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Como os peixes evoluíram para andar na terra?

Por| Editado por Luciana Zaramela | 13 de Março de 2023 às 15h43

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Thomas Brown/CC-BY-2.0
Thomas Brown/CC-BY-2.0

Com tantos passos diferentes envolvendo a evolução pela seleção natural das espécies, é comum que, quando falemos dela, diversos momentos evolutivos nos venham à mente. Talvez o principal deles seja o surgimento do bípede Homo sapiens a partir de ancestrais comuns símios. Um dos passos mais importantes, no entanto — bem mais do que a mera evolução do ser humano — é a saída da água, quando nossos ancestrais peixes "aprenderam" a andar.

Tanto humanos quanto lagartos, lobos, ursos, beija-flores, sabiás e até mesmo o extinto tiranossauro são um tipo de peixe-de-nadadeira-lobada, ou Sarcopterygii. Isso pode ser verificado ao olhar nossos genes e anatomia, bem como fósseis de criaturas do passado. Como estamos bastante distantes evolutivamente, não lembramos um peixe em aparência, mas somos, sem dúvida, sarcopterígeos terrestres.

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Peixes andadores, de antes e de hoje

Nossos colegas aquáticos podem ser ótimos nadadores, mas já evoluíram para conseguir andar pelo menos 5 vezes ao longo da história. Isso pode incluir o uso de nadadeiras dianteiras para se impulsionar à frente tanto em terra quanto no solo do fundo do mar. O sarcopterígio que nos deu origem evoluiu um pulmão, para conseguir respirar fora da água, membros com ossos e uma coluna espinhal forte, permitindo viver em regiões terrestres.

Foram evoluções úteis na água, mas que deram a capacidade de sair dela com eficiência. É provável que o avanço para fora do habitat aquático tenha sido uma maneira de escapar de predadores, trazendo os peixes para um ambiente repleto de plantas como musgos, cavalinhas e samambaias, mas também artrópodes como os piolhos-de-cobra (diplópodes), que colonizaram a terra milhões de anos antes.

A convergência evolucionária — quando diferentes animais desenvolvem características parecidas, como os pássaros e os morcegos conseguindo voar de formas distintas — que trouxe os peixes à terra é rara. Das mais de 30 mil espécies de peixe conhecidas, apenas um punhado delas consegue andar. Nossos ancestrais, os sarcopterígeos, são diferenciados por terem desenvolvido suportes ósseos e lobos musculares para conseguir se locomover em terra.

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Para os tetrápodes — anfíbios, répteis, pássaros e mamíferos —, isso foi imprescindível, permitindo a transição para a terra no final do período Devoniano, há 375 milhões de anos. Os genes para a formação de membros e digitais são encontrados nos sarcopterígeos que continuaram na água, como os peixes-pulmonados, mostrando que nosso ancestral também os tinha. Embora não saibamos exatamente como ele se parecia, é provável que fosse como o ainda vivo celacanto, um "fóssil vivo" do Oceano Índico.

Algumas espéciesjá foram extintas, omo o Tiktaalik, mas outras, como nós, se modificaram tanto que não parecem mais peixes há um bom tempo. Mas há peixes reconhecíveis que andam em terra atualmente, como os saltadores-do-lodo (Oxudercidae), que usam as nadadeiras peitorais para escapar de predadores nos mangues e pântanos de maré, também procurando matéria orgânica para comer e acasalando na terra.

Há, também, os bagres-andadores (Clarias batrachus), que conseguem respirar fora da água e vão de poça em poça com suas nadadeiras, se movendo como uma cobra. Mas como isso evoluiu nos peixes que ainda não haviam vindo para a terra? Esse mistério era difícil de resolver sem tecnologia genética avançada, mas há poucos anos, conseguimos encontrar uma pista nas raias-pequenas (Leucoraja erinacea).

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Genes da caminhada

A raia-pequena é um peixe cartilaginoso, parente dos tubarões, que usa nadadeiras para andar no fundo do mar, mas não tem relação com os sarcopterígeos. Em outras palavras, desenvolveu a habilidade de andar independentemente dos nossos ancestrais. Em 2022, pesquisadores conseguiram montar o genoma desses animais com alta precisão, descobrindo que usam apenas 10 músculos para andar, enquanto nós, os tetrápodes, costumamos usar 50.

Comparando os genes ativos nos nervos que permitem o controle dos nervos para a atividade em camundongos, galinhas e raias-pequenas, notou-se que sua expressão era similar, ou seja, podemos ter evoluído para andar de formas diferentes, mas o mecanismo genético é comum, como sugere a pesquisa.

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Ao final do Triássico, há 201 milhões de anos, tanto dinossauros quanto mamíferos já eram corredores proficientes, mas nós, humanos, conseguimos aperfeiçoar a locomoção em terra. Nosso tendão de aquiles ajuda a acumular energia, funcionando como uma mola, temos uma passada longa e centro de gravidade balanceado, suamos para resfriar o corpo. Assim, conseguimos correr e andar por longas distâncias, com boa resistência, embora não tão rapidamente quanto outros animais.

Nossos ancestrais corriam para caçar, escapar de predadores e forragear, e essa atividade modificou nossa anatomia, fisiologia e cultura. Segundo diversos estudos, andar e correr são importantes para nosso bem-estar e saúde física. Na próxima descarga de serotonina que sentir após uma boa corrida, lembre-se de agradecer ao seu ancestral peixe, sarcopterígeo como você, por ter os meios e a coragem para se aventurar fora da água.

Fonte: The Conversation