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Cientistas recriam perfume usado na mumificação de nobre egípcia de 3.500 anos

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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Huber et al./Scientific Reports
Huber et al./Scientific Reports

Cientistas conseguiram descobrir os ingredientes usados em bálsamos de mumificação de uma antiga nobre egípcia, mas não pararam por aí — com a fórmula em mãos, eles recriaram o perfume de 3.500 anos e planejam usá-lo em um museu, permitindo que os visitantes sintam o mesmo aroma que os egípcios de milênios atrás.

É comum que se imagine um embalsamamento com cheiros de bandagens e jarros de cerâmica, mas a realidade é que o procedimento era repleto de fragrâncias, com corpo e órgãos sendo envolvidos em diversos bálsamos para uma melhor preservação no além-vida.

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A escassez de fontes escritas em textos egípcios, no entanto, obriga os cientistas a depender de outros métodos para detectar quaisquer substâncias utilizadas no processo fúnebre, o que tem se tornado mais fácil com tecnologias modernas de análise. A múmia analisada da vez é Senetnay, uma nobre que teve o corpo embalsamado com uma série de ingredientes até mesmo de fora do Egito.

Embalsamamento importado

Segundo os pesquisadores, liderados por Barbara Huber, do Instituto Max Planck de Geoantropologia, a mumificação de Senetnay é uma das mais intrincadas e complexas da época. A aristocrata viveu em cerca de 1450 a.C. e foi ama de leite do faraó Amenhotep II. Seus jarros canópicos — recipientes nos quais os órgãos eram depositados — foram achados no Vale dos Reis em 1900 por Howard Carter, arqueólogo britânico famoso por ter encontrado a tumba de Tutancâmon.

A equipe científica analisou seis amostras residuais dos bálsamos de mumificação da nobre egípcia, vindas de dois jarros. Neles um dia já estiveram os pulmões e o fígado de Senetnay, como informado pelas inscrições hieroglíficas em seu exterior.

Ingredientes variados foram identificados, como óleos, gorduras, cera de abelha, resinas de pinheiros, betume, cumarina (substância com odor semelhante a baunilha) e ácido benzoico, encontrado em muitas plantas, como canela e cravo. Muitos deles só poderiam ter sido importados ao Egito.

Resinas como a de cedro (ou alerce) provavelmente vieram do norte do Mediterrâneo e Europa central, e outra, que pode ser um tipo chamado dammar, só pode ser encontrada nas florestas do sudeste asiático — outra possibilidade é que seja da árvore Pistacia. Nem todos os ingredientes estavam presentes em ambos os jarros, o que pode sugerir um uso único para cada órgão. É possível, no entanto, que a mistura tenha sido malfeita em um dos casos ou que a degradação de cada um tenha sido diferente.

Poucas múmias tiveram um tratamento tão elaborado quanto Senetnay, especialmente na importação de substâncias. Isso mostra uma alta posição social, algo também indicado pelo local de sepultamento e seu título — Ornamento do Rei. A fragrância descoberta pela pesquisa foi recriada com a ajuda de um perfumista, e deve ser usada em uma exibição no Museu Moesgaard, na Dinamarca, mais tarde neste ano. O nome dado ao perfume foi “Aroma da Eternidade”.

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Ao Guardian, William Tullet, especialista em história sensorial da Universidade de York que não participou do estudo, contou que a recriação de cheiros é essencial para o entendimento da relação entre passado e presente. Para nossos narizes modernos, os odores resinosos de pinho podem lembrar produtos de limpeza, e o odor sulfúrico de betume nos faz pensar em asfalto.

Para os egípcios antigos, no entanto, essas fragrâncias têm significados muito diferentes, mais ligados à espiritualidade e status social. As comparações são o que torna, segundo Tullet, recriações tão interessantes. Exemplos recentes incluem a fabricação de um dos perfumes de Cleópatra, que ficou com um aroma "picante", a reconstrução facial 3D de Tutancâmon e a recriação da voz de uma múmia com mais de 3.000 anos.

Fonte: Scientific Reports com informações de The Guardian