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Cientistas estão cada vez mais perto de trazer de volta os mamutes

Por| Editado por Luciana Zaramela | 06 de Março de 2024 às 17h16

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Savagerus/Envato
Savagerus/Envato

A ciência está cada vez mais perto de trazer de volta os peludos mamutes extintos há milhares de anos — o último avanço da área foi feito pela empresa americana Colossal Biosciences, que estima conseguir "clonar" um membro da espécie até 2028, ou melhor, gestar um elefante com características da espécie da Era do Gelo.

O passo em questão foi, segundo a companhia, a descoberta de como reprogramar células de elefantes para se comportarem de maneira semelhante a células-tronco — elas conseguiriam desenvolver e formar as três camadas germinais, ou seja, que dão origem a todos os tipos de células do corpo.

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O mamute-lanoso (Mammuthus primigenius) foi um mamífero tolerante ao frio cujo retorno à natureza poderia cumprir um papel ecológico importante no Ártico. Para que a espécie "volte", é essencial identificar os genes que definem seu fenótipo central — nesse caso, presas curvas, crânio em forma de domo, alto nível de gordura corporal e tolerância ao frio.

O próximo passo para os mamutes

Para o retorno dos mamutes, é preciso estudar os genes de seus parentes mais próximos, que são, neste caso, os elefantes asiáticos, 99,6% iguais geneticamente falando. Um dos objetivos da Colossal Biosciences a partir daí foi gerar células-tronco pluripotentes, a partir das quais seria possível gerar as células necessárias em laboratório.

Apesar disso já ter sido feito para diversas espécies, como camundongos, porcos, rinocerontes e até humanos, para os mamutes a geração de células-tronco embrionárias foi bastante difícil. O problema foi gerado, em parte, pela habilidade singular das células de elefante de evitar o câncer — isso torna sua reprogramação especialmente complicada.

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O caminho é difícil e raramente linear, mas a empresa manifesta confiança através de sua líder de ciências biológicas, Eriona Hysolli, que conversou com os sites IFLScience The Washington Post sobre o tema. Quando as inovações derem seu fruto final, o núcleo de uma célula-tronco editado com genes de mamute será implantado em um óvulo de elefante, cujo embrião será implantado em uma "barriga de aluguel" animal.

São muitos "se" e "quando", e vale lembrar que o futuro animal resultante não será, a rigor, um mamute, mas sim um elefante especialmente peludo e gorduroso que será capaz de aguentar frio intenso, possivelmente cumprindo o papel da extinta espécie nas tundras árticas. A partir daí, existem muitas controvérsias e questões éticas envolvidas.

Deveríamos reviver os mamutes?

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Os mais otimistas com a tecnologia genética, como os cientistas da empresa, enxergam a volta dos mamutes como a chance de afetarmos positivamente o ecossistema das tundras do norte, que pode ter sido prejudicado por nós mesmos há 10.000 anos, quando ajudamos a extinguir quase todos os grandes herbívoros da região. No Ártico, isso significa que houve uma transição de gramíneas para árvores.

O esforço de trazer a espécie de volta, ou uma versão elefântica moderna dela, pode ser encarada como uma reparação ou expiação do papel humano na crise de extinção de diversos animais e destruição de ecossistemas. Além de beneficiar o meio-ambiente, a pesquisa poderá ser usada para ajudar os elefantes modernos, como o desenvolvimento de tratamentos para uma forma de herpes que afeta os filhotes da espécie.

Quanto ao ecossistema, árvores fazem menos fotossíntese que a grama e seguram mais calor, sendo um tipo de “para-raio da natureza”, também guardando neve no inverno, o que isola o solo e impede que congele rapidamente. Com menos sequestro de carbono e maior calor, o carbono pode acabar sendo liberado na forma de metano, que é cerca de 80 vezes pior à atmosfera do que o dióxido de carbono.

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Devolver os mamutes à natureza ajudaria nesse controle, já que elefantes adoram derrubar árvores, e seu pisotear compactaria o permafrost e evitaria que derretesse muito rápido, garantindo que menos CO₂ seja liberado. Mas e para os "novos mamutes" em si, como seria essa volta ao planeta? Será que se adaptariam bem?

Questões sobre a ressuscitação de espécies como o dodô e o mamute envolvem o aprendizado social das espécies. A maioria dos mamíferos e pássaros possuem comportamentos sociais e culturais aprendidos na convivência com indivíduos mais velhos, segundo Matthew Cob, zoólogo da Universidade de Manchester, contou ao The Washington Post. Como um mamute aprenderia, se não tem acesso a ninguém da sua espécie?

Mesmo que biólogos da Colossal Biosciences afirmem que a questão é salvar espécies ameaçadas mais do que trazer os mamutes de volta, muitos embriões e filhotes morreriam só para realizar esse feito — e Cobb lembra que as principais ameaças enfrentadas pelos elefantes é a destruição de seu habitat e conflito com humanos. Será que traremos animais extintos de volta para um mundo seguro?

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Também ao The Washington Post, a paleobióloga Tori Herridge, especializada em elefantes do passado, comenta preocupações quanto ao retorno dos paquidermes peludos. Não temos certeza sobre o que os extinguiu — fomos nós, com caça excessiva, ou o fim natural da última Era do Gelo? No último caso, pode ser que o ambiente da tundra ártica não sirva para os novos mamutes, e eles acabem extintos novamente.

É natural nos perguntarmos se o dinheiro de pesquisas como essa não seria melhor gasto em outros esforços, mas, até que o esforço gere frutos, nos resta discutir a ética e continuar pensando sobre o meio ambiente e nossa influência sobre ele. Os cientistas da Colossal Bioscience publicaram um artigo sobre o avanço ainda sem revisão por pares no repositório científico bioRxiv.

Fonte: IFLScience, The Washington Post