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Crítica | Amor e Monstros vai muito além de uma trama pós-apocalíptica

Por| Editado por Jones Oliveira | 15 de Abril de 2021 às 17h33

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Filmes pós-apocalípticos dificilmente conseguem entrar no gosto de muita gente. A fórmula já foi reciclada tantas vezes que dificilmente uma produção consegue sair do clichê do gênero, que usualmente contém cenas de muita ação, momentos que fazem o espectador tensionar os músculos e personagens que precisam urgentemente de um banho. A ideia de assistir nosso próprio planeta aos pedaços com uma porcentagem humana pequena lutando para sobreviver não é a sessão de cinema que a maioria do público pede numa sexta-feira à noite, por exemplo, mas na última quarta-feira (14), a Netflix adicionou um longa ao catálogo que consegue ir além dessa premissa.

Amor e Monstros pode trazer a impressão de qualidade duvidosa ao julgar o filme pelo título, justamente por trazer a combinação de duas coisas dificilmente vistas juntas. No entanto, o longa debocha não só de si mesmo, mas de todo o cenário e toda a receita que os demais títulos que compõem esse gênero seguem. Estrelado por Dylan O'Brien, que carrega a experiência em tramas pós-apocalípticas da franquia The Maze Runner e mistura ao humor característico de Stiles Stilinski, seu personagem em Teen Wolf, o filme é, no final das contas, uma boa surpresa — além de ter um timing certeiro para períodos pandêmicos.

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Atenção! A partir daqui o texto pode conter spoilers sobre o filme. Leia por sua conta e risco.

Amor e Monstros segue Joel Dawson, que passou os últimos anos isolado em um bunker com outras pessoas após um asteroide atingir a Terra e destruir completamente o planeta. A população revidou atirando foguetes, mas o resultado foi um composto químico que saiu sobre o planeta e causou mutações genéticas em insetos e animais, transformando-os em monstros gigantes e carnívoros, que com o tempo acabaram dizimando 95% da humanidade.

Assim como todos nós, antes da pandemia causada pelo coronavírus, Joel tinha uma vida social normal e acabara de conhecer sua namorada Aimee (Jessica Hanwick), mas a catástrofe os separou em duas colônias diferentes. Desde então, o jovem segue uma rotina pacata dentro do bunker, convivendo com os demais colegas e realizando tarefas domésticas, já que tem medo demais para deixar o local e ajudar a caçar comida ou combater os monstros.

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Após conseguir uma conexão via rádio com Aimee, Joel decide sair em busca do seu antigo amor. São sete dias de viagens sobre a superfície infestada de insetos gigantes geneticamente modificados. Como toda trama pós-apocalíptica, o protagonista embarca na perigosa viagem em um roteiro sem muitas novidades — ir ao ponto A ao ponto B com alguns obstáculos no caminho. Porém, a versatilidade e humor pontual de O'Brien trazem um novo tom à história, além de ajudar a compor seu personagem, que não é um rapaz forte ou corajoso e cujas habilidades limitam-se a cozinhar uma boa sopa e fazer bons desenhos, mas embora ele ainda não saiba, possui um enorme coração.

Acompanhar uma jornada que parece ter sido carimbada em todas as tramas de "fim do mundo" pode soar cansativo, mas Amor e Monstros acaba destacando-se pela maneira em que o protagonista lida com suas próprias descobertas ao longo do caminho: seja cruzar-se com uma jovem e destemida menina acompanhada de um homem bem mais velho a ser acompanhado por um fiel cachorro. As camadas de Joel, que vão se revelando ao desenrolar do filme, acaba sendo algo fluido e interessante de se assistir, capaz de fazer o espectador dar risadas, segurar a respiração e até mesmo se emocionar.

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No final das contas, Amor e Monstros acaba utilizando de seus personagens como metáforas para falar sobre relacionamentos interpessoais e até mesmo ressignificar uma família, de uma forma que o desenvolvimento de Joel acabe sendo tomado conta da narrativa principal e todo o cenário pós-apocalíptico a sua volta sendo tratado apenas em paralelo. O filme explora o processo de autodescoberta e autoconhecimento; o ato de lidar com seus próprios medos; descobrir os limites da própria coragem e, principalmente para um país que vive seu segundo ano em quarentena, valorizar as ações diárias como se fossem atos heroicos.

Michael Matthews dá sensibilidade a seus personagens por simplesmente adicionar camadas e explorar muito além da superfície (o que pode soar familiar para quem acompanhou a série Lost): pessoas corajosas que lutam diariamente para sobreviver numa realidade caótica, mas que também possuem traumas particulares e encontraram conforto naqueles que os cercam. Essa sensibilidade afeta até mesmo o cachorro (que é humanizado até mesmo em seu nome, Garoto) e o robô Mav1s, com quem Joel decide desarmar a pose de jovem piadista e enfim abrir seu coração e compartilhar seus medos.

O cenário, utilizado com muito bom humor pelo diretor Michael Matthews somado a versatilidade de O'Brien é o que fazem do filme um diferencial no gênero, capaz de agradar até mesmo o público que não é muito chegado na trama de "fim de mundo", mas também ganhando os fãs pelo deleite visual de sua produção — mostrando ser mais que merecido pelo reconhecimento da Academia.

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Amor e Monstros, por mais blockbuster que seu título possa ser, é de fato sobre amor e monstros; esses últimos que não são geneticamente modificados por substâncias químicas, mas sim os que crescem dentro de nós e são diariamente alimentados pelo subconsciente. O longa promete emocionar uma vez que fisga o espectador para dentro da tela e passa a viver a história junto a Joel — que, infelizmente, não é tão diferente de viver uma pandemia causada por um monstro invisível.

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Estrelado por Dylan O'Brien, Jessica Henwick, Ariana Greenblatt e Michael Rooker, dirigido por Michael Matthews e roteirizado por Brian Duffield e Matthew Robinson, Amor e Monstros é indicado ao Oscar de Melhores Efeitos Visuais e está disponível na Netflix.