Fóssil de peixe ancestral sugere que nossos dentes evoluíram de fora para dentro
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Ao estudar escamas de peixes pré-históricos, pesquisadores descobriram evidências de que os dentes evoluíram de fora para dentro — e não de dentro para fora, como algumas teorias sugerem. O achado aconteceu sem querer, no estudo de um fóssil de Ischyrhiza mira, um peixe-serra da América do Norte que viveu de 65 milhões a 100 milhões de anos atrás.
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Os I. mira tinham, assim como os tubarões-serra e peixes-serra dos mares atuais, espinhos entalhados ao redor do focinho, que ajudavam a afastar predadores e buscar alimento. Chamados dentículos rostrais, eles são uma espécie de escama modificada, feita do mesmo material das escamas presentes no restante do corpo. Os cientistas buscavam entender a relação entre os dois elementos.
Como os dentes evoluíram
Foram feitas análises na camada externa mais dura dos dentículos rostrais, feita de enameloide, que mostrou uma complexidade inesperada, muito maior do que a das escamas corporais. A organização do material lembrava muito mais o enameloide dos tubarões modernos, com camadas de microcristais de fluorapatita que se juntava em linhas finas na superfície, e de forma mais aleatória no fundo.
Além de fluorapatita, as camadas continham microcristais comprimidos perpendicularmente à superfície do dentículo. Essa combinação dava força e resistência a pressões mecânicas, assim como acontece nos dentes de tubarão-serra. Embora não seja impossível que as escamas e dentes possam ter evoluído separadamente, é mais provável que um tenha vindo antes do outro — ou seja, que os dentes tenham vindo "de fora", evoluindo a partir das escamas.
A pesquisa deve impactar em estudos futuros sobre a história evolutiva dos dentes, o que é curioso, já que os dentículos rostrais não foram inicialmente examinados para isso. À medida que descobrimos mais similaridades entre a parte externa das criaturas marinhas e os dentes em nossas bocas, fica cada vez mais provável que mastiguemos com escamas de peixe altamente evoluídas.
Todd Cook, paleontólogo de vertebrados e um dos autores do estudo, comentou que a descoberta traz evidências diretas para suportar a teoria do "fora para dentro" no desenvolvimento dentário, mostrando a capacidade que escamas têm de evoluir enameloides semelhantes a dentes do lado de fora da boca. A pesquisa foi publicada na revista científica Journal of Anatomy.
Fonte: Journal of Anatomy