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Por que o 5G no Brasil pode custar até 8 vezes mais em comparação ao 4G

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Você acha que a sua conta do 4G anda cara? Bom, temos más notícias então. O Brasil pode ter um dos serviços 5G mais caros do mundo e que custaria até 8 vezes mais para o consumidor, caso a Huawei seja proibida de participar da construção da rede de internet móvel de quinta geração. A afirmação foi feita por Marcelo Motta, diretor global de Cibersegurança da fabricante chinesa, em entrevista exclusiva ao Canaltech - e que será dividida em outras três partes e publicadas semanalmente.

Segundo o executivo, a questão dos preços maiores do 5G pode ser dividida em duas partes: a primeira seria o preço dos equipamentos de quinta geração para outras operadoras. Em áreas rurais dos países em que já aconteceu a restrição da Huawei, os custos que envolvem o fornecimento do equipamento, bem como a criação da rede, cresceram de duas a cinco vezes para as operadoras.

"Isso acontece porque os competidores da Huawei, muitas vezes, atendem as grandes operadoras, mas não as pequenas, sendo os EUA, um exemplo disso. E esse custo adicional [de troca de equipamentos] para as operadoras nessas áreas rurais, muitas vezes, inviabiliza o negócio, já que elas precisam pagar mais caro por eles junto a outros fornecedores"
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No caso do fornecimento do serviço do 5G para os consumidores finais, a Huawei afirma ter feito uma comparação com a base da pirâmide de Brasil e China, cuja maior parte de ambas é usuária da banda larga pré-paga 4G:

"Na China e no Brasil, os preços dos planos pré-pagos são mais ou menos equivalentes, segundo dados da [consultoria] Teleco. E quando comparamos esses preços com mercados em que a Huawei não tem presença forte ou nula, como é o caso dos EUA, você verá que o preço da banda larga móvel pré-paga 4G chega a ser até 8x mais cara que o preço do Brasil e da China. Então, replicando esse cenário para o 5G, o impacto para o consumidor brasileiros pode ser bastante relevante e atingir esse preço de até 8x maior do que poderia ser ofertado. É uma consequência natural: você tira competição do mercado, o mercado vai andar mais devagar, os preços da rede para as operadoras vão crescer, os valores de operação e manutenção da rede também aumentarão e, claro, as operadoras vão repassar esses custos para o consumidor. Não há mágica". 

Motta afirma a Huawei está presente em mais de 170 países e que em todos eles, a empresa lidera o marketshare no setor de infraestrutura de rede. Isso permite que ela tenha escala e possa negociar melhores preços junto às operadoras.

"Nosso ganho de escala vem da pesquisa e desenvolvimento que realizamos sobre o 5G há anos. Isso permite a Huawei oferecer equipamentos mais avançados e com menores preços às operadoras, o que já vem ocorrendo também no 3G e 4G. Tirar o Brasil dessa cadeia, significará um incremento de preço muito, muito grande, tanto às teles, quanto ao consumidor".

Atraso de três a cinco anos e custo bilionário

Para além do preço, a saída do Huawei do mercado de infraestrutura de telecomunicações brasileiro pode resultar em um atraso de três a cinco anos na implementação do 5G. Isso porque o banimento da companhia chinesa exigiria a troca de uma infinidade de equipamentos de rede, um processo altamente custoso e demorado. Segundo Motta:

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"Temos uma base instalada muito grande de 3G, 4G e 4,5G. E isso evolui primordialmente por software para o 5G, a um custo infinitamente menor. Sem a Huawei, as operadoras terão de ir nas torres e instalar novos equipamentos 5G de outro fornecedor. Aí fica o 5G de uma empresa de um lado, com o 4G da Huawei de outro. Dois sistemas de gerenciamento na mesma área, o que duplica o custo de operação das teles. Sem contar que o engenheiro chega e precisa verificar se tem espaço para esses novos equipamentos, se tem meio de transmissão para escoar este tráfego, se tem capacidade energética suficiente. É um processo que demora muito, além do custo já mais elevado de operação e manutenção.."

O executivo afirma ainda que na ponta final - no caso, o consumidor - a experiência do usuário ficará muito ruim pela compatibilidade entre os equipamentos:

"Quando você instala o 5G de um fornecedor e o 4G de outro e muda de uma área de cobertura do 5G para uma outra que possui apenas cobertura 4G, haverá uma queda de qualidade sensível para o usuário. É possível ter interoperabilidade? É. O sistema é feito para isso. Mas é óbvio que se mantiver tudo sob um mesmo fornecedor em determinada área, o tempo de handover é mais curto, a experiência do usuário é melhor. "Então, se a Huawei for banida, o que a operadora terá de fazer? Ela terá de tirar o que já existe de equipamentos da marca hoje [na infraestrutura] e que foi construído desde 2013. As operadoras terão um custo absurdo para fazer esse tipo de substituição. Só de equipamento, sem contar custos de operação, oportunidade do capital, entre outros, são três anos de regresso para as teles. Elas precisarão regredir de onde nós estamos [em termos de tecnologia 2G, 3G e 4G] para voltar aonde nós já estamos [nas mesmas tecnologias 2G, 3G e 4G]. O setor de telecomunicações vai parar por três anos! E o que acontecerá? Alguma empresa terá coragem de investir neste setor e com este cenário? O país vai evoluir sem telecomunicações? Em termos de custos, estamos falando de dezenas de bilhões de dólares para refazer essa estrutura [nota da redação: estimativas apontam que as operadoras teriam de gastar algo na ordem de R$ 100 bilhões para trocar todos os equipamentos de 2G, 3G e 4G da Huawei hoje já instalados em suas infraestruturas de rede. Uma despesa que elas esperam ser reembolsadas pelo governo]."

