Sandman | Um guia de leitura completo para o épico de Neil Gaiman
Por Claudio Yuge |
Ler Sandman é uma experiência única. E reler cada volume em diferentes fases da sua vida ajuda a notar isso com mais facilidade. Mas é verdade que acompanhar toda a trajetória do Mestre dos Sonhos pela primeira vez pode ser tão interessante e prazeroso quanto complexo e cansativo.
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Muita gente que gosta até hoje não conseguiu terminar todas as edições da série original. Com a chegada da adaptação à Netflix, pode ser que várias pessoas voltem a ler as HQs ou queiram conhecer, então, isso tudo escrito logo abaixo pode ser uma boa para vocês, já que a ideia é facilitar a viagem nessa rica e inesquecível jornada.
E é uma boa oportunidade para embarcar nessa jornada nesse momento também, pois Garotos Detetives Mortos, série da Netflix que adapta um título derivado da saga Estação das Brumas, está mais perto dos fãs. A atração chega ao streaming o dia 25 de abril.
Por que é tão difícil ler todos os 75 números originais de Sandman?
Essa é a primeira coisa que você pode me perguntar. Bem, embora seja genial, o texto de Gaiman é muito rico e cheio de personagens dos mais variados tipos; é repleto de referências culturais, artísticas e históricas. Cada volume tem um tom completamente diferente e há muitas mitologias e conceitos que se entrelaçam em um misto de quadrinhos e literatura. Tudo isso envernizado com fantasia sombria, fábulas góticas, terror atmosférico e, claro, provocações que nos lembram como sonhos podem mudar o mundo.
A quantidade de informações, tramas e subtextos pode confundir e cansar até os leitores mais devotos. E as mudanças de tonalidade podem frustrar quem adorou um volume e acredita que o seguinte terá a mesma pegada. Além disso, as ilustrações e narrativas fogem do padrão comercial. Quando Gaiman lançou Sandman, ele fez questão de convocar artistas com traços e linguagens bem diferentes das revistas que seduziam os leitores da época com desenhos supercoloridos com muita ação e pouco texto. Ele queria que as pessoas prestassem mais atenção nas palavras e na maneira que as histórias eram contadas; e não apenas nas ilustrações.
Além disso, ler Sandman fasciculado na edição nacional era desanimador na época. Isso porque a periodicidade era muito irregular. E até os formatos da revista mudavam de um número para outro; a tradução era boa, mas às vezes deixava a desejar. Então, lembrar de tudo o que acontecia na história entre os intervalos causados pelo atraso dos lançamentos de cada capítulo no Brasil era uma tarefa cansativa.
E, depois que a série já tinha se popularizado e abocanhado vários prêmios, Sandman passou a ser publicado nos encadernados de luxo no Brasil. Além de caros, não eram o tipo de edição que você empresta para alguém ou consegue ler — ou até transportar — para qualquer lugar. Para completar, não haviam formatos mais populares ou internet.
Com a web, os iniciantes podem procurar mais informações para compreender melhor certas sequências ou personagens que podem confundir e “travar a leitura” — Sandman tem, naturalmente, uma aura de mistério e muitos conceitos que estão ali para exercitar sua imaginação. Não entender inicialmente várias coisas da trama faz parte da provocação de Gaiman, que vai espalhando centenas de informações e personagens, aparentemente desconexos.
Dedicar-se à leitura e se entregar a vários sentimentos faz parte da jornada que, no final, constrói um espetacular mosaico de emoções. Passar por tudo está no pacote da experiência — até porque estamos falando de uma família disfuncional composta por irmãos que se chamam Sonho, Destino, Morte, Destruição, Delírio, Desespero e Desejo.
Atenção! A partir daqui há spoilers, que, em Sandman, não quer dizer muita coisa. Mas pode ser que algumas revelações possam incomodar os leitores que preferem se perder completamente na jornada de descoberta.
Publicação original de Sandman
Estranhar coisas, eventos, nomes ou conceitos; ou se confundir, em busca de respostas imediatas que não virão tão cedo, em uma intrincada rede de mistérios, são características básicas de Sandman. Reler é um hábito muito comum entre os leitores da série, já que cada elemento jogado em tramas e personagens aparentemente desconectados se completam de forma minuciosa na conclusão da jornada de Morpheus.
Por isso, a vontade de descobrir logo a conclusão de participação de cada personagem e evento na trajetória do Mestre dos Sonhos pode gerar gatilhos de ansiedade que, em muitos casos, afastam os leitores menos dedicados. Vale tudo a pena, acredite!
Mas, antes de explicar rapidamente cada arco recomendado, abaixo está a lista de cada volume original lançado de forma fasciculada, mensalmente, nos Estados Unidos, entre 1989 e 1996. Vale destacar que o Brasil, mesmo com todos seus problemas de publicação, foi o primeiro país fora dos Estados Unidos a completar toda a saga com um atraso relativamente pequeno em relação às estreias originais.
