Publicidade
Economize: canal oficial do CT Ofertas no WhatsApp Entrar

Qual é a melhor saga de Sandman e por que é Estação das Brumas

Por| 17 de Outubro de 2021 às 11h00

Link copiado!

DC Comics
DC Comics

“Todo grande escritor começa a contar o final da história a partir da metade dela.” Quem diz essa frase é Neil Gaiman, e ele também costuma cumprir com essa própria observação/recomendação. Uma das provas disso está em Sandman, mais especificamente em seu melhor arco, Estação das Brumas. E, para celebrar a chegada da obra-prima publicada pelo selo DC/Vertigo em breve à Netflix, o Canaltech te conta um pouco mais dessa história.

Antes, de mais nada, vamos deixar uma coisa já combinada por aqui: como dá para notar no título desta matéria, obviamente que essa é a minha opinião sobre o melhor arco de Sandman. Para ser mais sincero ainda, é difícil escolher “a melhor saga”. Se você revisitar a trajetória do Mestre dos Sonhos vai notar que sua parte favorita vai mudar ao longo de sua vida, de acordo com o momento que vive — eu, atualmente, gosto mesmo mais de Overture (ou Prelúdio, na tradução nacional), que foi o último lançamento sobre a jornada de Morpheus e narra os eventos anteriores à primeira edição de 1988.

Continua após a publicidade

A ideia aqui é contar por que Estação das Brumas é tão especial e, claro, provocar. Afinal, uma das coisas mais legais que existe na comunidade de leitores de Sandman é justamente compartilhar suas preferências e fazer com que todos, mais uma vez, revisitem esse universo apaixonante. Então, sem crise aqui, certo? O que é mais legal para mim não anula o que você mais gosta; a diferença de opiniões é o que deixa o Sonhar ainda mais rico.

Atenção, embora seja difícil spoilers estragarem a experiência de leitura de Sandman, fica aqui o aviso de revelação de eventos da trajetória de Morpheus nos quadrinhos.

O caminho para Estação das Brumas

Antes de falar sobre o evento em si, é preciso lembrar de alguns acontecimentos que terão ainda mais importância durante Estação das Brumas. Esses momentos têm grande relevância na construção do mundo de Sandman; e posteriormente também se tornaram cenários explorados pelo universo compartilhado pelo Mestre dos Sonhos no extinto selo adulto Vertigo.

Continua após a publicidade

Três edições são chave para isso, justamente nos primeiros números de Sandman, que, basicamente, introduziram personagens e explicaram melhor como funciona o Sonhar e os poderes de Morpheus, assim como seus pertences. Em Sandman #3, lançado em março de 1989, o protagonista pede ajuda a John Constantine para chegar ao Inferno, onde ele acredita estar o seu capacete — um de seus itens perdidos no período em que ficou aprisionado; os outros dois foram sua algibeira com areia e um amuleto em forma de rubi.

Pois bem, Sandman consegue chegar ao Inferno com a ajuda de Constantine. E lá vemos uma descrição melhor de como é o Inferno da Vertigo, comandado por um triunvirato: Lúcifer, Belzebu e Azazel dividem a função de líder, embora se odeiem — e essa é uma informação muito importante para o que acontece em um dos arcos mais famosos de Constantine, Hábitos Perigosos (publicado entre maio e outubro de 1991, em Hellblazer), que foi a base para o filme de Keanu Reeves (que chegou aos cinemas em 2005).

Continua após a publicidade

Em Sandman #4, o Mestre dos Sonhos encontra seu capacete com o demônio Chorozon. O duelo de palavras entre os dois é sensacional e tem uma ligação espetacular com o que acontece em Sandman Overture (publicado entre outubro de 2013 e setembro de 2015). Ao final da batalha verbal, Morpheus consegue seu capacete de volta. Ao ir embora, Lúcifer contesta os poderes dos sonhos no Inferno. “Que poder o Inferno teria se aqueles aprisionados por aqui não pudessem sonhar com o Céu”, respondeu o Mestre dos Sonhos. Lúcifer se sente humilhado e promete um dia destruir Morpheus.

Deixei para mencionar apenas agora um trecho bastante importante e bem discreto de Sandman #4. Em um dos quadros, vemos uma sequência em que Sandman está caminhando até Lúcifer e, perto de uma das prisões do Inferno, vemos uma pessoa implorando ao Mestre dos Sonhos para libertá-la. Morpheus lembra a Nada, que, embora tenham passado dez mil anos e ainda a ame, ele não perdoou-a.

Em Sandman #9 (1989), vemos como essa história nasceu, em Contos da Areia. Ao realizar o rito de passagem para a idade adulta, um garoto na África encontra um pedaço de vidro, que é levado até ao seu avô, que, então, conta a história daquele objeto e de sua tribo. Tudo começou há muito tempo, quando a cidade era comandada pela rainha Nada, que um dia se apaixonou por Morpheus.

Continua após a publicidade

Nada conseguiu visitar sua paixão no Sonhar, o próprio reino de Sandman, e, na noite em que ambos consumiram seu amor, o mundo inteiro também teve viagens oníricas com sonhos de amor. Contudo, essa história não acabou muito bem para Nada: sua aventura no Sonhar quebrou algumas das regras do universo; por isso, sua cidade derreteu na areia e, junto com todos moradores, transformou-se em vidro.