Ainda segundo o executivo, o maciço investimento da Huawei em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) é essencial para que as operadoras tenham custos menores no manuseio dos equipamentos da marca em suas redes:

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"Nos últimos 10 anos investimentos US$ 90 bilhões de dólares em pesquisa e desenvolvimento e, só no ano passado, investimos mais de US$ 18 bilhões. E esse número está acelerando. E isso significa soluções que geram menos custos. A Huawei tem mais de 20% das patentes essenciais do 5G. E isso se traduz em equipamentos mais leves, consumo de energia menor, mais compactos. O impacto disso para a operadora é que, ao consumir menos eletricidade, por exemplo, ela terá uma conta de energia menor. Se o equipamento é mais leve, a operadora o instala de forma mais rápida, sem precisar de guindastes, por exemplo. Com as nossas soluções, as operadoras também pagam menos pelos espaços nas torres. Então, é um conjunto de custos que é reduzido para as teles. Elas não querem que a gente saia porque são nossas amigas. Elas estão pensando no caixa delas". 

A Huawei iria ao STF caso seja banida no Brasil?

Marcelo afirma que a Huawei não pode responder pelo setor de telecomunicações no Brasil, mas afirma que a empresa está à disposição do governo para prestar todos os esclarecimentos, para que seja tomada uma decisão de forma racional e com base em evidências.

"A Huawei está respondendo a acusações que pertencem ao mundo das idéias. Não existe um fato concreto, o que torna a tarefa muito mais complexa. Então, o que temos de fazer é mostrar todo o nosso processo de governança em cibersegurança, processo de qualidade, as normas internacionais que seguimos. E, o mais importante, enfatizamos a questão da transparência. Nossos equipamentos estão aí, abertos, podem ser testados por profissionais capacitados, brasileiros, que podem usar suas próprias ferramentas nestes testes. Para que isso traga para a mesa as evidências e fatos, para que o governo tome a melhor decisão de forma soberana e sem interferência de terceiros. Do nosso lado, estamos completamente abertos a isso. Logo, não está em nosso radar comentar a possibilidade de ir ao STF".
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Apoio das operadoras

No último dia 29 de novembro, as operadoras brasileiras defenderam a participação da Huawei na montagem do 5G no Brasil. Em um comunicado emitido pela Conexis Brasil Digital (ex-SindiTeleBrasil) - entidade que representa as empresas de telecomunicações no Brasil - as teles afirmam que:

"Preocupadas com as incertezas geradas por essas discussões, ressaltamos a necessidade de transparência de todo o processo, prezando assim pelo princípio fundamental da livre iniciativa presente em nossa Constituição Federal. A entidade que representa as teles afirma que o ambiente de incertezas pode impactar o desempenho do setor, pois eventuais restrições implicarão potenciais desequilíbrios de custos e atrasos ao processo, afetando diretamente a população. E que questões como preço, escala mundial e inovações tecnológicas dos fornecedores hoje presentes no país são determinantes para que as melhores soluções e custos competitivos do serviço possam ser oferecidos pelas operadoras aos cidadãos."

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A Conexis afirma ainda que todos os fornecedores globais já atuam no país nas tecnologias 4G, 3G e 2G. E que uma eventual restrição a fornecedores do 5G pode atingir também a integração com a infraestrutura já em operação, com consequências diretas nos serviços oferecidos e custos associados, mais uma vez prejudicando os usuários dessa infraestrutura.

"É necessário ainda ressaltar que as operadoras, em sua grande maioria, são empresas de capital aberto e a transparência das discussões é fundamental para gerar segurança aos investidores e seguir atraindo novos investimentos para o país. O 5G será um dos principais marcos da revolução tecnológica em curso e um vetor fundamental de crescimento do país. Por isso, um debate amplo e o caráter técnico das decisões associadas serão fundamentais para o futuro da economia brasileira. As principais operadoras do país possuem ampla expertise técnica e grande experiência nos mais elevados e críticos quesitos de privacidade e segurança de rede, e podem contribuir com soluções técnicas eficazes nas discussões que envolvem toda nossa cadeia de produtos e serviços, preservando a segurança do país. Por fim, cumpre-nos destacar que representamos cerca de 4% do PIB e já investimos no país mais de R$ 1 trilhão de reais desde a privatização, o que nos permitiu dar uma resposta robusta à atual crise. Somos um setor que emprega quase 2 milhões de profissionais, diretos e indiretos, e um dos que mais contribuem com pagamentos de tributos ao erário público".

Bons sinais da Anatel 

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Em meio às discussões com o governo brasileiro, a Huawei teve uma boa notícia por parte da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) no começo de dezembro: a entidade finalizou a proposta com as regras do edital para o leilão de frequências do 5G. E o documento não apresenta restrições à participação da fabricante chinesa para que ela venda seus equipamentos às operadoras.

O edital foi desenvolvido pela área técnica da Anatel. A minuta já foi encaminhada a Carlos Baigorri, conselheiro da agência e relator do processo. No começo do ano que vem, o documento será avaliado pela diretoria da entidade e, uma vez aprovado, seus membros definirão uma data para que o leilão ocorra - a previsão é de que isso aconteça até o final do primeiro semestre de 2021.

Sendo um órgão independente, a área técnica da Anatel não considerou a pressão exercida pelos EUA para banir a Huawei do leilão do 5G. O texto da minuta definiu as regras sem considerar eventuais restrições de fabricantes.

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A minuta já estipula, por exemplo, metas de cobertura, com datas prevendo municípios e localidades a contarem com o 5G desde a assinatura do termo de autorização, válido até 2028. Os técnicos que prepararam o documento sabem que caso a Huawei seja banida, a proposta ficaria inviabilizada.