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Por insumos e doses de Coronavac, governo será mais amigável com a Huawei no 5G

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Captura da imagem: Rui Maciel
Captura da imagem: Rui Maciel
Tudo sobre Huawei

Na briga ideológica para saber se a Huawei participará do 5G brasileiro, uma boa notícia: o governo brasileiro pretende "pegar mais leve" com a fabricante chinesa em relação à sua participação na construção da rede de internet móvel de quinta geração. O objetivo é fazer com que a importação de insumos da China para o Brasil, para a fabricação das vacinas contra a Covid-19, torne-se mais ágil. As informações são do jornal Folha de São Paulo.

Atualmente, o governo brasileiro encontra dificuldades para importar doses de Coronavac, bem como os insumos para fabricá-la no Instituto Butantan, em parceria com a farmacêutica Sinovac. O mesmo vale para a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que fabrica um segundo imunizante, juntamente com o laboratório AstraZeneca e a Universidade de Oxford. Em ambos os cenários, os componentes para fabricar as vacinas saem da China.

O problema é que o governo brasileiro mantém uma relação altamente instável com a China - que, aliás, é o principal parceiro comercial do Brasil. O país asiático vem sendo constantemente atacado por diversos membros do governo Bolsonaro, incluindo o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e também o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) que também é presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara.

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Maior abertura para a Huawei

Alinhado ideologicamente com o agora ex-presidente dos EUA, Donald Trump, o governo Bolsonaro vinha apresentando sérias resistências à participação da Huawei na construção da rede 5G no Brasil. O presidente brasileiro declarou apoio aos princípios do Rede Limpa, uma iniciativa global organizada pelo governo Trump para banir a tecnologia chinesa das redes de telecomunicações, principalmente a 5G e que já conta com a participação de diversos países e operadoras.

O argumento levantado por Trump, quando presidente, é que a tecnologia chinesa do 5G - principalmente da Huawei e ZTE - representa risco à segurança das nações, com essas empresas, supostamente, praticando espionagem para o governo chinês. No entanto, nunca houve nenhuma evidência de que isso ocorresse, tanto no Brasil, quanto em outros países.

Ainda, ao longo de 2020, membros do primeiro escalão do governo brasileiro evitaram receber representantes da Huawei para a empresa se defendesse das acusações. Além disso, os EUA chegaram a abordar as operadoras do país para oferecer linhas de crédito para que essas comprassem equipamentos 5G de outras fornecedoras, como Nokia e Ericsson. A oferta foi rechaçada, pois não havia vantagens em termos financeiros.

Agora, com o cenário das vacinas no topo de prioridades, o governo Bolsonaro deve promover um "armistício" com a Huawei e sua participação no 5G. E isso já vem se dando em diversas etapas.

Um bom exemplo disso ocorreu no último dia 8 de dezembro. Fábio Faria, ministro das Comunicações, afirmou durante reunião com as operadoras que as soluções para o leilão do 5G no Brasil serão dadas pelo viés técnico e econômico. Com isso, foi dado o primeiro passo para que a Huawei seja liberada para fornecer equipamentos para a construção da rede de internet móvel de quinta geração.

Além disso, também no começo de dezembro, a Huawei já tivera uma boa notícia por parte da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel): a entidade finalizou a proposta com as regras do edital para o leilão de frequências do 5G. E o documento - desenvolvido pela área técnica da entidade - não apresenta restrições à participação da fabricante chinesa para que ela venda seus equipamentos às operadoras.

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A minuta já estipula, por exemplo, metas de cobertura, com datas prevendo municípios e localidades a contarem com o 5G desde a assinatura do termo de autorização, válido até 2028. Os técnicos que prepararam o documento sabem que caso a Huawei seja banida, a proposta ficaria inviabilizada. Além disso, os técnicos da Anatel já afirmaram anteriormente que não é papel da agência boicotar fornecedores de infraestrutura de telecom.

Os próximos passos que devem confirmar a participação da Huawei são a aprovação das regras do leilão do 5G por parte da Anatel, o que deve ocorrer nas próximas semanas. Já o leilão em si deve ocorrer entre junho e julho deste ano.

Paralelamente, o ministro Fábio Faria fará um "tour" à sede de todos os fornecedores globais de equipamentos 5G. No caso, ele visitará a Ericsson (na Suécia), a Nokia (na Finlândia), a Samsung (na Coreia do Sul) e ainda Huawei e ZTE (ambas na China).

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Faria deve conversar com os presidentes de cada empresa, se certificar de que todas estão prontas para suportar a demanda por equipamentos para a construção da rede 5G, bem como garantir de que não há risco de segurança nos dispositivos da Huawei.

Para completar, o presidente Bolsonaro já teria também um rascunho da minuta de um decreto que determinará normas com as condições para empresas que atuam com telecom e a guarda de dados sigilosos. Os fornecedores que não respeitarem tais regras não poderão ser contratados pelas operadoras.

Michel Temer como "lobista" da Huawei

Para reforçar suas garantias de que não ficará de fora do 5G brasileiro, a Huawei teria contratado ainda o ex-presidente da República, Michel Temer, para atuar como uma espécie de "lobista". Segundo o site TeleSíntese, Temer deve elaborar um parecer jurídico em nome da fabricante chinesa, para garantir que ela possa fornecer seus equipamentos às operadoras.

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O ex-presidente já atuou como professor de Direito Constitucional e possui proximidade Jair Bolsonaro, bem como tem importante base de aliados no Congresso Nacional. Isso teria pesado a favor de Temer, que pode ser chamado a apresentar seu relatório às comissões da Câmara e do Senado que vão debater o eventual banimento da empresa no 5G brasileiro.

5G até oito vezes mais caro

A ausência da Huawei pode fazer com que o serviço 5G seja um dos mais caros do mundo, custando até 8 vezes mais para o consumidor, em comparação ao 4G. Isso aconteceria porque, caso a fabricante chinesa seja banida, as operadoras seriam obrigadas a trocar todos os equipamentos 3G, 4G e 4,5G da Huawei, para que eles possam conversar com os dispositivos 5G de outro fornecedor de forma fluida.

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E essa substituição demandaria investimentos pesados, estimados em mais de R$ 100 bilhões. E esses custos seriam repassados ao consumidor, aumentando os preços para o consumidor final lá no final da tabela.

"Só de equipamento, sem contar custos de operação, oportunidade do capital, entre outros, são três anos de regresso para as teles. Elas precisarão regredir de onde nós estamos [em termos de tecnologia 2G, 3G e 4G] para voltar aonde nós já estamos [nas mesmas tecnologias 2G, 3G e 4G]", afirmou Marcelo Motta, diretor global de Cibersegurança da fabricante chinesa, em entrevista recente ao Canaltech. "Em termos de custos, estamos falando de dezenas de bilhões de dólares para refazer essa estrutura. O setor vai, praticamente, parar".

Além disso, as próprias operadoras brasileiras já defendiam a permanência da Huawei nas conversas com o governo. A fabricante chinesa tem ampla participação nas infraestruturas de suas redes - cerca de 50% - e Vivo, Claro e Tim não receberam nenhuma garantia de reembolso do governo federal caso fossem obrigadas a trocar seus equipamentos de rede da Huawei pelo de outros fornecedores.

Fonte: Folha de São Paulo