Os volumes de cada arco, que englobam as edições:
- Prelúdios e Noturnos (1 a 8)
- A Casa de Bonecas (9 a 16)
- Terra dos Sonhos (17 a 20)
- Estação das Brumas (21 a 28)
- Espelhos Distantes (29 a 31 e 50)
- Um Jogo de Você (32 a 37)
- Convergência (38 a 40)
- Vidas Breves (41 a 49)
- Fim dos Mundos (51 a 56)
- Entes Queridos (57 a 69)
- Despertar (70 a 73)
- Exílio (74)
- A Tempestade (75)
Nessas edições não estão importantes especiais e histórias curtas, que foram compiladas em volumes mais recentes, de comemoração aos 30 anos da publicação original — é esta que vou utilizar para as recomendações.
Como ler toda a saga de Sandman de maneira mais fácil
Aqui chegamos à nossa recomendação de leitura, para que sua experiência seja ininterrupta. Antes de mais nada, é preciso dizer que, ainda assim, você terá que reler várias vezes algumas edições, para juntar partes da trama.
Ao ler nessa ordem, você pode ter “histórias soltas” que, na verdade, não são assim “soltas”, mas que podem servir como um “respiro”, enquanto o próximo passo mais “linear”, digamos assim, continua em um volume seguinte. É verdade que, conferindo a saga assim, há alguns “spoilers” que na verdade nunca foram tratados assim com tanto mistério, a exemplo da revelação de Destruição como o irmão desertor. Mas é um pequeno preço a pagar para conseguir ler tudo com mais fluência.
Para essas recomendações, usei um box gringo que comprei com todos os volumes comemorativos de 30 anos. Cada uma dessas edições abaixo você pode encontrar em português, em comic shops, livrarias ou e-commerces, a partir das impressões nacionais da Panini Comics. Algumas das sugestões, que estão com um asterisco, são opcionais; mas, se puder agregá-las na ordem de leitura abaixo, a experiência pode se tornar ainda mais rica, completa e agradável.
Escolhi esses volumes porque eles têm um formato mais popular, que você pode ler em qualquer lugar; diálogos, sequências e cores foram revisadas pela DC Comics e pelo próprio Gaiman; edições especiais e histórias curtas essenciais para a trajetória de Morpheus foram incluídas; e no final, assim como no prefácio, há extras com entrevistas e palavras de várias personalidades e dos próprios autores de Sandman.
Antes de começar, um breve resumo do que se trata toda a série. Sandman é, basicamente, a trajetória de uma entidade que, ao ficar presa por muito tempo, percebe que precisa mudar. E, ao longo da série, vemos que muitos de seus erros e pessoas que passaram por sua existência fazem parte de uma jornada de redenção; e que tem tudo a ver com o seu apego, cada vez mais íntimo, com o lado humano dos visitantes do reino onírico. E é sobre regras e protocolos universais, que até mesmo seres como os Perpétuos precisam respeitar.
1. Prelúdios e Noturnos
O início da saga, que mostra Morpheus aprisionado por décadas, enquanto o mundo vive as consequências de seu encarceramento. Vemos sua busca por pertences mágicos, assim como a reconstrução de seu reino e a apresentação de sua irmã mais próxima, a Morte. E aqui há, entre outros encontros importantes, a primeira vez que Sandman conversa com William Shakespeare.
*2. Morte: O Alto Preço da Vida
“Um dia em cada século, a Morte assume a forma humana, para melhor compreender como devem ser as vidas que ela tira; para provar o sabor amargo da mortalidade.” Essa é a definição do que acontece na trama, em que a Morte mostra a um suicida que vale a pena estar vivo.
Vale dizer que a edição foi lançada em uma época quando não se falava muito em suicídio e a taxa entre jovens era alta — um ano depois da estreia dessa HQ, Kurt Cobain, por exemplo, tirava sua própria vida, em abril de 1994.
3. Casa de Bonecas
O tom deste volume continua parecido com o de Prelúdios e Noturnos, mais na linha do terror gótico, mas não tão sombrio. Aqui vemos alguns elementos do Sonhar, como o Coríntio, e outros personagens que terão muita importância futuramente, a exemplo do vórtice na forma de Rose Walker — guarde bem este nome.
E, neste volume, conhecemos melhor xs gêmexs Desejo e Desespero (Desejo pode ser classificadx como não binário), que costumam criar situações para tentar manipular o Sonho. É aqui que também vemos o primeiro encontro de Sandman com Hob Gadling, talvez o único amigo de Morpheus; e o início do acordo entre o Mestre dos Sonhos e William Shakespeare.
