O projeto de lei apoiado pelo governo de Joe Biden para banir qualquer plataforma estrangeira que apresente ameaça à soberania dos EUA poderia atingir outros serviços de países como China e Rússia.

Vale lembrar o exemplo da Huawei, que passou por sanções pesadas por parte dos EUA quando estava prestes a se tornar a maior fabricante de celular do mundo. Embora tenha ocorrido por motivos diferentes, o resultado foi desastroso para a companhia.

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"O fim do Tiktok representaria uma perda ainda incalculável para os criadores de conteúdo. A forma como o algoritmo do Tiktok trabalha permite com que conteúdos que você não encontra em outras redes tenham uma visibilidade maior na plataforma — especialmente o conteúdo feito por criadores de conteúdo independentes. A concorrência entre as plataformas é saudável e necessária, então acredito que o impacto no geral seria negativo, mas os criadores de conteúdo provavelmente migrariam para outras redes", finalizou Estevão Soares.

A ByteDance, dona da plataforma de vídeos curtos, certamente não vai querer abrir mão de sua maior fonte de renda no ocidente. Resta saber quais serão os próximos movimentos da Big Tech chinesa e se os EUA vão realmente expulsar uma das plataformas mais queridas do público local.