Depois disso, Nada se jogou do topo de uma montanha. No reino da Morte, irmã de Sandman, Morpheus encontrou Nada e convidou-a para ser a rainha do Sonhar. Embora ainda o amasse, ela recusou a oferta, pois não conseguia conviver com a culpa de ter destruído sua cidade. Assim, Sandman condenou-a à eterna danação no Inferno.

Pois bem, chega a Estação das Brumas

Continua após a publicidade

Em Estação das Brumas, vemos toda a família (com exceção do irmão “perdido”, que na época não se sabia se tratar de Destruição) reunida, graças à convocação do mais velho, Destino. Embora não seja dito inicialmente com detalhes a razão de todos estarem por ali, as conversas entre Sonho e Morte e, principalmente, com Desejo e Desespero, é que dão início à jornada prevista por Destino a começar justamente devido a uma discussão.

Desejo, que costuma arquitetar planos e pregar peças em Sonho ao longo de toda a história de Morpheus, mais uma vez se alia a Desespero para questionar o Mestre dos Sonhos sobre a alma que ele condenou a milhares de anos no Inferno. Morte, que costuma ser o “ombro amigo” e “lado racional” de Sandman, reforça a missão que Morpheus tem de tentar se redimir e libertar Nada de sua maldição.

Sandman sabe que vai quebrar algumas regras e precisa estar munido de suas armas, por isso, ele vai trajado para a guerra, com seu elmo, sua algibeira e seu rubi mágico. Contudo, ao chegar no Inferno, em vez de uma batalha, Lúcifer apenas oferece a chave do Inferno a Morpheus. Depois disso, ele pede a um súcubo para que corte suas asas. Lúcifer vem para a Terra e abre um piano-bar em Los Angeles.

Continua após a publicidade

Quando isso acontece, vida e morte se confundem na Terra, com muitos mortos voltando à vida; e várias mitologias e entidades passam a reclamar a chave do Inferno para si. Odin quer o local para evitar o Ragnarok; deuses egípcios e orientais, assim como anjos e os próprios demônios também tentam seduzir Morpheus a ceder o objeto. 

Ou seja, Lúcifer sabia que isso seria um grande castigo, e mais: que Sandman teria que quebrar regras do universo para se safar, e, assim, suas próprias ações determinariam seu fim — vale lembrar que Lúcifer não pode ler mentes e precisa respeitar o livre arbítrio, mas que ele é muito inteligente em manipulação e jogos que podem nos levar à nossa própria perdição.

No final, Sandman dá a chave do Inferno para os anjos Duma e Remiel, que restabelecem os mortos que ali estavam aprisionados e começam um novo tipo de comando no Inferno, que ainda tinha a liderança de Belzebu. Azazel, que dividia o triunvirato juntamente com Lúcifer, tentou ludibriar Sandman ao lado do demônio Chorozon e se deu mal ao tentar negociar a alma de Nada.

Continua após a publicidade

Sandman aprisiona Azazel no Sonhar, e depois liberta Nada, que então se reencarna em um garoto chinês. Morpheus permite que esse menino, ou Nada, possa visitar seu reino onírico quando quiser.

Spin-offs de Estação das Brumas

Sandman teve várias edições derivadas ao longo da publicação de sua série limitada e também após o final das 75 edições mensais. E Estação das Brumas ampliou e mudou os rumos de tantos personagens, que eles acabaram transbordando em duas publicações e um seriado de TV, diretamente ligados a eventos que aconteceram durante esta saga.

Continua após a publicidade

Pois bem, lembram-se que muitos dos mortos do Inferno voltaram à Terra quando Lúcifer entregou a chave e abandonou o local, certo? Então, com isso a trama destacou uma sombria aventura gótica de dois garotinhos detetives, Charles Rowland e Edwin Paine. O estilo “Sherlock Holmes para adolescentes com terror” agradou muita gente, e os Dead Boy Detectives apareceram em várias outras histórias do selo Vertigo posteriormente.

Lúcifer deixou o Inferno e foi viver em Los Angeles, inicialmente gerenciando seu piano-bar enquanto tenta entender a alma humana. O personagem ganhou uma elogiada série mensal, com direito a um escritor que tratou muito bem Morningstar, Mike Carey. Ele deu ao título o misto de mistérios e horror sobrenatural que dá até hoje o tom para a famosa adaptação para o streaming.

Continua após a publicidade

O que veio depois de Estação das Brumas

Bem, como dito no começo, Estação das Brumas é o início do fim de Sandman. Isso porque, com todas as peças, personagens e regras em jogo estabelecidas até a edição 28, Gaiman pôde revelar com calma como as ações do próprio Morpheus decretaram o seu fim. Ele mostrou que nem mesmo os Perpétuos, entidades imortais que “estavam aqui no começo dos tempos e estarão no fim”, podem superar certas obrigações.

Estação das Brumas é sobre regras e responsabilidades. E, segundo o livro de Destino, era responsabilidade de Sandman trazer Nada de volta do Inferno, mesmo que isso violasse diretrizes do universo. E, então, a partir deste arco, Gaiman conta melhor a relação de Morpheus com cada um de seus irmãos.

Continua após a publicidade

A partir de Estação das Brumas vemos, literalmente (ou graficamente), o cortejo fúnebre de Sandman, desde a despedida familiar e a chegada de Daniel, o jovem Mestre do Sonhar que substitui Morpheus; até o encerramento das três fases de William Shakespeare, com a incrível edição 75, que, como não poderia deixar de ser, chama-se A Tempestade.