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Crítica Barbie | Filme de Greta Gerwig acerta em todas as críticas sociais

Por| Editado por Jones Oliveira | 19 de Julho de 2023 às 21h05

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Warner Bros
Warner Bros

O tão aguardado live-action da Barbie, dirigido por Greta Gerwig (Lady Bird) finalmente chega aos cinemas depois de se tornar um fenômeno cultural antes mesmo de sua estreia. E a espera valeu a pena. Com quase duas horas de duração, a obra mostra logo de cara por que vale o preço dos bilhetes. Primeiro, o que mais chama a atenção são os cenários e figurinos, já que eles foram explorados ao máximo nos trailers e nas peças publicitárias.

Como já era de se esperar, somos bombardeados pela cor rosa. O tom pink está presente na casa, no carro, nas ruas, nos móveis, nos postes, no chuveiro e em tudo mais que é possível e, como não poderia deixar de ser, a Barbie Típica (Margot Robbie) também desfila os figurinos mais marcantes da boneca. Esse cuidado com a produção e o cenário mostra o quanto Gerwig caprichou, não deixando o filme ficar com cara de produção barata.

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Aliás, barato é o que o longa não foi, mas certamente fez valer cada centavo dos US$ 145 milhões investidos — isso sem falar do caminhão de dinheiro dedicado ao marketing. Tudo parece muito bem encaixado e a grande sacada foi não transformar os brinquedos em algo tão real assim. Do chuveiro não sai água ao carro não tem motor, tudo remete às brincadeiras de boneca que a gente fazia quando criança. A Barbielândia é essa reprodução da infância e isso salta aos olhos e é somente quando Barbie vai parar no Mundo Real é que as coisas começam a mudar.

Por falar nisso, essa transição se dá quando a boneca de plástico começa a ter pensamentos de morte. Isso faz com que sua realidade perfeita se altere e ela tenha que lidar com problemas humanos, como celulite nas pernas e pés retos ao invés daqueles arqueados.

Desesperada para entender o que está acontecendo e mudar essa situação, ela procura a Barbie Estranha/Ginasta (Kate McKinnon), uma versão rabiscada e flexível que funciona como espécie de guru da Barbielândia. Após consultar seus livros, a tal Estranha orienta a loirinha a encarar uma viagem para o mundo dos humanos a fim de encontrar a menina que está brincando com ela e fechar o portal que foi aberto entre as duas realidades.

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Quem também embarca nessa aventura é Ken (Ryan Gosling), um boneco um tanto quanto carente que tenta encontrar seu lugar na Terra. Ao chegar no mundo dos seres humanos, no entanto, os dois se deparam com muito mais problemas e questões sociais do que poderiam imaginar existir em seu mundinho cor de rosa.

Críticas sociais marcam o tom do filme

Desde o início do filme, Barbie provoca no público reflexões sobre as questões sociais abordadas, mas é justamente quando os dois bonecos vão parar no Mundo Real que as críticas ficam ainda mais fortes. Encantado com o patriarcado, Ken se deslumbra ao perceber que quem manda aqui são os homens, não importa o que eles façam. Mesmo sendo menos qualificado, menos inteligente ou menos educado que uma mulher, um homem tem mais chance de conseguir tudo na vida.

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Sendo assim, Ken logo se adapta a essa realidade e consegue, em pouco tempo, destilar todo tipo de machismo possível. Um bom momento do longa acontece quando ele pergunta se pode falar com o médico responsável, sendo que a médica (uma mulher) está bem na sua frente.

Para Barbie, no entanto, esse choque não é nada agradável e ela fica totalmente perdida com a nova realidade, já que vivia em um local dominado pelas mulheres. E não demora muito para que a boneca sofra assédio nas mãos de um homem qualquer, provando que nem corpos plásticos estão livres do abuso físico.

Outra crítica importante é justamente sobre esse padrão de beleza inatingível, que foi por muitos anos estimulado pela própria Mattel, empresa fabricante da boneca. Quando cruza com uma idosa, Barbie passa um tempo observando suas rugas e marcas de expressão — algo que ela nunca tinha visto, já que não existe uma Barbie senhora. É então que ela solta; “você é linda”, no que a mulher responde: “eu sei”. Essa quebra de expectativa arranca risadas no público, mas também faz pensar o que a sociedade entende como beleza.

