Estrutura de madeira feita por humanos há 476 mil anos é encontrada na Zâmbia
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Arqueólogos encontraram, em um rio na Zâmbia, no continente africano, evidências do uso de madeira para a construção de estruturas há quase meio milhão de anos. Isso indica que hominídeos da Idade da Pedra, de antes do surgimento do primeiro Homo sapiens, já faziam abrigos ou outras construções complexas, e muda drasticamente o modo como encaramos esses ancestrais, segundo os pesquisadores.
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O trabalho faz parte do projeto Raízes Profundas da Humanidade da Universidade de Liverpool, que escavou a região e analisou os restos de madeira. Antes, acreditava-se que os primeiros humanos eram simples nômades, cuja vida simples não via esse tipo de esforço. De acordo com os cientistas, o fato de terem feito algo grande com madeira indica inteligência, imaginação e habilidade para criar algo novo, nunca antes visto.
Além de dois troncos trabalhados para o encaixe, foram encontradas antigas ferramentas de madeira, como galhos para escavação. Os grandes pedaços de madeira foram claramente cortados por instrumentos de pedra, fazendo com que se combinassem para formar objetos estruturais.
Evolução do trabalho em madeira
Análises dos troncos da Zâmbia mostraram que eles têm cerca de 476 mil anos. Até hoje, evidências da época de qualquer trabalho em madeira se limitavam ao uso para tarefas simples, como galhos para cavar e produzir fogo ou lanças para caçar. Um dos achados mais antigos era uma lança de 400 mil anos nas areias pré-históricas de Clacton-on-Sea, na Inglaterra, encontrada em 1911.
O problema é que, caso não obedeça a condições muito específicas de preservação, a madeira simplesmente apodrece e não deixa quaisquer vestígios. A descoberta arqueológica foi feita na Cascata de Kalambo, nas proximidades da fronteira entre Zâmbia e Tanzânia. Presa na lama arenosa sob a d’água, os objetos acabaram ficando numa “conserva” por milênios. As camadas de terra que cobriam os artefatos foram datadas por luminescência.
O método se baseia na absorção natural de radioatividade pelas rochas, “carregando” os minerais. Ao serem aquecidos pelo contato com a luz novamente, esses detritos refletem uma quantidade proporcional à idade que ficaram sem exposição ao sol.
Quem trabalhou a madeira e para quê?
Não há ossos ou outras evidências orgânicas no local, então a pesquisa não conseguiu definir qual hominídeo teria trabalhado os objetos de madeira. Os próprios troncos são mais antigos do que a primeira evidência de um H. sapiens no mundo, que tem cerca de 315 mil anos. A obra pode ter sido de um Homo erectus ou Homo naledi, mas há alguma chance de que H. sapiens já estavam no planeta nessa época e nós somente não encontramos evidências disso.
Os artefatos devem ser levados ao Reino Unido para análise e preservação posteriores, e estão atualmente guardados em tanques que imitam as condições ambientais úmidas do local onde foram encontrados. Em seguida, retornarão para a Zâmbia para serem exibidos em coleções do país. Já os pesquisadores continuarão a explorar a Cascata de Kalambo, na esperança de encontrar mais prova da interação humana com a natureza no local.
Fonte: Nature