*4. Noites Sem Fim
A essa altura, é legal saber mais sobre cada Perpétuo. Eles passarão a ser apresentados com mais densidade a partir de Estação das Brumas, então, essa edição é uma maneira muito fácil e interessante de conhecer mais sobre cada irmão de Sandman.
Diferente do começo da série, esta edição foi lançada quando a obra de Gaiman já era consagrada, então, ele selecionou artistas conhecidos e com narrativas e estilo mais sedutores para novos leitores e um público mais amplo. Tem traços de Frank Quitely (All-Star Superman), Milo Manara (Clic), Bill Sienkiewicz (Elektra Assassina), entre outros.
5. Terra dos Sonhos
Este volume oferece também uma “pausa” na trama principal para mostrar diferentes perspectivas da atuação de Morpheus e a importância dos sonhos, com pequenos contos, incluindo a sensacional fábula Sonho de Mil Gatos. A “brincadeira” de Gaiman com a mitologia greco-romana, com a história envolvendo Calíope, também é memorável.
Mas o destaque aqui fica mesmo para Sonho de Uma Noite de Verão, em que Shakespeare entrega a primeira de duas peças encomendadas por Morpheus, que convida o Reino das Fadas (Faerie) para assistir à montagem. A edição original, de número 19, ganhou vários prêmios e foi a primeira história em quadrinhos a figurar no topo dos livros mais vendidos do The New York Times — difícil encontrar alguém que ainda ache HQ “coisa de criança” depois de ler esse clássico instantâneo.
6. Estação das Brumas
Esta talvez seja a saga mais adorada pelos leitores de Sandman, e marca a metade da trajetória de Morpheus. Gaiman diz que “uma boa história sempre começa a contar o fim a partir do meio dela”. E é isso que acontece aqui, em uma reunião entre os Perpétuos que desencadeia o retorno do Sonho ao Inferno para confrontar Lúcifer Morningstar.
Este volume é conhecido também por gerar alguns spin-offs interessantes, a exemplo da série limitada Lúcifer, que mais tarde viria a ser título mensal e até série de TV.
7. Fábulas e Reflexões
Aqui está também mais uma “pausa” da trama principal, com outros contos interessantes que mostram o universo de Sandman interagindo com histórias populares sobre reis e governantes em várias culturas. Aqui a DC também reuniu HQs curtas e o especial sobre Orpheus, o filho de Morpheus que tem muita importância para o destino do Mestre dos Sonhos.
Esta edição serve também como um “respiro”, porque a partir de Um Jogo de Você a trama fica mais complicada e muda completamente de tonalidade, o que geralmente afugenta muitos leitores. Então, prepare-se.
9. Um Jogo de Você
Este talvez seja o volume mais difícil de acompanhar, porque a história tem mesmo o objetivo de causar confusão, com elementos intrigantes, termos e personagens estranhos. É uma trama urbana que mistura horror sobrenatural com fantasia, cheia de referências à obra de Lewis Carroll — e são tantas as homenagens, até mesmo à estrutura de Alice no País das Maravilhas, que pode desnortear aqueles que não conhecem os clássicos de Carroll.
A essa altura da saga, Gaiman também mostra um pouco mais da dinâmica familiar entre os Perpétuos; e se aprofunda em cada irmão de Sandman, como Delírio.
10. Fim dos Mundos
Aqui está mais uma “pausa”, com reunião de contos envolvendo Sandman de diversas maneiras em uma taverna que fica entre as realidades, em um lugar onde espaço e tempo se tornam conceitos confusos.
Muitos personagens apresentados até agora retornam para uma edição que chama a atenção pelo estilo narrativo, com traços e design que mudam para oferecer curiosas combinações — como o “terror diurno” sobre o cotidiano de um funcionário em uma necrópole.
11. Vidas Breves
Esse arco apresenta o irmão pródigo de Sandman, que deixou para trás sua função e abandonou os Perpétuos há muito tempo: Destruição. É aqui que também vemos melhor como as regras e protocolos são importantes para as entidades místicas que vivem há milênios entre as várias camadas de realidade do universo de Sandman.
E aqui, o fim está próximo, quando Sandman começa a aceitar seu destino e seguir rumo à sua redenção. O Mestre dos Sonhos confronta seus erros, entre eles um pecado milenar e mortal, que envolve seu filho Orpheus.
12. Entes Queridos
Prepare-se porque esta edição monta os termos para a despedida de Morpheus e conclui as participações de todos os personagens que ganharam destaque desde a primeira edição. Você provavelmente terá que reler muita coisa para lembrar de cada um deles, e notar como uma cadeia de eventos resulta no destino do Mestre dos Sonhos.
É muito interessante ver como todas as peças colocadas no tabuleiro da saga se movimentam para decretar as últimas ações de Morpheus — e a chegada de um novo Mestre dos Sonhos.
