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Ferrari | Quem é o personagem vivido pelo brasileiro Gabriel Leone?

Por| Editado por Durval Ramos | 22 de Fevereiro de 2024 às 17h00

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Reprodução/Canaltech
Reprodução/Canaltech

Antes de interpretar Senna na série original da Netflix, Gabriel Leone (Eduardo e Mônica) pode ser visto acelerando em Ferrari. O longa que estreia nesta quinta-feira (22) tem o ator na pele de Alfonso de Portago, um piloto espanhol que, na trama, representa a principal esperança de Enzo Ferrari (Adam Driver) para levar a recém-criada marca à glória — e, principalmente, salvá-la da falência.

Como é clichê nos filmes que têm o automobilismo como cenário, toda a ambição e desígnios do protagonista recaem sobre uma única prova decisiva, a Mille Miglia. Realizada desde 1927, com uma pausa durante a Segunda Guerra Mundial, a corrida de 1.000 milhas — ou 1.600 quilômetros, numa conversão mais familiar — atravessava a Itália com partida e chegada na cidade de Bréscia.

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A corrida decisiva de Ferrari acontece em 1957, assim como toda a trama do filme de Michael Mann (Tokyo Vice). Foi também a última edição da Mille Miglia, com de Portago pilotando um dos carros da equipe também formada por Piero Taruffi, Wolfgang von Trips e Olivier Gendebien, interpretados no longa respectivamente por Patrick Dempsey (Grey’s Anatomy) e os pilotos profissionais Wyatt Carnel (Ford Vs Ferrari) e Brett Smrz (Fear the Walking Dead). E há uma grande razão para esta ser a última edição da disputa.

Entre as pistas e o bobsled

Como muitos envolvidos com automobilismo em meados do século passado, o personagem interpretado por Leone vem de uma família de nobres. Em 1928, ele nasceu Alfonso Cabeza de Vaca y Leighton e seria o 11º marquês de Portago, de onde veio o sobrenome pelo qual ficaria conhecido no mundo. Bem melhor que Cabeça de Vaca, aliás.

Como todo jovem nobre da época, ele se envolveu com corridas de cavalo, carros e os primórdios da aviação pessoal. Seu envolvimento com a Ferrari começa em 1953, pilotando carros da marca em corridas de resistência na América e Europa, incluindo medalhões como a Carrera Panamericana e o Tour de France Automobile.

Ele também foi piloto de Fórmula 1 pela escuderia, competindo em duas temporadas ainda nos primeiros anos do esporte. Foram cinco corridas na categoria e três abandonos apenas em 1956; seu melhor resultado também veio naquele ano, um segundo lugar no Grande Prêmio da Grã-bretanha, seguido de uma terceira posição no GP da Argentina, corrida inaugural da temporada seguinte.

O atleta, aliás, é até hoje um dos poucos pilotos da categoria a ter seu nome na história das Olímpiadas. Em 1956, ele competiu nos Jogos de Olímpicos de Inverno como parte da primeira seleção espanhola de bobsled. O time formado por de Portago e seus primos perdeu a medalha de bronze por apenas 0,14 segundo.

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Acima de tudo isso, o piloto também carregava o estereótipo do playboy dos anos 1950, chamando atenção por sua excentricidade, porte atlético, olhos azuis e comportamento rebelde. Relatos da época o taxam como briguento, enquanto um dos mais interessantes fala sobre como ele, aos 17 anos de idade, passou com um avião emprestado por baixo da Ponte de Londres para ganhar £ 500 em uma aposta.

Isso, claro, também o levou a se envolver com modelos e atrizes de cinema, com pelo menos três casamentos, incluindo um anulado pela justiça espanhola por ter sido realizado no México. Seu relacionamento mais famoso, porém, foi com Linda Christian, que aparece no filme de Mann interpretada por Sarah Gadon (Cosmópolis).

Enzo Ferrari, como um dos proeminentes fabricantes de carros de corrida daquela época, vivia rodeado de pessoas assim. A experiência e o clamor popular o levaram a escalar de Portago como um dos competidores na Mille Miglia, que mudaria a história da montadora para sempre. De certo modo, isso aconteceu mesmo.

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Atenção: a partir daqui, o texto terá spoilers de Ferrari.

O beijo da morte

Mais do que um momento decisivo para a marca e clímax do filme que estreia nesta semana, a prova também é lembrada como um dos momentos mais trágicos do esporte a motor. Em um acidente gravíssimo, de Portago perdeu o controle de sua Ferrari na etapa final e acertou um grupo de pessoas que acompanhava a corrida na região de Cavriana, no norte da Itália.

A batida aconteceu quando o pneu do espanhol explodiu após atingir uma tartaruga de sinalização na rodovia a 240 km/h. O veículo ganhou altura ao atingir um poste e capotou sobre os espectadores, deixando nove mortos e pelo menos 20 feridos. de Portago e seu navegador, Edmund Nelson (interpretado por Erik Haugen no filme) foram atirados do carro e morreram na hora.

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Horas antes, de Portago e Christian foram registrados em uma foto que poderia ser representativa do glamour das corridas de automóvel, mas ganhou tons bem mais soturnos. Na última imagem do piloto com vida, ele aparecendo sendo beijado pela atriz, já no carro e pouco antes de partir para a última etapa da Mille Miglia. O que era um gesto de boa sorte acabou ficando conhecido como “O Beijo da Morte”.

Eles não foram os únicos a perderem a vida na Mille Miglia, com o piloto holandês Joseph Göttgens também sucumbindo aos ferimentos sofridos após bater o carro da Triumph nos arredores de Florença. Correr esse risco fazia parte do mundo do automobilismo naquela época, com as duas décadas seguintes da Fórmula 1 sendo conhecidas, inclusive, como os “Anos Mortais” — foram 47 pilotos mortos apenas na categoria durante esse período.

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A falta de aparatos de segurança e a fragilidade dos carros, principalmente em uma prova de resistência, eram elementos conhecidos dos pilotos. Eles entravam nos carros sabendo disso, trajando jaquetas de couro e capacetes simples. Porém, a morte de nove pessoas, incluindo cinco crianças, foi uma tragédia dramática o suficiente para mudar a visão sobre a proteção dos espectadores e o caráter sinistro do próprio esporte.

A Mille Miglia de 1957 foi a última, com o governo italiano banindo a realização de corridas de rua no país apenas três dias depois do acidente. A Ferrari 335 S pilotada por de Portago foi recolhida pelas autoridades e investigada minuciosamente, em busca de sinais de problemas de fabricação no carro ou seus pneus.

O que poderia ser a salvação se tornou mais um momento dramático para Enzo Ferrari e sua marca. O inquérito, porém, afastou qualquer responsabilidade da montadora pelas mortes. Hoje, no local da tragédia, há um memorial em nome das vítimas.