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Perfume de Cleópatra é recriado por cientistas — e o cheiro é picante

Por| Editado por Luciana Zaramela | 10 de Maio de 2022 às 10h20

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Alexandre Cabanel/Domínio Público
Alexandre Cabanel/Domínio Público

Cleópatra é uma das figuras mais conhecidas da antiguidade, sendo representada como uma figura atraente e sedutora, muito embora acredite-se que as qualidades da governante egípcia que acabaram atraindo dois líderes romanos — Júlio César e Marco Antônio — estavam mais no campo da inteligência e destreza política.

Mas isso não quer dizer que ela não tivesse seus artifícios de beleza: na história antiga, o Egito era famoso por produzir aromas dos mais agradáveis, e, para descobrir se o perfume da monarca era tão bom a ponto de fazer os homens mais poderosos de sua época arriscarem metade de seu território por amor, cientistas buscaram recriá-lo a partir de receitas históricas, análise química e, por que não, um pouco de tentativa e erro.

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Perfumes egípcios e sua fama

À época de Cleópatra VII, a mais famosa de seu nome, os egípcios já praticavam a arte da perfumaria há pelo menos 3.000 anos. Após sua morte, um livro de receitas das fragrâncias atribuído a ela surgiu, detalhando os ingredientes e processos que seriam reproduzidos por cientistas atuais 2.000 anos depois. O trabalho foi publicado em forma de estudo na revista científica Near Eastern Archaeology, no ano passado.

Segundo os cientistas, a base para os perfumes e unguentos egípcios era óleo vegetal ou gordura animal ao invés do uso moderno do álcool. As fragrâncias eram criadas pela fumaça da queima de resinas, cascas de árvore e ervas — a palavra perfume, aliás, vem do latim "per fumum", que significa "pela fumaça" — ou pela maceração de resinas, flores, ervas, especiarias e madeira molhadas.

O problema é que o significado exato dos hieróglifos com os quais as receitas foram escritas se perderam com o tempo. É possível saber, por exemplo, o nome dos óleos utilizados em ritos funerários e rituais, mas sua composição é incerta. Registros gregos e romanos são mais fáceis de se traduzir, mas são menos confiáveis, dado que foram escritos por estrangeiros e não pelos fabricantes originais das substâncias, mesmo que a dominação desses povos já durasse séculos.

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Isso mudou com a descoberta do que parece ser uma fábrica de perfumes em Thmouis, uma extensão de Mendes, ou Ampete, antiga cidade do Egito cujos perfumes eram famosos por todo o Mediterrâneo. Ânforas de armazenamento de perfumes são tão abundantes no local que os arqueólogos acreditam se tratar de uso comercial, não doméstico. As moléculas dos jarros foram estudadas com raios X fluorescentes, incluindo o limo do Nilo utilizado para fazer as ânforas e os resíduos de seus conteúdos.

Eau de Cleopatra

Combinando os textos históricos e a química moderna, cientistas alemães testaram toda uma sorte de substâncias potencialmente utilizadas na época na tentativa de descobrir a famosa fragrância de Cleópatra. Após utilizar uma variedade de ingredientes e métodos de fabricação, o resultado reportado foi de um cheiro "extremamente agradável, com base picante de mirra recém-moída e canela, acompanhado de um toque doce".

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O odor ainda persistiu por dois anos, o que corrobora relatos acerca da qualidade dos perfumes egípcios ser mantida mesmo quando transportados. Embora não tenhamos uma forma de confirmar com exatidão o perfume que a monarca ptolomaica utilizava, os visitantes da exibição "Rainhas do Egito" (Queens of Egypt) do National Geographic Museum, em 2019, tiveram a oportunidade de cheirar o afamado Eau de Cleopatra, nome com o qual os pesquisadores batizaram o aroma.

Além de cheiroso, o produto também tem outras qualidades, como compostos antifúngicos e antibacterianos que suprimem odores desagradáveis: é basicamente um combo de desodorante e perfume dos tempos antigos. O estudo é parte de um campo em expansão que procura criar cheiros antigos, e não só os bons — há projetos dos mesmos cientistas que procuram recriar cheiros urbanos como o das cortes reais, templos e oficinas que produziam desde sandálias até armas de guerra.

Fonte: Near Eastern Archeology