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O que fica claro, então, é que Greta Gerwig soube escolher bem o que criticar, mas também acertou em como fazê-lo. A diretora dissolveu as alfinetadas durante o filme para que ele não ficasse cansativo, mas ainda assim tivesse um forte caráter questionador.

Até críticas de cor e raça entraram na trama, quando a humana Gloria, vivida pela descendente de hondurenhos America Ferrera, passa horas explicando uma determinada solução e Barbie depois a resume, num claro exemplo do branco salvador.

A Mattel também entrou no jogo e, embora seja a patrocinadora do filme, também se deixou ser criticada, já que aparece como uma empresa que pensa bonecas para os desejos femininos, mas cuja alta cúpula é formada única e exclusivamente por homens.

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Barbies e Kens agradam, mas Glória rouba a cena

Falando agora um pouco em personagens, como já era esperado, tanto Margot Robbie quanto Ryan Gosling agradam como Barbie e Ken. Apesar de interpretar apenas "mais um Ken", Gosling entrega tanto carisma e humor que acaba se sobressaindo e dando ao público o melhor da Ken-energia. Sua experiência em musicais, vide La La Land, também contribuiu para que ele tivesse as melhores performances nas cenas em que canta e dança.

Simu Liu (Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis) é outro Ken que não faz feio, assim como Ncuti Gatwa (astro de Sex Education e Doctor Who), embora este tenha menos destaque do que merecido.

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Já na parte das Barbies, com carisma, talento e dedicação, Robbie mostra por que é a melhor boneca que o filme poderia ganhar e nos faz até esquecer que esse papel um dia foi pensado para Amy Schumer. A loirinha consegue, ao mesmo tempo, se mostrar rígida como uma boneca e flexível como um ser humano, chamando atenção especialmente nas cenas mais emotivas.

Issa Rae (Insecure) e Emma Mackey (Sex Education) também agradam, mas aparecem pouco, assim como Dua Lipa e sua Barbie Sereia, cuja participação seresume a dar apenas um tchauzinho para a câmera. Quem rouba a cena mesmo é Gloria, vivida por Ferrera. A atriz já tinha mostrado seu talento na famosa série Betty, A Feia, e aqui não deixa a desejar.

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Ela vive uma humana que trabalha na Mattel e ajuda Barbie a voltar para a Barbielândia. Ao lado da atriz juvenil Ariana Greenblatt (Amor e Monstros), que vive sua filha Sasha, ela se torna uma das coadjuvantes mais importantes do longa e não deixa a peteca cair mesmo quando tem que entregar falas complexas em meio a um universo cômico.

Bobo, engraçado e profundo

Voltando ao texto, Barbie tem, sim, muitas críticas importantes, mas não deixa de ser bobo na medida certa e engraçado ao ponto de arrancar gostosas risadas. O enredo escrito pela própria Greta Gerwig em parceria com seu marido Noah Baumbach (História de Um Casamento) soube dosar comédia e drama para conquistar os espectadores, quebrando o estigma de que histórias da boneca serviriam apenas para crianças. Na verdade, até faz sentido a trama não ser destinada aos pequenos.

Outros grandes acertos da dupla, no entanto, foram não ter esquecido a origem de tudo e ter colocado boas cenas com Rhea Perlman como Ruth Handler, a criadora da boneca, e escolhido a vencedora do Oscar Helen Mirren como narradora, uma "personagem" carismática que quebra a quarta parede e conversa com o público em alguns momentos e só reforça a proximidade do público com esse mudno cor de rosa.

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Por fim, o que não faltam são elogios para provar que Barbie é sim um forte candidato a filme do ano e até mesmo ao Oscar de 2024. Embora tenha algumas falhas, como os números musicais mais extensos do que deveriam ser e alguns bons coadjuvantes deixados muito de lado, o filme consegue conquistar pelo texto bem escrito e pela execução primorosa. Valeu a pena ter esgotado quase toda a tinta rosa do mundo e também vale a pena gastar alguns trocados no ingresso do cinema.