13. Sandman - Prelúdio
Este volume funciona como uma espécie de “Sandman Begins”, mostrando por que Sandman estava tão exausto, ao ponto de ser facilmente capturado por um feitiço de uma sociedade secreta. Também apresenta os pais dos Perpétuos e uma revelação incrível, que brinca com a dobra das páginas e o layout da revista.
O maior destaque fica por conta da espetacular narrativa gráfica de J. H. Williams III, que homenageia vários estilos e desafia os padrões e as limitações de uma HQ. E atenção para o comportamento do Coríntio, que já se rebelava contra Sandman; e a presença de uma garotinha que, no final da história, exige de Morpheus algo que promove uma viagem no tempo e interage simultaneamente com Sandman #4, lançado 17 anos antes deste Prelúdio.
14. O Despertar
Enfim, chegamos ao funeral de Morpheus e à chegada de Daniel, o novo Mestre dos Sonhos. Todos os personagens da saga toda se reúnem para se despedir da versão do Sonho que vimos desde o começo.
E aqui Shakespeare entrega a segunda peça encomendada por Morpheus. A Tempestade, que faz parte da fase trágica do escritor, é apresentada com o inglês arcaico da época, e finaliza a série mostrando que a trajetória do Mestre dos Sonhos tem muita coisa em comum com a própria história de vida de Shakespeare.
Outros complementos de Sandman
Sandman conta com dezenas de spin-offs e HQs relacionadas, todas com alguma pitada da genialidade de Gaiman, mas nenhuma tão brilhante quanto as que ele assina. De qualquer forma, vale a pena conhecer alguns desses derivados ou a adaptação para áudio.
The Annotated Sandman
Uma coleção de anotações sobre as centenas de referências históricas, culturais, musicais, gráficas e textuais de volumes da série original. Cada página é reproduzida com os comentários sobre as influências de outras obras.
Sandman Apresenta: Os Pequenos Perpétuos
Uma HQ com as versões infantis de cada um dos irmãos do Sonhos, assim como ele mesmo. Uma ótima introdução ao universo de Gaiman para os baixinhos.
Caçadores de Sonhos
Essa história inicialmente nasceu como um conto literário belamente ilustrado por Yoshitaka Amano, o artista que desenvolve o design de personagens para a série de games Final Fantasy. A versão em quadrinhos, que mistura mitologia japonesa com o universo de Sandman, tem desenhos assinados por P. Craig Russell.
Lúcifer
Tanto a série limitada quanto a mensal, que foi lançada em volumes no Brasil, trazem histórias sobre um dos antagonistas de destaque da série principal. A fase de Mike Carey é especialmente muito interessante — principalmente para os fãs da adaptação para a TV.
Morte: O Grande Momento da Vida
Continuação de O Alto Preço da Vida, que traz as personagens Hazel e Foxglove, com divertidas conexões com a série principal e com a minissérie anterior da própria Morte. É uma boa para quem se apaixonou pela irmã “porto seguro” de Morpheus.
Sandman Apresenta: O Coríntio - Morte em Veneza
O Coríntio é um dos personagens que roubam o show na adaptação de Sandman para a Netflix e, mesmo antes de estrear na TV, ele já tinha uma legião de fãs. Aqui, é possível ver como o mais famoso pesadelo do Sonhar aprimorou suas técnicas de assassinato.
Sandman Audible
A adaptação de toda a saga no formato de “radionovela” na plataforma de podcasts Audible, da Amazon. Não é muito recomendada para os não iniciados, mas pode ser uma experiência complementar interessante para os fãs veteranos.
Sandman é uma eterna viagem ao mundo dos sonhos
A primeira vez que li Sandman por completo foi nos anos 1990, na época da publicação no Brasil, com edições nacionais e algumas importadas. Quando peguei o número um brasileiro nas mãos eu tinha 14 anos. O final, em A Tempestade, no 75, eu estava completando 20 anos e encerrava o épico criado por Gaiman lendo o encontro derradeiro entre Morpheus e Shakespeare, em um texto escrito em inglês arcaico. Naquele momento, eu sabia que voltaria a ler muitas outras vezes.
E, a cada vez que você retorna, há a possibilidade de notar ou gostar de algo que não havia percebido antes — e o nível de maturidade durante a leitura tem tudo a ver com isso. Uma das coisas mais interessantes de Sandman, e o que o torna atemporal, é que é possível favoritar um volume em cada fase da sua vida.
Quanto eu era adolescente, gostava mais de Prelúdios e Noturnos. Nos meus 20 anos, preferia Estação das Brumas. Já na casa dos 30, Noites sem Fim se tornou o meu predileto. Hoje, depois dos 40, adoro Prelúdio. E, provavelmente, é assim com todos os fãs. Bem-vindos aos universo de Sandman.