Como eram feitos os sarcófagos e como alojavam os mortos?
Por Lillian Sibila Dala Costa |

Os famosos caixões do antigo Egito são tão icônicos que viraram um sinônimo do termo usado para descrevê-los — sarcófago, na verdade, é uma palavra que significa qualquer caixa ou caixão. Mesmo a contenção de concreto posta sobre a acidentada usina de Chernobyl leva o nome de “sarcófago de concreto”.
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De forma resumida, sarcófagos exercem a mesma função que um caixão moderno, protegendo e preservando os restos mortais dos falecidos. Em grego, sarco significa carne, e phagus, comedor, sendo então “aquele que come a carne”, referência à decomposição do cadáver em seu interior. Os egípcios, no entanto, descobriram como evitar isso — e iniciaram uma tradição milenar.
História e uso dos sarcófagos
Antes do advento das caixas no formato dos mortos, que atualmente são praticamente sinônimos de “sarcófago”, os antigos egípcios simplesmente enterravam os corpos dos entes queridos na areia, onde o calor escaldante os dissecava e deixava preservados, muito antes dos caixões surgirem.
Em algum momento, eles começaram a guardar os corpos em caixas de madeira simples, onde acabavam se decompondo — e, eventualmente, decompondo também a madeira.
A mumificação (ou embalsamamento), então, para além dos seus propósitos rituais e religiosos, surgiu como uma maneira de evitar o apodrecimento dos corpos. Ao retirar os órgãos, ressecá-los junto ao corpo e conservá-los, de forma semelhante à natural feita pela areia, os restos mortais permaneciam intactos por um longo período, resolvendo o problema.
Do ponto de vista religioso, o sarcófago guarda o “ka” (força vital) do falecido, sendo sua casa para a eternidade. Quando o corpo se deteriorava, considerava-se que a pessoa havia realmente morrido, dando grande importância à mumificação.
Os egípcios acreditavam que o corpo serviria como veículo para a alma no futuro — ainda assim, não temiam que as múmias acordassem, como na cultura popular moderna. Os sarcófagos eram reservados aos mais abastados do Antigo Egito, como faraós, nobres e suas famílias, bem como sacerdotes.
Os mais pobres podiam comprar sarcófagos usados ou fabricar caixões de madeira mais simples. Para além das caixas, os egípcios começaram a proteger os corpos em tumbas grandes, conhecidas como mastabas, evoluindo até as enormes e famosas pirâmides.
A cultura de decorar os sarcófagos evoluiu aos poucos, virando moda em torno do Primeiro Período Intermediário (entre 2134 a.C. e 2040 a.C), quando os adornos passaram a ser feitos para combinar com as pinturas das tumbas e ganharam entalhes com textos religiosos. Pouco depois, as tampas passaram a ser esculpidas com silhueta humana, ficando ainda mais popular no século seguinte.
É então que detalhes como o visual semelhante ao deus Osíris surgiram, como barba postiça, braços cruzados e olhos de Hórus (wedjat), criando a forma da tampa que vem à mente nos dias de hoje. Os sarcófagos abrigavam apenas o corpo dissecado dos mortos, após terem os órgãos retirados e serem ressecados por uma espécie de salmoura por alguns dias.
Os órgãos também ficavam nas tumbas, em jarros canópicos, marcados com deuses protetores. Com tudo isso preservado, acreditava-se que o falecido pudesse passar para o além-vida e lá "viver sua morte", sendo julgado para saber onde passaria a eternidade. Muitas vezes, páginas de feitiços úteis do Livro dos Mortos — para evitar perigos do pós-morte — eram colocadas para ajudar o morto.
Uma curiosidade é que diversos animais também eram mumificados, em geral pela sua importância divina — isso inclui crocodilos, lagartos, babuínos e gatos, muitas vezes postos junto aos mortos nas tumbas. As descobertas de tumbas seguem firmes no Egito — em 2024, uma tumba ainda lacrada foi encontrada no país, e, nos últimos anos, centenas de múmias surgiram em diversas partes do país.
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